sexta-feira, 30 de novembro de 2007

contribuição do 'assexuado' mais talentoso que existe.

please, please, please let me get what i want
johnny marr/morrissey

good times for a change
see, the luck i've had
can make a good man
turn bad
so please please please
let me, let me, let me
let me get what i want
this time

haven't had a dream in a long time
see, the life i've had
can make a good man bad
so for once in my life
let me get what i want
lord knows, it would be the first time
lord knows, it would be the first time

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

when harry met sally [parte 1]

trabalhei alguns anos na agência brasileira de cooperação, que funcionava na estrutura do ministério das relações exteriores [abc/mre]. era uma estrutura anômala, espécie de principado de consultores, incrustado num mar de diplomatas. contudo, era chefiada por um embaixador-artista gente boa. lá tive minha grande escola profissional: aprendi a me portar numa reunião, negociar e escrever formalmente. conheci a cooperação técnica e o ciclo de um projeto. conheci macetes e meandros profissionais. devo muito, muito mesmo àquele lugar.
e às vezes aconteciam coisas curiosas na abc..

lá tive um grande chefe, de quem sou padrinho de casamento [ou ‘testemunha’, como diz sua esposa de origem russa]. tive duas chefes imediatas, tão loucas e instáveis quanto competentes e entendedoras de cooperação técnica: sara e martinha. clima perfeito de trabalho, com muita pressão, aprendizado, mas doses alopáticas de diversão.

certa vez, sara comentou que uma amiga sua, chefe da delegação de um país centro-americano na onu, estaria em brasília por dois ou três dias. ela organizaria uma “hora-feliz” com a figura e queria que eu me juntasse a elas. claro que não dei a menor importância: o que eu faria lá? devia tratar-se de uma embaixadora com 200 anos de idade, cabelo com laquê armado e risos estridentes ao lembrar de quando serviu em genebra. além de consumidora voraz de dry martini. no way!

algumas semanas depois, chega o dia da saída. a embaixadora já estava em brasília e partiria no dia seguinte pela manhã. queria ver sara, sair com suas amigas e ir a um lugar legal. conceito relativo esse.. well. decidiram-se pelo universal dinner, que abrira há pouco tempo e antes dos arroubos ególatras da proprietária, era realmente muito legal. transado, com decoração peculiar, excelente comida, boa música, o lugar tinha um balcão ótimo. balcão! taí algo que falta em brasilia. aliás, além do bar ‘balcão’ em são paulo, acho que falta cultura de balcão no brasil. pois bem. dani, colega da abc e ex-companheira de unb insiste para que eu vá. pergunto a ela [me conhecia há bons anos] que porra eu faria num encontro desses. típico girlie get together. ela sorriu, bem maliciosa, e respondeu:
- andré, acho que você deve ir. ela me conhecia há muito tempo. conhecia meu estilo heterodoxo, minhas idiossincrasias, meu gosto pelo underground e parte de minhas preferências. mas o sorriso dela teve uma cumplicidade esquisita.. apesar de não termos tanta intimidade, topei. na época, eu era inconseqüente e não tinha grandes preocupações. então, lá vou eu ao universal dinner com minhas chefes, conhecer a tal embaixadora.

o que não me haviam dito é que não seria um encontro ‘quase’ só feminino, mas completamente! as colegas de trabalho já estavam lá, mas nada da embaixadora, ainda a caminho com sara. fazer o quê? há muito tempo deixei de me intimidar em meio a mulheres. roubada ou não, só me restava encher o rabo de champanhe [parafraseando de forma light uma amiga muito querida] e na melhor das hipóteses, rir um pouco. meia hora depois, minha chefe aparece acompanhada por uma menina bem interessante. opa! menina?! pergunto pela embaixadora.
- essa é marita, andré.
peraí!! que porra de representação diplomática era aquela?! era só uma menina! devia ter minha idade. e tinha. eu, 27 anos. marita, 28. era deliciosa. charmosa. gostosa. inteligentissima. senso de humor feito de ácido sulfídrico, como o meu. três garrafas de chandon mais tarde, conversávamos sobre mil coisas e descobríamos afinidades. ela começava a se soltar. ao abrirmos a quarta garrafa.. marita me confidencia que é lésbica, morava com uma brasileira em new york e estava no brasil justamente para conhecer a família da mulher. caralho, será que essas coisas só acontecem comigo?! quis matar minha colega e minha chefe.

na época, eu já havia descoberto que o campo sexual é bem mais etéreo e fluido do que as aulinhas de ciências na 4ª série nos ensinam. NADA é exato. a começar pela tal escala kinsey [os vários sexos].. você até planeja as coisas, mas na hora de implementar, se dá conta de que esqueceu de incluir no cálculo 430 variáveis não quantificáveis. aí a vida diz: foda-se! vai acontecer do jeito que ela quiser! bom, não gozei, mas relaxei.

as coisas foram rolando, champanhe, bom clima, boa companhia, muita empatia, mais champanhe. e a linguagem corporal da mulher mudou. a minha também deve ter mudado. ela ficou mais aberta, mais expansiva. eu fiquei interessado. afinal, tínhamos algo forte em comum: gostávamos muito de mulher. entramos de vez numa freqüência comum e sem maiores hesitações, apenas curti o tempo em que passamos juntos. sempre achei legal conhecer gente interessante, com recado a dar, conteúdo. no caso de uma mulher profissionalmente muito bem sucedida e sexualmente bem resolvida, viajada e que ainda apreciava o mesmo que eu - as mulheres - melhor.

entramos em uma madrugada deliciosa. e de repente marita me abala: começa um ‘trabalho manual’ muitíssimo bem executado em mim, ali mesmo, embaixo da mesa: "mão naquilo”, numa mesa do universal dinner em noite cheia. há! sua habilidade quase cirúrgica não a deixou ir até o fim. mas duas garrafas de chandon mais tarde, era hora de fechar o recinto. foda! hora de ir embora. rolam as despedidas e fui acompanhar sara e sua convidada ao carro, afinal, marita embarcaria no dia seguinte. ok, foi uma boa noite. aliás, foi uma ótima noite.

de repente, a embaixadora surpreende novamente e, enquanto eu esperava um “nice to meet you” talvez algo do tipo: “maybe we can meet again some other time”, ela me susurra algo inesquecível [acho que agora sei o que bill murray disse a scarlet johansson ao final de lost in translation..], me pega de jeito e começamos uma ‘semi-sequência’ de pornozinho light no estacionamento de um bloco residencial. resumo da ópera: gastei quase 100 paus naquela noite, mas ver minha então chefe sorrindo, também confusa com as bolhas e disfarçando, olhando para cima, enquanto eu e marita nos entendíamos ao final da noite, nem mastercard pagava. e foi isso. despeço-me de sara e caminho bêbado de volta ao bar, achando que há coisas que só acontecem comigo. quando entro no universal, o garçom me esperava com um bilhete: - a moça pediu para entregar para o senhor..
- hã?
“nice talk, delightful atmosphere, loved to meet you.. life is full of surprises”
- puta-que-pariu-mas-é-só-isso?! como assim, a vida é cheia de surpresas?! caralho.

fui atrás do manobrista com guarda-chuvas, pois começava a chover.