quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

russel, o atemporal

esperando por mim

acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero
sou tão cínico às vezes
o tempo todo
estou tentando me defender
digam o que disseremO mal do século é a solidão
dada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de afeição
hoje não estava nada bem
mas a tempestade me distrai
gosto dos pingos de chuva
dos relâmpagos e dos trovões
hoje à tarde foi um dia bom
saí prá caminhar com meu pai
conversamos sobre coisas da vida
e tivemos um momento de paz
é de noite que tudo faz sentido
no silêncio eu não ouço meus gritos
e o que disserem
meu pai sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
minha mãe sempre esteve esperando por mim
e o que disserem
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
e o que disserem
agora meu filho espera por mim
estamos vivendo
e o que disserem os nossos dias serão para sempre..

domingo, 22 de janeiro de 2012

Metrorio – um conto inacabado

o dia estava dos mais complicados: relatório para entregar no trabalho, missão estrangeira na cidade, aumento do aluguel, mil demandas, muito stress, muita confusão. quase não havia tempo de apreciar a belezura da cidade maravilhosa. eu estava mais atrasado que o coelho da alice, e quase perdi o imperdível..

o relógio batia quase 9:30h e eu estava mais de uma hora atrasado. no caminho, nada de novo: o metrô pequeno, mas conservado e eficiente do rio de janeiro. o trajeto? o de sempre: comecei a viagem na simpática estação do cantagalo e, sem grande surpresas, desceria na confusa cinelândia. o futuro do pretérito encaixa-se com perfeição aqui..

ao deixar a reformadinha estação do largo do machado, a mulher subiu no mesmo trem em que estava. e aí, pronto: zupt!! a troca de olhares estilo closer confirmou que eu a conhecia. acredito que não era um estranho para ela. não me lembrava de onde, nem quando, mas sim, já havia cruzado olhares com a ruivinha em reuniões de trabalho, na casa da matriz, no market ipanema ou no crepe do bretão. pouco importava. não tinha intenção de fazer um tratado sobre a moça, nem decifrar suas preferências literárias. pelo menos não naquele momento. quem era ela, o que fazia, o que pensava, onde morava.. para onde ia?! eram questões secundárias. consegui ver, no entanto, o “segundo sexo”, da simone do sartre, escapar de sua pasta e começar a ser devorado. parecia mesmo uma intelctual: apostilas, livros, moleskines, anotações. tudo desorganizadinho na pasta estilosa.

pior é que tava chegando a hora de descer e nada acontecia. como nada? rolou simplesmente tudo naquela troca de olhares [livro-chão-ag-livro-livro]. tudo, menos certeza. típica limitação que instiga a curiosidade e apimenta qualquer aproximação, apesar de não ser mesmo possível definir o que pensava e o que sentia a moça. o flerte continuava. os olhos de um disfarçavam, passeavam pelo ambiente, visitavam outros portos, mas seguiam, invariavelmente, ao encontro do outro. putz, que delícia.

é inevitável, em situações como essa, certa dose de ansiedade. aborda-se? pede-se o telefone? pergunta-se o nome? arrisca-se levar um fora, uma cortada? sem regras pré-definidas, vale recorrer a pessoa para chegar na pessoa: nada é exato, preciso. e quando há verdade, timing e se as energias são boas, a curtição está garantida. no processo. claro que o resultado às vezes surpreende..

apesar de tomado pelos questionamentos, inseguranças e incertezas do tipo, controlei a ansiedade e deixei rolar. estava entorpecido, excitado, animado, curioso. sensacional! parafraseando o poeta argentino: era um grande momento.

nessa hora, percebo que chegou a cinelândia. e ela não desceria ali. aqueles dez ou quinze minutos pareceram uma vida. talvez tenham mudado uma vida. pior é que, devido às minhas referencias cinematográficas, closer não me saía da cabeça..

percebo agora que me esqueci dos óculos e a dor de cabeça já chegou. a ruiva? nunca mais vi. mas é impressionante como essas nanopassagens marcam e tornam-se referência. acho que esse é outro segredo de tostines: a vida é mesmo feita de pequenos e curtos momentos. às vezes, curtos demais.