sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

escudo antimisseis

e lá fui eu, aliciado por dois amigos muito queridos, para mais uma festinha maluca no conic. é curioso como os habitués daquele lugar [o conic é, literalmente, um lugar] reconhecem três ou quatro ambientes ali. para mim, o conic um ambiente só, com uma série de caminhos, atalhos, esconderijos, cantos escuros e pessoas esquisitas. de dia já é assim. mas de noite..
estava fazendo uns 45 graus [descontando meus superlativismos, uns 33], “à sombra”, naquela festa. eu suava, mas me divertia. o som era eletrônico, o que não é minha especialidade, mas eu gostei e muito. curtia a noite, à medida em que a festa entrava madrugada adentro. [tentarei ser menos prolixo] – lá pelas 5 da matina, a pista ainda lotada, estávamos nos encaminhando ao caixa para deixar a conta paga e evitar as desagradáveis filas de final de festa.
- praft! - eita porra, cuidado! disparei para a baixinha que me interceptou como um scud.
- me desculpe, nem olhei direito [simpatia meio atípica em brasília].. andré?!
- ana?
- eu! e aí?
sim, era ana, uma conhecida, marida de uma outra conhecida. mas ela estava só.
ana era casada, vivia com uma menina que conheci no rio de janeiro, em uma viagem de trabalho. sempre achei ana interessante. uns treze segundos após o “e aí?”, ficamos. e o negócio começou a esquentar. acho que foi um dos esbarrões mais legais que tive. esquentou tanto, que após me despedir de meus amigos, já estávamos em minha casa, pelados, apesar de ter sentido certo desconforto nela: aquilo não era seu modus operandi natural. nada relativo especificamente à minha pessoa, mas pelo fato de ela estar com um.. homem. “trabalhei” com minhas papilas degustativas para relaxá-la um pouco. e ela relaxou. bastante. bytheway, calcinha ensopada de tesão é uma das melhores sensações de que me lembro a qual nem amex platinum paga. continuamos nos chupando, rindo e nos divertindo. parecia a trepada do século até.. começarmos a implementar “o ato”. no primeiro movimento “encaixante”, a moça travou. secou. gelou. e parou. foi impressionante: aquela esponja encharcada transformou-se, em segundos [i mean it], em uma muralha aparentemente intransponível. ainda tentamos um pouco, daqui, dali, por acolá, mas.. nada feito. o bom de conhecer sua parceira: conversamos, rimos, ela me ajudou a finalizar deliciosamente a noite e foi isso. nada mais.

moral da história: nada de mal em ficar com uma mulher que gosta do mesmo que você, pelo contrário. mas talvez o encontro seja ótimo apenas enquanto se esteja fazendo o que duas mulheres pudessem fazer.. quando você parte para o desempenho do tradicional papel heterossexual masculino.. a coisa pode engrossar, digo, secar.

domingo, 30 de dezembro de 2007

good-bye, yellow brick road

sem meias palavras, o ano que acaba não foi bom. não progredi profissionalmente [estou sendo muito sutil], nada no sentimental, sem planos novos ou velhos, sem realizações, sem grandes metas, sobrou apenas o feijão com arroz: saúde, um teto, um trabalho. feliz é um termo um tanto estranho, mas me forço a estar satisfeito por essas coisas. repito: o ano não foi fácil. e não poderia acabar de outra forma: o filho de uma grande amiga partiu, aos onze anos de idade, após dez de luta contra o câncer. trata-se de uma grande amiga e companheira dos exageros da época de universidade e apesar de certa distância imposta pela rotina atual, compartilhávamos muitas crises e impressões.

há dez anos, a amiga de diana e eu éramos muito próximos. dividíamos festas, experiências, às vezes algumas meninas, e, como não poderia deixar de ser naquela época, boas e eventuais trepadas. tínhamos uma rotina deliciosa de farras e botecos até que de repente ela some do mapa. não parece mais em festinhas, em happy-hours, não atende o telefone. all of a suden! perdemos, repentinamente, o contato. uns dois meses depois, uma ligação e a bomba:
- andré, lembra do último ‘choppe y danza’ [festinha de iniciação dos calouros de rel]? então, fudeu.. fiquei grávida.
- vc quer dizer, você fudeu e ficou grávida [devolvi, certo de se tratar de uma das piadinhas clássicas da época].
- é, mas dessa vez é sério: trepei sem camisinha e aconteceu.
foi isso. encurtando a história, a mudança radical em sua vida foi quebrada por uma festinha inesquecível: o primeiro ano de seu filho, na qual nos divertimos horrores, bebemos, fumamos, curtimos. logo depois, o menino foi diagnosticado com um melanoma nas costas. os dez anos que seguiram permearam uma das lutas mais ingratas de que tive conhecimento e, certamente, a mais injusta que acompanhei. entre quimioterapias em são paulo, a desestruturação completa de uma família, perdi maior contato com a amiga de diana. não havia mais clima para arroubos de putaria, festas malucas ou excessos. para ela, a percepção de que havíamos crescido veio da maneira mais cruel possível: a doença grave de um filho. dez anos depois, recebi a ligação de uma amiga comum.. o menino havia falecido, padecendo nas últimas semanas, na uti no hospital brasília.

perdi meus dois avôs, mas nenhuma dessas perdas me afetou e chocou tanto, como a do filho de minha amiga. não pode, não é justo, não é certo. ele tinha apenas onze anos. tento tirar uma lição dessa perda, mas nesse momento o que fica é a sensação de que esse ano demorou a acabar. muito. ao filho de minha amiga, que descanse em paz, em algum lugar, certamente, menos denso que esse mundo. à minha amiga, o que desejar? igualmente, muita paz. que a perda seja um dia superada. à sua mãe, avó do menino, que tanto empenhou-se em seu tratamento, acompanhou toda a luta e o sofrimento, bem como as vitórias, desejo do fundo do coração muita força e a sensação de um dever muito bem cumprido. e o mais importante: a obrigação de encontrar fellicidade nessa vida, que tanto parece injusta. a 2007, desculpem-me, mas um grande foda-se. não me lembro com saudade desse ano. espero que ele não sinta minha falta.