domingo, 8 de abril de 2012

o que faz você feliz – ou, ode ao trivial sensacional

difícil não lembrar daquela propaganda do pão de açúcar, cujo mote era definir “o que faz você feliz”. acho que antes mesmo de o mundo começar como tal, as moléculas de hidrogênio já se ocupavam do tema felicidade. ele rende roteiros cinematográficos, discussões de boteco e dogmas religiosos. mas.. o que nos faz feliz? não acho que haja respostas definitivas, nem acedito numa única fórmula eficiente para todos. mas com boa parte dos cabelos do meu corpo pintados naturalmente, começo a achar que se pode arriscar alguns caminhos. acho que o pulo do gato aqui é a simplicidade. coisas, processos, situações que em determinada época da vida nos parecem intransponíveis, complicadíssimas, de repente passam a não assustar mais, e podem, naturalmente associar-se, de maneira simples, a um estado de felicidade. é o caso da paternidade. quando eu era mais novo, achava tudo complicadíssimo, difícil, sofrido nesse campo. ter um filho era algo incogitável. e não pela questão da óbvia limitação financeira dos vinte anos. mas pela maturidade e capacidade que, claro, nunca viriam a contento. uma das premissas da psicologia que venero é a clássica: “tudo passa, isso também passará”. claro! isso precisa fazer minimamente sentido, do contrário, estariam ainda mais condenados mães que perdem seus filhos precocemente, povos submetidos a ditaduras crueis e seculares, pobreza extrema, doentes incuráveis ou terminais e suas famílias, pacientes de dor aguda e crônica, dentre outros. quando se acredita que TUDO na vida é passageiro, relega-se a crueldade dos fatos a mera etapa evolutiva – passageira por definição e necessária para o fechamento de processos. mais ou menos como a acontece com a breguice de algumas tramas novelísticas - e seus núcleos. fica mais fácil, também, minimizar a inveja que enche o saco de tanta gente – se tudo passa, não vale a pena me prender à vontade de ter ou ser o que meu vizinho tem ou é. desde que, claro, se esteja bem durante o caminho. a felicidade pode estar associada a medalhões como a vivência de um amor pleno – e correspondido, fé religiosa, realização profissional, gozo de boa saúde, amizades verdadeiras – e saudáveis, ou mesmo à combinação de todos. as variáveis são múltiplas, mas a fórmula que parece funcionar é a simplicidade. os fatores que explicam a felicidade são muito significativos, e sua importância varia para cada um, mas são todos muito simples. não há consenso sobre o conceito, mas é hora de começar a questionar “o que nos faz feliz”? na tentativa de compreensão, é mais saudável acreditar que a felicidade é uma quimera a ser preseguida. mais uma vez, a metáfora sacana do coelho [pra prestigiar a páscoa] nas corridas de cachorro.. e deve, assim, ser vivenciada em nano-momentos do cotidiano. um milk shake de café da saborella, a chegada no aeroporto de uma cidade que sempre se quis conhecer, a foto que registra um momento importante, uma conquista pontual, um beijo, acordar e tomar café junto. tudo isso somado deve dar mais ou menos a fórmula para se fazer a conta da felicidade. cada um deve, pois, pegar lapis, borracha e calcular.. pode-se chegar a um resultado trivial, mas sensacional. boa páscoa. comedida, curtida, mas, acima de tudo, feliz. § § § dedico essas linhas às três crianças que bagunçaram minhas certezas. e a uma figura que há tempos torna a jornada bem mais interessante.