sábado, 12 de novembro de 2011

cachorro, gato, galinha..


foi um marco temporal, surpreendente: meu irmão caçula se casou. ele, que há pouco passava horas entocado no quarto jogando e discutindo com o video game, contraiu matrimônio. confesso que surpreendeu um pouco o traço ritualístico do meu irmão, nunca pensei que ele fosse assim. mas foi lá, todo bem vestido, todo decorado, todo safo e tchumpf!! aceitou a moça com sua legítima esposa. tudo normal até aí. a cerimônia teve família, bem-casado, salgadinho, parte religiosa e tudo. mas despertou minha atenção para algo em hibernação em minha pessoa: o sentimento de união familiar, de agregar, de juntar.

sempre concordei com o escritor japonês nairamo nisoda: a família como eixo inconteste da formação de nosso caráter é superdimensionada; valores individuais são o que realmente importa, e laços consangüíneos não devem e não podem ser mais fortes que a identificação por afinidades. é ela que dá “liga” às uniões no mundo contemporâneo. pelo menos deveria. é ela – ou sua falta, também, que decreta o fim prematuro de uniões, românticas ou não. mas a porra da família está lá, para o bem e para o mal. é nela que residem, quase sempre, as primeiras causas de nossos primeiros traumas e ela é a primeira referência de segurança, de porto seguro. e lá estava parte considerável da minha família, com boas e esquisitas surpresas.

um eixo inquestionavelmente agregador: meu pai. alem da óbvia alegria por um reencontro que no meu caso já aguardava cinco anos, sua presença juntou o clã e trouxe tias loucas e primos mais loucos ainda para a mesma mesa. sensíveis tendem a sensibilizar.. os mais sensíveis. como meu primo policial federal. simpatia em pessoa e essencialmente bom, naquela noite, ele, que é “juntado” há vários anos, disse que se casaria apenas para ter o prazer de juntar gente tão querida. foi legal demais ver meu pai conversar com mike, o desequilibrado gente fina de boa alma de quem sou amigo há quase 20 anos. foi surreal conversar – sem estimulação etílica com sua mulher sobre filhos, paternidade por afinidade, planejamento etc.

foi sensacional ver meu irmão de bom coração desmanchar-se e declarar ter sido aquele um dos momentos mais emocionantes de sua vida.

capítulo à parte, foi muito especial ter a companhia de minhas enteadas, vestidas como ”daminhas”. a mais velha, genuinamente emocionada e hipnotizada com o rito, com o altar, acompanhava cada movimento com atenção quase passional. enxergo uma fonte inesgotável de sensibilidade na menina; a caçula olhava tudo com charme peculiar – de soslaio, parecia debochar de tudo, mas com classe e curiosidade. foi a nota cômica: segundos antes de entrar na igreja, ela puxa minha gravata e sussurra – andré, preciso fazer xixi. e assim, quebra-se todo o protocolo e noiva, mãe da noiva, noivo e demais bonequinhos efeitados aguardam enquanto eu a ajudo a se livrar de camadas e camadas de “náguas”..

apesar de minha incompreensão com o rito em si, reconheci a importância de juntar a família, de celebrar altruisticamente a felicidade de alguém próximo. contrariando meus prognósticos, fiquei até o fim. não doeu, não incomodou. ao ir embora, opa! havia drambuie. duas doses mais tarde, era hora de chegar em casa a tempo de ver o sensacional chasing amy. mas isso é assunto para outro post.