com as duas mãos engessadas [quem não se lembra de jô soares há uns 10, 15 anos?], o psicólogo observava o paciente, inquieto.. limitado para escrever, ele esboçava um sorriso, ensaiava uma teoria. mas só escutava. o interesse pelo paciente crescia na medida de sua inquietude ocular: ele pensava, refletia, tentava entender, e virava os olhos, intrigado: o sujeito era naturalmente fiel a uma só pessoa, aos 40 anos de idade.
sua natureza, isenta de autossabotagens, agressões, pressões e crises era espontaneamente monogâmica, simples assim. mas, afinal, o que é ser monogâmico? como ser feliz e pertencer a uma classe em que a regra dominante é a poligamia e a complexidade sexual? o que é ser feliz sentimentalmente? não há respostas prontas ou soluções de almanaque. mas o tema instigou o especialista: podemos conversar um pouco sobre o assunto? – claro, respondeu o “pupilo”.
- você é fiel?
- sou.
- vc acha isso natural?
- pra mim, sim.
- acompanho muita gente e estudo o assunto, afinal, é meu trabalho. a fidelidade heterosexual masculina na espécie humana não parece natural pros outros, posso garantir. e isso tem base científica. tem um psiquiatra – brasileiro que defende que o homem tem duas funções essenciais: procriar e afirmar sua masculinidade.
- a primeira eu entendo, mas a segunda..
- pense bem. quando uma criança nasce, todo mundo – mesmo, sabe quem é a mãe. é fato inquestionável. já o pai.. o cara vive uma insegurança natural, genética até.
- caralho, nunca havia pensado assim.. mas não é culpa minha. nasci nessa espécie involuída por acaso – metralhou, com raro pedantismo.
- ora, meu caro, nada é por acaso. posso continuar?
- já combinamos que sim – a amizade de longa data revelava intimidade.
- você acha que se enquadra no padrão?
- no meu padrão, sim.
- [saco, pensou o médico]
- você sempre foi fiel?
- sempre.
- e como.. – peraí, minha caneta falhou. então, como funciona pra você? você se policia, se cobra, se pressiona ou se tolhe?
- nunca.
- e nunca traiu?
- uma vez, em final de namoro, fiquei com uma menina. foi rápido, foi só uma ficada, mas aconteceu.
- ah, você não é infalível!!
- bom, infalível nem o brasil de 1982, nem o eike batista..
- porra, então não há tanto mérito assim..
- isso é você quem decide.. mas é tipo virgindade e castidade. o primeiro conceito define quem nunca transou; o segundo, quem, em algum momento de vida, opta por não praticar sexo antes do casamento. acho, inclusive, fantástico. não funciona pra mim, mas respeito muito.
- isso é outro assunto, para outra pesquisa..
- ok, voltemos à vaca fria.
- vc nunca se atraiu por alguém de fora do seu arranjo sentimental, formalizado ou não?
-tá louco? claro que sim. talvez chegue até o flerte – aliás, saudável e, se praticado com moderação e consciência, importante mesmo para a relação. mas o processo nem cria raiz, parece definhar na fase de “formação do solo”..
- haha, você e suas metáforas! ok, outro assunto para outra ocasião. então.. você realmente não se força a ser fiel?
- mas o que é ser fiel? é ser fiel a uma pessoa? fiel a princípios? fiel a você mesmo?
- bom, se vc é fiel a uma só pessoa, é mais exclusivismo.
- ahhnn..
- se vc é fiel a princípios, você é verdadeiro, pleno em seu ser.
- meio esotérico, mas entendo.
- o que seus amigos – homens e mulheres, acham disso?
- muitos dizem que é antinatural, alguns dizem que ainda não aconteceu por falta de oportunidade, e uns poucos dizem que quando os arranjos são verdadeiros, a relação é baseada na franqueza, e as duas pessoas [ou três, ou quatro..] estão presentes de corpo e alma, conceitos como formalização e fidelidade perdem importância. gosto dessa última explicação. as pouquíssimas pessoas que me conhecem bem, concordam. na verdade, se é de comum acordo, e se os dois são maiores de idade, vale absolutamente tudo. cada relação tem seu formato, sua dinâmica, sua fórmula. mas a verdade, a confiança, o respeito permeiam – ou deveriam, todos os encontros.
- cara, vc deveria ter feito psicologia..
- haha, quem sabe um dia?! mas voltando.. acho que o segredo é a verdade mesmo.
- bom, esse assunto tem muito insumo, dá muita discussão..
- já vi que não vamos descobrir a pólvora aqui, mas fiquei curioso.. num pomar, vc consegue mesmo escolher – só uma laranja OU só uma maçã OU só um cacho de uvas OU só uma tangerina, entre todas as frutas?
- eu não como frutas..
- putaquepariu [vingança do médico].. vamos encerrar por aqui.
- por quê? cansou?
- não, é que meus dois pulsos começam a doer.
§ § §
ps-brega: paul hewson e alison stewart conheceram-se no Mount Temple Comprehensive School, de dublin, há quase 37 anos. apesar da superexposição e da idolatria que zilhões de fãs tem pelo cara, ele declara seu amor a ali em quase todo show..
reflexões, besteiras e confissões - contribuições em geral para o entendimento do macho contemporâneo.
domingo, 25 de março de 2012
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
sobre relações e pessoas
certo dia de 2011, durante conversa com um bom amigo [a quem dedico essas linhas], entre um café e uma lembrança, o cara propôs a existência de dois tipos de pessoas: aquelas que centram os relacionamentos.. nas pessoas, e as que priorizam a relação em si. achei interessantíssimo e resolvi refletir sobre o tema.
desde nosso papo, há mais ou menos um ano, tenho refletido sobre a “relação que as pessoas têm com os relacionamentos”. o perfil racional[izador], tende a ser mais ponderado e equilibrado [pelo menos dentro da relação] e, assim, centra mais facilmente os relacionamentos na própria relação. faz sentido. os que conseguem ter um olhar distanciado da relação e dos sentimentos, sem apego, tendem a sofrer menos os efeitos das diferenças, da rotina e de eventuais desencontros. dessa forma, estariam mais protegidos de relações cuja chance de êxito é sabidamente questionável.
novelas, romances, folclore, turmas de rua, escola, até mesmo a família. tudo e todos contribuem para reforçar e reproduzir o conceito de que é normal, aceitável, e certo orientar as relações românticas, pelo[a] outro[a], por suas expectivas e por suas projeções. e a maioria de nós, conscientemente ou não, acabamos por construir. esse é o segundo tipo de “relação com a relação”. e coisa das mais dificeis é desconstruir a noção de que a felicidade romântica está vinculada a um alguém que pode nunca aparecer – ou corresponder às nossas expectativas. mais uma vez, pode-se recorrer ao tomé: se acreditarmos com fé, a plenitude estará num pedaço de madeira. a lógica é parecida: é muito mais natural [e justo] acreditar que não existe [apenas] um grande amor, mas pode-se esbarrar em uma série de grandes amores ao longo da vida – aproveitar ou vivenciar essas oportunidades é uma outra estória. e cada um desses amores pode contribuir para nossa evolução. é preciso acreditar.. e entregar-se de forma sã. o segredo é ter equilíbrio desmedido com doses equilibradas - e controladas de irresponsabilidade.
talvez caiba aqui um óbvio mas elucidativo aparte. desapego em nada tem a ver com insensibilidade. pelo contrário: quem vive de forma desapegada, consciente de quem é, do que quer dessa vida, tende a saber melhor o caminho a percorrer em direção á felicidade e, por isso, sabe quanto vale doar-se, o que vale a pena trocar com o[a] parceiro[a] – em qualquer nível.
fica mais claro, assim, que não se pode sacrificar, anular, submeter-se a julgos e situações humilhantes em nome do ser amado, independente do gênero. muito bem. o sentimentalmente desapegado é, na maioria das vezes, o elemento mais centrado nas relações. isso não quer dizer que esse perfil não tenha traços de amor, sensibilidade, devoção e paixão. para ele, há, sim, o que se perder numa relação. mas o grande tesouro que se corre o risco de perder é a própria integridade, o próprio equilíbrio.
quando se liberta das relações de dependência que aprendemos a considerar normais desde crianças [na verdade, “normoides” e automatizáveis], consegue-se reconhecer de forma saudável o próprio valor, e o valor do[a] outro[a]. a partir daí fica mas fácil viver na plenitude o arranjo pessoa-relação. a troca fica mais gostosa e a relação romântica, mais plena.
nota de rodapé: [nuca antes na história desse país!!]
desde nosso papo, há mais ou menos um ano, tenho refletido sobre a “relação que as pessoas têm com os relacionamentos”. o perfil racional[izador], tende a ser mais ponderado e equilibrado [pelo menos dentro da relação] e, assim, centra mais facilmente os relacionamentos na própria relação. faz sentido. os que conseguem ter um olhar distanciado da relação e dos sentimentos, sem apego, tendem a sofrer menos os efeitos das diferenças, da rotina e de eventuais desencontros. dessa forma, estariam mais protegidos de relações cuja chance de êxito é sabidamente questionável.
novelas, romances, folclore, turmas de rua, escola, até mesmo a família. tudo e todos contribuem para reforçar e reproduzir o conceito de que é normal, aceitável, e certo orientar as relações românticas, pelo[a] outro[a], por suas expectivas e por suas projeções. e a maioria de nós, conscientemente ou não, acabamos por construir. esse é o segundo tipo de “relação com a relação”. e coisa das mais dificeis é desconstruir a noção de que a felicidade romântica está vinculada a um alguém que pode nunca aparecer – ou corresponder às nossas expectativas. mais uma vez, pode-se recorrer ao tomé: se acreditarmos com fé, a plenitude estará num pedaço de madeira. a lógica é parecida: é muito mais natural [e justo] acreditar que não existe [apenas] um grande amor, mas pode-se esbarrar em uma série de grandes amores ao longo da vida – aproveitar ou vivenciar essas oportunidades é uma outra estória. e cada um desses amores pode contribuir para nossa evolução. é preciso acreditar.. e entregar-se de forma sã. o segredo é ter equilíbrio desmedido com doses equilibradas - e controladas de irresponsabilidade.
talvez caiba aqui um óbvio mas elucidativo aparte. desapego em nada tem a ver com insensibilidade. pelo contrário: quem vive de forma desapegada, consciente de quem é, do que quer dessa vida, tende a saber melhor o caminho a percorrer em direção á felicidade e, por isso, sabe quanto vale doar-se, o que vale a pena trocar com o[a] parceiro[a] – em qualquer nível.
fica mais claro, assim, que não se pode sacrificar, anular, submeter-se a julgos e situações humilhantes em nome do ser amado, independente do gênero. muito bem. o sentimentalmente desapegado é, na maioria das vezes, o elemento mais centrado nas relações. isso não quer dizer que esse perfil não tenha traços de amor, sensibilidade, devoção e paixão. para ele, há, sim, o que se perder numa relação. mas o grande tesouro que se corre o risco de perder é a própria integridade, o próprio equilíbrio.
quando se liberta das relações de dependência que aprendemos a considerar normais desde crianças [na verdade, “normoides” e automatizáveis], consegue-se reconhecer de forma saudável o próprio valor, e o valor do[a] outro[a]. a partir daí fica mas fácil viver na plenitude o arranjo pessoa-relação. a troca fica mais gostosa e a relação romântica, mais plena.
nota de rodapé: [nuca antes na história desse país!!]
domingo, 5 de fevereiro de 2012
fênix [ou, paixão passional x paixão racional]
outro dia encontrei um amigo que não via há tempos. em meio às idiotices habituais desse tipo de encontro, o cara vomitou uma teoria, no mínimo, interessante. para ele, há resumidamente dois tipos de variáveis que pautam o desenvolvimento e o equilíbrio das relações: amor e sexo. e o mais louco: elas seriam, em princípio, meio incompatíveis. acho que no mesmo andar, vive a paixão. sobre ela, acabei fazendo outra reflexão: a diferença entre paixão passional e paixão racional.
a paixão passional é a paixão clássica: irracional [burra, por vezes], pulsante, superlativa, vibrante, exagerada, insone, faminta. inspirou ovídio, shelley, yeats, blake, cecília meireles, tom jobim. por esse conceito, apaixonar-se seria o objetivo-mor do ser humano. ela seria confundida, inclusive, com a própria felicidade.
aqueles que não vivem um ciclo passional clássico, marcado por incerteza, abnegação, taquicardia-quase-enfarto, loucura e, claro, doses nem sempre homeopáticas de estupidez, parecem não ter uma vida plena e são entendidos como mais idiossincráticos do que de fato são. para o [in]consciente coletivo, esse tipo de paixão vence o tempo, justifica decisões estúpidas, escolhas assumidamente erradas, comportamentos incompreensíveis, e é – ou tem de ser cruel.
vive-se toda a vida sob intenso bombardeio – da mídia, da família, da escola, da igreja, dos amigos: apaixonar-se faz parte da vida. e sofrer é parte integrante do ciclo passional. ai de quem não se apaixona e deixa de sofrer por isso. parece que os que não circulam pelos corredores escolares de mãos dadas, olhinhos virados, uniforme babado, recebem um precoce e cruel status de párias, outsiders.
são vistos como um bando de coitados os que não se sentem coitados, e não vivem imersos num mundo de angústia, duvidas, súplicas, amores não-correspondidos e [dependendo da época] overdose de velvet underground, nick cave, the smiths, the cure, smashing pumpkins ou os emo-chatos. a paixão passional tem um pouco de tudo isso.
mas não se pode ignorar a importância desse sentimento. sua vivência pode dar, inclusive, a chance de viver o segundo tipo, mais maduro. e, assim, pode ficar mais fácil assassinar velhos conceitos, como a falaciosa dependência do[a] outro[a], a necessidade de adequação às demandas sociais etc.
o que chamo de paixão racional, por sua vez, é um sentimento mais maduro. pode até ser aprendido com as idiotices da paixão passional. porra, claro que doses [monitoradas] de falta de controle, dúvidas, até mesmo burrices também fazem parte dessa categoria, mas em outras bases. sinceramente, não sei se o segredo é a idade, ou, o somatório das vivências acumuladas. talvez seja. mas alguns carregam serenidade na mochila desde pequenos.. que bom. o mundo fica mais justo assim.
os que sentem paixão racional estariam mais protegidos contra o sofrimento. seriam mais serenos e, até mesmo por isso, mais capazes de se entregar de cabeça.. à paixão. note-se a [aparente] contradição.
em princípio, é socialmente inaceitável que alguém esteja apaixonado e cumpra o ciclo de maneira feliz, serena, viva [pulsante, por que não?], e reconheça um eventual fim. eu mesmo tendo a resumir a coisa assim: a paixão acaba [como fogo que arde invisível, parafraseando o santo], ou evolui para um sentimento mais maduro. no caso, amor. mas, como já escrevi um quackilhão de vezes: preciso é navegar. viver, não. como simplificar algo tão plural e complexo como a paixão? os caminhos, desvios e possibilidades são tantos, que nem ovídio – muito menos eu conseguimos quantificá-la e conceituá-la. quando ela é racional, pede-se desculpas, alegra-se, sofre-se pelo outro. mas não se vive em função do outro. nem se mata por sua causa.
ao contrário do que reza a lenda, a globo, a autoajuda, e a indústria da felicidade, a paixão racional parece mais gostosa. é como se a paixão passional corresse pelas veias e a paixão racional, palas artérias. esta não circula mais rápido, mas sim, de maneira mais forte, e é mais vital para a sobrevivência: o corpo morre mais rápido sem ela.
o primeiro tipo alimenta consultórios psicológicos e reproduz neuras de origem não conhecida, gera brigas, estresse, agressões. o segundo dá espaço para rondelli de damasco e pôr-do-sol - do arpoador e do ccbb, não necessariamente o da 408 norte.
[curioso: enquanto escrevia essas besteiras, escutava uma rádio de los angeles em que era insistentemente anunciada a programação especial para o próximo valentine’s day..]
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
russel, o atemporal
esperando por mim
acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero
sou tão cínico às vezes
o tempo todo
estou tentando me defender
digam o que disseremO mal do século é a solidão
dada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de afeição
hoje não estava nada bem
mas a tempestade me distrai
gosto dos pingos de chuva
dos relâmpagos e dos trovões
hoje à tarde foi um dia bom
saí prá caminhar com meu pai
conversamos sobre coisas da vida
e tivemos um momento de paz
é de noite que tudo faz sentido
no silêncio eu não ouço meus gritos
e o que disserem
meu pai sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
minha mãe sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
e o que disserem
agora meu filho espera por mim
estamos vivendo
e o que disserem os nossos dias serão para sempre..
acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero
sou tão cínico às vezes
o tempo todo
estou tentando me defender
digam o que disseremO mal do século é a solidão
dada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de afeição
hoje não estava nada bem
mas a tempestade me distrai
gosto dos pingos de chuva
dos relâmpagos e dos trovões
hoje à tarde foi um dia bom
saí prá caminhar com meu pai
conversamos sobre coisas da vida
e tivemos um momento de paz
é de noite que tudo faz sentido
no silêncio eu não ouço meus gritos
e o que disserem
meu pai sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
minha mãe sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
e o que disserem
agora meu filho espera por mim
estamos vivendo
e o que disserem os nossos dias serão para sempre..
domingo, 22 de janeiro de 2012
Metrorio – um conto inacabado
o dia estava dos mais complicados: relatório para entregar no trabalho, missão estrangeira na cidade, aumento do aluguel, mil demandas, muito stress, muita confusão. quase não havia tempo de apreciar a belezura da cidade maravilhosa. eu estava mais atrasado que o coelho da alice, e quase perdi o imperdível..
o relógio batia quase 9:30h e eu estava mais de uma hora atrasado. no caminho, nada de novo: o metrô pequeno, mas conservado e eficiente do rio de janeiro. o trajeto? o de sempre: comecei a viagem na simpática estação do cantagalo e, sem grande surpresas, desceria na confusa cinelândia. o futuro do pretérito encaixa-se com perfeição aqui..
ao deixar a reformadinha estação do largo do machado, a mulher subiu no mesmo trem em que estava. e aí, pronto: zupt!! a troca de olhares estilo closer confirmou que eu a conhecia. acredito que não era um estranho para ela. não me lembrava de onde, nem quando, mas sim, já havia cruzado olhares com a ruivinha em reuniões de trabalho, na casa da matriz, no market ipanema ou no crepe do bretão. pouco importava. não tinha intenção de fazer um tratado sobre a moça, nem decifrar suas preferências literárias. pelo menos não naquele momento. quem era ela, o que fazia, o que pensava, onde morava.. para onde ia?! eram questões secundárias. consegui ver, no entanto, o “segundo sexo”, da simone do sartre, escapar de sua pasta e começar a ser devorado. parecia mesmo uma intelctual: apostilas, livros, moleskines, anotações. tudo desorganizadinho na pasta estilosa.
pior é que tava chegando a hora de descer e nada acontecia. como nada? rolou simplesmente tudo naquela troca de olhares [livro-chão-ag-livro-livro]. tudo, menos certeza. típica limitação que instiga a curiosidade e apimenta qualquer aproximação, apesar de não ser mesmo possível definir o que pensava e o que sentia a moça. o flerte continuava. os olhos de um disfarçavam, passeavam pelo ambiente, visitavam outros portos, mas seguiam, invariavelmente, ao encontro do outro. putz, que delícia.
é inevitável, em situações como essa, certa dose de ansiedade. aborda-se? pede-se o telefone? pergunta-se o nome? arrisca-se levar um fora, uma cortada? sem regras pré-definidas, vale recorrer a pessoa para chegar na pessoa: nada é exato, preciso. e quando há verdade, timing e se as energias são boas, a curtição está garantida. no processo. claro que o resultado às vezes surpreende..
apesar de tomado pelos questionamentos, inseguranças e incertezas do tipo, controlei a ansiedade e deixei rolar. estava entorpecido, excitado, animado, curioso. sensacional! parafraseando o poeta argentino: era um grande momento.
nessa hora, percebo que chegou a cinelândia. e ela não desceria ali. aqueles dez ou quinze minutos pareceram uma vida. talvez tenham mudado uma vida. pior é que, devido às minhas referencias cinematográficas, closer não me saía da cabeça..
percebo agora que me esqueci dos óculos e a dor de cabeça já chegou. a ruiva? nunca mais vi. mas é impressionante como essas nanopassagens marcam e tornam-se referência. acho que esse é outro segredo de tostines: a vida é mesmo feita de pequenos e curtos momentos. às vezes, curtos demais.
o relógio batia quase 9:30h e eu estava mais de uma hora atrasado. no caminho, nada de novo: o metrô pequeno, mas conservado e eficiente do rio de janeiro. o trajeto? o de sempre: comecei a viagem na simpática estação do cantagalo e, sem grande surpresas, desceria na confusa cinelândia. o futuro do pretérito encaixa-se com perfeição aqui..
ao deixar a reformadinha estação do largo do machado, a mulher subiu no mesmo trem em que estava. e aí, pronto: zupt!! a troca de olhares estilo closer confirmou que eu a conhecia. acredito que não era um estranho para ela. não me lembrava de onde, nem quando, mas sim, já havia cruzado olhares com a ruivinha em reuniões de trabalho, na casa da matriz, no market ipanema ou no crepe do bretão. pouco importava. não tinha intenção de fazer um tratado sobre a moça, nem decifrar suas preferências literárias. pelo menos não naquele momento. quem era ela, o que fazia, o que pensava, onde morava.. para onde ia?! eram questões secundárias. consegui ver, no entanto, o “segundo sexo”, da simone do sartre, escapar de sua pasta e começar a ser devorado. parecia mesmo uma intelctual: apostilas, livros, moleskines, anotações. tudo desorganizadinho na pasta estilosa.
pior é que tava chegando a hora de descer e nada acontecia. como nada? rolou simplesmente tudo naquela troca de olhares [livro-chão-ag-livro-livro]. tudo, menos certeza. típica limitação que instiga a curiosidade e apimenta qualquer aproximação, apesar de não ser mesmo possível definir o que pensava e o que sentia a moça. o flerte continuava. os olhos de um disfarçavam, passeavam pelo ambiente, visitavam outros portos, mas seguiam, invariavelmente, ao encontro do outro. putz, que delícia.
é inevitável, em situações como essa, certa dose de ansiedade. aborda-se? pede-se o telefone? pergunta-se o nome? arrisca-se levar um fora, uma cortada? sem regras pré-definidas, vale recorrer a pessoa para chegar na pessoa: nada é exato, preciso. e quando há verdade, timing e se as energias são boas, a curtição está garantida. no processo. claro que o resultado às vezes surpreende..
apesar de tomado pelos questionamentos, inseguranças e incertezas do tipo, controlei a ansiedade e deixei rolar. estava entorpecido, excitado, animado, curioso. sensacional! parafraseando o poeta argentino: era um grande momento.
nessa hora, percebo que chegou a cinelândia. e ela não desceria ali. aqueles dez ou quinze minutos pareceram uma vida. talvez tenham mudado uma vida. pior é que, devido às minhas referencias cinematográficas, closer não me saía da cabeça..
percebo agora que me esqueci dos óculos e a dor de cabeça já chegou. a ruiva? nunca mais vi. mas é impressionante como essas nanopassagens marcam e tornam-se referência. acho que esse é outro segredo de tostines: a vida é mesmo feita de pequenos e curtos momentos. às vezes, curtos demais.
domingo, 25 de dezembro de 2011
correio de natal
a guerra das malvinas [ou falklands, como insistem os caras “da ilha”] foi minha primeira incursão no que se transformaria em profissão. eu tinha nove anos, mas esperava o jornal todos os dias para saber o que tinha acontecido no dia anterior. a guerra não reservou grandes surpresas: a poderosa Inglaterra massacrou a Argentina e fez o que a lógica esperava de davi x golias. alguns anos passaram e vi “letters from Vietnam” [bill couturié, 1987]. pra mim, genial libelo sobre aquela guerra, do nível de "full metal jacket" [kubric, também de 1987]. o filme tem uma peculiaridade que humaniza a estória e aproxima o expectador: é todo narrado em off, por meio da leitura de cartas trocadas entre soldados, famílias e namoradas.
há um trecho que retrata a noite de natal de 1972, num ponto do mekong de que não me recordo bem [ainda não instalei internet em minha nova habitação, então, nada de confirmações googlianas]. americanos entrincheirados [e amedrontados, claro; a media de idade das tropas do tio sam era 19 anos..] de um lado, e vietcongs furiosos, eficientes e escondidos, do outro.
o combate comia solto quando, por volta de cinco minutos antes de meia noite, os tiros cessaram. em seguida, artilharia pesada de ambos os lados foi apontada para cima e uma sequência amalucada de tiros foi dada para o alto. um lado metralhava pra cima e o outro respondia da mesma forma, numa sinfonia pacífica bem no coração de uma guerra estúpida, lutada furiosamente por meio-homens e meio-crianças. ali, de forma impensável e não programada, em trincheiras imundas, meninos americanos e vietnamitas, famintos, celebraram o tal do natal.
o que teria feito cessar o ódio que contaminava corações e mentes daqueles povos, ainda que por um breve momento? a celebração de algo que nem é compreendido da mesma forma por cada cultura? que espírito é esse? será que eu nunca fui contaminado por ele?
para entender como é difícil suspender o ódio de alguém que se tenta vencer no campo de batalha, me lembrei logo do igualmente fantástico "the duellists". ridley scott fez essa jóia em 1979, antes de ganhar o mundo com blade runner. no filme, passado na frança napoleônica, dois sujeitos começam a se estranhar por besteira e passam a vida – no caso, mais de 40 anos se enfrentando. a honra de vencer o combate – e derrotar o oponente era bem maior do que os motivos que os levaram a se enfrentar.
recorro também aos ensinamentos milenares de sun tzu, bem resumidos na importância de se conhecer o oponente para vencê-lo. mas na passagem abordada não se trata disso. as duas partes se enfrentavam sem muita razão. americanos, com a patética alegação de conter o perigo do avanço comunista na região; o vietnam, para defender seu território. e naquela noite não havia a intenção vencer o inimigo, mas apenas de lembrar de uma festa que parecia acontecer há anos luz dali.
no dia seguinte, corações e mentes gelaram novamente. o ódio brotou junto com o sol do dia 25 de dezembro e, de uma hora para outra, o combate recomeçou. já escrevi sobre minha incompreensão dos festejos e do espírito natalino. mas a lembrança do filme me remeteu à ideia de que se trata, sim, de um período especial.
é hora de baixar o especial de natal da turma da mônica [década de 70, claro], tomar uma dose de tanqueray em um de meus copos novos e desembrulhar presentes e rancores.
há um trecho que retrata a noite de natal de 1972, num ponto do mekong de que não me recordo bem [ainda não instalei internet em minha nova habitação, então, nada de confirmações googlianas]. americanos entrincheirados [e amedrontados, claro; a media de idade das tropas do tio sam era 19 anos..] de um lado, e vietcongs furiosos, eficientes e escondidos, do outro.
o combate comia solto quando, por volta de cinco minutos antes de meia noite, os tiros cessaram. em seguida, artilharia pesada de ambos os lados foi apontada para cima e uma sequência amalucada de tiros foi dada para o alto. um lado metralhava pra cima e o outro respondia da mesma forma, numa sinfonia pacífica bem no coração de uma guerra estúpida, lutada furiosamente por meio-homens e meio-crianças. ali, de forma impensável e não programada, em trincheiras imundas, meninos americanos e vietnamitas, famintos, celebraram o tal do natal.
o que teria feito cessar o ódio que contaminava corações e mentes daqueles povos, ainda que por um breve momento? a celebração de algo que nem é compreendido da mesma forma por cada cultura? que espírito é esse? será que eu nunca fui contaminado por ele?
para entender como é difícil suspender o ódio de alguém que se tenta vencer no campo de batalha, me lembrei logo do igualmente fantástico "the duellists". ridley scott fez essa jóia em 1979, antes de ganhar o mundo com blade runner. no filme, passado na frança napoleônica, dois sujeitos começam a se estranhar por besteira e passam a vida – no caso, mais de 40 anos se enfrentando. a honra de vencer o combate – e derrotar o oponente era bem maior do que os motivos que os levaram a se enfrentar.
recorro também aos ensinamentos milenares de sun tzu, bem resumidos na importância de se conhecer o oponente para vencê-lo. mas na passagem abordada não se trata disso. as duas partes se enfrentavam sem muita razão. americanos, com a patética alegação de conter o perigo do avanço comunista na região; o vietnam, para defender seu território. e naquela noite não havia a intenção vencer o inimigo, mas apenas de lembrar de uma festa que parecia acontecer há anos luz dali.
no dia seguinte, corações e mentes gelaram novamente. o ódio brotou junto com o sol do dia 25 de dezembro e, de uma hora para outra, o combate recomeçou. já escrevi sobre minha incompreensão dos festejos e do espírito natalino. mas a lembrança do filme me remeteu à ideia de que se trata, sim, de um período especial.
é hora de baixar o especial de natal da turma da mônica [década de 70, claro], tomar uma dose de tanqueray em um de meus copos novos e desembrulhar presentes e rancores.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
juno [ou, tempo de celebrar]
quando assisti juno [jason reitman, 2007], fiquei impressionado. com o talento da moça-com-cara-de-menininha helen page, com a delícia e a sensibilidade da estória – adaptada de obra escrita por uma ex-stripper [atende pela alcunha de diablo cody], sensível e bem mais profunda que a média do estilo; com o talento de michael cera, o desengonçado paulie bleeker. amigo e namorado de juno macguff, ele é “co-responsável” por sua gravidez. pai da coisa que vive em sua barriga, fio condutor da simpática estória.
juno é uma adolescente tipicamente questionadora, lado B. bonitinha, mas rebelde, exerce liderança natural no ambiente previsível da escola. dá trabalho aos pais e inspira atenção típica da idade. não foge à regra. o filme é simples, quase simplório. mas não me lembro de outra película que proponha, de forma tão natural, a discussão sobre tema ainda espinhoso em nossa ainda involuída sociedade: a gravidez adolescente. sempre cercado de tabus e estigmas, ele é abordado no filme de forma tranqüila, sem pressão, sem peso, sem culpa, ainda que bastante factível.
quando vi o filme, fiquei com inveja. que realidade era aquela?! total compreensão com uma gravidez não planejada, não desejada e, obviamente, precoce para os padrões normoides. pai compreensivo, madrasta amiga, colegas companheiros - ainda que naturalmente imaturos, e namoradinho sensível. em que planeta isso? tem de tudo no filme. sem sufocar, sem pesar, passeia-se por temas como políticas contraceptivas, educação sexual e reprodutiva. tendo trabalhado com o tema por tanto tempo, claro que fiquei intrigado..
mas, a partir de reflexão simples, concluo que tenho toda as vantagens de juno: fiz parte de uma turma meio-outsider, original e contestadora e meio-underground; e convivi com não uma, mas duas junos; duas “eles”. L. carioca, cerca de 27 anos, extrovertida, alternativinha e muito tatuada.. foi a primeira referencia no RJ. conheci assim que cheguei. gostos comuns, saímos diversas vezes. l. braziliense, 25, sensível, divertida, refinada, sensual. tornou-se amiga e, até certo ponto, confidente. o intrigante: com ambas, nunca ultrapassamos a fronteira da amizade. pitada de flerte, gotas de sedução, mas amizade acima de tudo.
na mesma brincadeira, lembro-me da amizade recente com o jovem a, dez anos cronológicos mais jovem, diferente em um caminhão de coisas. hoje, referencia profissional e, por que não, amigo de muitas horas.
por todos os paradigmas pulverizados, celebro a diferença. celebro as tatuagens, as origens esquisitas, os gostos idiossincráticos. celebro quem não gosta de the cure e quem não curte beatles. às vezes o universo “Juno” não revela superficialidade, mas a solidez de outro mundo, apenas diferente, meio desconhecido.
juno é uma adolescente tipicamente questionadora, lado B. bonitinha, mas rebelde, exerce liderança natural no ambiente previsível da escola. dá trabalho aos pais e inspira atenção típica da idade. não foge à regra. o filme é simples, quase simplório. mas não me lembro de outra película que proponha, de forma tão natural, a discussão sobre tema ainda espinhoso em nossa ainda involuída sociedade: a gravidez adolescente. sempre cercado de tabus e estigmas, ele é abordado no filme de forma tranqüila, sem pressão, sem peso, sem culpa, ainda que bastante factível.
quando vi o filme, fiquei com inveja. que realidade era aquela?! total compreensão com uma gravidez não planejada, não desejada e, obviamente, precoce para os padrões normoides. pai compreensivo, madrasta amiga, colegas companheiros - ainda que naturalmente imaturos, e namoradinho sensível. em que planeta isso? tem de tudo no filme. sem sufocar, sem pesar, passeia-se por temas como políticas contraceptivas, educação sexual e reprodutiva. tendo trabalhado com o tema por tanto tempo, claro que fiquei intrigado..
mas, a partir de reflexão simples, concluo que tenho toda as vantagens de juno: fiz parte de uma turma meio-outsider, original e contestadora e meio-underground; e convivi com não uma, mas duas junos; duas “eles”. L. carioca, cerca de 27 anos, extrovertida, alternativinha e muito tatuada.. foi a primeira referencia no RJ. conheci assim que cheguei. gostos comuns, saímos diversas vezes. l. braziliense, 25, sensível, divertida, refinada, sensual. tornou-se amiga e, até certo ponto, confidente. o intrigante: com ambas, nunca ultrapassamos a fronteira da amizade. pitada de flerte, gotas de sedução, mas amizade acima de tudo.
na mesma brincadeira, lembro-me da amizade recente com o jovem a, dez anos cronológicos mais jovem, diferente em um caminhão de coisas. hoje, referencia profissional e, por que não, amigo de muitas horas.
por todos os paradigmas pulverizados, celebro a diferença. celebro as tatuagens, as origens esquisitas, os gostos idiossincráticos. celebro quem não gosta de the cure e quem não curte beatles. às vezes o universo “Juno” não revela superficialidade, mas a solidez de outro mundo, apenas diferente, meio desconhecido.
sábado, 26 de novembro de 2011
'stand by me' ludovicense – uma visita
já são 25 anos do verão quente e inesquecível de 1986, na grande são luís do maranhão. o contexto era a explosão da challenger, RPM e cometa halley. eu era um jovem atrapalhadamente tímido e orgulhosamente deslocado, o que reforçava hábitos pouco ortodoxos para um menino residente na beira da praria de uma pacata capital nordestina. um deles, cultivado até o presente, é o de ir ao cinema sozinho. sinto um prazer esquisito, sem explicação [nem tanto], e ainda pouco compreendido, que tem muito menos a ver com solidão do que com individualismo. naquele ano, fui ao cine tropical assistir à estreia de stand by me, atraído pelo roteiro do spielberg, pela música épica de john lennon e, claro, fascinado pelo trailler, assistido um mês antes.
no caminho da casa de minha vó [espécie de “base de operações”] até o cinema, havia um longo [ok, precepção pré-adolecente] terreno baldio que, se não podia ser considerado perigoso, era bem ermo. atravessávamos uns 2 kilômetros de mato, manguezais e estradinhas, para cruzar a segunda metade da ponta do farol [o bairro] e chegar ao cinema, uma das poucas diversões de então, para a juventude dourada da ilha do amor, não a do manezinho. eu tinha 12 anos e até então só havia ido ao cinema com amigos ou com meus pais; nunca sozinho. confesso que ponderei. tinha medo do caminho, não pelos motivos atuais, mais associados à violência gratuita e absurda – queimam-se índios e pais como quem fuma um baseado, mas receio de mim mesmo, de não achar o caminho, de não conseguir, de.. sei lá, medo. naquela época, andar sozinho me fascinava. eu associava liderança, esperteza, traquejo, aos meninos que andavam sozinhos, que iam à escola de ônibus, iam à praia surfar, sem os pais, sem ninguém.
pensei, reli a sinopse do filme: quem era river phoenix?! ah, mas tinha richard dreyfuss, de jaws e close encounters. “grupo de meninos parte em busca de um cadáver em aventura que mudará o curso de suas vidas”, dizia o cartaz. não sei se era apelação marketeira, mas não resisti e fui. e não aconteceu nada demais durante o trajeto. sozinho, a única diferença foi o tempo ter demorado mais a passar, só. chegando ao cinema, porém, me senti importante pra cacete! porra, tinha 12 anos e conseguira chegar ao cinema, a pé, sozinho. estava para completar uma grande aventura. senti excitação, felicidade, vontade de ir a pé a todos os.. trës cinemas da cidade. estava realmente feliz. o filme seria a sagração, o ápice do cumprimento dessa fase, mas apenas um detalhe, se comparado à conquista, àquele sentimento de superação tão relaxante, e que na mocidade é inesquecível. o enredo? aquilo mesmo: após o assassinato brutal de um menino na pequena castle rock, um grupo de amigos parte numa epopeia brancaleonesca em busca do corpo - até então desaparecido. descobrem muito mais.
ter visto a saga de gordie lachance e seus amigos, contudo, representou muito mais, marcou muito mais do que o esperado. foi minha entrada efetiva na adolescência. a partir daquela tarde quente de verão, filmes não seriam os mesmos para mim, e o caminho até o cinema não seria igual – já havia sido conquistado; eu passaria a não mais entender coisas, perceber fatos e pessoas da mesma forma. o efeito bombástico que a história tem na vida dos quatro amigos misturou-se à minha percepção da realidade. tal como lachance nunca mais veria castle rock da mesma forma, são luís havia mudado para mim, em uma tarde..
eu gostava de viver lá, mas a cidade começava, definitivamente, a encolher.
de são luís, fica a lembrança de uma época inesquecível, adolecência tranquila, solta e sem pressões, vivida entre a praia e o mangue. do filme, lembro da personagem de dreyfuss – lachance adulto, dizer que nunca mais teremos amigos como os que tivemos aos 12 anos. não sei se concordo, mas faz sentido. por que atualizar esse texto agora? estranho, mas hoje percebi que brasília começa a parecer menor..
no caminho da casa de minha vó [espécie de “base de operações”] até o cinema, havia um longo [ok, precepção pré-adolecente] terreno baldio que, se não podia ser considerado perigoso, era bem ermo. atravessávamos uns 2 kilômetros de mato, manguezais e estradinhas, para cruzar a segunda metade da ponta do farol [o bairro] e chegar ao cinema, uma das poucas diversões de então, para a juventude dourada da ilha do amor, não a do manezinho. eu tinha 12 anos e até então só havia ido ao cinema com amigos ou com meus pais; nunca sozinho. confesso que ponderei. tinha medo do caminho, não pelos motivos atuais, mais associados à violência gratuita e absurda – queimam-se índios e pais como quem fuma um baseado, mas receio de mim mesmo, de não achar o caminho, de não conseguir, de.. sei lá, medo. naquela época, andar sozinho me fascinava. eu associava liderança, esperteza, traquejo, aos meninos que andavam sozinhos, que iam à escola de ônibus, iam à praia surfar, sem os pais, sem ninguém.
pensei, reli a sinopse do filme: quem era river phoenix?! ah, mas tinha richard dreyfuss, de jaws e close encounters. “grupo de meninos parte em busca de um cadáver em aventura que mudará o curso de suas vidas”, dizia o cartaz. não sei se era apelação marketeira, mas não resisti e fui. e não aconteceu nada demais durante o trajeto. sozinho, a única diferença foi o tempo ter demorado mais a passar, só. chegando ao cinema, porém, me senti importante pra cacete! porra, tinha 12 anos e conseguira chegar ao cinema, a pé, sozinho. estava para completar uma grande aventura. senti excitação, felicidade, vontade de ir a pé a todos os.. trës cinemas da cidade. estava realmente feliz. o filme seria a sagração, o ápice do cumprimento dessa fase, mas apenas um detalhe, se comparado à conquista, àquele sentimento de superação tão relaxante, e que na mocidade é inesquecível. o enredo? aquilo mesmo: após o assassinato brutal de um menino na pequena castle rock, um grupo de amigos parte numa epopeia brancaleonesca em busca do corpo - até então desaparecido. descobrem muito mais.
ter visto a saga de gordie lachance e seus amigos, contudo, representou muito mais, marcou muito mais do que o esperado. foi minha entrada efetiva na adolescência. a partir daquela tarde quente de verão, filmes não seriam os mesmos para mim, e o caminho até o cinema não seria igual – já havia sido conquistado; eu passaria a não mais entender coisas, perceber fatos e pessoas da mesma forma. o efeito bombástico que a história tem na vida dos quatro amigos misturou-se à minha percepção da realidade. tal como lachance nunca mais veria castle rock da mesma forma, são luís havia mudado para mim, em uma tarde..
eu gostava de viver lá, mas a cidade começava, definitivamente, a encolher.
de são luís, fica a lembrança de uma época inesquecível, adolecência tranquila, solta e sem pressões, vivida entre a praia e o mangue. do filme, lembro da personagem de dreyfuss – lachance adulto, dizer que nunca mais teremos amigos como os que tivemos aos 12 anos. não sei se concordo, mas faz sentido. por que atualizar esse texto agora? estranho, mas hoje percebi que brasília começa a parecer menor..
sábado, 19 de novembro de 2011
procura-se eduarda
ovídio nasceu em 43 a.c. a data é longínqua, mas as reflexões do poeta sobre os mistérios, as complicações, as exaltações e as agruras do amor romântico parecem mais atuais do que nunca. por meio da poesia do livro III de seu épico “A arte do amor”, o italiano escreve sobre o que colocaria duas pessoas “na mesma rota”. o assunto parece meio repetido, mesmo no espaço do blog [de acordo com um raro diamante cor de rosa, eu usaria o espaço para terapeutizar monstros internos e, empoderado e protegido, enfrentar o mundo exterior e expor meus devaneios com mais legitimidade]. mas a cultura contemporânea fez várias contribuições para a análise da questão. uma delas, a película chasing amy [1997], ícone da cultura pop dos 1990.
o amalucado kevin smith já havia nos presenteado com clerks [1994] e contava com algumas produções autorais no currículo. mas em chasing amy o cara brindou com bom champagne à famosa geração X [não por acaso, a minha] e propôs uma reflexão simples, mas contundente sobre um tema que não pára de me fascinar: encontros, desencontros e reencontros. para quem já leu alguma coisa de alfred kinsey, biólogo que revolucionou a sexologia na década de 1940, talvez o filme não proponha nada novo. mas tem, sim, mérito. trabalhou com bons atores em começo de carreira, e discutiu a juventude dos anos 1990 com criatividade similar à do genial some like it hot (1959), de Billy Wilder. tem um Ben Affleck charmosão e loser, um amigo metralhadora giratória, sarcástico e igualmente loser, Joey Lauren Adams chatinha mas charmosa. a direção é ágil para a época, apesar de hoje parecer meio datada.
o enredo é simples: holden [Affleck] e alicia [Adams] são cartunistas ilustradores que se apaixonam a partir de um encontro pouco usual. mas os dois têm passado tão similar como sérvios e croatas. além disso, ela é lésbica. ou melhor, bissexual. holden não tem maturidade para encarar sua orientação nem seu passado. a maneira idiossincrática como a estória se desenrola desestabiliza a relação fraternal de holden com banky, melhor amigo, roomate e também cartunista. há momentos memoráveis - como o que holden propõe um threesome entre eles, para nivelar experências. mas também há reflexões sérias sobre temas sérios, como a hora em que holden se declara e ela, furiosa, acha injusto, exatamente por se considerar lésbica e bem resolvida quanto a isso. e alicia realmente era. mas preciso é navegar.. viver é outra coisa.
a condução do filme é leve, descomprometida, gostosa, genial. holden não consegue processar o passado “sortido” de alicia, que viveu as loucuras da mocidade e também transou com homens nos primórdios da faculdade. a previsível e patética insegurança de nós homens brota com força. em determinado momento, um amigo discorre sobre o platonismo da paixão, e sobre como procuramos – em vão, claro, por uma alma gêmea, um par perfeito. cita o exemplo de um amigo que se apaixona por uma tal amy. eles namoram até o cara terminar a relação por ciúmes. quando ele finalmente entende a merda que fez, claro, passa o resto da vida procurando por sua Amy..
a insegurança de holden cristaliza-se e acaba por minar a relação, estraga a beleza do encontro. criticá-lo seria cruel: quem, envolvido de cabeça em uma relação amorosa tem total controle sobre ela? no máximo, se conduz a própria participação.. parece mais do mesmo? sim, claro. quem já não viu esse fime? talvez a tônica da existência seja mesmo uma eterna, cruel e ingrata procura pela amy de cada um. pela felicidade. pela redenção da imaturidade, da burrice.. do desencontro. mas o caminho até essa percepção é cruel e as dificuldades, plurais. não podemos, assim, complicar o que já é difícil. que cada um corra [ou não] atrás de sua amy e liberte-se de preconceitos, fórmulas e traumas: agarre-a!!! que se busque uma relação passional, mas justa, sã, equilibrada.
por fim, não se pode desprezar a possibilidade de a Amy estar.. em cada um de nós. mais ou menos, a tese dos escritos apócrifos de são tomé: crê num pedaço de madeira e a felicidade lá estará. ninguém precisa de intermediário para a plenitude.
sábado, 12 de novembro de 2011
cachorro, gato, galinha..
foi um marco temporal, surpreendente: meu irmão caçula se casou. ele, que há pouco passava horas entocado no quarto jogando e discutindo com o video game, contraiu matrimônio. confesso que surpreendeu um pouco o traço ritualístico do meu irmão, nunca pensei que ele fosse assim. mas foi lá, todo bem vestido, todo decorado, todo safo e tchumpf!! aceitou a moça com sua legítima esposa. tudo normal até aí. a cerimônia teve família, bem-casado, salgadinho, parte religiosa e tudo. mas despertou minha atenção para algo em hibernação em minha pessoa: o sentimento de união familiar, de agregar, de juntar.
sempre concordei com o escritor japonês nairamo nisoda: a família como eixo inconteste da formação de nosso caráter é superdimensionada; valores individuais são o que realmente importa, e laços consangüíneos não devem e não podem ser mais fortes que a identificação por afinidades. é ela que dá “liga” às uniões no mundo contemporâneo. pelo menos deveria. é ela – ou sua falta, também, que decreta o fim prematuro de uniões, românticas ou não. mas a porra da família está lá, para o bem e para o mal. é nela que residem, quase sempre, as primeiras causas de nossos primeiros traumas e ela é a primeira referência de segurança, de porto seguro. e lá estava parte considerável da minha família, com boas e esquisitas surpresas.
um eixo inquestionavelmente agregador: meu pai. alem da óbvia alegria por um reencontro que no meu caso já aguardava cinco anos, sua presença juntou o clã e trouxe tias loucas e primos mais loucos ainda para a mesma mesa. sensíveis tendem a sensibilizar.. os mais sensíveis. como meu primo policial federal. simpatia em pessoa e essencialmente bom, naquela noite, ele, que é “juntado” há vários anos, disse que se casaria apenas para ter o prazer de juntar gente tão querida. foi legal demais ver meu pai conversar com mike, o desequilibrado gente fina de boa alma de quem sou amigo há quase 20 anos. foi surreal conversar – sem estimulação etílica com sua mulher sobre filhos, paternidade por afinidade, planejamento etc.
foi sensacional ver meu irmão de bom coração desmanchar-se e declarar ter sido aquele um dos momentos mais emocionantes de sua vida.
capítulo à parte, foi muito especial ter a companhia de minhas enteadas, vestidas como ”daminhas”. a mais velha, genuinamente emocionada e hipnotizada com o rito, com o altar, acompanhava cada movimento com atenção quase passional. enxergo uma fonte inesgotável de sensibilidade na menina; a caçula olhava tudo com charme peculiar – de soslaio, parecia debochar de tudo, mas com classe e curiosidade. foi a nota cômica: segundos antes de entrar na igreja, ela puxa minha gravata e sussurra – andré, preciso fazer xixi. e assim, quebra-se todo o protocolo e noiva, mãe da noiva, noivo e demais bonequinhos efeitados aguardam enquanto eu a ajudo a se livrar de camadas e camadas de “náguas”..
apesar de minha incompreensão com o rito em si, reconheci a importância de juntar a família, de celebrar altruisticamente a felicidade de alguém próximo. contrariando meus prognósticos, fiquei até o fim. não doeu, não incomodou. ao ir embora, opa! havia drambuie. duas doses mais tarde, era hora de chegar em casa a tempo de ver o sensacional chasing amy. mas isso é assunto para outro post.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
justiça seja feita
isso não é um post. não é um texto. não propõe discussões originais. trata-se, apenas, de reconhecimento [ou homenagem] ao amigo cliffor, cara que enxergou - pudores moralistas às favas, potencial em natalie portman, desde o excelente beautiful girls [ted demme, 1996]. ela só tinha 13 anos, mas não é possível que ninguém mais enxergasse que a menina se transformaria.. bem, naquilo em que ela se transformou.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
alquimia
há cerca de vinte anos tive acesso a um manuscrito intrigante: “a alquimia das paixões”, do mestre ovitac sorrab. acho que o livro nunca foi publicado, mas isso não vem ao caso; me chamou atenção para um tema inusitado: o momento em que duas pessoas se notam, percebem-se no meio da multidão, e se aproximam, se conectam. seria, a meu ver, a conclusão bem sucedida da fase de flerte. mas o que faz dois estranhos cruzarem o olhar no meio da multidão? por que a pessoa com quem trabalho, convivo, tomo café, me reúno, discuto besteiras – como a reforma do prédio, e coisas importantes – como a crise da grécia, de uma hora para outra, transforma-se em uma pessoa interessante, atraente? mérito dela ou mérito e espírito aberto de quem nota? mérito do acaso? obviamente estou bem distante de respostas para essas questões. sei que o momento de ambas é determinante para a evolução do encantamento, para a efetivação do flerte. e para a paixão. a simples procura por uma explicação mostra-se um exercício delicioso.
me lembro da boa história de bram stoker’s dracula. a certa altura, o conde, transmutado em lobo, possui lucy, a prima ruivinha de mina, sua alma gêmea. entreolham-se e mina, horrorizada, é hipnotizada pelo bicho. drácula conclui que não, ele ainda não poderia interagir com seu amor. dezenas de páginas mais tarde, ao desembarcar em uma charmosa Londres vitoriana, o conde está elegantíssimo, de fraque de veludo, cartola e luvas de pelica. assim que desce de sua carruagem, lá enxerga mina. dessa vez, ele atrai sua atenção para que os olhos se cruzem. faz questão de ser visto, notado. a versão para cinema, de coppola [o pai] é ótima e retrata bem essa passagem.
a “alquimia das paixões” combina vários elementos não encontrados na tabela periódica, para explicar a tal relação entre encontros, desencontros e reencontros. claro que frustrações e projeções reproduzidas historicamente, por vezes, complicam nossa capacidade de apreciar os sinais emitidos pela outra pessoa. nessa hora, vale prestar atenção na linguagem corporal, nas nano-dicas, na sintonia fina e nos sinais conscientes e inconscientes emitidos. podem ser percebidos no club da moda, no avião, na padaria, na feira ou no pet shop. despertam a atenção do outro, com base em critérios racionais – "fulana tem cabelo curto e eu acho charmoso", ou nem tanto – "tenho de encontrar aquela ruiva com o símbolo do infinito tatuado no pulso esquerdo, que todo sábado dança - senhora de si no canto direito da pista da casa da matriz. de frente para o dj e de costas para o público".
o mais importante: quem determina se vai acontecer, o que vai acontecer, e quando vai acontecer é mesmo o timing.. mais importante que a estética, o tesão, ou mesmo as afinidades, o timing cruza olhares e dita as possibilidades de cada relação. é ele que pode decretar a morte prematura, a simples sobrevivência, ou a explosão da paixão. aí não há como não lembrar, mais uma vez, do casal jesse&celine, de before sunrise/sunset. com 22 anos, brincaram com o destino, por achar que se tem todo o tempo do mundo e que esbarraremos sempre em pessoas especiais.. isso é um absurdo. dez anos depois, reconhecem a estupidez da mocidade. e pagam alto preço por ela..
fui ao show do the cure em são Paulo, 1996. naquele frio 23 de janeiro conversei com um casal quarentão de BH que havia se conhecido no show da banda no ginásio mineirinho, em 1987, quase dez anos antes. estavam juntos desde então. pareciam genuinamente felizes, leves. inveja boa. seria uma bem sucedida história de amor, ou um exemplo corriqueiro de união que deu certo, a partir da aproximação.. flerte por afinidades musicais? vai saber.
o passado nos constrói e o futuro nos guia, mas a essência é o presente que vivemos, ou, que escolhemos viver. esse presente é – ou deveria ser um somatório de infinitas possibilidades. fiquemos atentos: talvez uma dessas possibilidades revele alguém que merece ser notado e dê chance a uma experiência fantástica..
me lembro da boa história de bram stoker’s dracula. a certa altura, o conde, transmutado em lobo, possui lucy, a prima ruivinha de mina, sua alma gêmea. entreolham-se e mina, horrorizada, é hipnotizada pelo bicho. drácula conclui que não, ele ainda não poderia interagir com seu amor. dezenas de páginas mais tarde, ao desembarcar em uma charmosa Londres vitoriana, o conde está elegantíssimo, de fraque de veludo, cartola e luvas de pelica. assim que desce de sua carruagem, lá enxerga mina. dessa vez, ele atrai sua atenção para que os olhos se cruzem. faz questão de ser visto, notado. a versão para cinema, de coppola [o pai] é ótima e retrata bem essa passagem.
a “alquimia das paixões” combina vários elementos não encontrados na tabela periódica, para explicar a tal relação entre encontros, desencontros e reencontros. claro que frustrações e projeções reproduzidas historicamente, por vezes, complicam nossa capacidade de apreciar os sinais emitidos pela outra pessoa. nessa hora, vale prestar atenção na linguagem corporal, nas nano-dicas, na sintonia fina e nos sinais conscientes e inconscientes emitidos. podem ser percebidos no club da moda, no avião, na padaria, na feira ou no pet shop. despertam a atenção do outro, com base em critérios racionais – "fulana tem cabelo curto e eu acho charmoso", ou nem tanto – "tenho de encontrar aquela ruiva com o símbolo do infinito tatuado no pulso esquerdo, que todo sábado dança - senhora de si no canto direito da pista da casa da matriz. de frente para o dj e de costas para o público".
o mais importante: quem determina se vai acontecer, o que vai acontecer, e quando vai acontecer é mesmo o timing.. mais importante que a estética, o tesão, ou mesmo as afinidades, o timing cruza olhares e dita as possibilidades de cada relação. é ele que pode decretar a morte prematura, a simples sobrevivência, ou a explosão da paixão. aí não há como não lembrar, mais uma vez, do casal jesse&celine, de before sunrise/sunset. com 22 anos, brincaram com o destino, por achar que se tem todo o tempo do mundo e que esbarraremos sempre em pessoas especiais.. isso é um absurdo. dez anos depois, reconhecem a estupidez da mocidade. e pagam alto preço por ela..
fui ao show do the cure em são Paulo, 1996. naquele frio 23 de janeiro conversei com um casal quarentão de BH que havia se conhecido no show da banda no ginásio mineirinho, em 1987, quase dez anos antes. estavam juntos desde então. pareciam genuinamente felizes, leves. inveja boa. seria uma bem sucedida história de amor, ou um exemplo corriqueiro de união que deu certo, a partir da aproximação.. flerte por afinidades musicais? vai saber.
o passado nos constrói e o futuro nos guia, mas a essência é o presente que vivemos, ou, que escolhemos viver. esse presente é – ou deveria ser um somatório de infinitas possibilidades. fiquemos atentos: talvez uma dessas possibilidades revele alguém que merece ser notado e dê chance a uma experiência fantástica..
sábado, 1 de outubro de 2011
sonhos&devaneios numa terça de manhã. [parte 1]
tempo seco em brasília, oito da manhã. eu saía da 410 em direção à 407. sul, claro. estava sem propósito, ainda que não tivesse tempo para jogar fora: começo no trabalho às 9h em ponto. naquela ocasião, eu pensava em coisas da vida, sem expectativas. apesar da terça-feira quente, decidi tomar um expresso antes do trabalho. ao virar a esquina, digo, a entrada da quadra, me lembrei da grão mestre. bom lugar para um café, uma lida no jornal, um pão na chapa e um pouco de sol. ao chegar lá, logo encontrei mesa. pela hora, não havia concorrência para as cadeiras.
sentado, folheio a interessante autobiografia do keith richards [life], enquanto espero pela simpatia das moças que servem. no local, apenas as presenças “padarísticas” habitualmente imperceptíveis. olho para a mesa ao lado.. quase me queimei! putaquepariu, eu tomei LSD ontem? não, eu sei que não. mas.. peraí! era ela mesma: sofia copolla, em carne e osso! virgins suicides, marie antoinette e.. o cerebral lost in translation. tomando café com pão de queijo, enquanto escrevinhava alguma coisa num moleskine bem usadinho. na grão mestre. em brasília. logo ali.
a moça tinha um cabelo meio desgrenhado e fundo de garrafa pretinho, camisa branca de manga curta [com botões], calça risca de giz. não estava de all star mas exibia um sapatinho vermelho de boneca, típico de 1996. esmalte vermelho nas mãos, ela era muito branca, meio baixinha e muito, mas muito mais charmosa do que eu pensava. como sói acontecer, a beleza não era proporcional ao charme. o tempo passava, e ela continuava escrevendo naquele caderninho. concentrada, fazia umas coisas esquisitas com a boca: mordiscava o lábio inferior. enquanto acabava o segundo café, não agüentei:
- excuse me, can i borrow the chair? foda, mas a timidez há muito deixou de ser minha amiga. não perderia a chance de ver os dentes da jovem.
- pode falar português, eu entendo - putz.. viagem pra ser viagem, tem de ser.. viagem! ela falava português.
pra jogar conversinha fora, comentei que adorava lost in translation. ela sorriu como quem encontra a brasserie rosario aberta em dia quente, e agradeceu. eu já não entendia nada, mas entrei na viagem: pedi um instante e avisei no trabalho que havia tido uma emergência: não voltaria naquele dia. recuperado do susto, perguntei logo o que bill murray susurra para scarlett johanson ao final do filme. ela sorriu e mandou:
- você acha o filme charmoso?
- pra caralho.
- gosta daquela sequência do susurro?
- acho poesia em um filme perfeito, econômico.
- pois bem. se eu te disser, todo o charme se perde.
não é que a esquisita tem razão? claro! adorei ser enrolado por sofia. e aproveitei o ensejo:
- você tem tempo, minha jovem?
- tenho. estou acabando umas anotações mas fico em Brasília até amanhã.
- quer tomar café num lugar legal, intimista, mais charmoso? – mandei, sem papas. ela sorriu um sorriso engraçadinho.. [porra, eu tava no céu!]
- você conhece Brasília? – ela indagou em tom “metralhativo”.
- sim. nasci aqui. não tenho gigantesca simpatia pela cidade, mas se pode curtir bastante algumas coisas. como o CCBB, por exemplo. é um complexo artístico e cultural, mantido pelo maior banco estatal brasileiro. ela gostou. paguei a conta e fomos – no meu accent 1996 conferir a programação de mostras.
a tarde foi deliciosa: ouvimos choro [estrangeiros devem conferir o estilo, tão brasileiro quanto o samba], comemos no café do local e conversamos bastante. ainda veríamos a exposição sobre um modernista esquisito daqueles. mostrei-lhe a UnB e depois alguns pontos turísticos, como o palácio do itamaraty. e o café? apostei na boa certeza: Ernesto, na 115 sul. parece um mini-enclave de palermo soho. lugar transado, cafés criativos e bem tirados e simpatia avassaladora de Juliana, a proprietária. vale a dica. enquanto dávamos conta de alguns caffé lattes e uns bolinhos de sabor convidativo, conversamos muito. o fim da tarde gostosa foi decretado por Sofia:
- acho que para um devaneio, está de bom tamanho..
- hã?! – devolvi. como assim? agora que estava ficando delicioso?!
- é assim, porque boas viagens são assim: curtidas, vividas, verdadeiras [não necessariamente reais..], e aproveitadas. putz, beleza.
- mas e agora? posso ao menos ter seu telefone? [eu simplesmente tinha de perguntar!]
sofia, não-linda, não-gostosa, mas maravilhosamente charmosa, sorri com metade da boca [como a chata da katie holmes fazia], mexe no cabelo, se aproxima e, tocando meu rosto, sussurra meia frase arrebatadora..
ah, sacana!! como escutar aquilo e não se apaixonar?
tudo bem, como diz maria luíza: “é tempo de retornar”..
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
pra quê a pressa?
enquanto acessava minha conta bancária [putz..], recebi uma nova demanda no trabalho. colegas ansiosos produzem um ambiente de ansiedade. quando o chefe não padece dessa moléstia contemporânea, os estressadinhos sobressaem-se. num desses momentos em que o stress impera, meu inconsciente trabalhou bem e me lembrei de uma passagem narrada em família desde os idos de minha infância. meu pai sempre contava histórias de um amigo antropólogo, o marins. eu era muito criança para fazer associações maduras, mas o humor e a inteligência do cara tornaram-se uma referência para mim.
quando cresci, descobri que o marins é luiz antônio marins filho, PhD e antropólogo formado pela Macquarie University. orientado pelo também antropólogo prof. dr. chandra jayawardena, licenciou-se em história. estudou também direito, ciência política, negociação, planejamento e marketing. atualmente fatura alto em palestras motivacionais para empresas. e daí?
---
no batido intuito de refugiar-se e procurar respostas definitivas para perguntas essenciais, algo latente em todos nós [vivas a são tomé!], e para dar vazão à veia antropológica, marins partiu numa jornada solitária [vivas a alex supertramp!] lá pelos idos dos anos 1970. decidiu refugiar-se no distante território dos aborígenes, no árido e desértico interior australiano [no caminho entre darwin e adelaide as temperaturas passam de 50ºC]. à época, eles viviam como os yanomamis amazônicos nos anos 1980: quase sem contato com a civilização. preservavam hábitos e costumes seculares e cultivavam lavoura de subsistência – plantavam o que podiam para matar a fome, dedicavam-se a algumas culturas primárias e, em especial à caça. a fome era realidade.
na região, predominam os Dromaius novaehollandiae, ou emus. primo da brasileiríssima ema, o bicho é símbolo de prosperidade e associado pelos aborígenes a um sem número de ritos sociais e culturais. durantes alguns meses por ano, é seu único banquete. por isso, tudo, todos os processos, da mudança do tempo aos rituais de passagem dos aborígenezinhos, era associado ao emu.
marins encontrou muita resistência à sua integração com o povo, mas após alguns meses, estava completamente inserido na cultura e nos hábitos da tribo. fazia as refeições junto do pajé e dos sábios e lhe era sempre conferido lugar de destaque nas discussões mais importantes do povo.
o ritual da primeira caçada era a manifestação mais importante para aquele povo: o emu mobilizava toda a comunidade. mulheres pintavam-se e se enfeitavam. meninos eram treinados física e psicologicamente para enfrentar testes e provas exaustivas para ingresso na fase adulta, peças eram encenadas, cerimônias realizadas e casamentos celebrados com inspiração na primeira caçada ao emu. marins sentiu, ao longo dos meses que seguiram, a importância do animal para a tribo. a fome, as dificuldades, o calor insuportável, tudo era minimizado enquanto se preparava para a primeira caçada ao emu.
chegou o dia. quando batedores rastrearam o bicho, todos os homens da tribo partiram em expedição para caçá-lo. na frente, os batedores mais experientes, os mais velhos, o pajé e marins, como convidado de honra – já ganhara a confiança, o respeito e a admiração de todos. no segundo dia da expedição, eis que ele, o antropólogo maluco, enxerga o primeiro emu. ele vira para o restante da expedição e, aos berros incontidos, não segura a emoção:
- “o emu, o emu!! “ali, ali na frente, atrás daquele arbusto”!!! um emu, eu vi um emu”!!!
o pajé, do alto de seus cronológicos oitenta e tantos, vira para marins, dá um sorriso maroto e diz:
“meu filho, olhe à sua volta: o emu está caçado há meses”..
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
[re]encontros
experimentei, há cerca de quatro ou cinco anos, a reflexão: seria possível – para um fóbico como eu dividir o mesmo teto? a experiência amorosa que comecei a viver confirmou que sim. é possível aprender e ensinar marital e paternalmente. e tem mais: não há preço para isso. o mesmo teto vale a pena, tanto quanto respirar, beber água, viajar, gargalhar e tomar banho no mês de setembro, em Brasília. se houver amor franco e saudável, correspondido, vale ainda mais. confuso, com a asa ainda machucada, me pergunto: é possível vivenciar o mesmo com amigos? mais: com quase-desconhecidos? ainda não tenho resposta, mas devo apostar em breve.
passei de super-tímido a super-louco a super-irresponsável a super-chato a super-maduro a super velho. hoje sou menos super-confuso. quando se vive de peito aberto, o risco de sofrimento é maior, mas a verdade é sublime e a vida pode ser bem legal. dúvidas fazem parte dela e é bom que façam. crises, idem. mas, voltando à vaca fria: acalmar e reaproximar-me do sol tal qual o homem-pássaro ou apostar no [meio]desconhecido?
sempre respeitei a amizade e acho que a sociedade contemporânea supervaloriza a paixão. é foda conferir tanto valor a um sentimento que faz mais sentido quando morto, para dar lugar ao que realmente perdura e importa. a amizade é diferente: pode ser igualmente arrebatadora e confusa, mas não nos tira os dois pés do chão. proporciona a troca de experiências de maneira mais justa e equilibrada. apesar do risco da assimetria na doação, o intercâmbio é mais fácil na amizade.
lembro-me de sofia coppola e seu delicioso lost in translation; em português, “encontros e desencontros”. considero o filme uma ode aos encontros. a vida já nos bombardeia com desencontros. falta entender os “reencontros”. quando românticos, são legais; mas quando gostosos, divertidos, instigantes e verdadeiros, são memoráveis. eu já não acreditava nisso, mas talvez esteja vivendo um encontro na amizade. se os mestres dizem que está tudo escrito, não seria um reencontro? o tempo deve dar seu veredicto.
bom, o momento de decidir aproxima-se e inclino-me a arriscar. afinal, encontros marcantes são raros e valem a pena.
passei de super-tímido a super-louco a super-irresponsável a super-chato a super-maduro a super velho. hoje sou menos super-confuso. quando se vive de peito aberto, o risco de sofrimento é maior, mas a verdade é sublime e a vida pode ser bem legal. dúvidas fazem parte dela e é bom que façam. crises, idem. mas, voltando à vaca fria: acalmar e reaproximar-me do sol tal qual o homem-pássaro ou apostar no [meio]desconhecido?
sempre respeitei a amizade e acho que a sociedade contemporânea supervaloriza a paixão. é foda conferir tanto valor a um sentimento que faz mais sentido quando morto, para dar lugar ao que realmente perdura e importa. a amizade é diferente: pode ser igualmente arrebatadora e confusa, mas não nos tira os dois pés do chão. proporciona a troca de experiências de maneira mais justa e equilibrada. apesar do risco da assimetria na doação, o intercâmbio é mais fácil na amizade.
lembro-me de sofia coppola e seu delicioso lost in translation; em português, “encontros e desencontros”. considero o filme uma ode aos encontros. a vida já nos bombardeia com desencontros. falta entender os “reencontros”. quando românticos, são legais; mas quando gostosos, divertidos, instigantes e verdadeiros, são memoráveis. eu já não acreditava nisso, mas talvez esteja vivendo um encontro na amizade. se os mestres dizem que está tudo escrito, não seria um reencontro? o tempo deve dar seu veredicto.
bom, o momento de decidir aproxima-se e inclino-me a arriscar. afinal, encontros marcantes são raros e valem a pena.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
beautiful girls
ontem veio o diagnóstico esquisito: pneumonia. foda, nunca me imaginei com pneumonia. passo seguinte: repouso total. xaropes, antitérmicos e, claro, antibióticos. detesto antibióticos. detesto remédios não-naturais. corpo destruído, sem conseguir sequer me sentar na cama, peso no que fazer. ler é uma opção. filmes também. escrever, talvez. vamos por partes. decidi aproveitar o tempo para retomar um pouco do blog e fazer justiça a alguns filmes e estórias pouco celebrados. coisas ‘lado B’ mesmo. criei então os insights da cama.
o primeiro capítulo refere-se a beautiful girls [1995], de ted demme, delicioso filme sobre uma high school reunion [dez anos de término da escola] numa cidadezinha fria dos estados unidos. o que esperar? o de sempre: velhos conflitos revistos, amizades e inimizades questionadas, novos amores, desesperança, conformidade. por que esse é legal? por vários motivos. tem mais do mesmo. a gordinha recalcada brava. o inseguro que ainda mantém o quarto cheio de posters da playboy e critica todas as mulheres da vida real. a safada de caráter questionável que se casou mas não terminou o romance com um matt dillon que era o heroi da escola e hoje é apenas o fracassado dono de um serviço de limpeza de neve. há a namoradinha oficial de Dillon – mira sorvino em começo de carreira, bem apagadinha. claro que há também o casal referência de tranquilidade, com filhinhos bonitos e ambições há muito esquecidas.
além de tudo isso a película também tem timothy hutton ótimo no papel de willy, pianista meio líder-cerebral-ponto-de-equilíbrio-ainda-que-outsider. fio condutor do filme e referência da turma, toca por trocados em bares de chicago. charmoso, o cara tem o previsível medo masculino de comprometimento – tem uma namorada séria que ficou na cidade grande. willy volta à cidadezinha para o reencontro. hospedado com o pai e o irmão caçula, ele desenvolve uma bela [ok, deturpada e pedófila para uns..] relação com a vizinha de treze anos, marty: ninguém menos que natalie portman. já não criança, maravilhosa, sedutora, atrapalhada. marty apaixona-se por willy. nabokov? não nesse caso. ele até que fica confuso pela admiração dela [o que é sutilmente revelado em belas cenas], mas em nenhum momento a fronteira do bom senso é ultrapassada e a menina não controla a relação; ela não controla nem suas reações: a menina se apaixona pelo pianista. o diálogo do parque de patinação sobre winnie the poo é fantástico.
a relação que os dois desenvolvem é puro lirismo, não-óbvia, sedutora. a inocência da menina é um dos temperos mais charmosos da relação, e contrasta com a intranquilidade e a falta de jeito de willy, que tenta convencê-la de que nada poderia acontecer entre eles. ela pede a ele que a espere até os 18 anos. o diálogo é memorável. quando sua namorada junta-se ao grupo ele a apresenta para a menina. a cena é das mais charmosas e tocantes do filme.
no final, a cidadezinha retoma a rotina e willy retorna a chicago. um dos amigos do pianista certa hora diz que se ele voltar sabe exatamente onde encontrar todos – nada muda por aqui. nada quase nunca muda.
o primeiro capítulo refere-se a beautiful girls [1995], de ted demme, delicioso filme sobre uma high school reunion [dez anos de término da escola] numa cidadezinha fria dos estados unidos. o que esperar? o de sempre: velhos conflitos revistos, amizades e inimizades questionadas, novos amores, desesperança, conformidade. por que esse é legal? por vários motivos. tem mais do mesmo. a gordinha recalcada brava. o inseguro que ainda mantém o quarto cheio de posters da playboy e critica todas as mulheres da vida real. a safada de caráter questionável que se casou mas não terminou o romance com um matt dillon que era o heroi da escola e hoje é apenas o fracassado dono de um serviço de limpeza de neve. há a namoradinha oficial de Dillon – mira sorvino em começo de carreira, bem apagadinha. claro que há também o casal referência de tranquilidade, com filhinhos bonitos e ambições há muito esquecidas.
além de tudo isso a película também tem timothy hutton ótimo no papel de willy, pianista meio líder-cerebral-ponto-de-equilíbrio-ainda-que-outsider. fio condutor do filme e referência da turma, toca por trocados em bares de chicago. charmoso, o cara tem o previsível medo masculino de comprometimento – tem uma namorada séria que ficou na cidade grande. willy volta à cidadezinha para o reencontro. hospedado com o pai e o irmão caçula, ele desenvolve uma bela [ok, deturpada e pedófila para uns..] relação com a vizinha de treze anos, marty: ninguém menos que natalie portman. já não criança, maravilhosa, sedutora, atrapalhada. marty apaixona-se por willy. nabokov? não nesse caso. ele até que fica confuso pela admiração dela [o que é sutilmente revelado em belas cenas], mas em nenhum momento a fronteira do bom senso é ultrapassada e a menina não controla a relação; ela não controla nem suas reações: a menina se apaixona pelo pianista. o diálogo do parque de patinação sobre winnie the poo é fantástico.
a relação que os dois desenvolvem é puro lirismo, não-óbvia, sedutora. a inocência da menina é um dos temperos mais charmosos da relação, e contrasta com a intranquilidade e a falta de jeito de willy, que tenta convencê-la de que nada poderia acontecer entre eles. ela pede a ele que a espere até os 18 anos. o diálogo é memorável. quando sua namorada junta-se ao grupo ele a apresenta para a menina. a cena é das mais charmosas e tocantes do filme.
no final, a cidadezinha retoma a rotina e willy retorna a chicago. um dos amigos do pianista certa hora diz que se ele voltar sabe exatamente onde encontrar todos – nada muda por aqui. nada quase nunca muda.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
ódio no coração. ou, ai que saudade do talher de prata!!
sou fascinado pelo filme falling down. sempre fui instigado pelo questionamento: pode um homem normal, ou melhor, comum no sentido de ordinary, dar vazão ao stress, ao ódio e à irritação acumulados em pequenas situações cotidianas, por meio de uma explosão de fúria e insanidade? parecia difícil acreditar, até joel schumacher [sempre ele] conseguir compactar essa hipótese e convertê-la num grande filme. até aí, tudo bem:
- é arte mesmo! só que hoje, 30 de abril de 2010, comprovei na carne a proximidade delicada desse limite. não quero concordância e nem compreensão. preciso apenas escrever para não ir amanhã cedo à feira do rolo comprar uma pistola.. ilustremos.
capítulo 1.
ontem [29/4] recebo uma correspondência da american express, informando a suspensão do meu cartão, devido à não quitação de um débito há mais de 30 dias. apesar de não ter essa fatura no débito automático, nunca me esqueço de pagar contas: não brinco com dinheiro, especialmente sem ganhar salário há meses.
- estranho, pensei. mas quando voltei para casa, procurei a última fatura e.. pimba! tava lá, comprovante de pagamento e tudo.
- estranho, pensei de novo. ligo hoje cedo e sou informado de que o débito [172 reais] refere-se a uma fatura em aberto [não paga] do meu cartão anterior, de dezembro de 2009. naquele mês, recebi um novo cartão, como prêmio pela boa relação que tenho com a empresa [sic] – subi de nível.. ok. calma. ligo para central e escuto da mocinha que eu deveria ter ligado e cancelado o cartão anterior e que a correspondência de envio deveria ter mencionado isso. deveria, note bem. por uma confluência de júpiter com saturno, procuro em meus arquivos e lá estava a tal carta de envio. nada [note bem, nada] referia-se à necessidade de cancelamento do cartão anterior. pelo contrário, mencionava um upgrade em meu status – mais ou menos como se a TAM não cancelasse o fidelidade branco, depois que se recebe o azul. a mocinha pede desculpas. solicito a ela, então, que me envie uma nova lâmina e confirmo meu e-mail.
- não é possível, senhor. posso lhe passar um código de barras e o senhor comparece a uma agência do bradesco e efetua o pagamento.
- bradesco? só é possível assim?? Não tenho acesso a esse banco.
- sim senhor.
- então cancele meu cartão, minha jovem.
- qual deles, senhor?
- ambos. quero dizer, os dois! outra coisa: nunca mais quero receber ofertas, ligações, sequer folders da amex. isso está claro?
- sim, senhor.
capítulo 2.
há cerca de um mês entrei em contato com a TIM, pois como estou com um aparelho emprestado e fora de fidelização, decidi adquirir um novo.
- o que devo fazer? - perguntei.
- basta o senhor atualizar seu cadastro e isso gerará automaticamente o desconto para aquisição de um aparelho novo.
- preciso ir a uma loja fazer isso?
- não, o desconto só é gerado pelo *144. o sistema [adoro esse termo] leva três dias para liberar, depois de reconhecer sua atualização de cadastro. engraçado o termo ‘atualização’.. sou cliente há nove aos!!.
mais de vinte dias e oito protocolos depois, obviamente não consegui nada. acordei hoje decidido:
- vou resolver e não vou esperar mais. liguei, por desencargo de consciência, para o atendimento e me confirmaram que o sistema ainda não havia liberado o desconto. para encurtar, solicitei o cancelamento de minha linha e o fim de uma longa relação. Senti-me livre como poucas vezes. freedom is a blessing, já diria meu amigo matias.
ponderei e me dirigi a uma loja da vivo: seria minha nova operadora. depois de alguns instantes de papo com a mocinha, ela mostra vários aparelhos de última geração que te trazem até rivotril com um copo d’água. animei-me.
- só tem uma coisa, senhor. no momento, estamos sem disponibilidades de aparelhos sony [minha preferência] ou nokia. mas como seu telefone está ativo e fora de fidelização, o senhor pode adquirir a linha – sem fidelização e usar o chip vivo nela. quando tivermos mais opções de aparelho, entro em contato, o senhor escolhe e se fideliza.
- parece fazer sentido. tudo bem, topei. vamos fazer o contrato. mocinha passando pra lá, pra cá, subindo escada, acabamos o procedimento.
- ah, mas tem um problema. vejo que o seu chip é bloqueado.
- hã?
- é, bloqueado. mas tudo o que precisa fazer é ir ali ao lado, na loja da TIM, e pedir para fazerem isso.
eu já estava achando um absurdo, sem almoço, sem água, sem saco. mas topei. fui à loja da TIM, empresa da qual fui cliente, como já mencionado, por nove anos.
- boa tarde, meu jovem. você poderia, por favor, desbloquear meu telefone, da TIM?
- senhor, preciso da nota fiscal.
- nota fiscal?!! tipocomoassim?! meu anterior quebrou e minha mãe me emprestou esse, que como você pode ver, é antigo.
- de qualquer forma, precisamos da nota.
- ....
volto à loja da vivo, explico a situação e digo que por isso, temos de desfazer o contrato.
- o sistema não permite, senhor.
- ... mas minha jovem, esse contrato nem foi ativo e eu nem usei a linha!!!!!!
- mas o sistema..
dou as costas para a mocinha. sento-me no chão da loja, posição de lótus e as lágrimas começam a escorrer. naquela hora, assumo que meu coração estava muito cheio de ódio.
pra quem até pouco tempo tinha de usar fresh tears para produzir lágrimas, ando um chorão! foi ótimo, pois senti a ira escorrendo junto.
aí um segurança aproxima-se e pergunta:
- o senhor está se sentindo mal? quer uma água?
- não, meu jovem. nada além de muito ódio no coração. meu dia não está fácil.
- que gentil, pensei. mas daí ele volta e dispara:
- é que o senhor não pode sentar-se aqui no chão. terá de sair da loja
- hein?? acontece de estou protestando. deixe-me em paz.
o cara foi realmente educado e me convenceu a protestar numa cadeira. sentado ali, com fome, sede e muito [mais] ódio no coração, tive muita saudade de 1988. naquela época, as comissárias de bordo chamavam-se aeromoças, eram lindas e nos serviam em talheres de prata. os telefones fixos eram caros e pouco eficientes, mas não me lembro de ninguém sentir ódio da tele-isso ou tele-aquilo.. isso não era um issue.
fiquei ali, quietinho, olhando as pessoas horrorosas do conjunto nacional. deu sono.
- putz, ainda tenho de trabalhar! fica para outro dia o capítulo três, sobre minha conversa com a golden cross.
- é arte mesmo! só que hoje, 30 de abril de 2010, comprovei na carne a proximidade delicada desse limite. não quero concordância e nem compreensão. preciso apenas escrever para não ir amanhã cedo à feira do rolo comprar uma pistola.. ilustremos.
capítulo 1.
ontem [29/4] recebo uma correspondência da american express, informando a suspensão do meu cartão, devido à não quitação de um débito há mais de 30 dias. apesar de não ter essa fatura no débito automático, nunca me esqueço de pagar contas: não brinco com dinheiro, especialmente sem ganhar salário há meses.
- estranho, pensei. mas quando voltei para casa, procurei a última fatura e.. pimba! tava lá, comprovante de pagamento e tudo.
- estranho, pensei de novo. ligo hoje cedo e sou informado de que o débito [172 reais] refere-se a uma fatura em aberto [não paga] do meu cartão anterior, de dezembro de 2009. naquele mês, recebi um novo cartão, como prêmio pela boa relação que tenho com a empresa [sic] – subi de nível.. ok. calma. ligo para central e escuto da mocinha que eu deveria ter ligado e cancelado o cartão anterior e que a correspondência de envio deveria ter mencionado isso. deveria, note bem. por uma confluência de júpiter com saturno, procuro em meus arquivos e lá estava a tal carta de envio. nada [note bem, nada] referia-se à necessidade de cancelamento do cartão anterior. pelo contrário, mencionava um upgrade em meu status – mais ou menos como se a TAM não cancelasse o fidelidade branco, depois que se recebe o azul. a mocinha pede desculpas. solicito a ela, então, que me envie uma nova lâmina e confirmo meu e-mail.
- não é possível, senhor. posso lhe passar um código de barras e o senhor comparece a uma agência do bradesco e efetua o pagamento.
- bradesco? só é possível assim?? Não tenho acesso a esse banco.
- sim senhor.
- então cancele meu cartão, minha jovem.
- qual deles, senhor?
- ambos. quero dizer, os dois! outra coisa: nunca mais quero receber ofertas, ligações, sequer folders da amex. isso está claro?
- sim, senhor.
capítulo 2.
há cerca de um mês entrei em contato com a TIM, pois como estou com um aparelho emprestado e fora de fidelização, decidi adquirir um novo.
- o que devo fazer? - perguntei.
- basta o senhor atualizar seu cadastro e isso gerará automaticamente o desconto para aquisição de um aparelho novo.
- preciso ir a uma loja fazer isso?
- não, o desconto só é gerado pelo *144. o sistema [adoro esse termo] leva três dias para liberar, depois de reconhecer sua atualização de cadastro. engraçado o termo ‘atualização’.. sou cliente há nove aos!!.
mais de vinte dias e oito protocolos depois, obviamente não consegui nada. acordei hoje decidido:
- vou resolver e não vou esperar mais. liguei, por desencargo de consciência, para o atendimento e me confirmaram que o sistema ainda não havia liberado o desconto. para encurtar, solicitei o cancelamento de minha linha e o fim de uma longa relação. Senti-me livre como poucas vezes. freedom is a blessing, já diria meu amigo matias.
ponderei e me dirigi a uma loja da vivo: seria minha nova operadora. depois de alguns instantes de papo com a mocinha, ela mostra vários aparelhos de última geração que te trazem até rivotril com um copo d’água. animei-me.
- só tem uma coisa, senhor. no momento, estamos sem disponibilidades de aparelhos sony [minha preferência] ou nokia. mas como seu telefone está ativo e fora de fidelização, o senhor pode adquirir a linha – sem fidelização e usar o chip vivo nela. quando tivermos mais opções de aparelho, entro em contato, o senhor escolhe e se fideliza.
- parece fazer sentido. tudo bem, topei. vamos fazer o contrato. mocinha passando pra lá, pra cá, subindo escada, acabamos o procedimento.
- ah, mas tem um problema. vejo que o seu chip é bloqueado.
- hã?
- é, bloqueado. mas tudo o que precisa fazer é ir ali ao lado, na loja da TIM, e pedir para fazerem isso.
eu já estava achando um absurdo, sem almoço, sem água, sem saco. mas topei. fui à loja da TIM, empresa da qual fui cliente, como já mencionado, por nove anos.
- boa tarde, meu jovem. você poderia, por favor, desbloquear meu telefone, da TIM?
- senhor, preciso da nota fiscal.
- nota fiscal?!! tipocomoassim?! meu anterior quebrou e minha mãe me emprestou esse, que como você pode ver, é antigo.
- de qualquer forma, precisamos da nota.
- ....
volto à loja da vivo, explico a situação e digo que por isso, temos de desfazer o contrato.
- o sistema não permite, senhor.
- ... mas minha jovem, esse contrato nem foi ativo e eu nem usei a linha!!!!!!
- mas o sistema..
dou as costas para a mocinha. sento-me no chão da loja, posição de lótus e as lágrimas começam a escorrer. naquela hora, assumo que meu coração estava muito cheio de ódio.
pra quem até pouco tempo tinha de usar fresh tears para produzir lágrimas, ando um chorão! foi ótimo, pois senti a ira escorrendo junto.
aí um segurança aproxima-se e pergunta:
- o senhor está se sentindo mal? quer uma água?
- não, meu jovem. nada além de muito ódio no coração. meu dia não está fácil.
- que gentil, pensei. mas daí ele volta e dispara:
- é que o senhor não pode sentar-se aqui no chão. terá de sair da loja
- hein?? acontece de estou protestando. deixe-me em paz.
o cara foi realmente educado e me convenceu a protestar numa cadeira. sentado ali, com fome, sede e muito [mais] ódio no coração, tive muita saudade de 1988. naquela época, as comissárias de bordo chamavam-se aeromoças, eram lindas e nos serviam em talheres de prata. os telefones fixos eram caros e pouco eficientes, mas não me lembro de ninguém sentir ódio da tele-isso ou tele-aquilo.. isso não era um issue.
fiquei ali, quietinho, olhando as pessoas horrorosas do conjunto nacional. deu sono.
- putz, ainda tenho de trabalhar! fica para outro dia o capítulo três, sobre minha conversa com a golden cross.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
os nacionais. de novo.
hoje recebi de presente o mais novo disco [Cd?] do the national. impressionante minha capacidade de não-inovação musical. assumo toda a minha resistência a mudanças e meu fechamento a novas descobertas, pelo menos atualmente. viva o show de 2008 no rio de janeiro. ótimas as novas músicas. post sem propósito. dia esquisito. gripe.
sábado, 13 de março de 2010
i know.
sempre gostei de cinema. e sempre fui atraído por um aspecto peculiar dos filmes: seu final. a boa safra cinematográfica de 2005 produziu uma obra-prima, before sunset, para mim um filme com final digno de registro. já mencionei a película algumas vezes, mas estive outro dia discutindo o encerramento de filmes e acabei revendo “antes do antardecer”. chegou a hora de render-lhe nova homenagem, particularmente, à sequência final.
pensando sobre finais de filmes, me lembro, sem muito esforço, da breguice encantadora do final de dead poet society, da emoção da sequência final de cinema paradiso, mesmo do final politicamente correto de it’s a wonderful life. mas o “não-encerramento” de before sunset parece imbatível. a economia de palavras entre os protagonistas, após 80 minutos de quase-verborragia, culmina em sedução refinada entre os dois. o diretor richard linklater atingiu a maturidade estilística num filme para adultos, sobre crises, frustrações, sentimentos e anseios adultos. complemento perfeito para a primeira parte da sequência [before sunrise, 1994], que refletia as instabilidades, as besteiras e as confusões mentais típicas dos 22 anos.
a opção do diretor por planos bem longos, pouquíssimos cortes, e pela ambientação informal num passeio por ruelas de paris, foi acertada. linklater cria, assim, identificação imediata com o público. poderia ser uma revisão/discussão de relação no mercado do peixe de salvador, na rua do rosário [centro do rio de janeiro], ou mesmo no CCBB de brasília, numa tarde de céu vermelho. foi inspiração clara, dentre outros, para o delicioso .apenas o fim. [2008] de matheus souza.
em before sunset, o diretor cria uma atmosfera de crescente sensualidade e instiga a curiosidade do público sobre o que teria acontecido dez anos antes, entre jess e celine, personagens de ethan hawke e julie delpy. A conclusão da história começa a ser desenhada quando celine vai ao encontro do jovem, agora com 32 anos, na Shakespeare&Co. em paris, no lançamento do livro que jesse escrevera sobre sua viagem a viena, exatemente quando os dois viveram uma noite de encantamento e paixão arrebatadora. eles marcam um encontro para seis meses depois. obviamente, ele não se concretiza: quando se tem 22 anos, achamos que muitas pessoas especiais passarão pela nossa vida..
desde a livraria, o expectador é provocado a refletir sobre a relação dos dois. o que teria acontecido nove anos antes? teriam eles se encontrado? foi uma paixão de verão, ou um amor verdadeiro? a primeira pista é dada quando jesse pergunta se ela havia comparecido ao encontro, marcado de forma tão descompromissada.
- no, of course not – é a reposta taxativa de celine. mas à medida que a conversa flui, o encantamento mútuo revela-se apenas latente, não acabado. dez anos passaram-se, mas a simbiose era a mesma e o quebra cabeça da paixão de ambos havia apenas perdido uma peça, um pequeno elo que inviabilizou a continuidade. jesse está um pouco envelhecido [hawke fuma pra caralho], mas “little cross-eyed” celine não mudou quase nada. as aparências são frágeis e em uma sequência eletrizante, ele confessa que seu casamento é falido e ela cospe dez anos de frustrações e infelicidades pessoais. a vida não é tão bela como parece. e daí?
o filme é rápido e bem montado. a sedução aumenta e o climax parece ainda mais incerto. até jesse acompanhar celine ao seu apartamento. lá, mais sedução. sem nenhum dos clichés que Hollywood vomita diariamente, linklater constrói uma atmosfera infalível para revelar o final de sua história: paris. nina simone. revelações. celine protagoniza uma dança contida, mas com muito charme. E dispara:
- babe, you’re gonna miss that plane [jesse pegaria um voo de volta a nova iorque em instantes].
- I know – responde ele. certo. a escolha foi feita e o desfecho, perfeito. ‘quandos’, ‘comos’, ‘ondes’ e ‘porquês’ podem ficar para uma eventual sequência..
[para sofia, marcelo e daniel, companheiros de filme, viagens, crises e caipiroskas naquela tarde de 2005]
pensando sobre finais de filmes, me lembro, sem muito esforço, da breguice encantadora do final de dead poet society, da emoção da sequência final de cinema paradiso, mesmo do final politicamente correto de it’s a wonderful life. mas o “não-encerramento” de before sunset parece imbatível. a economia de palavras entre os protagonistas, após 80 minutos de quase-verborragia, culmina em sedução refinada entre os dois. o diretor richard linklater atingiu a maturidade estilística num filme para adultos, sobre crises, frustrações, sentimentos e anseios adultos. complemento perfeito para a primeira parte da sequência [before sunrise, 1994], que refletia as instabilidades, as besteiras e as confusões mentais típicas dos 22 anos.
a opção do diretor por planos bem longos, pouquíssimos cortes, e pela ambientação informal num passeio por ruelas de paris, foi acertada. linklater cria, assim, identificação imediata com o público. poderia ser uma revisão/discussão de relação no mercado do peixe de salvador, na rua do rosário [centro do rio de janeiro], ou mesmo no CCBB de brasília, numa tarde de céu vermelho. foi inspiração clara, dentre outros, para o delicioso .apenas o fim. [2008] de matheus souza.
em before sunset, o diretor cria uma atmosfera de crescente sensualidade e instiga a curiosidade do público sobre o que teria acontecido dez anos antes, entre jess e celine, personagens de ethan hawke e julie delpy. A conclusão da história começa a ser desenhada quando celine vai ao encontro do jovem, agora com 32 anos, na Shakespeare&Co. em paris, no lançamento do livro que jesse escrevera sobre sua viagem a viena, exatemente quando os dois viveram uma noite de encantamento e paixão arrebatadora. eles marcam um encontro para seis meses depois. obviamente, ele não se concretiza: quando se tem 22 anos, achamos que muitas pessoas especiais passarão pela nossa vida..
desde a livraria, o expectador é provocado a refletir sobre a relação dos dois. o que teria acontecido nove anos antes? teriam eles se encontrado? foi uma paixão de verão, ou um amor verdadeiro? a primeira pista é dada quando jesse pergunta se ela havia comparecido ao encontro, marcado de forma tão descompromissada.
- no, of course not – é a reposta taxativa de celine. mas à medida que a conversa flui, o encantamento mútuo revela-se apenas latente, não acabado. dez anos passaram-se, mas a simbiose era a mesma e o quebra cabeça da paixão de ambos havia apenas perdido uma peça, um pequeno elo que inviabilizou a continuidade. jesse está um pouco envelhecido [hawke fuma pra caralho], mas “little cross-eyed” celine não mudou quase nada. as aparências são frágeis e em uma sequência eletrizante, ele confessa que seu casamento é falido e ela cospe dez anos de frustrações e infelicidades pessoais. a vida não é tão bela como parece. e daí?
o filme é rápido e bem montado. a sedução aumenta e o climax parece ainda mais incerto. até jesse acompanhar celine ao seu apartamento. lá, mais sedução. sem nenhum dos clichés que Hollywood vomita diariamente, linklater constrói uma atmosfera infalível para revelar o final de sua história: paris. nina simone. revelações. celine protagoniza uma dança contida, mas com muito charme. E dispara:
- babe, you’re gonna miss that plane [jesse pegaria um voo de volta a nova iorque em instantes].
- I know – responde ele. certo. a escolha foi feita e o desfecho, perfeito. ‘quandos’, ‘comos’, ‘ondes’ e ‘porquês’ podem ficar para uma eventual sequência..
[para sofia, marcelo e daniel, companheiros de filme, viagens, crises e caipiroskas naquela tarde de 2005]
domingo, 7 de fevereiro de 2010
a dois
insigths sobre a vida a dois..
1. sem concessões não há nem começo;
2. aprendizado. eterno.
3. redefinição de limites;
4. o domingo pode ser bom. e muito;
5. planos;
6. diferenças não são trágicas;
7. recuar para avançar;
8. divisão. de tarefas, de planos, de problemas, de soluções, de viagens, de paixão..
9. dormir junto: ótimo;
10. acordar junto: sensacional;
11. transformar a rotina em algo fantástico;
1. sem concessões não há nem começo;
2. aprendizado. eterno.
3. redefinição de limites;
4. o domingo pode ser bom. e muito;
5. planos;
6. diferenças não são trágicas;
7. recuar para avançar;
8. divisão. de tarefas, de planos, de problemas, de soluções, de viagens, de paixão..
9. dormir junto: ótimo;
10. acordar junto: sensacional;
11. transformar a rotina em algo fantástico;
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