certo dia de 2011, durante conversa com um bom amigo [a quem dedico essas linhas], entre um café e uma lembrança, o cara propôs a existência de dois tipos de pessoas: aquelas que centram os relacionamentos.. nas pessoas, e as que priorizam a relação em si. achei interessantíssimo e resolvi refletir sobre o tema.
desde nosso papo, há mais ou menos um ano, tenho refletido sobre a “relação que as pessoas têm com os relacionamentos”. o perfil racional[izador], tende a ser mais ponderado e equilibrado [pelo menos dentro da relação] e, assim, centra mais facilmente os relacionamentos na própria relação. faz sentido. os que conseguem ter um olhar distanciado da relação e dos sentimentos, sem apego, tendem a sofrer menos os efeitos das diferenças, da rotina e de eventuais desencontros. dessa forma, estariam mais protegidos de relações cuja chance de êxito é sabidamente questionável.
novelas, romances, folclore, turmas de rua, escola, até mesmo a família. tudo e todos contribuem para reforçar e reproduzir o conceito de que é normal, aceitável, e certo orientar as relações românticas, pelo[a] outro[a], por suas expectivas e por suas projeções. e a maioria de nós, conscientemente ou não, acabamos por construir. esse é o segundo tipo de “relação com a relação”. e coisa das mais dificeis é desconstruir a noção de que a felicidade romântica está vinculada a um alguém que pode nunca aparecer – ou corresponder às nossas expectativas. mais uma vez, pode-se recorrer ao tomé: se acreditarmos com fé, a plenitude estará num pedaço de madeira. a lógica é parecida: é muito mais natural [e justo] acreditar que não existe [apenas] um grande amor, mas pode-se esbarrar em uma série de grandes amores ao longo da vida – aproveitar ou vivenciar essas oportunidades é uma outra estória. e cada um desses amores pode contribuir para nossa evolução. é preciso acreditar.. e entregar-se de forma sã. o segredo é ter equilíbrio desmedido com doses equilibradas - e controladas de irresponsabilidade.
talvez caiba aqui um óbvio mas elucidativo aparte. desapego em nada tem a ver com insensibilidade. pelo contrário: quem vive de forma desapegada, consciente de quem é, do que quer dessa vida, tende a saber melhor o caminho a percorrer em direção á felicidade e, por isso, sabe quanto vale doar-se, o que vale a pena trocar com o[a] parceiro[a] – em qualquer nível.
fica mais claro, assim, que não se pode sacrificar, anular, submeter-se a julgos e situações humilhantes em nome do ser amado, independente do gênero. muito bem. o sentimentalmente desapegado é, na maioria das vezes, o elemento mais centrado nas relações. isso não quer dizer que esse perfil não tenha traços de amor, sensibilidade, devoção e paixão. para ele, há, sim, o que se perder numa relação. mas o grande tesouro que se corre o risco de perder é a própria integridade, o próprio equilíbrio.
quando se liberta das relações de dependência que aprendemos a considerar normais desde crianças [na verdade, “normoides” e automatizáveis], consegue-se reconhecer de forma saudável o próprio valor, e o valor do[a] outro[a]. a partir daí fica mas fácil viver na plenitude o arranjo pessoa-relação. a troca fica mais gostosa e a relação romântica, mais plena.
nota de rodapé: [nuca antes na história desse país!!]
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