segunda-feira, 21 de maio de 2012

protozoário, o injustiçado

prólogo. já é inverno em bsb, e hoje o dia começou esquizofrenicamente gostoso: cinza, frio e meio chuvoso. mas depois das 14h o sol saiu, as nuvens fugiram e, como dizia o sábio marcelo nova, “o ponteiro subiu”. tava quente. eu saía de um almoço gostoso com velhos amigos no velho corporate centre, digo, center. setor comercial norte da gloriosa brasília. era hora de pegar meu carro, estacionado em uma vaga regularmente concebida para esse fim. mas, de repente, percebo um carro parado na frente do meu. desenvolvimento. acho que por um momento, minha pressão, que é 11 por 7 há vinte anos, foi a 13 por 8. olho para um lado: ninguém. olho para o outro: ninguém. penso, por um momento: - saco, sem tempo, com preguiça, sonolento e de barriga cheia, vou ter que empurrar a porra do carro!! putaquepariu, que saco!!! isso nunca aconteceria na alemanha, como diria meu amigo cujo apelido é.. alemanha. aliás, colocando o politicamente correto em seu lugar [a putaquepariu], entendo que o ocorrido teria espaço em são luís do maranhão, onde morei; em goiânia, onde prefiro nunca morar; no rio de janeiro, onde quero voltar a morar. mas é triste ver isso acontecer em brasília. pois bem. na frança do século xviii, era moda usar paletó, colete, camisa e calça feitos com diferentes tecidos, padrões e cores: era o embrião do terno, hoje mundialmente difundido. naquela época, o terno tinha corte largo e era utilizado como peça informal de vestuário, conhecido como "roupa de descanso". essa vestimenta falida, estúpida, resquício de uma época falida e igualmente estúpida, piora tudo. por causa dele, ou melhor, do nó da gravata [acredita-se que essa tenha surgido na corte de luís xiv], meu sangue tem mais dificuldade para circular, minhas artérias comprimem-se, minhas sinapses ficam ainda mais lentas. mas, voltando ao carro: teria de ser empurrado. arregaço minhas mangas e começo a empurrar. nada. não sou um modelo de átila, mas estava empurrando com força. nada. aí, por um segundo, passa um flash na minha cabeça.. frio na barriga. resolvo olhar dentro do veículo e, pimba!! freio de mão puxado. cheguei a 15 por 9, imagino. não posso morrer por causa de um[a] filha da puta que não tem a menor vocação para a vida em sociedade. lembro-me de que não paro em fila dupla nem pra comprar pão. e a gente costuma esperar em retorno o que fazemos para as pessoas.. ah, foda-se. já tava mais que puto. ainda rola um olhar perdido para vários lados. nada. buzino, por via das dúvidas. nada. caminho até os flanelinhas e pergunto se alguém está “tomando conta” de um veículo x, placa tal. cara de conteúdo. nada. ninguém. calma, calma. a pressão! resolvo andar até a recepção do prédio comercial [o estacionamento é em frente] e perguntar, por via das dúvidas. nada. – o senhor tem de perguntar ao flanelinha, eles costumam ficar com as chaves de alguns veículos. - mas eu já conversei com eles e nada. nada.. hora de desabotoar o primeiro botão da camisa e afrouxar o nó da gravata. eu quase me rendo. resolvo entrar novamente no prédio e tomar um café. quem sabe nesse meio termo algo legal acontece? a essa altura, desejei de coração a chance de deixar para a pessoa a mesma alegria que ela me deixou. com o expresso na cabeça, volto à romaria. decido falar com flanelinhas do próximo estacionamento, uns 500m adiante. quando estou chegando, olho pra trás: o carro estava saindo. o carro estava saindo!! eu tinha de fazer algo, pelo menos olhar o[a] verme nos olhos e.. sei lá. precisava disso. corri em direção a uma das duas saídas [arrisquei a mais provável..] para interceptá-lo[a], mas o carro seguiu a direção oposta. putaquepariu. consegui ver uma loira-que-não-nasceu-loira muito perua.. lembrei, uma vez mais, do michael douglas em falling down. que bom que não estou armado! mantive a calma. viva as aulas de yoga. conclusão
. me pergunto, afinal: por que o pobre protozoário só tem direito a uma célula enquanto há seres que têm uma coleção, mas não sabem o que fazer com elas?