terça-feira, 7 de julho de 2009

fractal

sempre fui meio outsider para relacionamentos. comecei tarde, namorei pouco, cisquei bastante [para usar um termo cristão..], e à exceção de um ou dois grandes equívocos, sempre conheci mulheres muito interessantes, muito especiais. a elas agradeço e oportunidade de ter compartilhado parte de uma caminhada cheia de curtição e pitadas parcimoniosas – e facilmente relevadas, de stress. já escrevi que o ciclo crescer / casar-se / fazer um financiamento habitacional sempre me pareceu menos compreensível que os signos cirílicos. mas eis que, com quase quarenta, começo a entender alguns segredos de tostines.

mecanismo ideal para formalizar o arranjo perpetuado de realização romântica, não acredito que o casamento seja uma tendência natural humana [a união, pode ser], mas uma invenção bem engenhosa e antiga para legitimar a união junto a um sem número de atores: sociedade, família, colegas, amigos, companheiros etc. ah, claro, dentre esses, em alguns casos, a você mesmo, o que seria o mais importante.

como nove em cada dez pessoas pensam em se casar quando são novas, quase todo mundo pode ser encaixado como casado, divorciado, solteiro ou frustrado. e tais classificações são ótimas.. perpetuam modelos insustentáveis de felicidade baseada na dependência, engordam contas bancárias de psicólogos, e rendem bons, repetitivos e fantasiosos roteiros para o cinema.

não abandonei a possibilidade de compartilhar inclusive minhas impressões esquizofrênicas sobre relacionamentos, qualquer que seja o status da interlocutora: companheira, namorada, esposa etc. mas minha mudança para o Rio de Janeiro rendeu-me decisivas e marcantes descobertas. uma dessas foi: posso viver – muito bem – sozinho. na maioria do tempo em que estou só, não estou solitário. ok, isso não é novidade. mas viver completamente sozinho – e não solitário, pode estimular um nível interessantíssimo de reflexão sobre quase tudo. é um tipo de LSD do bem, tomado de leve.

em uma dessas viagens, percebi que nunca havia realmente pensado em casamento, até esse glorioso ano de 2009, em que tive de encarar o bicho por sua faceta mais escrota: a enviesada. conheci várias mulheres nesse último ano [ou estou mais maduro para perceber pessoas interessantes na multidão], das quais duas foram campeãs. o cruel: ambas “em situação de matrimônio”.

C. tem em torno de 42 anos, jornalista, figura pública, bonita, musical, bem sucedida, carreira sólida, um filho. O mais cruel, e que me desnorteia: tem um senso de humor muito parecido com o meu: ri junto comigo e sabe ser bem sarcástica. isso é foda. F. deve ter uns 30 anos, servidora pública, linda, tímida, inteligente, esforçada, gentil e educada. o mais cruel, e que me desnorteia: não faz a menor idéia do charme que tem. isso é foda. as duas são muito charmosas, casadíssimas e, aparentemente, felizes. o que fazer? nada. sem grandes crises, em ambos os casos, resignei-me e voltei para casa achando que o timing é mesmo uma das coisas mais importantes nos relacionamentos. pensei, em relação a ambas: - porra, foi por pouco. se eu a tivesse conhecido há um ou dois anos.. well. a percepção: em nenhum dos casos fiquei triste. no entanto, não deixei de pensar que poderia pelo menos conhecer melhor, explorar um pouco mais, tomar um café a mais, com a figura.

se a grande maioria se casa numa idade padrão - cedo demais, acho que agora com quase 37 anos, apesar de a seleção natural ter afunilado minhas chances de encontrar um par, conto com o interessante conjunto de opções da “segunda onda”: mulheres que já se divorciaram, que já tiveram filhos, que já venceram profissionalmente. em geral, mulheres, com mais de 35 anos, que – quando não foram vencidas pelo pânico de ficarem sozinhas, se bancam, realizadas e na medida do possível, seguras. esse é o perfil que geralmente tem me atraído. o que aconteceu? em que momento inverti o movimento natural do tio sukita? eu adorava a firmeza das lolitas. agora, gosto de ir ao teatro com suas mães, para ver bianca byington encenar suassuna.

acabo de descobrir que não me lembro da idéia original do texto. a lógica pode ser como aquelas colagens que eu fazia na escolinha, com 2 anos: tecido, tinta, recortes e milho. Uma grande zona. o importante é ser feliz.