quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Felix catus

essas linhas têm endereço certo e não são para qualquer pessoa. durante meu período no rio de janeiro – meu “into the wild” de estimação, desbravei, descobri, redescobri e confirmei uma uma série de coisas. uma certeza: minha identificação absurda com o universo felino. já escrevi muita besteira, sobre tantas coisas, que era hora de atualizar minha homenagem aos gatos. sempre fui amante dos animais, a ponto de me sensibilizar mais com o bem estar dos bichos, do que com os de nossa espécie. idiossincrasias, esquisitices e excentricidades me aproximaram bem mais dos felinos em geral e dos gatos em particular. convivo com eles desde que era criança pequena em são luís, bem como com uma rinite leve, bem anterior aos gatos. foram vários. curiosamente, quase todas fêmeas.. outro dia me deprimi ao ler matéria sobre um zoológico particular descoberto no interior do paraná: tigres e leões estavam desnutridos e deprimidos, e os especialistas do ibama estimam que eram alimentados com um frango por dia. a dieta recomendável para felinos de grande porte inclui quilos diários de carne crua. michel teló e namatelmintos do tipo enchem o rabo de grana, e são cultuados mundo afora, enquanto tigres passavem fome num zoológico particular escondido? é um mundo tão justo.. espero que aprovem logo a constituição imperial e autocrática que autoriza pena de morte por esquartejamento lento para esse tipo de crime. para ilustrar: em algum ponto distante da minha adolecência, enquanto eu estudava de madrugada [hábito cultivado desde nem sei quando], uma das gatas que criávamos, muito apegada a mim e bastante doente e debilitada, acordou, cambaleou até meus pés, e se deitou para não acordar mais.. optou, por instinto ou sei lá o quê, por fazer isso comigo. aí lembro das subpessoas qua acham que gatos não são capazes de esboçar carinho e que lhes faltaria sensibilidade. putaquepariu, que paciência para essas pessoas!! acredito que gatos têm conexões incompreensíveis com mundos e planos menos compreensíveis ainda. o que poderia assustar alguns, me encanta e me intriga. até charles bukowski escreveu um poema elegante e refinado sobre os gatos. os bichos foram inspiração para animações cinematográficas e uma peça encenada na broadway nada menos que 18 anos consecutivos. a peça foi composta pelo figura andrew lloyd weber, e inspirada num poema de TS Eliot, old possum’s book of practical cats. voltando ao rio. durante os dois anos em que morei na cidade maravilhosa, exerci [ina]bilidades que nem sabia que possuía. morava na cidade mais propícia a relações efêmeras e sexo fácil do brasil. mas, à exceção de umas poucas ciscadas, vivi praticamente recluso e bem. estava feliz, pleno. minhas companhias preferidas foram um argentino cheio de excentricidades, uma bahiana arretada.. e duas gatas – mãe e filha, adotadas diretamente no passeio público, próximo aos arcos da lapa. cariocas da gema, moravam comigo e tornavam a vida em copacabana um pouco mais peluda e muito mais engraçada. hoje, cinco mudanças e muitas aventuras e desventuras depois, maria eduarda e charlotte são a família mais próxima. referências de convívio, de carinho, de bagunça e de diversão. de quebra – ossos do ofício, reforçam excentricidades e esquisitices. foi lá na baía de guanabara que descobri córa rónai. colunista de O Globo, escreve com sensbilidade rara e revela paixão desmedida pelos gatos. na primeira vez em que li sua coluna, ela escrevia sobre como uma de suas várias gatas andou até seus pés e adormeceu pra sempre. identificação imediata!! tempos depois, descobri que cora era mulher de millôr fernandes. hoje, sou seu leitor assumido. necessidade de escovar sempre, aguentar lingua áspera, miados fora do horário, despertadores naturais, universo interminável de pêlos, o fim de roupas sempre limpas, a sensação de ser um hóspede em sua própria casa.. os problemas são plurais e não vale a pena tentar seduzir ao universo felino aqueles que declaradamente não gostam de gatos. porra, quem não gosta de gatos merece.. não gostar de gatos! a sensibilidade ainda tem vez nesse mundo enquanto houver gente naturalmente apaixonada como cora rónai, mariana gogu – e seu blog amalucado, a vera de bsb [dona de um “acervo” de mais de 60 gatos, adotados e bem criados], flávia mattos, thaís braga, macoc, patrícia sávio, meu irmão guto, dentre tantos outros. há, também, gente que se deixa seduzir e conquistar – como o dono do mishima [“o amor em minúscula”] e, claro, a “bonitinha do ceubinho”. a criativa amimação shrek mereceu três continuações, mas o único personagem que teve um filme à parte, claro, foi o gato de botas: antônio bandeiras estava impagável! com os gatos, a vida fica mais gostosa e o domingo, mais alegre. é hora de encerrar, pois charlotte mia insistentemente. acho que não é fome, mas gula por sorvete de café da la basque ou iogurte activia. acostumei-as a um micro-naco de pequenos mimos, de vez em quando. a vida pode ser meio chata quite sometimes e até os gatos merecem um regalo. § § § ps: para todos os apreciadores e apreciadoras do universo enlouquecido dos felinos. ps2: quer sentido na vida? estude filosofia. ps3: gosta de demontrações deselegantes, babonas, dependentes e escandalosas de carinho? crie um cachorro.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

a crueldade do "não a ponto de"..

esse post homenageia MACOC, querida companheira [apesar da percepção térmica tão díspar] de cubículo unesciano no RJ, por quase dois anos. a vida não é precisa como a navegação, e entre um espeço de [des?]construção e outro, há as tais entrelinhas, onde o espetáculo principal por vezes descortina-se. uma das mais interessantes contribuições exógenas à compreensão de um sem número de coisas, pessoas e comportamentos é a implacável teoria do “não a ponto de”. o mecanismo explicaria porquê preferimos tal marca de milho doce, em detrimento da outra, não tão gostosa. explica porquê eu acho Morrissey um excepcional letrista, mas cultuo velvet underground, banda lado B, mais confusa, instável e ruidosa. seu mais simples e cruel exemplo, é a explicação de porquê ficamos com fulana, mas não namoramos com beltrana. por que uma e não outra. pistache ou amêndoa? molho branco ou pomodoro? amendoim ou batatinha para acompanhar a original gelada no amigão? a resposta pode ser muito simples.. morei cerca de dois anos no rio de janeiro. cronologicamente, pouco tempo, mas o suficiente para quebrar a tendência umbilical e irritante de nos apegarmos ao lugar em que nascemos. lá vivi memoráveis experiências, aprendi um caminhão de coisas e é pra lá que pretendo voltar. uma de minhas maiores referências fraternas, mosqueteiro real, certa vez me perguntou por que eu estava mais apegado ao RJ do que à brasília, cidade em que nasci, resido hoje e onde está a maior parte de minha família. gastamos muitos cafés no Ernesto e heineckens por brasília, elocubrando o por quê dessa minha relação com a cidade maravilhosa. eu tentava explicar, ele não entendia. ele argumentava, e não me servia. até que consegui simplificar a explicação por meio de uma lembrança das conversas surreais que mantinha com minha amiga macoc. eu gosto muito de brasília, mas não a ponto de escolher a cidade, por livre e expontânea vontade, para morar. ao menos hoje, prefiro o rio de janeiro a brasília, simples assim. quando penso na teoria eficiente do “não a ponto de”, lembro logo de uma história romântica que vivi na cidade do cristo. apesar de minha opção – e falta autêntica de vontade - por não vivenciar o lado putaria de ser “solteiro no rio de janeiro”, como estava vivo enquanto morei lá, vivi uma ou duas aventurinhas curtas. uma delas teve todos os ingredientes que uma pessoa mais ou menos sã, no alto de seus “trinta e tantos”, espera para viver uma paixão. ela era linda, inteligente, bem sucedida. e sabia cozinhar comida creole de forma divina! por um breve tempo, ocupou um lugar interessante na minha rotina solitária. mas.. por que apenas por um breve tempo? ora, porque sim. por que era tudo muito bom, mas não a ponto de eu namorar com ela? ora, porque sim. vale dizer que o namoro – ou compromissos oficialmente assumidos não fazem parte do meu repertório de merdas mal-resolvidas. simplesmente não tenho problemas com esse tema. acho que a explicação para toda e qualquer escolha que fazemos pode se resumida num simples cálculo, consciente ou inconsciente, de custo benefício. vale a pena matar aula para sair, tomar todas e sacrificar o dia seguinte? no segundo grau, sequer tinha instrumental para fazer a conta. na faculdade, valia sempre 'a pena. na idade adulta, cheia de obrigações “profissionais”, certamente, não. valia a pena ficar com aquela menina? se achasse que sim, ia lá e tentava. e, às vezes, ficava mesmo. vale a pena alucinar na entrevista de emprego e arriscar o resto das fichas na cara de pau? no meu caso, quase sempre funcionou. vale a pena sair da dieta e comer pra caralho na ceia de natal? via de regra, claro! se a pessoa consegue seguir um plano bem montado, se ela tem disciplina, malha, corre, luta ou o caralho, com regularidade, simplesmente vale a pena encher o rabo de rabanada [desculpem o trocadilho]. fato é que não existe regra e cada caso é um caso isolado, diferente. isso tudo pra dizer que se vale a pena, vale a pena, simples assim. é foda sometimes, mas quando se gosta a ponto de, a coisa vale a pena, é assumida e aí, acaba acontecendo. sensacional the sound of arrows. embalou essa viagem blogueira de natal em 2012.

domingo, 16 de dezembro de 2012

once [ou, mini-cântico à solidão]

minha monografia de final de curso [relações internacionais, vale dizer] não foi sobre cooperação internacional, segunda guerra ou construtivismo, temas que adoro estudar, mas sobre a solidão. inspirada em “o cavaleiro do balde”, micro-conto de franz kafka que tivemos de roteirizar para a matéria “cinema&literatura”, tínhamos, também, de escolher um filme que ilustrasse o conto. à época, não consegui escolher um. até 2008, quando assisti once, de john carney. o filme é um libelo maduro, poético, realista, emocionante e completo sobre o [des]encontro entre um músico de rua e uma imigrante do leste europeu, que se conhecem em dublin. o encontro é casual e inevitável. a afinidade vem pela música e pela solidão. a paixão ultrapassou a película e glen hansard e marketa irglova [intérpretes dos protagonistas] apaixonaram-se na vida real e passaram a tocar juntos. chegaram a excursionar pela Europa. a desesperança é sentida nos acordes do violão e nas teclas do piano. dublin é o cenário perfeito para o encontro. obviamente, uma dublin chuvosa, fria e.. solitária. ele vive com o pai e trabalha na loja de conserto de aspiradores da família. ela vende rosas nas ruas para sustentar a mãe que não fala inglês e a filha de um pai ausente que ficou em seu país de origem. o começo da história é batido e sugere um filme batido. tinha tudo para ser mais uma historinha de amor redonda, chata, previsível. ledo engano. a batuta sensível e competente de carney surpreende e revela um filme econômico e sensível, lindo. é pesado com leveza. deveria ser simples e previsível, mas é surpresa. real, crua, dura, mas gostosa de se ver. o encontro rende a gravação de um disco, com músicos recrutados por anúncios em um mural especializado, como as grandes bandas se formam. as figuras são decadentes, mas talentosas e sensíveis. roubam parte das cenas e diluem o impacto da desesperança e da dureza na vida dos protagonistas. lembrei de “commitments”. só que nesse filme há a gordura da fantasia, do lúdico, do bonitinho. em once, tudo é mais real, menos fantasioso e menos cartesiano. o final é um brinde ao cinema de qualidade, uma antítese de frank capra. pegaram beaudelaire, um piano, folk “de raiz” e bateram no liquidificador. o resultado é um suco cheio de caroço, bagaço, pedaços. parece indigesto, mas é lindo. ps: a trilha sonora merece comentário à parte.. obra-prima!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"que lindo, que lindo, que lindo"!!

além dos tradicionais cinco sentidos, especialistas já discutem a existência de nada menos que onze dimensões por meio das quais o ser humano percebe e interage com o mundo à sua volta. os avanços tecnológicos e transformações por que passa a sociedade atual nos estimulam a exercitar esses sentidos. desde dezembro/2011, quando me mudei para o endereço atual, não tenho mais TV. ou melhor, tenho uma coisa para reproduzir filmes, mas nenhum canal de programação, nem mesmo canais abertos. a experiência tem sido interessante.. acho que são estimulados os mesmos sentidos aguçados por LSD ou outras coisas lisérgicas. o desuso da criatividade, a falta de hábito para leitura, a facilidade, agilidade e multiplicidade de mecanismos de comunicação existentes, bem como as comodidades da era contemporânea têm produzido um exército de preguiçosos. pra que atravessar 300 páginas e perder tempo, se é possível escutar um e-book, acessar pelo ipad ou ler uma resenha no google e.. tcham! conhecimento apreendido. para parafrasear um poeta que trabalha comigo, será? não é bem assim. sempre defendi a pena de morte para quem falsifica monografia de conclusão de curso. a viagem mais intensa proporcionada pela ausência do aparelho demoníaco, é a oportunidade de acompanhar futebol.. pelo rádio. isso mesmo. em pleno século XXI, era da informação, da “nuvem” de dados, de ipads, ipods, iquesacos, voltei no tempo e há quase um ano tenho escutado jogos de futebol pelo rádio. no primeiro semestre, o esquisito campeonato carioca. desde julho ou agosto, o brasileirão. e que viagem tem sido!! num primeiro momento, o estranhamento é inevitável, pois são uns 35 anos na frente da TV. e de repente não há mais o estímulo visual.. acho que a lógica parece com o hábito de comer carne. descendente de mineiros que sou, passei os mesmos 35 anos comendo carne/frango todos os dias. parei de repente e é como se nunca houvesse comido. lembro de ter visto the exorcist, dirigido por william friedkin, com uns 14 anos. acho que foi o filme mais aterrador que já vi. alguns anos depois, li o livro, escrito por outro william, o peter blatty. e foi certamente a obra literária mais horripilante que já li.. desde os primeiros ruídos esquisitos que a menina reagan escuta, até a eletrizante sequência final, acho que nunca senti tanto pavor ao ler um livro. blatty consegue criar barulhos quando deve haver barulhos, estimular a imaginação de coisas quando deve haver coisas, e até nos instiga a sentir cheiros.. a experiência é impressionante. Mas voltemos ao futebol. :::: corte para o ano de 1988, na gloriosa conurbação de timbiras [MA]. lembro do pânico de meu pai, enquanto acompanhávamos um vasco e flamengo qualquer dos bons e velhos tempos, quando soprava um arzinho, caíam duas gotas d’água e.. pronto: adeus sinal. na época, havia no maranhão dois canais: globo e bandeirantes, que ainda não era band. mas no fim de mundo chamado timbiras, ao primeiro sinal de chuva, perdíamos o sinal daquele canal. e aí não tinha jeito: ou se arriscava no telhado para tentar um milagre com a antena parabólica, ou apelávamos para o radinho de pilha. e quanta emoção! que delícia esperar pela vinheta “josé carlos araújo”!! atualmente me divirto com cada gol ao escutar pela CBN: “que lindo, que lindo, que lindo, aline”!! nesse caso, aline falcone, eternizada por evaldo josé e deva pascovicci. como o bordão não revela, de cara, o GOL tão esperado de cada jogo, estimula-se ainda mais a imaginação do pobre torcedor. assim, escutar uma partida pelo radio tem sido uma experiência quase metafísica. uma trombada que acaba em espirrada de bola para a lateral parece um petardo desferido em direção ao ângulo do guarda-metas. a cobrança de tiro de meta pode ser uma chance clara de gol. um leve esbarrão entre zagueiro e atacante é um lance que pode aleijar a ambos. pronto, decidi que economizaria 150 reais por mês [em TV a cabo] e voltaria a escutar os exageros da narração via rádio. e tem sido demais! a capacidade de os narradores transformarem um jogo morno numa final disputadíssima é impressionante! tudo fica mais acelerado, mais emocionante, mais disputado. redescubro, assim, um prazer esquecido de acompanhar futebol exatamente quando não “enxergo” mais as partidas. o Brasil é mesmo o país do futebol. talvez seja também o país da imaginação, da criatividade.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

steve austin?

oscar pistorius tem 26 anos e teve as duas pernas amputadas. e daí? ele foi convocado, no dia 04 de julho, para integrar a equipe sul-africana de revezamento 4x400 em Londres. o cara não se classificou para a competição individual, para a qual conseguiu o índice duas vezes, uma delas fora do prazo (a federação sul-africana exige duas marcas), mas conseguiu sua meta, perseguida desde 2008: vai competir nos jogos olímpicos ao lado de atletas sem deficiência. acompanho a carreira de pistorius há dez anos. que seu exemplo sirva de inspiração na superação de adversidades para todos nós. al die hael pistorius!

domingo, 8 de julho de 2012

separações

engraçado. num momento em que celebro uniões e casamentos de entes queridos, resolvi fazer uma ode à separação. ou melhor, resolvi homenagear a separação como parte eventualmente integrante da vida, por meio das palavras do mestre.. ------
When we two are parted [Lord Byron] - When we two parted In silence and tears, Half broken-hearted, To sever for years, Pale grew thy cheek and cold, Colder thy kiss; Truly that hour foretold Sorrow to this. The dew of the morning Sank chill on my brow It felt like the warning Of what I feel now. Thy vows are all broken, And light is thy fame: I hear thy name spoken, And share in its shame. They name thee before me, A knell to mine ear; A shudder comes o'er me Why wert thou so dear? They know not I knew thee, Who knew thee too well: Long, long shall I rue thee Too deeply to tell. In secret we met In silence I grieve That thy heart could forget, Thy spirit deceive. If I should meet thee After long years, How should I greet thee? With silence and tears.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

a dor e o tempo. [mia couto, 2005] primeiro, nenhum sentimento me doía. depois, fui sentindo a dor. agora, dói-me sentir. ser novo é estar longe de tudo e tocar o que se sonha. ter idade é estar perto de tudo e não tocar senão esse turvo espelho: saudades. *antónio emílio leite couto nasceu em Beira em 5 de Julho de 1955 e é talvez o maior escritor moçambicano.

domingo, 24 de junho de 2012

gran torino - ou, o bulldog sensível

há seis ou sete anos escutei de uma pessoa bem querida: - clint eastwood está envelhecendo como um bulldog. assistíamos a bridges of madison county [1995] e o cara ainda parecia meio normal. na hora, nem me sensibilizei. há três dias assisti, durante um cansativo voo internacional, gran torino [2008]. tive um monte de insights, e cheguei a uma conclusão interessante: passados quase 17 anos do primeiro filme, percebi que mr. eastwood havia mesmo envelhecido [e muito!] como um bulldog: enrugado, sisudo, afeto a papeis de velhos turrões, fortes e ranzinzas. com mais de 80 anos, parece um tanque de guerra. mas algo mais acontecera com o velho clint.. o começo de carreira foi em 1959 com a série rawhide. depois, vieram os clássicos westerns spaghetti que o consagrariam como galã misterioso cujo personagem não poderia ter nome mais propício: “the man with no name”. de lá ao cerebral gran torino foram quase 50 anos de uma sólida carreira. ao longo desse tempo, o proceso de brutalização física por que passou eastwood foi simultâneo a sua sensibilização como ator e, especialmente, diretor. o belo the bridges of madison county já revelava que sua mão parecia aço escovado para bater, mas era seda chinesa na direção. como pode? um ator de papeis tão brutos e um diretor de tanta sensibilidade. em 1992, viria o oscar merecido como diretor de the unforgiven. um western, claro. o soco no estômago veio com o impressionante, perturbador, e nauseante mystic river [2003], pra mim, sua mais forte película. na esteira, a million dollar baby [2004], vencedor do oscar e sucesso inquestionável de público e crítica, e letters from iwo jima [2006] poema bélico sobre o embate entre japoneses e americanos na década de 1940. a sequência parece ter pavimentado terreno para a maturidade plena atingida em gran torino. no filme, eastwood é walt kowalski, veterano da guerra da coreia que após a morte da esposa, passa os dias bebendo cerveja na varanda de casa enquanto espera pelo fim. mal humorado, rancoroso, deprimido e, claro, forte como um bulldog, ou um touro. o contato com o mundo real é seu gran torino 1972, que ele nunca dirige, claro. sua rotina patética é alterada pela chegada de novos vizinhos de origem vietnamita. valores são revistos, posturas são questionadas. não de forma tranquila.. afinal, para kowalski, a guerra ainda não acabou: ele maltrata a família, o padre local, e os jovens da vizinhança. mas desenvolve uma relação inesperadamente afetuosa com sue [ahney her] e thao [bee vang], jovens irmãos perseguidos por uma gang de orientais. o filme não poupa estômagos: a história é violenta, cruel, real e.. linda. a dinâmica da relação entre kowalski e tao amolece o coração do bulldog e transforma a vida do moleque. o desenrolar da história a partir desse encontro encurta o caminho para a vida adulta do jovem. o choque de gerações e de culturas entre os dois descortina uma bela amizade. as cenas em que a família de tao reconhece gratidão a Kowalski são as poucas pitadas cômicas da história. o desfecho é um pouco previsível, mas o caminho até ele, nem tanto. há equilíbio na condução da história. o jovem padre janovitch, que antevê a distorção provocada pela aproximação entre Kowalski e tao exerce um papel marcante e conciliador: há uma fossa abissal não apenas entre as duas culturas – oriental e americana, mas entre os dois mundos de Kowalski: equilíbrio e insanidade. essas linhas parecem um pouco atrasadas, mas acho que reconhecem um libelo sobre a diferença e a redenção. e o bulldog sensível acerta mais uma vez..

sexta-feira, 8 de junho de 2012

depois do cubo mágico.

no dia em que passei no vestibular, toda a família ficou muito feliz – bem mais do que eu, pra falar a verdade. havia retornado da atrasada são luís do maranhão, em princípio, a passeio. mas um estranho senso de responsabilidade falou alto e me preparei – inclusive com cursinho no bom e velho objetivo da 904, por 5 meses para o tal vestibular da unb. escolhi o curso na fila da inscrição. passei. mas enquanto todo mundo celebrava a vitória [?!], me sentia estranho. incompreendia aquilo tudo. quanto mais as pessoas me davam parabéns, mais eu estranhava tudo, deslocado. meu tio andré, do alto da sabedoria de quem já havia vivido, apreendido, errado, brilhado e feito mais merdas que eu, metralhou: - tá se sentindo estranho, né, meu filho? aprenda logo: toda conquista é vazia - simples assim. não entendi nada. achei até meio louco.. claro que com 18 anos e a maturidade de um azulejo, não havia como entender mesmo.. os ultimos 21 anos comprovaram que ele estava certo. visão meio pessimista, ok. mas muito acertada. hoje, associo a percepção do andré-tio ao cubo mágico: fantástico e criativo brinquedinho, moda nos anos 80 [claro]. nunca consegui concluir aquela coisinha colorida e bagunçada, com quadradinhos geometricamente dispostos. mas sempre pensava: - porra, e depois de acabar o cubo mágico, qual a graça da brincadeira? já naquela época comecei a deconfiar que o atingimento de um resultado – por mais esperado, é algo solitário, e meio vazio.. a maxima clássica e batida de que o melhor da festa é esperar por ela. e é isso mesmo. o processo é tão ou mais importante que o resultado, que o impacto atingido. mesmo no meu meio profissional, da implementação de projetos de cooperação, percebe-se facilmente a importância de construir estratégia, e elencar atividades, estimar e detalhar um orçamento, associar objetivos às atividades, definir indicadores para se chegar ao tal resultado esperado. só se consegue uma mudanç estrutural significativa se cada subetapa for planejada e priorizada a seu tempo. uma vez mais, associo o segredo das grandes descobertas e das coisas mais importantes da vida a pequenos ganhos, às micro felicidades que vivemos.. ao trivial sensacional. esse conceito merece um momento. somos criados e condicionados a esperar da vida não menos que o sensacional. meninas são princesas, meninos são soldados, guerreiros. todos serão vitoriosos e terão uma vida de êxitos e vitórias, bons empregos, felicidade, felicidade nos casamentos.. my ass! por essa visão deturpada, distorcida e limitada, resiste-se em admitir a possibilidade de um somatório de pequenas histórias românticas por meio das quais construiríamos a experiência para, dentre outros, vivenciar melhor um grande amor. não, só admitimos a existência de grandes e avassalores amores, ou melhor, de um único agrande amor. somos treinados para acreditar nisso. porra, se essa é a verdade absoluta, claro que qualquer “desvio padrão” da rota pré-concebida de felicidade, significa frustração e infelicidade. associamos logo a separação a algo trágico, sofrido [do contrario , não havia amor..]. a sociedade não compreende a possibilidade de alguém sair, não feliz, mas sereno, tranquilo e, o mais importante: agradecido de uma relação – vivida e vivenciada com devoção, verdade e, por que não, paixão ou mesmo amor romântico. é perigoso associar cada período da vida a uma conquista futura, claro! assim que atingida a conquista, ela tende a nos levar à frustração, após breve momento de prazer e curtição. se não atingida, muito pior: machuca profundamente, e seus efeitos são sentidos na derme. depois de escalar uma montanha bem alta, resta apenas olhar para baixo e ver cada etapa conquistada. lembrar de cada acampamento, de cada cilindro de oxigênio consumido. rever cada fase percorrida. não se pode ignorar a sensação de conquista, e o prazer que vem dela, claro. mas esse deleite está dentro de cada um, é permeado pela subjetividade e não pode ser exogenamente projetado. a delicia da conquista é simétrica à dor: do tamanho de cada um ou, da maneira como cada um percebe essa conquista, ou sofre essa dor. Independente da crença, temos um compromisso moral, pessoal e talvez espiritual de buscar felicidade. não epidérmica, estética, passageira, condicionada, mas sim, plena.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

protozoário, o injustiçado

prólogo. já é inverno em bsb, e hoje o dia começou esquizofrenicamente gostoso: cinza, frio e meio chuvoso. mas depois das 14h o sol saiu, as nuvens fugiram e, como dizia o sábio marcelo nova, “o ponteiro subiu”. tava quente. eu saía de um almoço gostoso com velhos amigos no velho corporate centre, digo, center. setor comercial norte da gloriosa brasília. era hora de pegar meu carro, estacionado em uma vaga regularmente concebida para esse fim. mas, de repente, percebo um carro parado na frente do meu. desenvolvimento. acho que por um momento, minha pressão, que é 11 por 7 há vinte anos, foi a 13 por 8. olho para um lado: ninguém. olho para o outro: ninguém. penso, por um momento: - saco, sem tempo, com preguiça, sonolento e de barriga cheia, vou ter que empurrar a porra do carro!! putaquepariu, que saco!!! isso nunca aconteceria na alemanha, como diria meu amigo cujo apelido é.. alemanha. aliás, colocando o politicamente correto em seu lugar [a putaquepariu], entendo que o ocorrido teria espaço em são luís do maranhão, onde morei; em goiânia, onde prefiro nunca morar; no rio de janeiro, onde quero voltar a morar. mas é triste ver isso acontecer em brasília. pois bem. na frança do século xviii, era moda usar paletó, colete, camisa e calça feitos com diferentes tecidos, padrões e cores: era o embrião do terno, hoje mundialmente difundido. naquela época, o terno tinha corte largo e era utilizado como peça informal de vestuário, conhecido como "roupa de descanso". essa vestimenta falida, estúpida, resquício de uma época falida e igualmente estúpida, piora tudo. por causa dele, ou melhor, do nó da gravata [acredita-se que essa tenha surgido na corte de luís xiv], meu sangue tem mais dificuldade para circular, minhas artérias comprimem-se, minhas sinapses ficam ainda mais lentas. mas, voltando ao carro: teria de ser empurrado. arregaço minhas mangas e começo a empurrar. nada. não sou um modelo de átila, mas estava empurrando com força. nada. aí, por um segundo, passa um flash na minha cabeça.. frio na barriga. resolvo olhar dentro do veículo e, pimba!! freio de mão puxado. cheguei a 15 por 9, imagino. não posso morrer por causa de um[a] filha da puta que não tem a menor vocação para a vida em sociedade. lembro-me de que não paro em fila dupla nem pra comprar pão. e a gente costuma esperar em retorno o que fazemos para as pessoas.. ah, foda-se. já tava mais que puto. ainda rola um olhar perdido para vários lados. nada. buzino, por via das dúvidas. nada. caminho até os flanelinhas e pergunto se alguém está “tomando conta” de um veículo x, placa tal. cara de conteúdo. nada. ninguém. calma, calma. a pressão! resolvo andar até a recepção do prédio comercial [o estacionamento é em frente] e perguntar, por via das dúvidas. nada. – o senhor tem de perguntar ao flanelinha, eles costumam ficar com as chaves de alguns veículos. - mas eu já conversei com eles e nada. nada.. hora de desabotoar o primeiro botão da camisa e afrouxar o nó da gravata. eu quase me rendo. resolvo entrar novamente no prédio e tomar um café. quem sabe nesse meio termo algo legal acontece? a essa altura, desejei de coração a chance de deixar para a pessoa a mesma alegria que ela me deixou. com o expresso na cabeça, volto à romaria. decido falar com flanelinhas do próximo estacionamento, uns 500m adiante. quando estou chegando, olho pra trás: o carro estava saindo. o carro estava saindo!! eu tinha de fazer algo, pelo menos olhar o[a] verme nos olhos e.. sei lá. precisava disso. corri em direção a uma das duas saídas [arrisquei a mais provável..] para interceptá-lo[a], mas o carro seguiu a direção oposta. putaquepariu. consegui ver uma loira-que-não-nasceu-loira muito perua.. lembrei, uma vez mais, do michael douglas em falling down. que bom que não estou armado! mantive a calma. viva as aulas de yoga. conclusão
. me pergunto, afinal: por que o pobre protozoário só tem direito a uma célula enquanto há seres que têm uma coleção, mas não sabem o que fazer com elas?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

homenagem de lenore fleicher, autora de rain man, aos gatos. genial.
When God made the world, He chose to put animals in it, and decided to give each whatever it wanted. All the animals formed a long line before His throne, and the cat quietly went to the end of the line. To the elephant and the bear He gave strength, To the rabbit and the deer, swiftness; To the owl, the ability to see at night, To the birds and the butterflies, great beauty; To the fox, cunning; To the monkey, intelligence; To the dog, loyalty; To the lion, courage; To the otter, playfulness. And all these were things the animals begged of God. At last he came to the end of the line, and there sat the little cat, waiting patiently. "What will YOU have?" God asked the cat. The cat shrugged modestly. "Oh, whatever scraps you have left over. I don't mind." "But I'm God. I have everything left over." "Then I'll have a little of everything, please." And God gave a great shout of laughter at the cleverness of this small animal, and gave the cat everything he asked for, adding grace and elegance and, only for him, a gentle purr that would always attract humans and assure him a warm and comfortable home. But he took away his false modesty.
Lenore Fleischer

quarta-feira, 9 de maio de 2012

esse menino sabia das coisas. -------- songs of innocence william blake (1757-1827) piping down the valleys wild, piping songs of peasant glee, on a cloud I saw a child, and he, laughing, said to me: 'pipe a song about a lamb!' so I piped with merry cheer. 'piper, pipe that song again;' so I piped: he wept to hear. 'drop thy pipe, thy happy pipe; sing thy songs of happy cheer!' so I sang the same again, while he wept with joy to hear. 'piper, sit thee down and write in a book, that all may read.' so he vanished from my sight; and I plucked a hollow reed, and I made a rural pen, and I stain'd the water clear, and I wrote my happy songs every child may joy to hear.

terça-feira, 1 de maio de 2012

gatos

essas linhas têm endereço certo e não são para qualquer pessoa. durante meu período no rio de janeiro, desbravei, descobri, redescobri e confirmei uma uma série de coisas. uma certeza: minha identificação absurda com o universo felino. a esse respeito, chego a não acreditar como já escrevi tanta besteira, sobre tanta coisa e ainda não tinha rendido homenagem aos gatos. sempre fui amante dos animais, a ponto de me sensibilizar mais com o bem estar dos bichos, do que com o de nossa espécie. idiossincrasias, esquisitices e excentricidades me aproximaram bem mais dos felinos em geral e dos gatos em particular. convivo com eles desde que era criança pequena em são luís, bem como com uma rinite leve, bem anterior aos gatos. foram vários. curiosamente, quase todas fêmeas.. minha identificação é tanta, que outro dia me deprimi ao ler matéria sobre um zoológico particular descoberto no interior do paraná: tigres e leões estavam desnutridos e deprimidos, e os especialistas do ibama estimam que eram alimentados com um frango por dia. a dieta recomendável para felinos de grande porte inclui quilos diários de carne crua. para ilustrar: em algum ponto distante da minha adolecência, enquanto eu estudava [hábito cultivado desde nem sei quando], uma das gatas que criávamos, bastante doente e debilitada, acordou, cambaleou até meus pés, e se deitou para dar o ultimo suspiro de vida comigo.. aí lembro das subpessoas qua acham que gatos não são capazes de esboçar carinho e que lhes fala sensibilidade. putaquepariu, que paciência para essas pessoas!! acredito que gatos têm conexões incompreensíveis com mundos e planos menos compreensíveis ainda. o que poderia assustar alguns, me encanta e me intriga. até charles bukowski escreveu um poema elegante e refinado sobre os gatos. voltando ao rio. durante os dois anos em que morei na cidade maravilhosa, exerci [ina]bilidades que nem sabia que possuía. morava na cidade mais propícia a relações efêmeras e sexo fácil do brasil. mas, à exceção de uma relação relâmpago e umas poucas ciscadas, vivi praticamente recluso e bem. estava feliz, pleno. minhas companhias preferidas eram um argentino excêntrico, uma bahiana arretada.. e duas gatas – mãe e filha, adotadas diretamente no passeio público, próximo aos arcos da lapa. cariocas da gema. moravam comigo e tornavam a vida em copacabana um pouco mais peluda e muito mais engraçada. hoje, cinco mudanças e muitas aventuras e desventuras depois, maria eduarda e charlotte são a família mais próxima. referência de convívio, de carinho, de bagunça e de diversão. foi lá na baía de guanabara que descobri córa rónai. colunista de O Globo, escreve com sensbilidade rara e revela paixão desmedida pelos gatos. na primeira vez em que li sua coluna, ela escrevia sobre como uma de suas várias gatas andou até seus pés e adormeceu pra sempre. identificação imediata!! tempos depois, descobri que cora era mulher de millôr fernandes. necesidade de escovar sempre, aguentar lingua áspera, miados fora do horário, despertadores naturais, universo interminável de pêlos, o fim de roupas sempre limpas.. não vale a pena tentar seduzir ao universo felino aqueles que declaradamente não gostam de gatos. porra, quem não gosta de gatos merece.. não gostar de gatos! a sensibilidade ainda tem vez nesse mundo enquanto houver gente naturalmente apaixonada como cora rónai, mariana gogu – e seu blog amalucado, a vera de bsb [dona de um “acervo” de mais de 60 gatos, adotados e bem criados], o pessoal da SUIPA, flávia mattos, thaís braga, patrícia sávio, dentre tantos outros. e gente que se deixa seduzir e conquistar – como o dono do mishima [“o amor em minúscula”], e, claro, a “bonitinha do ceubinho”. a criativa amimação shrek mereceu três continuações, mas o único personagem que teve um filme à parte, claro, foi o gato de botas: antônio bandeiras estava impagável! com os gatos, a vida fica mais gostosa e o domingo, mais alegre. é hora de encerrar, pois charlotte mia insistentemente. acho que não é fome, mas gula por sorvete de café ou iogurte. acostumei-as a um micro-naco de um ou de outro, de vez em quando. a vida pode ser meio chata quite sometimes e até os gatos merecem um regalo. § § § ps: para todos os apreciadores e apreciadoras do universo enlouquecido dos gatos.

domingo, 8 de abril de 2012

o que faz você feliz – ou, ode ao trivial sensacional

difícil não lembrar daquela propaganda do pão de açúcar, cujo mote era definir “o que faz você feliz”. acho que antes mesmo de o mundo começar como tal, as moléculas de hidrogênio já se ocupavam do tema felicidade. ele rende roteiros cinematográficos, discussões de boteco e dogmas religiosos. mas.. o que nos faz feliz? não acho que haja respostas definitivas, nem acedito numa única fórmula eficiente para todos. mas com boa parte dos cabelos do meu corpo pintados naturalmente, começo a achar que se pode arriscar alguns caminhos. acho que o pulo do gato aqui é a simplicidade. coisas, processos, situações que em determinada época da vida nos parecem intransponíveis, complicadíssimas, de repente passam a não assustar mais, e podem, naturalmente associar-se, de maneira simples, a um estado de felicidade. é o caso da paternidade. quando eu era mais novo, achava tudo complicadíssimo, difícil, sofrido nesse campo. ter um filho era algo incogitável. e não pela questão da óbvia limitação financeira dos vinte anos. mas pela maturidade e capacidade que, claro, nunca viriam a contento. uma das premissas da psicologia que venero é a clássica: “tudo passa, isso também passará”. claro! isso precisa fazer minimamente sentido, do contrário, estariam ainda mais condenados mães que perdem seus filhos precocemente, povos submetidos a ditaduras crueis e seculares, pobreza extrema, doentes incuráveis ou terminais e suas famílias, pacientes de dor aguda e crônica, dentre outros. quando se acredita que TUDO na vida é passageiro, relega-se a crueldade dos fatos a mera etapa evolutiva – passageira por definição e necessária para o fechamento de processos. mais ou menos como a acontece com a breguice de algumas tramas novelísticas - e seus núcleos. fica mais fácil, também, minimizar a inveja que enche o saco de tanta gente – se tudo passa, não vale a pena me prender à vontade de ter ou ser o que meu vizinho tem ou é. desde que, claro, se esteja bem durante o caminho. a felicidade pode estar associada a medalhões como a vivência de um amor pleno – e correspondido, fé religiosa, realização profissional, gozo de boa saúde, amizades verdadeiras – e saudáveis, ou mesmo à combinação de todos. as variáveis são múltiplas, mas a fórmula que parece funcionar é a simplicidade. os fatores que explicam a felicidade são muito significativos, e sua importância varia para cada um, mas são todos muito simples. não há consenso sobre o conceito, mas é hora de começar a questionar “o que nos faz feliz”? na tentativa de compreensão, é mais saudável acreditar que a felicidade é uma quimera a ser preseguida. mais uma vez, a metáfora sacana do coelho [pra prestigiar a páscoa] nas corridas de cachorro.. e deve, assim, ser vivenciada em nano-momentos do cotidiano. um milk shake de café da saborella, a chegada no aeroporto de uma cidade que sempre se quis conhecer, a foto que registra um momento importante, uma conquista pontual, um beijo, acordar e tomar café junto. tudo isso somado deve dar mais ou menos a fórmula para se fazer a conta da felicidade. cada um deve, pois, pegar lapis, borracha e calcular.. pode-se chegar a um resultado trivial, mas sensacional. boa páscoa. comedida, curtida, mas, acima de tudo, feliz. § § § dedico essas linhas às três crianças que bagunçaram minhas certezas. e a uma figura que há tempos torna a jornada bem mais interessante.

domingo, 25 de março de 2012

sobre monogamia, exclusivismo e braços quebrados.

com as duas mãos engessadas [quem não se lembra de jô soares há uns 10, 15 anos?], o psicólogo observava o paciente, inquieto.. limitado para escrever, ele esboçava um sorriso, ensaiava uma teoria. mas só escutava. o interesse pelo paciente crescia na medida de sua inquietude ocular: ele pensava, refletia, tentava entender, e virava os olhos, intrigado: o sujeito era naturalmente fiel a uma só pessoa, aos 40 anos de idade.
sua natureza, isenta de autossabotagens, agressões, pressões e crises era espontaneamente monogâmica, simples assim. mas, afinal, o que é ser monogâmico? como ser feliz e pertencer a uma classe em que a regra dominante é a poligamia e a complexidade sexual? o que é ser feliz sentimentalmente? não há respostas prontas ou soluções de almanaque. mas o tema instigou o especialista: podemos conversar um pouco sobre o assunto? – claro, respondeu o “pupilo”.
- você é fiel?
- sou.
- vc acha isso natural?
- pra mim, sim.
- acompanho muita gente e estudo o assunto, afinal, é meu trabalho. a fidelidade heterosexual masculina na espécie humana não parece natural pros outros, posso garantir. e isso tem base científica. tem um psiquiatra – brasileiro que defende que o homem tem duas funções essenciais: procriar e afirmar sua masculinidade.
- a primeira eu entendo, mas a segunda..
- pense bem. quando uma criança nasce, todo mundo – mesmo, sabe quem é a mãe. é fato inquestionável. já o pai.. o cara vive uma insegurança natural, genética até.
- caralho, nunca havia pensado assim.. mas não é culpa minha. nasci nessa espécie involuída por acaso – metralhou, com raro pedantismo.
- ora, meu caro, nada é por acaso. posso continuar?
- já combinamos que sim – a amizade de longa data revelava intimidade.
- você acha que se enquadra no padrão?
- no meu padrão, sim.
- [saco, pensou o médico]
- você sempre foi fiel?
- sempre.
- e como.. – peraí, minha caneta falhou. então, como funciona pra você? você se policia, se cobra, se pressiona ou se tolhe?
- nunca.
- e nunca traiu?
- uma vez, em final de namoro, fiquei com uma menina. foi rápido, foi só uma ficada, mas aconteceu.
- ah, você não é infalível!!
- bom, infalível nem o brasil de 1982, nem o eike batista..
- porra, então não há tanto mérito assim..
- isso é você quem decide.. mas é tipo virgindade e castidade. o primeiro conceito define quem nunca transou; o segundo, quem, em algum momento de vida, opta por não praticar sexo antes do casamento. acho, inclusive, fantástico. não funciona pra mim, mas respeito muito.
- isso é outro assunto, para outra pesquisa..
- ok, voltemos à vaca fria.
- vc nunca se atraiu por alguém de fora do seu arranjo sentimental, formalizado ou não?
-tá louco? claro que sim. talvez chegue até o flerte – aliás, saudável e, se praticado com moderação e consciência, importante mesmo para a relação. mas o processo nem cria raiz, parece definhar na fase de “formação do solo”..
- haha, você e suas metáforas! ok, outro assunto para outra ocasião. então.. você realmente não se força a ser fiel?
- mas o que é ser fiel? é ser fiel a uma pessoa? fiel a princípios? fiel a você mesmo?
- bom, se vc é fiel a uma só pessoa, é mais exclusivismo.
- ahhnn..
- se vc é fiel a princípios, você é verdadeiro, pleno em seu ser.
- meio esotérico, mas entendo.
- o que seus amigos – homens e mulheres, acham disso?
- muitos dizem que é antinatural, alguns dizem que ainda não aconteceu por falta de oportunidade, e uns poucos dizem que quando os arranjos são verdadeiros, a relação é baseada na franqueza, e as duas pessoas [ou três, ou quatro..] estão presentes de corpo e alma, conceitos como formalização e fidelidade perdem importância. gosto dessa última explicação. as pouquíssimas pessoas que me conhecem bem, concordam. na verdade, se é de comum acordo, e se os dois são maiores de idade, vale absolutamente tudo. cada relação tem seu formato, sua dinâmica, sua fórmula. mas a verdade, a confiança, o respeito permeiam – ou deveriam, todos os encontros.
- cara, vc deveria ter feito psicologia..
- haha, quem sabe um dia?! mas voltando.. acho que o segredo é a verdade mesmo.
- bom, esse assunto tem muito insumo, dá muita discussão..
- já vi que não vamos descobrir a pólvora aqui, mas fiquei curioso.. num pomar, vc consegue mesmo escolher – só uma laranja OU só uma maçã OU só um cacho de uvas OU só uma tangerina, entre todas as frutas?
- eu não como frutas..
- putaquepariu [vingança do médico].. vamos encerrar por aqui.
- por quê? cansou?
- não, é que meus dois pulsos começam a doer.


§ § §

ps-brega: paul hewson e alison stewart conheceram-se no Mount Temple Comprehensive School, de dublin, há quase 37 anos. apesar da superexposição e da idolatria que zilhões de fãs tem pelo cara, ele declara seu amor a ali em quase todo show..

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

sobre relações e pessoas

certo dia de 2011, durante conversa com um bom amigo [a quem dedico essas linhas], entre um café e uma lembrança, o cara propôs a existência de dois tipos de pessoas: aquelas que centram os relacionamentos.. nas pessoas, e as que priorizam a relação em si. achei interessantíssimo e resolvi refletir sobre o tema.

desde nosso papo, há mais ou menos um ano, tenho refletido sobre a “relação que as pessoas têm com os relacionamentos”. o perfil racional[izador], tende a ser mais ponderado e equilibrado [pelo menos dentro da relação] e, assim, centra mais facilmente os relacionamentos na própria relação. faz sentido. os que conseguem ter um olhar distanciado da relação e dos sentimentos, sem apego, tendem a sofrer menos os efeitos das diferenças, da rotina e de eventuais desencontros. dessa forma, estariam mais protegidos de relações cuja chance de êxito é sabidamente questionável.

novelas, romances, folclore, turmas de rua, escola, até mesmo a família. tudo e todos contribuem para reforçar e reproduzir o conceito de que é normal, aceitável, e certo orientar as relações românticas, pelo[a] outro[a], por suas expectivas e por suas projeções. e a maioria de nós, conscientemente ou não, acabamos por construir. esse é o segundo tipo de “relação com a relação”. e coisa das mais dificeis é desconstruir a noção de que a felicidade romântica está vinculada a um alguém que pode nunca aparecer – ou corresponder às nossas expectativas. mais uma vez, pode-se recorrer ao tomé: se acreditarmos com fé, a plenitude estará num pedaço de madeira. a lógica é parecida: é muito mais natural [e justo] acreditar que não existe [apenas] um grande amor, mas pode-se esbarrar em uma série de grandes amores ao longo da vida – aproveitar ou vivenciar essas oportunidades é uma outra estória. e cada um desses amores pode contribuir para nossa evolução. é preciso acreditar.. e entregar-se de forma sã. o segredo é ter equilíbrio desmedido com doses equilibradas - e controladas de irresponsabilidade.

talvez caiba aqui um óbvio mas elucidativo aparte. desapego em nada tem a ver com insensibilidade. pelo contrário: quem vive de forma desapegada, consciente de quem é, do que quer dessa vida, tende a saber melhor o caminho a percorrer em direção á felicidade e, por isso, sabe quanto vale doar-se, o que vale a pena trocar com o[a] parceiro[a] – em qualquer nível.

fica mais claro, assim, que não se pode sacrificar, anular, submeter-se a julgos e situações humilhantes em nome do ser amado, independente do gênero. muito bem. o sentimentalmente desapegado é, na maioria das vezes, o elemento mais centrado nas relações. isso não quer dizer que esse perfil não tenha traços de amor, sensibilidade, devoção e paixão. para ele, há, sim, o que se perder numa relação. mas o grande tesouro que se corre o risco de perder é a própria integridade, o próprio equilíbrio.

quando se liberta das relações de dependência que aprendemos a considerar normais desde crianças [na verdade, “normoides” e automatizáveis], consegue-se reconhecer de forma saudável o próprio valor, e o valor do[a] outro[a]. a partir daí fica mas fácil viver na plenitude o arranjo pessoa-relação. a troca fica mais gostosa e a relação romântica, mais plena.

nota de rodapé: [nuca antes na história desse país!!]

domingo, 5 de fevereiro de 2012

fênix [ou, paixão passional x paixão racional]


outro dia encontrei um amigo que não via há tempos. em meio às idiotices habituais desse tipo de encontro, o cara vomitou uma teoria, no mínimo, interessante. para ele, há resumidamente dois tipos de variáveis que pautam o desenvolvimento e o equilíbrio das relações: amor e sexo. e o mais louco: elas seriam, em princípio, meio incompatíveis. acho que no mesmo andar, vive a paixão. sobre ela, acabei fazendo outra reflexão: a diferença entre paixão passional e paixão racional.

a paixão passional é a paixão clássica: irracional [burra, por vezes], pulsante, superlativa, vibrante, exagerada, insone, faminta. inspirou ovídio, shelley, yeats, blake, cecília meireles, tom jobim. por esse conceito, apaixonar-se seria o objetivo-mor do ser humano. ela seria confundida, inclusive, com a própria felicidade.

aqueles que não vivem um ciclo passional clássico, marcado por incerteza, abnegação, taquicardia-quase-enfarto, loucura e, claro, doses nem sempre homeopáticas de estupidez, parecem não ter uma vida plena e são entendidos como mais idiossincráticos do que de fato são. para o [in]consciente coletivo, esse tipo de paixão vence o tempo, justifica decisões estúpidas, escolhas assumidamente erradas, comportamentos incompreensíveis, e é – ou tem de ser cruel.

vive-se toda a vida sob intenso bombardeio – da mídia, da família, da escola, da igreja, dos amigos: apaixonar-se faz parte da vida. e sofrer é parte integrante do ciclo passional. ai de quem não se apaixona e deixa de sofrer por isso. parece que os que não circulam pelos corredores escolares de mãos dadas, olhinhos virados, uniforme babado, recebem um precoce e cruel status de párias, outsiders.

são vistos como um bando de coitados os que não se sentem coitados, e não vivem imersos num mundo de angústia, duvidas, súplicas, amores não-correspondidos e [dependendo da época] overdose de velvet underground, nick cave, the smiths, the cure, smashing pumpkins ou os emo-chatos. a paixão passional tem um pouco de tudo isso.

mas não se pode ignorar a importância desse sentimento. sua vivência pode dar, inclusive, a chance de viver o segundo tipo, mais maduro. e, assim, pode ficar mais fácil assassinar velhos conceitos, como a falaciosa dependência do[a] outro[a], a necessidade de adequação às demandas sociais etc.

o que chamo de paixão racional, por sua vez, é um sentimento mais maduro. pode até ser aprendido com as idiotices da paixão passional. porra, claro que doses [monitoradas] de falta de controle, dúvidas, até mesmo burrices também fazem parte dessa categoria, mas em outras bases. sinceramente, não sei se o segredo é a idade, ou, o somatório das vivências acumuladas. talvez seja. mas alguns carregam serenidade na mochila desde pequenos.. que bom. o mundo fica mais justo assim.

os que sentem paixão racional estariam mais protegidos contra o sofrimento. seriam mais serenos e, até mesmo por isso, mais capazes de se entregar de cabeça.. à paixão. note-se a [aparente] contradição.

em princípio, é socialmente inaceitável que alguém esteja apaixonado e cumpra o ciclo de maneira feliz, serena, viva [pulsante, por que não?], e reconheça um eventual fim. eu mesmo tendo a resumir a coisa assim: a paixão acaba [como fogo que arde invisível, parafraseando o santo], ou evolui para um sentimento mais maduro. no caso, amor. mas, como já escrevi um quackilhão de vezes: preciso é navegar. viver, não. como simplificar algo tão plural e complexo como a paixão? os caminhos, desvios e possibilidades são tantos, que nem ovídio – muito menos eu conseguimos quantificá-la e conceituá-la. quando ela é racional, pede-se desculpas, alegra-se, sofre-se pelo outro. mas não se vive em função do outro. nem se mata por sua causa.

ao contrário do que reza a lenda, a globo, a autoajuda, e a indústria da felicidade, a paixão racional parece mais gostosa. é como se a paixão passional corresse pelas veias e a paixão racional, palas artérias. esta não circula mais rápido, mas sim, de maneira mais forte, e é mais vital para a sobrevivência: o corpo morre mais rápido sem ela.

o primeiro tipo alimenta consultórios psicológicos e reproduz neuras de origem não conhecida, gera brigas, estresse, agressões. o segundo dá espaço para rondelli de damasco e pôr-do-sol - do arpoador e do ccbb, não necessariamente o da 408 norte.

[curioso: enquanto escrevia essas besteiras, escutava uma rádio de los angeles em que era insistentemente anunciada a programação especial para o próximo valentine’s day..]

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

russel, o atemporal

esperando por mim

acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero
sou tão cínico às vezes
o tempo todo
estou tentando me defender
digam o que disseremO mal do século é a solidão
dada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de afeição
hoje não estava nada bem
mas a tempestade me distrai
gosto dos pingos de chuva
dos relâmpagos e dos trovões
hoje à tarde foi um dia bom
saí prá caminhar com meu pai
conversamos sobre coisas da vida
e tivemos um momento de paz
é de noite que tudo faz sentido
no silêncio eu não ouço meus gritos
e o que disserem
meu pai sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
minha mãe sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
e o que disserem
agora meu filho espera por mim
estamos vivendo
e o que disserem os nossos dias serão para sempre..

domingo, 22 de janeiro de 2012

Metrorio – um conto inacabado

o dia estava dos mais complicados: relatório para entregar no trabalho, missão estrangeira na cidade, aumento do aluguel, mil demandas, muito stress, muita confusão. quase não havia tempo de apreciar a belezura da cidade maravilhosa. eu estava mais atrasado que o coelho da alice, e quase perdi o imperdível..

o relógio batia quase 9:30h e eu estava mais de uma hora atrasado. no caminho, nada de novo: o metrô pequeno, mas conservado e eficiente do rio de janeiro. o trajeto? o de sempre: comecei a viagem na simpática estação do cantagalo e, sem grande surpresas, desceria na confusa cinelândia. o futuro do pretérito encaixa-se com perfeição aqui..

ao deixar a reformadinha estação do largo do machado, a mulher subiu no mesmo trem em que estava. e aí, pronto: zupt!! a troca de olhares estilo closer confirmou que eu a conhecia. acredito que não era um estranho para ela. não me lembrava de onde, nem quando, mas sim, já havia cruzado olhares com a ruivinha em reuniões de trabalho, na casa da matriz, no market ipanema ou no crepe do bretão. pouco importava. não tinha intenção de fazer um tratado sobre a moça, nem decifrar suas preferências literárias. pelo menos não naquele momento. quem era ela, o que fazia, o que pensava, onde morava.. para onde ia?! eram questões secundárias. consegui ver, no entanto, o “segundo sexo”, da simone do sartre, escapar de sua pasta e começar a ser devorado. parecia mesmo uma intelctual: apostilas, livros, moleskines, anotações. tudo desorganizadinho na pasta estilosa.

pior é que tava chegando a hora de descer e nada acontecia. como nada? rolou simplesmente tudo naquela troca de olhares [livro-chão-ag-livro-livro]. tudo, menos certeza. típica limitação que instiga a curiosidade e apimenta qualquer aproximação, apesar de não ser mesmo possível definir o que pensava e o que sentia a moça. o flerte continuava. os olhos de um disfarçavam, passeavam pelo ambiente, visitavam outros portos, mas seguiam, invariavelmente, ao encontro do outro. putz, que delícia.

é inevitável, em situações como essa, certa dose de ansiedade. aborda-se? pede-se o telefone? pergunta-se o nome? arrisca-se levar um fora, uma cortada? sem regras pré-definidas, vale recorrer a pessoa para chegar na pessoa: nada é exato, preciso. e quando há verdade, timing e se as energias são boas, a curtição está garantida. no processo. claro que o resultado às vezes surpreende..

apesar de tomado pelos questionamentos, inseguranças e incertezas do tipo, controlei a ansiedade e deixei rolar. estava entorpecido, excitado, animado, curioso. sensacional! parafraseando o poeta argentino: era um grande momento.

nessa hora, percebo que chegou a cinelândia. e ela não desceria ali. aqueles dez ou quinze minutos pareceram uma vida. talvez tenham mudado uma vida. pior é que, devido às minhas referencias cinematográficas, closer não me saía da cabeça..

percebo agora que me esqueci dos óculos e a dor de cabeça já chegou. a ruiva? nunca mais vi. mas é impressionante como essas nanopassagens marcam e tornam-se referência. acho que esse é outro segredo de tostines: a vida é mesmo feita de pequenos e curtos momentos. às vezes, curtos demais.