sexta-feira, 23 de agosto de 2013

.fractais. [ou, uma formatura sem fim]

a fractal is a never-ending pattern. fractals are infinitely complex patterns that are self-similar across different scales. [definição da fractal foundation, entidade americana que tem a missão de despertar, especialmente nos jovens, o interesse por ciência, matemática e arte, a partir da beleza dos fractais]. parece complicado, mas não é. toda repetição de padrões pode ser um fractal.. $$$ aconteceu há mais de 19 anos. mas parece que foi ontem. fui convidado ao jantar de formatura de um grande amigo – por acaso, filho de um ministro do stj. notem: jantar na casa da família, não a bagunça picardílica das festas ou a pateticidade pseudo-revolucionária - das colações. apenas um quadrado, comportado e singelo jantarzinho na casa dos pais do cara, em celebração à sua formatura. fabrizio era um grande amigo. um entusiasta dos arroubos irresponsáveis do ca de porra nenhuma, fundado no calor da perda da eleição para o CArel em 1992. intercambiávamos bebedeiras, festinhas na embaixada da bélgica e a organização de exibições de filmes alternativos. fabrizio formara-se em direito com distinção. o cara é muito inteligente, culto. nossas discussões sempre agregavam, no mínimo, uma informação interessante. além do mais, ele era um entusiasta da nossa rebeldia juvenil. na época eu tinha verdadeiro pavor de eventos ritualísticos, tipo casamentos, festas de formatura e [nem em sonho!!] batizados. mas um jantar na casa de um amigo querido justificava a quebra de resistências. nos organizamos – os três amigos convidados e fomos prestigiar o cara. as “prévias”, à época, eram regadas, pelo menos a álcool. muito bem, lá fomos, como de praxe, ao bom e velho botequim, na 210n [eu ainda frequentava aquela asa]. na saída, prevendo a caretice da recepção, decidimos apimentar um pouquinho a night e.. mandamos ver um lsdzinho. do bom, da gota congelada, que dissolvíamos na vodca ou no gin. chegando lá.. putz!! o ambiente era muito mais formal do que eu esperava, mesmo para uma residência de ministro. móveis de tia-avó, cortinas com muito pano. e tapetes, vários. e o mais assustador: só havia família próxima!! no máximo, 15 pessoas. fodeu! temos de nos ambientar. mas.. acabamos de tomar um ácido! hay que endurecer, pero sin perder la ternura – pensei. o segredo é o controle. tínhamos de manter o controle: das funções cerebrais, da nova ingestão de birita [o pai de fabrizio separou uma garrafa de royal salute, um clássico da época, para nós três], da situação. meus olhos começavam a se rebelar e ir a cantos que eu não conseguia enxergar.. tudo explodia em muitas cores. o copo que eu segurava, a mesinha de centro com a quina lascada, a cara da tia do meu amigo.. que onda! como em toda boa viagem, eu não entendia nada! nem reparei quando o anfitrião sentou-se com a gente. e nessa hora, puff! eu simplesmente “decolei”. lapso total. e o ponteiro pequeno ainda estava no 8!! que época boa: irresponsabilidade gostosa, conseqüências ministráveis. mas foi um dos gaps temporais mais assustadores que já tive. me lembro de voltar ao plano real às 3 da matina, escutando o pai do meu amigo [ele possuía uma primeira graduação em matemática], me congratular: - meu filho, parabéns. há tempos eu não tinha uma conversa tão interessante sobre matemática fractal! as abordagens de alguém tão jovem sobre padrões infinitos me impressionaram bastante! volte mais vezes, vamos conversar mais. [!] eu já havia escutado alguma coisa sobre os fractais. mas no dia seguinte, recuperado e de cara, fui ler um pouco mais sobre o tema. e algumas coisas fizeram muito sentido...

sábado, 22 de junho de 2013

noite de miam miam [ou, modelo e atriz..]

doeu no coração, mas não dependia mais de mim: tinha de deixar mesmo o glorioso rio de janeiro. o Programa da ONU em que trabalhava anunciara fechamento da operação descentralizada, na mesma época em que conheci a mulher com quem juntaria trapos. ela não queria sair de bsb. eu não queria voltar. perdi. após um casamento inesperadamente feliz com a cidade maravilhosa, era hora de voltar pra brasília. paciência. pensei em stalin na rússia pós-Bolchevique: retroceder um pouco para avançar muito algum tempo depois. pop que sou, marquei minha super despedida da cidade com os.. dois grandes amigos que tinha lá: o argentino gênio e a bahiana apimentada. tentei, mas por questão de agenda, não foi possível ir no meu local preferido: a champanharia ovelha negra da rua bambina [ovelhanegra]. sobrou o segundo lugar: o charmoso miam-miam [miam-miam], depois da rua da pasagem, subindo para o Rio Sul. o lugar é super transado: clean, moderno, bem decorado, ícone da cozinha contemporânea carioca e ponto de encontro de artistas e modernosos. tem cardápio bem sortido: pode-se comer de tudo e bem lá. vale muito o salmão gratinado com mascarpone! cheguei cedo para garantir mesa, pois sentar-se no local pode ser tarefa ingrata. como na cidade eu usufruía de um eficiente sistema de transporte publico, não havia a preocupação mediocre com o binômio biritaxdireção. meus amigos já haviam dito que chegariam, juntos, em minutos. decidi ir rápido ao lounge e beber algo enquanto esperava mesa, pois a ideia era jantarmos, todos os três. os dois chegaram e decidiram escolher um drink no balcão. deu preguiça e eu acabaria meu gin no próprio lounge. é, eu ainda tinha saúde / vontade / pique para beber gin. e me divertia assim. pois bem. chega um pequeno grupo com duas mulheres realmente lindas e um ser saltitante e feliz. sentam-se os três à minha frente. pedem os drinks. chegam as bebidas. meus amigos acabavam uma conversa sobre uma baianidade qualquer. ok, posso beber um pouquinho mais. estou no clima. estou bem. acabo o segundo gin e sinto que estou realmente bem.. a ruiva-meio-loira-linda tá na minha frente. seu segundo drink acaba de chegar. pergunto, na lata: - o que é isso? - caipirinha de X [não me lembro mesmo!] - posso provar? – minha cara de pau deve ser patológica. - claro – linda e simpática, aquilo era tão pouco Brasília.. dois goles e adorei. acho que adorei mesmo foi sua atitude. e começamos, os quatro, a trocar impressões sobre a noite, a vida, a PUC-RJ, o coqueirão e londres. - o que vc faz? – eu estava realmente curioso com a menina. - sou atriz. ela tinha olhos esquisitamente verdes/azuis, lindos. eu estava intrigado. mas meu lado escroto é bem mais forte que eu.. - ah, aqui no RJ todas as mulheres dizem que são atrizes. sério, o que vc faz para viver? - ao perceber minha lerdeza e ingenuidade [eu verdadeiramente não a conhecia], ela riu e sinto que começou a curtir a situação.. os dois amigos distancaram-se um pouco e ficamos praticamente a sós no lounge. perguntei sobre algum trabalho dela, para que eu pudesse me situar. - estou na novela das oito. - de que canal? - globo. - me desculpe, não assisto um capítulo de novella há uns 15 anos. - você gosta de cinema? – ah, agora era minha praia, pensei, animado! - sim, adoro. você faz cinema? - sim, estou num filme sobre o presidente. - qual? - o atual, Lula. - ok, mas ainda não vi. - a pré-estreia é só daqui a um mês.. - mas aí fica difícil! - concordo.. ela riu. [agora tinha certeza de que ela estava curtindo a situação..] - bom, você não assiste novela, que é o que tenho feito. - putz, você deve ser famosa [eu já havia sacado isso..] - não sei. acho que famosa, ainda não. sou conhecida. - mas eu não te conheço. - mas você não é um cara muito antenado – o sorriso foi rasgado. - assistir novelas é ser antenado? - haha, não. assistir TV é acompanhar os acontecimentos. assistir novela é relaxar deles.. – filosofou a jovem [adorei]. e você o que faz? - sou oficial de projetos num escritório da ONU aqui no RJ. - legal! você não é daqui? - não. - está gostando do RJ? - pra caralho! - peraí - metralha a jovem. vamos tentar outra coisa. vc conhece cultura pop dos anos 80? - ah, agora vc tá falando a minha língua, babe!! simplesmente, tudo. - lembra do xou da xuxa? - putz.. sim, por que? - eu era paquita. - ah, vai se foder! [juro que falei com muito carinho] - é sério.. - ah que merda, cara.. boa sorte aí na carreira de modelo e atriz – falei com absurdo sarcasmo. ela riu, agradeceu e foi jantar com os amigos. quando vou me juntar aos meus colegas, noto minha amiga baiana morrendo de rir, e me pergunta em baianês fluente: - oxe, o que você e juliana barone tanto conversavam?! ------- para gabi, que me inspirou a escrever esse post.

sábado, 15 de junho de 2013

before midnight

certa vez esbarrarei, confuso e imaturo, num cartaz do finado e saudoso cine márcia, que me chamou atenção. o filme era sobre o encontro casual de dois jovens durante uma mochilada pela europa. entrei e arrisquei. toda a história se passava em uma noite e nesse intervalo, jesse e celine [personagens de ethan hawke e julie delpy] se apaixonavam. roteiro bobo e muito simples, orçamento baixo, poucos atores no cast. a fórmula era imprópria para o sucesso, mas foi certeira para encantar uma geração inteira. verborragia, por vezes, para envolver o expectador na trama do jovem casal. era 1995 e eu tinha os mesmos 22 anos de idade dos protagonistas. talvez isso tenha facilitado identificação imediata com before sunrise. foi a quintessência da fantasia da paixão avassaladora. a fórmula bombástica foi um estrondoso sucesso de crítica. nove anos depois, richard linklater, diretor da primeira película, traz a continuação – before sunset. o mote era tentar explicar [ou, propor uma explicação] o que teria acontecido com o casal depois de Viena. linklater usa o filme para discutir escolhas sérias e difíceis, que acabam por nortear toda a nossa vida. os diálogos amadureceram com os personagens e a ligação entre os dois é adulta, madura. jesse e celine tinham 31 anos e agora as consequências das escolhas machucam ainda mais. na película linklater fez uma ode à maturidade do grande amor. o final do filme revela conexão perfeita entre os dois. mas, apesar da sugestão velada, paira uma dúvida sutil no ar: o que teria acontecido com eles? ficaram juntos? jesse embarcou para NY? ficou em paris? o hiato oficial dura nove anos, até.. linklater assume novamente a direção para dar vida à terceira [e última?] parte da história - before midnight. temos, os personagens e eu, 40, 41 anos de idade. jesse e celine vivem juntos e têm um casal de gêmeas. henry, filho da primeira mulher de jesse, vive com a mãe em NY. o fantasma neurótico da primeira mulher do cara – deixada por ele quando se une à celine em paris, é apenas o gatilho para a grande crise do casal. dessa vez, eles pagam - à prestações - um preço alto pela escolha que fizeram e pela aposta em viver o grande amor. construíram uma vida a dois e, em cima disso, linklater dá um Wasari para mostrar que não existe relação ganha, “acabada”. é até meio piegas, mas o fim é apenas o começo. o odioso “felizes para sempre” é um crime sustentado, herança maldita reproduzida e fortalecida por nossas famílias, escola, amigos, literatura e o caralho. jesse e celine estão de férias na Grécia [locações paradisíacas] e graças a amigos, ficam sem filhos durante uma noite em um hotel de luxo. é durante esse começo de noite que a essência da discussão acontece. jesse e celine têm uma clássica – nem por isso menos dura, realista, cruel e surpreendente discussão. nela, questionam as escolhas que fizeram, desde que se conheceram. repensam a relação, fazem críticas e confissões. o ritmo do filme lembra a segunda parte. mas os diálogos amadureceram, são reflexo de situações, links e referências mais maduros – e complexos entre os personagens. as dúvidas sobre o que teria acontecido em paris, nove anos antes, dissipam-se. as incertezas sobre o futuro do agora casal multiplicam-se. sim, jesse ficou em paris com celine. fez a opção que todos esperavam e pela qual todos torceram. certa vez li que “crescer é a arte de fazer escolhas”.. eu adicionaria: “..e bancá-las”. o filme machuca sólidas crenças, ao vomitar na cara de todos que sim, existe amor. mas ele não é um fim em si mesmo, e se parece com o conceito de felicidade: é muito mais processo que resultado. deve ser vivenciado, inclusive – e especialmente em nano-momentos da vida cotidiana, durante uma escovada de dentes, ou ao assistir o teatrinho da escola do filho. deve ser conquistado dia após dia na relação e o sentimento deve manter nossa atenção plena [vivas ao budismo], para corrigir rumos enquanto implementamos a relação. a vida costuma imitar a arte. e de vez em quando, a arte sugere que a porra da vida é foda. vale a pena, é linda, pode ser até bem feliz. desde que entendamos que o segredo é não glamourizar ou idealizar em excesso, e, o principal: não projetar em ninguém. cada um que leve sua própria bagagem de neuras e coisinhas mal resolvidas. talvez não consigamos resolver cada nódulo psicológico de imediato, mas que tenhamos consciência deles!! e se encontrarmos um/a companheiro/a de jornada – por qualquer intervalo de tempo que dure a relação, ótimo! compartilhemos experiências, crises, esperanças, deleites, prazer, sopas e sushis. relevemos eventuais frustrações provocadas pelas clássicas projeções. amor eterno, traição, exclusivismo, diferenças. tudo é verniz. não é nossa construção desses conceitos que “dá liga” a um encontro romântico, mas nossa capacidade e habilidade para viver a relação. é isso. não se deve tentar perpetuar o encantamento da paixão nem lutar contra a rotina, isso é remar contra a corrente. aprendamos a vivenciar o deleite e a curtição do encontro, nos [às vezes pequenos] espaços que o cotidiano permite. para isso, talvez seja preciso desmistificar de uma vez todas, sim, o amor romântico imediato. assim, temos mais chance de alimentar – e curtir a felicidade plena numa relação de longo prazo.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

muito além do obiwan

outro dia paguei uma dívida comigo mesmo: assisti the bridge on the river kwai [david lean, 1957]. é um daqueles clássicos dos quais ouço falar desde criança e que nunca havia tido paciência para sentar a bunda num sofá e assistir. ouvia sempre que se tratava de um “clássico de guerra”, apenas isso. pois bem. o filme é parado, datado e arrastado.. mas memorável. narra a construção de uma ponte [sobre o rio kuwai, no que seria hoje Kitulgala, no Sri Lanka (antigo Ceilão)], por prisioneiros ingleses durante a segunda Guerra. lá, eles sofrem abusos, torturas e humilhações. trabalham de sol a sol e passam fome, num clima de constante tensão física e psicológica, imposta pelos algozes nipônicos. a chegada de um novo grupo de “hóspedes” britânicos – dentre eles, colonel Nicholson ou, sir alec guiness muda a rotina do local. tensões são acirradas e crescem na medida do embate entre Nicholson e saito, o cruel e insensível coronel japonês, que comanda o campo com mãos de ferro. no começo, a disputa é óbvia entre ambos. até o momento em que a relação muda de tom, e surge uma combinação crescente de respeito e admiração mutua entre os comandantes. e aí sobressai o gênio e o talento de sir Alec. nascido em abril do primeiro ano da primeira guerra, em marylebone, londres, guiness estudou no fay Compton studio de arte dramática e estreou nos palcos em 1934. o primeiro papel de destaque veio como herbert pocket, numa versão de great expectations de 1946. a partir daí, guiness começou a chamar atenção, em especial, por sua incrível habilidade de mudar a aparência e incorporar cada papel interpretado. mais ou menos como robert de niro sem as bocas caricatas que desde muito cedo marcaram seus papeis. o apogeu veio como o mestre jedi obi wan Kenobi, em star wars [1977] e sequências. sua versatilidade rendeu-lhe, inclusive, a chance de interpreter uma mulher no esquisito kind hearts and coronets [1949]. foi indicado ao oscar por 6 vezes [incluindo uma como roteirista], das quais levou duas estatuetas: por the bridge.., e como o velho Obi Wan em star wars. ganharia também um oscar honorário em 1980. a classe o talento de guinness seriam vencidos por um cancer no fígado em 2000, encerrando um capítulo elegante do cinema falado. ele teve um filho e trabalhou ativamente por 62 anos. há quem diga que seu título de Sir foi um dos três mais justos do século XX, juntamente com winston churchill e paul macartney. faz sentido. como diria o próprio guinness, no papel de obi wan: "the force is extremely strong in this one".. e era mesmo. pra retomar, tá bom.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

botas de buenos aires ou, da pequena arte de quebrar a cara.

um dos propósitos dessa vida esquisita é o aprendizado. mais especificamente, sobre conceitos cultivados há muito e que considerávamos inquestionáveis. quebrar a cara vira rotina, tomar no cu, padrão. desde a segunda infância, vivemos uma série de experiências que comprovam o pagamento da própria língua. uma amiga poetisa contemporânea brinca: “a vida começa cedo a nos enrabar sem ky”. pois bem. preconceitos perdem o “pré”, e a gente perde o ar superior que carrega desde muito, isso quando não ostenta a opinião como máxima insofismável, espécie de gesso virgem naquele pulso torcido. tento resistir, mas sempre tive alguns preconceitos muito fortes. um deles: associo, desde não sei quando, maturidade à idade cronológica, conceitos, como bem defende um grande amigo, que podem não ter nada em comum. a verdade é que às vezes meu saco de verdades fura e elas escorrem até o ralo.. as botas de buenos aires estão aí para comprovar. experiências fantásticas deixam de ser vividas por medos e receios nada fantásticos. a cereja do bolo está escondida, e temos de cutucar o chantilly para encontrá-la. dois momentos breves, várias barreiras implodidas. a maior delas, para mim, a diferença de idade, foi dizimada. como? fácil: afinidades. muitas, dentro do possível, claro. referências comuns, vivência e experiência encolhem e perdem importância para empatia, timing e cumplicidade. definir? é pra ansiosos. conceituar? é pra preconceituosos. aproveitar? é para sensíveis. seize the day ou, carpe diem, já dizia o keating. o que esperar? nada, esse é o segredo. no momento, dar vazão ao encontro de curiosidades parece interessante. a formação em psicologia revelou mais que o túnel velho de botafogo. o olhinho meio puxado, meio relaxado, meio sem foco [mas com direção] harmonizava com a firmeza dos movimentos, e o controle quase total da cena. sem querer, sem planejar e acho, sem premeditar, os dedinhos finos da mão direita passeavam pelo sofá até reencontrar a bochecha esquerda e rosada, amarrando uma cena que mais parecia um dos filmes legais sobre crises existenciais do woody allen nos anos 1980. a mão.. é sempre um capítulo à parte para qualquer homem sensível com mais de 40 anos. deve haver uns 3 ou 4 vagando por aí.. cinco dedinhos finos e macios massageando o copo.. sim, passamos facilmente do café à heinecken. a espuma dissolveu as desconfianças, e a distância entre um canto e outro da boca foi preenchida por um sorriso mais corajoso. ela já respirava mais relaxada e me olhava nos olhos. a conversa fluía e migramos para o sofá: a confirmação da afinidade, além de dinamitar barreiras, relaxava e dissipava o desconforto do primeiro e inusitado encontro até.. o toque. esqueci propositadamente minha mão na sua coxa. - parece muito a menina do crepúsculo, pensei. – mas também é a cara da nicole kidman. humm.. aquele pedaço de noite evoluiu sem surpresas, mas de forma excitante. o desfecho? que desfecho?! diferente de adso the melk, eu sei o nome da rosa..

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

cantinflas e o políticamente correto

vivo no país do futuro há quase 40 anos e só muito recentemente o Brasil parece ter encontrado o sucesso de seu presente. acostumamo-nos a uma felicidade morna, refletida num sorriso esquisito de canto de boca, misturado com a testa franzida. mas como se mede o valor de um sorriso? desde cedo essas questões têm me provocado reflexão. acredito que a arte de fazer rir é mais séria do que o drama, e me pergunto: será que essa arte tem mudado com o passar dos tempos? sempre tive mais identificação com as angústias humanas, mas não me lembro desde quando sou metido a engraçadinho. sátira e ironia poderiam ser meus sobrenomes e gosto dessa característica, me alimento dela. essa percepção começou com o gosto pelos elegantes filmes mudos de buster keaton, passou pelos geniais e escrachados three stooges até o mestre jerry Lewis. nessa tábula, deveria sentar-se mais um gênio, pouco celebrado: o mexicano fortino mario alfonso moreno reyes [1911-1993] ou, cantinflas. inspirou toda uma escola de fazer rir, e outros gênios, como o próprio jerry lewis. casado por 56 anos com a atriz valentina ivanova, cantinflas fazia rir com um simples revirar de olhos, e com um movimento bobo do rosto provocava o que jim carrey não consegue com todo seu repertório de caretas forçadas. o bigodinho ordinário e o olhar perdido, inocente, reforçavam a persona do camponês simplório e pobretão tantas vezes encarnada por cantinflas. ele era meio que o didi daqueles filmes legais dos anos 70 [quando os trapalhões eram 4 e ainda engraçados]: um fracassado, quase sempre à margem da trama principal, e que passava longe da mocinha. apenas contribuía para que o galã ligasse os pontos e amarrasse a história, que “fechava” bonitinha e equilibrada. mario moreno é pra mim um marco da contracultura hollywoodiana. em LA, fez poucos filmes e nuca foi integrado ao mainstream cinematográfico. ele equilibrava dois mundos aparentemente incompatíveis: vivia sempre o bom moço e ao mesmo tempo, o pária, o lado B. e a simples menção do politicamente correto me cansa.. vivemos num mundo absurdamente contaminado pela culpa – seja ela católica ou não, que tem produzido um exército de deprimidos e tem enriquecido a indústria de medicamentos com prozac, omeprazol, levitra etc. nesse ambiente culpado, sentir graça parece errado. rir parece estranho. e rir de coisa séria é um absurdo passível de pena de morte. minha adolescência foi cinza, mas não sei de que cor seria se eu não tivesse me entupido de angeli, laerte, TV pirata e jerry Lewis. que delícia nos distanciarmos do olho do furacão, olhar para trás e rir de tudo. o que aconteceu com o humor atualmente? num fôlego de criatividade, apareceram CQC e ´pânico na TV´. tudo bem, modernizaram a forma de fazer rir e ambos enfrentam com bravura a ditadura do politicamente correto. são, por isso mesmo, necessários. precisam existir. mas falta algo.. perdeu-se a naturalidade. o dom, antes intrínseco, enferrujou a até o talento parece pasteurizado, fabricado por encomenda. cantinflas teve uma carreira prodigiosa. fez 55 filmes e em alguns deles, também dirigiu, escreveu e cantou. no papel de passepartute no maravilhoso arround the world in 80 days, seu filme mais famoso, encantou gerações e provocou muito riso num contexto bipolar, esquizofrênico e claro, politicamente correto.