terça-feira, 5 de maio de 2009

o curioso caso de mickey rourke e marisa tomei


em minha opinião a safra de filmes concorrentes ao Oscar 2009 foi bem profícua, e revelou boas surpresas e algumas não tão surpresas igualmente boas. para ser sincero, acho que desde o memorável ano de 2005 [before sunset, sideways etc.], não havia tantos concorrentes de qualidade. ao longo de duas semanas quentes de fevereiro, devo ter assistido a uns 8 filmes oscarizáveis. gostei de doubt, gostei muito de milk, adorei the reader. entretanto, o filme que me deixou desconcertado foi.. the wrestler. confesso que havia sido atraído pelo tão propagado retorno de mickey rourke à telona, bem como pela deliciosa marisa tomei, provavelmente, a melhor mulher do cinema hoje.

já havia lido sobre a história, e fiquei curioso. resolvi, então, ignorar o enredo brega, e a trilha sonora farofa com groselha. para minha própria satisfação, consegui. e que bom! ao final de uma hora e 43 minutos de filme, olhei para um lado, olhei para o outro [como de praxe, estava sozinho] e não conseguia engolir. a câmera nervosa, e a fotografia cinza não me deixavam rir. eu também não conseguia ficar triste: estava completamente anestesiado pelo filme e tive vergonha de confessar que o achei sensacional.. o melhor filme concorrente ao oscar 2009.

quando estive em Brasília, na semana passada, escutei do meu irmão guto uma opinião muito parecida: ele havia adorado o filme. bastou uma pessoa concordar para que eu, finalmente, não me sentisse um ET! criei coragem para confessar que ainda não havia conseguido digerir a película e ainda estava, dois meses depois, sob seu efeito. não costumo me pautar apenas por elas, mas uma crítica de O Globo sobre o filme me chamou atenção antes mesmo de eu vê-lo. dizia apenas: “mickey rourke beira o sublime”. muito justo. mas faltou dizer que Marisa tomei beira a perfeição. que bom que algumas mulheres com mais de 40 atingem uma maturidade sexy, charmosa, não-dissimulada, espontânea, que dá esperança aos poucos homens e mulheres que ainda não se deixaram seduzir pelo padrão biônico “pernas de roberto carlos” [o jogador, não o cantor] – parafraseando o grande arthur dapieve. que medo eu sentiria ao acordar ao lado da ana maria braga.. já marisa tomei é gente como a gente, ordinary people. perfeita no papel de prostituta correta, cética e desesperançosa que resiste, mas sucumbe ao charme de um desfigurado rourke, lutador decadente de luta livre, que teve seu auge na década de 80 e hoje convive com o fantasma de uma relação catastófrica com a filha lésbica e procura alguma razão para viver.

desde 1993 considero marisa tomei um crescente de charme, segurança, graça e sensualidade. era o ano em que my cousin vinny lhe conferiu um inesperado – mas merecido oscar de atriz coadjuvante. desde 1986 sou igualmente fã de mickey rourke. naquele ano assisti 9 ½ weeks e um ano depois, angel heart, o que sempre considerei seu melhor filme. ele, ao contrário de tomei, entrou numa espiral decadente, pirou, inventou de lutar boxe, injetou silicone no rosto e foi pulverizado ao ostracismo pela própria pateticidade. até agora. o depressivo the wrestler proporcionou a ambos uma chance estrelar um belo filme e, de quebra, oportunidade de redenção para rourke, na vida real e na fantasia do cinema: recebeu uma indicação a melhor ator. não venceu, mas vê-lo junto à sra. tomei esbanjando talento dramático [quem diria..] foi sensacional. assim como rocky balboa tem sua redenção pela pudica adrian [e, claro, pelo boxe], ela é a chance de redenção para randy 'The Ram' robinson. claro, num universo bizarro, paralelo e muito mais real..

em princípio, pode causar estranheza minha intenção de retomar o blog rendendo uma homenagem a mickey rourke; mas é que, para mim, vê-lo junto a marisa tomei nesse nível de simbiose dramática foi.. mais ou menos como ir a um show do the cure no outs em SP, hoje: inesperado. impensável. ótima surpresa.