terça-feira, 31 de agosto de 2010

beautiful girls

ontem veio o diagnóstico esquisito: pneumonia. foda, nunca me imaginei com pneumonia. passo seguinte: repouso total. xaropes, antitérmicos e, claro, antibióticos. detesto antibióticos. detesto remédios não-naturais. corpo destruído, sem conseguir sequer me sentar na cama, peso no que fazer. ler é uma opção. filmes também. escrever, talvez. vamos por partes. decidi aproveitar o tempo para retomar um pouco do blog e fazer justiça a alguns filmes e estórias pouco celebrados. coisas ‘lado B’ mesmo. criei então os insights da cama.

o primeiro capítulo refere-se a beautiful girls [1995], de ted demme, delicioso filme sobre uma high school reunion [dez anos de término da escola] numa cidadezinha fria dos estados unidos. o que esperar? o de sempre: velhos conflitos revistos, amizades e inimizades questionadas, novos amores, desesperança, conformidade. por que esse é legal? por vários motivos. tem mais do mesmo. a gordinha recalcada brava. o inseguro que ainda mantém o quarto cheio de posters da playboy e critica todas as mulheres da vida real. a safada de caráter questionável que se casou mas não terminou o romance com um matt dillon que era o heroi da escola e hoje é apenas o fracassado dono de um serviço de limpeza de neve. há a namoradinha oficial de Dillon – mira sorvino em começo de carreira, bem apagadinha. claro que há também o casal referência de tranquilidade, com filhinhos bonitos e ambições há muito esquecidas.

além de tudo isso a película também tem timothy hutton ótimo no papel de willy, pianista meio líder-cerebral-ponto-de-equilíbrio-ainda-que-outsider. fio condutor do filme e referência da turma, toca por trocados em bares de chicago. charmoso, o cara tem o previsível medo masculino de comprometimento – tem uma namorada séria que ficou na cidade grande. willy volta à cidadezinha para o reencontro. hospedado com o pai e o irmão caçula, ele desenvolve uma bela [ok, deturpada e pedófila para uns..] relação com a vizinha de treze anos, marty: ninguém menos que natalie portman. já não criança, maravilhosa, sedutora, atrapalhada. marty apaixona-se por willy. nabokov? não nesse caso. ele até que fica confuso pela admiração dela [o que é sutilmente revelado em belas cenas], mas em nenhum momento a fronteira do bom senso é ultrapassada e a menina não controla a relação; ela não controla nem suas reações: a menina se apaixona pelo pianista. o diálogo do parque de patinação sobre winnie the poo é fantástico.

a relação que os dois desenvolvem é puro lirismo, não-óbvia, sedutora. a inocência da menina é um dos temperos mais charmosos da relação, e contrasta com a intranquilidade e a falta de jeito de willy, que tenta convencê-la de que nada poderia acontecer entre eles. ela pede a ele que a espere até os 18 anos. o diálogo é memorável. quando sua namorada junta-se ao grupo ele a apresenta para a menina. a cena é das mais charmosas e tocantes do filme.

no final, a cidadezinha retoma a rotina e willy retorna a chicago. um dos amigos do pianista certa hora diz que se ele voltar sabe exatamente onde encontrar todos – nada muda por aqui. nada quase nunca muda.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

ódio no coração. ou, ai que saudade do talher de prata!!

sou fascinado pelo filme falling down. sempre fui instigado pelo questionamento: pode um homem normal, ou melhor, comum no sentido de ordinary, dar vazão ao stress, ao ódio e à irritação acumulados em pequenas situações cotidianas, por meio de uma explosão de fúria e insanidade? parecia difícil acreditar, até joel schumacher [sempre ele] conseguir compactar essa hipótese e convertê-la num grande filme. até aí, tudo bem:
- é arte mesmo! só que hoje, 30 de abril de 2010, comprovei na carne a proximidade delicada desse limite. não quero concordância e nem compreensão. preciso apenas escrever para não ir amanhã cedo à feira do rolo comprar uma pistola.. ilustremos.

capítulo 1.
ontem [29/4] recebo uma correspondência da american express, informando a suspensão do meu cartão, devido à não quitação de um débito há mais de 30 dias. apesar de não ter essa fatura no débito automático, nunca me esqueço de pagar contas: não brinco com dinheiro, especialmente sem ganhar salário há meses.
- estranho, pensei. mas quando voltei para casa, procurei a última fatura e.. pimba! tava lá, comprovante de pagamento e tudo.
- estranho, pensei de novo. ligo hoje cedo e sou informado de que o débito [172 reais] refere-se a uma fatura em aberto [não paga] do meu cartão anterior, de dezembro de 2009. naquele mês, recebi um novo cartão, como prêmio pela boa relação que tenho com a empresa [sic] – subi de nível.. ok. calma. ligo para central e escuto da mocinha que eu deveria ter ligado e cancelado o cartão anterior e que a correspondência de envio deveria ter mencionado isso. deveria, note bem. por uma confluência de júpiter com saturno, procuro em meus arquivos e lá estava a tal carta de envio. nada [note bem, nada] referia-se à necessidade de cancelamento do cartão anterior. pelo contrário, mencionava um upgrade em meu status – mais ou menos como se a TAM não cancelasse o fidelidade branco, depois que se recebe o azul. a mocinha pede desculpas. solicito a ela, então, que me envie uma nova lâmina e confirmo meu e-mail.
- não é possível, senhor. posso lhe passar um código de barras e o senhor comparece a uma agência do bradesco e efetua o pagamento.
- bradesco? só é possível assim?? Não tenho acesso a esse banco.
- sim senhor.
- então cancele meu cartão, minha jovem.
- qual deles, senhor?
- ambos. quero dizer, os dois! outra coisa: nunca mais quero receber ofertas, ligações, sequer folders da amex. isso está claro?
- sim, senhor.

capítulo 2.
há cerca de um mês entrei em contato com a TIM, pois como estou com um aparelho emprestado e fora de fidelização, decidi adquirir um novo.
- o que devo fazer? - perguntei.
- basta o senhor atualizar seu cadastro e isso gerará automaticamente o desconto para aquisição de um aparelho novo.
- preciso ir a uma loja fazer isso?
- não, o desconto só é gerado pelo *144. o sistema [adoro esse termo] leva três dias para liberar, depois de reconhecer sua atualização de cadastro. engraçado o termo ‘atualização’.. sou cliente há nove aos!!.
mais de vinte dias e oito protocolos depois, obviamente não consegui nada. acordei hoje decidido:
- vou resolver e não vou esperar mais. liguei, por desencargo de consciência, para o atendimento e me confirmaram que o sistema ainda não havia liberado o desconto. para encurtar, solicitei o cancelamento de minha linha e o fim de uma longa relação. Senti-me livre como poucas vezes. freedom is a blessing, já diria meu amigo matias.

ponderei e me dirigi a uma loja da vivo: seria minha nova operadora. depois de alguns instantes de papo com a mocinha, ela mostra vários aparelhos de última geração que te trazem até rivotril com um copo d’água. animei-me.
- só tem uma coisa, senhor. no momento, estamos sem disponibilidades de aparelhos sony [minha preferência] ou nokia. mas como seu telefone está ativo e fora de fidelização, o senhor pode adquirir a linha – sem fidelização e usar o chip vivo nela. quando tivermos mais opções de aparelho, entro em contato, o senhor escolhe e se fideliza.
- parece fazer sentido. tudo bem, topei. vamos fazer o contrato. mocinha passando pra lá, pra cá, subindo escada, acabamos o procedimento.
- ah, mas tem um problema. vejo que o seu chip é bloqueado.
- hã?
- é, bloqueado. mas tudo o que precisa fazer é ir ali ao lado, na loja da TIM, e pedir para fazerem isso.

eu já estava achando um absurdo, sem almoço, sem água, sem saco. mas topei. fui à loja da TIM, empresa da qual fui cliente, como já mencionado, por nove anos.
- boa tarde, meu jovem. você poderia, por favor, desbloquear meu telefone, da TIM?
- senhor, preciso da nota fiscal.
- nota fiscal?!! tipocomoassim?! meu anterior quebrou e minha mãe me emprestou esse, que como você pode ver, é antigo.
- de qualquer forma, precisamos da nota.
- ....

volto à loja da vivo, explico a situação e digo que por isso, temos de desfazer o contrato.
- o sistema não permite, senhor.
- ... mas minha jovem, esse contrato nem foi ativo e eu nem usei a linha!!!!!!
- mas o sistema..

dou as costas para a mocinha. sento-me no chão da loja, posição de lótus e as lágrimas começam a escorrer. naquela hora, assumo que meu coração estava muito cheio de ódio.
pra quem até pouco tempo tinha de usar fresh tears para produzir lágrimas, ando um chorão! foi ótimo, pois senti a ira escorrendo junto.
aí um segurança aproxima-se e pergunta:
- o senhor está se sentindo mal? quer uma água?
- não, meu jovem. nada além de muito ódio no coração. meu dia não está fácil.
- que gentil, pensei. mas daí ele volta e dispara:
- é que o senhor não pode sentar-se aqui no chão. terá de sair da loja
- hein?? acontece de estou protestando. deixe-me em paz.

o cara foi realmente educado e me convenceu a protestar numa cadeira. sentado ali, com fome, sede e muito [mais] ódio no coração, tive muita saudade de 1988. naquela época, as comissárias de bordo chamavam-se aeromoças, eram lindas e nos serviam em talheres de prata. os telefones fixos eram caros e pouco eficientes, mas não me lembro de ninguém sentir ódio da tele-isso ou tele-aquilo.. isso não era um issue.

fiquei ali, quietinho, olhando as pessoas horrorosas do conjunto nacional. deu sono.
- putz, ainda tenho de trabalhar! fica para outro dia o capítulo três, sobre minha conversa com a golden cross.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

os nacionais. de novo.

hoje recebi de presente o mais novo disco [Cd?] do the national. impressionante minha capacidade de não-inovação musical. assumo toda a minha resistência a mudanças e meu fechamento a novas descobertas, pelo menos atualmente. viva o show de 2008 no rio de janeiro. ótimas as novas músicas. post sem propósito. dia esquisito. gripe.

sábado, 13 de março de 2010

i know.

sempre gostei de cinema. e sempre fui atraído por um aspecto peculiar dos filmes: seu final. a boa safra cinematográfica de 2005 produziu uma obra-prima, before sunset, para mim um filme com final digno de registro. já mencionei a película algumas vezes, mas estive outro dia discutindo o encerramento de filmes e acabei revendo “antes do antardecer”. chegou a hora de render-lhe nova homenagem, particularmente, à sequência final.

pensando sobre finais de filmes, me lembro, sem muito esforço, da breguice encantadora do final de dead poet society, da emoção da sequência final de cinema paradiso, mesmo do final politicamente correto de it’s a wonderful life. mas o “não-encerramento” de before sunset parece imbatível. a economia de palavras entre os protagonistas, após 80 minutos de quase-verborragia, culmina em sedução refinada entre os dois. o diretor richard linklater atingiu a maturidade estilística num filme para adultos, sobre crises, frustrações, sentimentos e anseios adultos. complemento perfeito para a primeira parte da sequência [before sunrise, 1994], que refletia as instabilidades, as besteiras e as confusões mentais típicas dos 22 anos.

a opção do diretor por planos bem longos, pouquíssimos cortes, e pela ambientação informal num passeio por ruelas de paris, foi acertada. linklater cria, assim, identificação imediata com o público. poderia ser uma revisão/discussão de relação no mercado do peixe de salvador, na rua do rosário [centro do rio de janeiro], ou mesmo no CCBB de brasília, numa tarde de céu vermelho. foi inspiração clara, dentre outros, para o delicioso .apenas o fim. [2008] de matheus souza.

em before sunset, o diretor cria uma atmosfera de crescente sensualidade e instiga a curiosidade do público sobre o que teria acontecido dez anos antes, entre jess e celine, personagens de ethan hawke e julie delpy. A conclusão da história começa a ser desenhada quando celine vai ao encontro do jovem, agora com 32 anos, na Shakespeare&Co. em paris, no lançamento do livro que jesse escrevera sobre sua viagem a viena, exatemente quando os dois viveram uma noite de encantamento e paixão arrebatadora. eles marcam um encontro para seis meses depois. obviamente, ele não se concretiza: quando se tem 22 anos, achamos que muitas pessoas especiais passarão pela nossa vida..

desde a livraria, o expectador é provocado a refletir sobre a relação dos dois. o que teria acontecido nove anos antes? teriam eles se encontrado? foi uma paixão de verão, ou um amor verdadeiro? a primeira pista é dada quando jesse pergunta se ela havia comparecido ao encontro, marcado de forma tão descompromissada.
- no, of course not – é a reposta taxativa de celine. mas à medida que a conversa flui, o encantamento mútuo revela-se apenas latente, não acabado. dez anos passaram-se, mas a simbiose era a mesma e o quebra cabeça da paixão de ambos havia apenas perdido uma peça, um pequeno elo que inviabilizou a continuidade. jesse está um pouco envelhecido [hawke fuma pra caralho], mas “little cross-eyed” celine não mudou quase nada. as aparências são frágeis e em uma sequência eletrizante, ele confessa que seu casamento é falido e ela cospe dez anos de frustrações e infelicidades pessoais. a vida não é tão bela como parece. e daí?

o filme é rápido e bem montado. a sedução aumenta e o climax parece ainda mais incerto. até jesse acompanhar celine ao seu apartamento. lá, mais sedução. sem nenhum dos clichés que Hollywood vomita diariamente, linklater constrói uma atmosfera infalível para revelar o final de sua história: paris. nina simone. revelações. celine protagoniza uma dança contida, mas com muito charme. E dispara:
- babe, you’re gonna miss that plane [jesse pegaria um voo de volta a nova iorque em instantes].
- I know – responde ele. certo. a escolha foi feita e o desfecho, perfeito. ‘quandos’, ‘comos’, ‘ondes’ e ‘porquês’ podem ficar para uma eventual sequência..

[para sofia, marcelo e daniel, companheiros de filme, viagens, crises e caipiroskas naquela tarde de 2005]

domingo, 7 de fevereiro de 2010

a dois

insigths sobre a vida a dois..

1. sem concessões não há nem começo;
2. aprendizado. eterno.
3. redefinição de limites;
4. o domingo pode ser bom. e muito;
5. planos;
6. diferenças não são trágicas;
7. recuar para avançar;
8. divisão. de tarefas, de planos, de problemas, de soluções, de viagens, de paixão..
9. dormir junto: ótimo;
10. acordar junto: sensacional;
11. transformar a rotina em algo fantástico;

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

agora eu sei

este seria apenas mais um post bissextamente em meu blog, fruto de uma insonia clássica, e de calor irritante em bsb, não fosse por um detalhe: há algo diferente em meu dedo [não sei o nome ao certo] da mão direita. um anel. uma aliança, para ser mais preciso, mais exato. o que aconteceu? em quee momento de minha história pessoal dei chance à união estável? posso creditar a mudança holística à mudança de volta a Bsb. na verdade, tudo cambiou: mudei de cidade, de situação empregatícia, de status marital, de humor, de perspectiva.. só não estou jogando tenis, mas de resto, tudo novo.e aí reside o mote do post: mudanças são sempre mudanças: processos complicados, por vezes dolorosos, mas sempre excelentes oportunidades. afinal, um novo paradigma só emerge na krisis.. sempre me lembro disso da aulas de IMCS.

voltando à vaca fria, a parte que me compete nessa gleba literária refere-se à mudança de meu status marital. apostar, finalmente, em uma relação mais madura, mais séria, por acreditar que finalmente encontrei uma mulher em quem acreditio valer a pena apostar. ainda não sei se acredito em alma gemea mas encontrei, sim, uma companheira. a companheira que imaginava e desconfiava existir. a mulher que nunca pensei em conceituar assim, mas que idealizei conscientemente e cuja existencia meu inconsciente negou veementemente nos últimos anos. mas que aceito hoje sem maiores problemas. pontuo, finalmente, o final de minha adolecencia.

à minha mulher, carolina, dedico a segunda e melhor parte da minha vida. que essa fase tenha, realmente, começado hoje sem data para acabar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

esperando por mim [renato russo]

Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico às vezes

O tempo todo
Estou tentando me defender
Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria
arrogância
Esperando por um pouco de afeição
Hoje não estava nada bem
Mas a tempestade me distrai
Gosto dos pingos de chuva
Dos relâmpagos e dos trovões
Hoje à tarde foi um dia bom
Saí prá caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida
E tivemos um momento de paz
É de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço meus gritos
E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem

Agora meu filho espera por mim
Estamos vivendo
E o que disserem os nossos dias serão para sempre.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2010

meu retorno a Bsb teve um efeito combinado peculiar, esquisito mesmo. por um lado, sinto-me preocupado com a falta de emprego, ainda que momentânea, com o fato de que tenho de me reacostumar com uma cidade que considero estranha - para usar termo cristão. por outro, embarquei definitivamente na fase adulta, bancando escolhas adultas, consequências maduras - e que podem afetar outras pessoas, e mais um capítulo de minha jornada pessoal. assumi um amor - e suas agregadas, convenci-me de que o tempo passou e isso não é, necesariamente, ruim. abri meu coração. relaxei. e aconteceu: descobri reciprocidade, cumplicidade e amizade num relação recheada de tesão e amadurecimento. vivas. o medo do futuro perdeu para a delícia do presente. e começou 2010. pelo menos para mim.