sexta-feira, 8 de junho de 2012

depois do cubo mágico.

no dia em que passei no vestibular, toda a família ficou muito feliz – bem mais do que eu, pra falar a verdade. havia retornado da atrasada são luís do maranhão, em princípio, a passeio. mas um estranho senso de responsabilidade falou alto e me preparei – inclusive com cursinho no bom e velho objetivo da 904, por 5 meses para o tal vestibular da unb. escolhi o curso na fila da inscrição. passei. mas enquanto todo mundo celebrava a vitória [?!], me sentia estranho. incompreendia aquilo tudo. quanto mais as pessoas me davam parabéns, mais eu estranhava tudo, deslocado. meu tio andré, do alto da sabedoria de quem já havia vivido, apreendido, errado, brilhado e feito mais merdas que eu, metralhou: - tá se sentindo estranho, né, meu filho? aprenda logo: toda conquista é vazia - simples assim. não entendi nada. achei até meio louco.. claro que com 18 anos e a maturidade de um azulejo, não havia como entender mesmo.. os ultimos 21 anos comprovaram que ele estava certo. visão meio pessimista, ok. mas muito acertada. hoje, associo a percepção do andré-tio ao cubo mágico: fantástico e criativo brinquedinho, moda nos anos 80 [claro]. nunca consegui concluir aquela coisinha colorida e bagunçada, com quadradinhos geometricamente dispostos. mas sempre pensava: - porra, e depois de acabar o cubo mágico, qual a graça da brincadeira? já naquela época comecei a deconfiar que o atingimento de um resultado – por mais esperado, é algo solitário, e meio vazio.. a maxima clássica e batida de que o melhor da festa é esperar por ela. e é isso mesmo. o processo é tão ou mais importante que o resultado, que o impacto atingido. mesmo no meu meio profissional, da implementação de projetos de cooperação, percebe-se facilmente a importância de construir estratégia, e elencar atividades, estimar e detalhar um orçamento, associar objetivos às atividades, definir indicadores para se chegar ao tal resultado esperado. só se consegue uma mudanç estrutural significativa se cada subetapa for planejada e priorizada a seu tempo. uma vez mais, associo o segredo das grandes descobertas e das coisas mais importantes da vida a pequenos ganhos, às micro felicidades que vivemos.. ao trivial sensacional. esse conceito merece um momento. somos criados e condicionados a esperar da vida não menos que o sensacional. meninas são princesas, meninos são soldados, guerreiros. todos serão vitoriosos e terão uma vida de êxitos e vitórias, bons empregos, felicidade, felicidade nos casamentos.. my ass! por essa visão deturpada, distorcida e limitada, resiste-se em admitir a possibilidade de um somatório de pequenas histórias românticas por meio das quais construiríamos a experiência para, dentre outros, vivenciar melhor um grande amor. não, só admitimos a existência de grandes e avassalores amores, ou melhor, de um único agrande amor. somos treinados para acreditar nisso. porra, se essa é a verdade absoluta, claro que qualquer “desvio padrão” da rota pré-concebida de felicidade, significa frustração e infelicidade. associamos logo a separação a algo trágico, sofrido [do contrario , não havia amor..]. a sociedade não compreende a possibilidade de alguém sair, não feliz, mas sereno, tranquilo e, o mais importante: agradecido de uma relação – vivida e vivenciada com devoção, verdade e, por que não, paixão ou mesmo amor romântico. é perigoso associar cada período da vida a uma conquista futura, claro! assim que atingida a conquista, ela tende a nos levar à frustração, após breve momento de prazer e curtição. se não atingida, muito pior: machuca profundamente, e seus efeitos são sentidos na derme. depois de escalar uma montanha bem alta, resta apenas olhar para baixo e ver cada etapa conquistada. lembrar de cada acampamento, de cada cilindro de oxigênio consumido. rever cada fase percorrida. não se pode ignorar a sensação de conquista, e o prazer que vem dela, claro. mas esse deleite está dentro de cada um, é permeado pela subjetividade e não pode ser exogenamente projetado. a delicia da conquista é simétrica à dor: do tamanho de cada um ou, da maneira como cada um percebe essa conquista, ou sofre essa dor. Independente da crença, temos um compromisso moral, pessoal e talvez espiritual de buscar felicidade. não epidérmica, estética, passageira, condicionada, mas sim, plena.