quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Felix catus

essas linhas têm endereço certo e não são para qualquer pessoa. durante meu período no rio de janeiro – meu “into the wild” de estimação, desbravei, descobri, redescobri e confirmei uma uma série de coisas. uma certeza: minha identificação absurda com o universo felino. já escrevi muita besteira, sobre tantas coisas, que era hora de atualizar minha homenagem aos gatos. sempre fui amante dos animais, a ponto de me sensibilizar mais com o bem estar dos bichos, do que com os de nossa espécie. idiossincrasias, esquisitices e excentricidades me aproximaram bem mais dos felinos em geral e dos gatos em particular. convivo com eles desde que era criança pequena em são luís, bem como com uma rinite leve, bem anterior aos gatos. foram vários. curiosamente, quase todas fêmeas.. outro dia me deprimi ao ler matéria sobre um zoológico particular descoberto no interior do paraná: tigres e leões estavam desnutridos e deprimidos, e os especialistas do ibama estimam que eram alimentados com um frango por dia. a dieta recomendável para felinos de grande porte inclui quilos diários de carne crua. michel teló e namatelmintos do tipo enchem o rabo de grana, e são cultuados mundo afora, enquanto tigres passavem fome num zoológico particular escondido? é um mundo tão justo.. espero que aprovem logo a constituição imperial e autocrática que autoriza pena de morte por esquartejamento lento para esse tipo de crime. para ilustrar: em algum ponto distante da minha adolecência, enquanto eu estudava de madrugada [hábito cultivado desde nem sei quando], uma das gatas que criávamos, muito apegada a mim e bastante doente e debilitada, acordou, cambaleou até meus pés, e se deitou para não acordar mais.. optou, por instinto ou sei lá o quê, por fazer isso comigo. aí lembro das subpessoas qua acham que gatos não são capazes de esboçar carinho e que lhes faltaria sensibilidade. putaquepariu, que paciência para essas pessoas!! acredito que gatos têm conexões incompreensíveis com mundos e planos menos compreensíveis ainda. o que poderia assustar alguns, me encanta e me intriga. até charles bukowski escreveu um poema elegante e refinado sobre os gatos. os bichos foram inspiração para animações cinematográficas e uma peça encenada na broadway nada menos que 18 anos consecutivos. a peça foi composta pelo figura andrew lloyd weber, e inspirada num poema de TS Eliot, old possum’s book of practical cats. voltando ao rio. durante os dois anos em que morei na cidade maravilhosa, exerci [ina]bilidades que nem sabia que possuía. morava na cidade mais propícia a relações efêmeras e sexo fácil do brasil. mas, à exceção de umas poucas ciscadas, vivi praticamente recluso e bem. estava feliz, pleno. minhas companhias preferidas foram um argentino cheio de excentricidades, uma bahiana arretada.. e duas gatas – mãe e filha, adotadas diretamente no passeio público, próximo aos arcos da lapa. cariocas da gema, moravam comigo e tornavam a vida em copacabana um pouco mais peluda e muito mais engraçada. hoje, cinco mudanças e muitas aventuras e desventuras depois, maria eduarda e charlotte são a família mais próxima. referências de convívio, de carinho, de bagunça e de diversão. de quebra – ossos do ofício, reforçam excentricidades e esquisitices. foi lá na baía de guanabara que descobri córa rónai. colunista de O Globo, escreve com sensbilidade rara e revela paixão desmedida pelos gatos. na primeira vez em que li sua coluna, ela escrevia sobre como uma de suas várias gatas andou até seus pés e adormeceu pra sempre. identificação imediata!! tempos depois, descobri que cora era mulher de millôr fernandes. hoje, sou seu leitor assumido. necessidade de escovar sempre, aguentar lingua áspera, miados fora do horário, despertadores naturais, universo interminável de pêlos, o fim de roupas sempre limpas, a sensação de ser um hóspede em sua própria casa.. os problemas são plurais e não vale a pena tentar seduzir ao universo felino aqueles que declaradamente não gostam de gatos. porra, quem não gosta de gatos merece.. não gostar de gatos! a sensibilidade ainda tem vez nesse mundo enquanto houver gente naturalmente apaixonada como cora rónai, mariana gogu – e seu blog amalucado, a vera de bsb [dona de um “acervo” de mais de 60 gatos, adotados e bem criados], flávia mattos, thaís braga, macoc, patrícia sávio, meu irmão guto, dentre tantos outros. há, também, gente que se deixa seduzir e conquistar – como o dono do mishima [“o amor em minúscula”] e, claro, a “bonitinha do ceubinho”. a criativa amimação shrek mereceu três continuações, mas o único personagem que teve um filme à parte, claro, foi o gato de botas: antônio bandeiras estava impagável! com os gatos, a vida fica mais gostosa e o domingo, mais alegre. é hora de encerrar, pois charlotte mia insistentemente. acho que não é fome, mas gula por sorvete de café da la basque ou iogurte activia. acostumei-as a um micro-naco de pequenos mimos, de vez em quando. a vida pode ser meio chata quite sometimes e até os gatos merecem um regalo. § § § ps: para todos os apreciadores e apreciadoras do universo enlouquecido dos felinos. ps2: quer sentido na vida? estude filosofia. ps3: gosta de demontrações deselegantes, babonas, dependentes e escandalosas de carinho? crie um cachorro.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

a crueldade do "não a ponto de"..

esse post homenageia MACOC, querida companheira [apesar da percepção térmica tão díspar] de cubículo unesciano no RJ, por quase dois anos. a vida não é precisa como a navegação, e entre um espeço de [des?]construção e outro, há as tais entrelinhas, onde o espetáculo principal por vezes descortina-se. uma das mais interessantes contribuições exógenas à compreensão de um sem número de coisas, pessoas e comportamentos é a implacável teoria do “não a ponto de”. o mecanismo explicaria porquê preferimos tal marca de milho doce, em detrimento da outra, não tão gostosa. explica porquê eu acho Morrissey um excepcional letrista, mas cultuo velvet underground, banda lado B, mais confusa, instável e ruidosa. seu mais simples e cruel exemplo, é a explicação de porquê ficamos com fulana, mas não namoramos com beltrana. por que uma e não outra. pistache ou amêndoa? molho branco ou pomodoro? amendoim ou batatinha para acompanhar a original gelada no amigão? a resposta pode ser muito simples.. morei cerca de dois anos no rio de janeiro. cronologicamente, pouco tempo, mas o suficiente para quebrar a tendência umbilical e irritante de nos apegarmos ao lugar em que nascemos. lá vivi memoráveis experiências, aprendi um caminhão de coisas e é pra lá que pretendo voltar. uma de minhas maiores referências fraternas, mosqueteiro real, certa vez me perguntou por que eu estava mais apegado ao RJ do que à brasília, cidade em que nasci, resido hoje e onde está a maior parte de minha família. gastamos muitos cafés no Ernesto e heineckens por brasília, elocubrando o por quê dessa minha relação com a cidade maravilhosa. eu tentava explicar, ele não entendia. ele argumentava, e não me servia. até que consegui simplificar a explicação por meio de uma lembrança das conversas surreais que mantinha com minha amiga macoc. eu gosto muito de brasília, mas não a ponto de escolher a cidade, por livre e expontânea vontade, para morar. ao menos hoje, prefiro o rio de janeiro a brasília, simples assim. quando penso na teoria eficiente do “não a ponto de”, lembro logo de uma história romântica que vivi na cidade do cristo. apesar de minha opção – e falta autêntica de vontade - por não vivenciar o lado putaria de ser “solteiro no rio de janeiro”, como estava vivo enquanto morei lá, vivi uma ou duas aventurinhas curtas. uma delas teve todos os ingredientes que uma pessoa mais ou menos sã, no alto de seus “trinta e tantos”, espera para viver uma paixão. ela era linda, inteligente, bem sucedida. e sabia cozinhar comida creole de forma divina! por um breve tempo, ocupou um lugar interessante na minha rotina solitária. mas.. por que apenas por um breve tempo? ora, porque sim. por que era tudo muito bom, mas não a ponto de eu namorar com ela? ora, porque sim. vale dizer que o namoro – ou compromissos oficialmente assumidos não fazem parte do meu repertório de merdas mal-resolvidas. simplesmente não tenho problemas com esse tema. acho que a explicação para toda e qualquer escolha que fazemos pode se resumida num simples cálculo, consciente ou inconsciente, de custo benefício. vale a pena matar aula para sair, tomar todas e sacrificar o dia seguinte? no segundo grau, sequer tinha instrumental para fazer a conta. na faculdade, valia sempre 'a pena. na idade adulta, cheia de obrigações “profissionais”, certamente, não. valia a pena ficar com aquela menina? se achasse que sim, ia lá e tentava. e, às vezes, ficava mesmo. vale a pena alucinar na entrevista de emprego e arriscar o resto das fichas na cara de pau? no meu caso, quase sempre funcionou. vale a pena sair da dieta e comer pra caralho na ceia de natal? via de regra, claro! se a pessoa consegue seguir um plano bem montado, se ela tem disciplina, malha, corre, luta ou o caralho, com regularidade, simplesmente vale a pena encher o rabo de rabanada [desculpem o trocadilho]. fato é que não existe regra e cada caso é um caso isolado, diferente. isso tudo pra dizer que se vale a pena, vale a pena, simples assim. é foda sometimes, mas quando se gosta a ponto de, a coisa vale a pena, é assumida e aí, acaba acontecendo. sensacional the sound of arrows. embalou essa viagem blogueira de natal em 2012.