sexta-feira, 30 de abril de 2010

ódio no coração. ou, ai que saudade do talher de prata!!

sou fascinado pelo filme falling down. sempre fui instigado pelo questionamento: pode um homem normal, ou melhor, comum no sentido de ordinary, dar vazão ao stress, ao ódio e à irritação acumulados em pequenas situações cotidianas, por meio de uma explosão de fúria e insanidade? parecia difícil acreditar, até joel schumacher [sempre ele] conseguir compactar essa hipótese e convertê-la num grande filme. até aí, tudo bem:
- é arte mesmo! só que hoje, 30 de abril de 2010, comprovei na carne a proximidade delicada desse limite. não quero concordância e nem compreensão. preciso apenas escrever para não ir amanhã cedo à feira do rolo comprar uma pistola.. ilustremos.

capítulo 1.
ontem [29/4] recebo uma correspondência da american express, informando a suspensão do meu cartão, devido à não quitação de um débito há mais de 30 dias. apesar de não ter essa fatura no débito automático, nunca me esqueço de pagar contas: não brinco com dinheiro, especialmente sem ganhar salário há meses.
- estranho, pensei. mas quando voltei para casa, procurei a última fatura e.. pimba! tava lá, comprovante de pagamento e tudo.
- estranho, pensei de novo. ligo hoje cedo e sou informado de que o débito [172 reais] refere-se a uma fatura em aberto [não paga] do meu cartão anterior, de dezembro de 2009. naquele mês, recebi um novo cartão, como prêmio pela boa relação que tenho com a empresa [sic] – subi de nível.. ok. calma. ligo para central e escuto da mocinha que eu deveria ter ligado e cancelado o cartão anterior e que a correspondência de envio deveria ter mencionado isso. deveria, note bem. por uma confluência de júpiter com saturno, procuro em meus arquivos e lá estava a tal carta de envio. nada [note bem, nada] referia-se à necessidade de cancelamento do cartão anterior. pelo contrário, mencionava um upgrade em meu status – mais ou menos como se a TAM não cancelasse o fidelidade branco, depois que se recebe o azul. a mocinha pede desculpas. solicito a ela, então, que me envie uma nova lâmina e confirmo meu e-mail.
- não é possível, senhor. posso lhe passar um código de barras e o senhor comparece a uma agência do bradesco e efetua o pagamento.
- bradesco? só é possível assim?? Não tenho acesso a esse banco.
- sim senhor.
- então cancele meu cartão, minha jovem.
- qual deles, senhor?
- ambos. quero dizer, os dois! outra coisa: nunca mais quero receber ofertas, ligações, sequer folders da amex. isso está claro?
- sim, senhor.

capítulo 2.
há cerca de um mês entrei em contato com a TIM, pois como estou com um aparelho emprestado e fora de fidelização, decidi adquirir um novo.
- o que devo fazer? - perguntei.
- basta o senhor atualizar seu cadastro e isso gerará automaticamente o desconto para aquisição de um aparelho novo.
- preciso ir a uma loja fazer isso?
- não, o desconto só é gerado pelo *144. o sistema [adoro esse termo] leva três dias para liberar, depois de reconhecer sua atualização de cadastro. engraçado o termo ‘atualização’.. sou cliente há nove aos!!.
mais de vinte dias e oito protocolos depois, obviamente não consegui nada. acordei hoje decidido:
- vou resolver e não vou esperar mais. liguei, por desencargo de consciência, para o atendimento e me confirmaram que o sistema ainda não havia liberado o desconto. para encurtar, solicitei o cancelamento de minha linha e o fim de uma longa relação. Senti-me livre como poucas vezes. freedom is a blessing, já diria meu amigo matias.

ponderei e me dirigi a uma loja da vivo: seria minha nova operadora. depois de alguns instantes de papo com a mocinha, ela mostra vários aparelhos de última geração que te trazem até rivotril com um copo d’água. animei-me.
- só tem uma coisa, senhor. no momento, estamos sem disponibilidades de aparelhos sony [minha preferência] ou nokia. mas como seu telefone está ativo e fora de fidelização, o senhor pode adquirir a linha – sem fidelização e usar o chip vivo nela. quando tivermos mais opções de aparelho, entro em contato, o senhor escolhe e se fideliza.
- parece fazer sentido. tudo bem, topei. vamos fazer o contrato. mocinha passando pra lá, pra cá, subindo escada, acabamos o procedimento.
- ah, mas tem um problema. vejo que o seu chip é bloqueado.
- hã?
- é, bloqueado. mas tudo o que precisa fazer é ir ali ao lado, na loja da TIM, e pedir para fazerem isso.

eu já estava achando um absurdo, sem almoço, sem água, sem saco. mas topei. fui à loja da TIM, empresa da qual fui cliente, como já mencionado, por nove anos.
- boa tarde, meu jovem. você poderia, por favor, desbloquear meu telefone, da TIM?
- senhor, preciso da nota fiscal.
- nota fiscal?!! tipocomoassim?! meu anterior quebrou e minha mãe me emprestou esse, que como você pode ver, é antigo.
- de qualquer forma, precisamos da nota.
- ....

volto à loja da vivo, explico a situação e digo que por isso, temos de desfazer o contrato.
- o sistema não permite, senhor.
- ... mas minha jovem, esse contrato nem foi ativo e eu nem usei a linha!!!!!!
- mas o sistema..

dou as costas para a mocinha. sento-me no chão da loja, posição de lótus e as lágrimas começam a escorrer. naquela hora, assumo que meu coração estava muito cheio de ódio.
pra quem até pouco tempo tinha de usar fresh tears para produzir lágrimas, ando um chorão! foi ótimo, pois senti a ira escorrendo junto.
aí um segurança aproxima-se e pergunta:
- o senhor está se sentindo mal? quer uma água?
- não, meu jovem. nada além de muito ódio no coração. meu dia não está fácil.
- que gentil, pensei. mas daí ele volta e dispara:
- é que o senhor não pode sentar-se aqui no chão. terá de sair da loja
- hein?? acontece de estou protestando. deixe-me em paz.

o cara foi realmente educado e me convenceu a protestar numa cadeira. sentado ali, com fome, sede e muito [mais] ódio no coração, tive muita saudade de 1988. naquela época, as comissárias de bordo chamavam-se aeromoças, eram lindas e nos serviam em talheres de prata. os telefones fixos eram caros e pouco eficientes, mas não me lembro de ninguém sentir ódio da tele-isso ou tele-aquilo.. isso não era um issue.

fiquei ali, quietinho, olhando as pessoas horrorosas do conjunto nacional. deu sono.
- putz, ainda tenho de trabalhar! fica para outro dia o capítulo três, sobre minha conversa com a golden cross.

10 comentários:

Tati Reuter disse...

Rapaz, essas situações são cíclicas mesmo... esses dias eu tive esse mesmo dia de fúria, mas com pessoas inacreditáveis do trabalho... achei interessante que você tenha chorado, nessas situações eu não consigo não... a raiva, mais vulgar que o ódio me impede de fazer isso. Mas o que mais incomoda é que nós temos que nos justificar o tempo inteiro para tele-coisas como se estivéssemos depondo no banco dos réus e SEMPRE nos lascamos na condenação. Mas relaxe, porque nem adianta dizer que tudo acabará bem... pelo menos acabará. Um beijo procê. Achei engraçadas duas coisas: a feira do rolo que tem aí também, como em Salvador (e agora me pergunto se em todo canto tem) e as aeromoças de 1988... eu não viajava nessa época ainda! :P

Anônimo disse...

There´s no crying in Baseball!

R$ 172 no amex? Tu tah passando Carto de credito em motel? Leva dinheiro veio...

Eu estou em processo de sair da OI (ex Brturbo) de tanta raiva, mas no fundo, eu sei que eh para passar raiva em outra operadora.

Eu acredito que um dia eu vou encontrar uma companhia de telefone/plano de saude/cartao de credito/etc que nao faça tanta merda...do mesmo jeito que acredito que o Vasco vai ganhar a Copa do Brasil.

MTFBWY
Mosh The Boss

P-Sanha disse...

Andre,

Se te serve de consolo, minha tia encerrou uma conta na Caixa ha uns 8 anos. Ao tentar comprar um apto em Salvador ha dois anos, ela foi informada de que havia uma divida pendente e, por conta disso, ela nao poderia comprar o imovel. A tal divida era justamente com a Caixa: mesmo tendo encerrado a conta, "alguem" nao deu baixa no "sistema" e o banco continuou a cobrar taxas de manutencao sobre sua conta. Resultado: minha tia teve de desembolsar R$ 4.700,00 referentes ao debito com a Caixa. So asim ela pode comprar o imovel que ela queria.
PS: o imovel nem era financiado pela Caixa, nem tinha nada a ver com a Caixa, mas o nome da minha tia estava sujo "no sistema".
Detesto dizer isso, mas enquanto o Estado e suas as instituicoes forem o motivo maior e a razao de ser de uma nacao, seus cidadaos serao automaticamente desprovidos de garantias e direitos, ja que o Estado se sobrepoe a nos, individuos. Nesse ambiente semi-hobbesiano de guerra de todos contra todos que eh o Brasil, a lei (ou a falta dela) eh realmente a do mais forte. Falem o que quiserem (sei que o tema eh sensivel...), mas me parece que aqui nos EUA os mexicanos que estao no pais ilegalmente tem mais direitos e garantias que os brasileiros que vivem no Brasil.
Exemplo: eh ilegal e dah multa e prisao a quem perguntar o status imigratorio de alunos nas escolas publicas daqui da Carolina do Norte. 70% dos alunos da Ginny sao imigrantes ilegais mas tem o DIREITO de frequentarem uma escola livre de qualquer tipo de discriminacao. Parece contradicao mas nao eh. A razao de ser de qualquer sociedade civilizada deveria ser tao somente as pessoas que nela vivem.
Andre, de maneira alguma, sob nenhuma circunstancia, voce deveria ter sido tratado da maneira que foi (seja pela AMEX, seja pelas Teles). Nem falo isso sob um prisma economico, mas sim por RESPEITO. Seus direitos foram violados. O triste eh que nem a AMEX, nem as Teles basearam a relacao que tinham com voce no respeito mutuo: eles fizeram o que eles entenderam ser melhor para eles proprios. E ponto. Estao errados? Nao, de maneira nenhuma. Num ambiente de todos contra todos, eles so fizeram o que nos fazemos no dia-a-dia: furamos filas, atravessamos o sinal vermelho, estacionamos na calcada - e dane-se o outro!
Pensando bem...Andre, eu acho que voce deveria ir a Feira do Rolo e comprar uma pistola, sim. Quem vai sentir falta de uma operadora de telemarketing ou de uma vendedora de aparelho celular??? Andre, voce eh reu primario, meu querido, va em frente com seus planos...

popfabi disse...

eu faço a prática do passivo-agressivo: irrito mais o atendente do que ele me irrita: perguntas cretinas, dúvidas idiotas, monotom na voz e a constante repetição do PROCESSO INTEIRO. bemmm devagar.

dicas: juizado de pequenas causas. 3 meses e sua raiva se converte em dinheiro.
também funciona: ouvidoria da ANATEL (telefones) e Banco do Brasil (American Express) - tudo no site, facinho. o ranking da empresa despenca.

converta o ódio em motivos para sentirmos saudades dessa convulsão de tele-sistemas: RECLAME.

última dica - não vá para a vivo. sério mesmo.

ag disse...

agradeço os posts de apoio. fabis, vc está certa. adonis, o que mata é a coisa do ônus da prova, no brasil, ser sempre do cliente. ele é a razão de ser de qualquer serviço e deveria ser SEMPRE tratado como tal. enquanto as empresas se acharem sempre em posição de superioridade em relação aos clientes, e se "protegerem" deles com serviços capengas e irritantes de telarketing, estará tudo errado. e sim, ainda sou réu primário..

Unknown disse...

meu caro, sofro o mesmo com a Veja..há um mês não recebo a revista em casa, pois o distribuidor não consegue encontrar meu novo endereço: sqn 209...perguntei, então, se o distribuidor era de brasília, já que qualquer um encontra encontra endereço em brasília..e de praxe, fui perguntada se de fato não há o nome da minha rua..não! brasília não tem rua! os contento dando como bairro a asa norte! mas enfim, há um mês preciso ir à banca comprar a revista, pela qual paguei assinatura para recebê-la em casa. e se eu cancelar a assinatura...quanto tempo você acha que vão demorar para me devolver o dinheiro?

Sofia disse...

Angu,
1. cancele o Amex no procom também pq eles tendem a se fazer de desentendidos - já cancelei a droga do cartão (aquele que me colocou pra ouvir "alegria" por 15 minutos antes de relatar perda) DUAS vezes e eles continuam a mandar contas aqui pra casa.
2. Não se fidelize a ninguém - depois que eu passei pra pré-pago, não me escravizo mais com conta nenhuma (que sempre vinha magicamente acima de qualquer plano que eu tivesse).
3. Vamos procurar juntos info sobre o tribunal de pequenas causas, que eu tenho umas empresas aí pra processar (inclusive Amex) - resolvi que agora vou pentelhar todas elas!
Agora eu vou ali tentar desbloquear um celular que comprei mais barato na Claro, que ficou de desbloqueá-lo (conforme manda a lei) em 5 dias úteis. Há!

Luciano disse...

Concordo com o que todos disseram. E vc sabe o que penso... Tenho frequentes dias de furia. Bem-vindo ao clube. Siga os conselhos da Fabis. Como dizem os americanos: DON'T GET ANGRY. GET RICH. Maos a obra!

clark disse...

"isso também vai passar..."
marília gabriela

Augusto Barros disse...

Azar quando penetra é pau no cu e etcetera!