sábado, 19 de dezembro de 2009

society

[eddie vedder]

Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...

When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

There's those thinking, more is less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

sábado, 28 de novembro de 2009

o momento em que a mão esbarra no corpo ao lado.. [ou, ode aos dois meses]

a transição de um rolo, de uma "ficada", para um namoro deixou de ser mistério para mim há tempos. seja pela simples vivência da situação, ou pela chegada de uma fase mais madura, com percepções mais complexas. entretanto, sempre refleti sobre o que pontua a mudança, numa relação, da paixão, para o amor romântico. em que momento as preocupações deixam de rondar o sábado e passam a mirar o médio prazo, o futuro; em síntese, em que momento a relação começa a ficar séria. começo a ter algumas interessantes pistas..

para começar, não se ajustam problemas de um relacionamento pelo simples "girar" de um botão de controle, apenas para renomear o arranjo, para planejar um filho, uma viagem, ou mesmo o casamento. mudanças estruturais tão significativas só podem ser benéficas se corresponderem à evolução natural de uma combinação saudável de sentimentos: confiança, tesão, cumplicidade, admiração. daí, brotará a vontade de planejar coisas comuns, de compartilhar. tal combinação deve, inclusive, servir à resolução madura e pacífica de conflitos, com base em entendimento, em diálogo. dito isso, parece óbvio o grau de complexidade que envolve o amadurecimento ou, em linguagem onusiana, a "gradação" de um relacionamento. mas pode não ser bem assim.

difícil não apelar para subjetividades na construção de quaquer raciocínio sobre relacionamentos. vivo hoje a quintessência da descoberta, da entrega, da aceitação de algo sublime, sensacional. por isso as linhas que esboço agora são o reflexo dessa fase. escrevo de forma parcial sobre o que nunca compreendi muito bem, mas sobre o quê falo hoje com propriedade. simplesmente não consigo teorizar nesse quesito, pois comigo aconteceu da forma mais inesperada e não planejada possível: a partir de um blind date descompromissado. era para ser só um encontro com a amiga do meu amigo, mas algo saiu "errado".. fato é que em dois meses, eu e a moça passamos de "pessoas que se pegariam" a cúmplices numa deliciosa e curtida jornada romântica. se eu desenhasse as linhas mestras de minha vida, não conseguiria traços tão bons nesse campo.

mas voltando à vaca fria: passamos, acredito eu, precocemente e sem grandes traumas, da paixão - preservada e potencializada junto com o amor, para a fase mais madura da relação, de compromissos, planos, médio prazo e certezas. meus algozes por anos transfomaram-se em parceiros de uma brincadeira séria e deliciosa. e tal brincadeira "ajustou" algumas coisas, peças fora do lugar em minha vidinha. por exemplo, eu nunca soube dividir a cama. nunca. sempre me foi tarefa árdua dormir com outra pessoa. desde o aspecto físico - sou insone crônico e outra pessoa quer dizer outros barulhos, outras "mexidas", outros arranjos noturnos.. ao aspecto sentimental - intimidade para mim sempre foi um problema. pois bem, muros foram minados, problemas naturalmente resolvidos e cá estou, pronto para começar uma longa estrada para fazer a relação da minha vida dar certo. e em que ponto exato o "milagre" teria contecido? difícil, mas acho que foi exatamente quando as esbarradas noturnas involuntárias deixaram de ser problema e se transformaram em prazer, delícia curtida a dois, aguardada..

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

faraway so close

pretty in pink – psychedelic furs

caroline laughs and it's raining all day
she loves to be one of the girls
she lives in the place in the side of our lives
where nothing is ever put straight
she turns her self round and
she smiles and she says
this is it
that's the end of the joke

and loses herself in her dreaming and sleep
and her lovers walk through in their coats
pretty in pink isn't she
pretty in pink
isn't she

all of her lovers all talk of her notes
and the flowers that they never sent
and wasn't she easy
and isn't she pretty in pink
the one who insists he was first in the line
is the last to remember her name
he's walking around in this dress that she wore
she is gone but the joke's the same
pretty in pink isn't she
pretty in pink
isn't she

caroline talks to you softly sometimes
she says "i love you" and "too much"
she doesn't have anything you want to steal
well nothing you can touch
she waves
she buttons your shirt
the traffic is waiting outside
she hands you this coat
she gives you her clothes
these cars collide
pretty in pink isn't she
pretty in pink
isn't she

*caroline's on the table screaming
confidence is in the sea
and all their favorite rags are worn
and other kinds of uniform
they kid you you're really free
and you know what you want to be
case of individuality
until tomorrow
and everything you are you'll see
in pure shiny buttons
they put you in this gear
and driveways broken
doorbell sings in chimes
it plays anything goes
bells toll in rhyme

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

pra cima de mim?

no começo da semana fui a um evento pelo trabalho. era uma coisinha grobete, cheia de pseudo celebridades e ex-capas de playboy. tive uma conversa surreal com Fernanda Abreu [sempre considerei uma chata e quebrei a cara] sobre o vasco. em seguida, veio um moço de um programa chamado CQC, dando uma de engraçadinho e – gravando – me perguntou: - ei você, quer ser entrevistado?

- não, meu jovem. na verdade, acho esse programa uma bela merda. queria apenas dizer que seu tênis é legal.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

rivotril [para uma mulher macia]

rivotril é o clonazepam, um tranqüilizante do grupo dos benzodiazepínicos. sua alta potência, longo tempo de circulação como forma ativa e peculiaridades farmacodinâmicas o tornam um dos melhores tranqüilizantes disponíveis no mercado.

assim começa a apresentação de rivotril, calmante que faz sucesso em todas as classes sociais e cujo uso aumenta em progressão geométrica no brasil. o remédio é usado hà tempos, sem contra indicações perigosas. será? paro em frente à caixa: faz 3 anos que não toco num calmante. recomecei no último domingo, sem planejar, sem me programar. usei poucas vezes, mas em todas elas posso dizer que senti uma felicidade franca. não apenas dormi melhor, mas minha vida ficou melhor. considero-me minimamente maduro, e por isso estou ciente dos riscos, ainda que calculados, envolvidos na experiência com rivotril. o moço da bula já vai avisando: “a sedação é forte”. e é mesmo: eu diria, inebriante. mas o remédio é eficiente no fim proposto: rivotril é eficaz para o controle da Fobia Social, do Distúrbio do Pânico, das formas de ansiedade genaralizadas e para ajudar a controlar os sintomas de ansiedade normais decorrentes de situações extremas da vida de qualquer um. sua alta potência garante quase sempre um bom resultado e sua prolongada eliminação do organismo diminuem bastante o risco de dependência química.

pois é, rivotril pode ter seus revezes, mas proporciona um sono mais tranquilo, acalma e renova para o enfrentamento das agruras rotineiras. com ele, não apenas durmo melhor, mas fico mais disposto, mais descansado e com mais disposição, possivelmente, devido ao repouso garantido pelo sono de qualidade. descansado, fico inclusive com mais vontade de trabalhar, corro melhor e tenho melhor humor. o problema é que fico com mais vontade de rivotril e, em minha atual situação, nem sempre é posível adquirir. até reconheço que se trata de um calmante, mas para mim, é um transmissor legítimo de tranquiidade, de paz, de excitação, numa proporção deliciosa. com ele troco experiências. dele, recebo alegrias. para ele, meu reconhecimento. com ele, começo uma relação franca, madura, passional e verdadeira. de peito aberto.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

entreouvidos, no banheiro da ANS

dois sujeitos contando piadas.
"cara, joaõzinho estava batendo uma atrás do ginásio da escola quando foi surpreendido pela profa. jane:
- joãozinho!!! o que é isso, moleque??
- professora, a sra. não morre hoje.. "

terça-feira, 29 de setembro de 2009

the dark side of the sun

le blé noir é um dos meus lugares preferidos no RJ. seria um bistrô, se não pudesse ser caracterizado como uma charmosíssima casa de crepes bretães. decoração típica, bandeira da bretanha no teto, mesinhas estilosas e serviço de primeira complementam a obra-prima dos crepes sarracenos. fica quase na minha rua, e no último final de semana, foi assaltada pela segunda vez no mês, por cinco homens não-encapuzados que ameaçaram fregueses e garçons com granadas. isso mesmo, granadas.. where the fuck i am?!

do caralho o filme michael clayton. george clooney em forma e sydney pollack afiado. vale a pena.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

entreouvidos [no salão de beleza]:

uma colega escuta toda paramentada, "montada", cheia de máscaras, cremes, paradas e loções, da bicha responsável por seu cuidado:
"minha filha, mulher é que nem salsicha: se a gente olha a preparação, não tem coragem de comer depois"..

domingo, 13 de setembro de 2009

divisa

é difícil precisar em que momento termina a sanidade e começa o equilíbrio, uma vez que podemos viver em um lado e passear, eventualmente, pelo outro. nas relações amorosas acontece algo semelhante: é difícil definir o que é são, doentio, equilibrado, fantasiado e/ou correspondido: tais divisas são muito tênues. o filme two lovers ilustra a crise dessas fronteiras. de quebra, me desperta uma indagação: por que mesmo joaquim phoenix não tem uma estante cheia de oscars?!

phoenix faz papel de um depressivo quarentão que volta para a casa dos pais para se recuperar de uma frustrada tentativa de suicídio após ser deixado pela esposa. história meio batida, mas cuja originalidade e o mérito são salvos por uma atuação impecável do ator, que atinge a maturidade dramática, em total controle sobre o personagem.

embalado por árias primorosas, o filme retrata um inebriante triângulo dramático entre phoenix, uma como-sempre-apenas-lindinha gwyneth paltrow e a excelente e contida vinessa shaw. as duas entram ao mesmo tempo na vida de phoenix, em viagem análoga à do expectador, que entra aos poucos no universo lírico do diretor james gray, condutor hábil de uma história sensível, tensa e bem amarrada.

no desenrolar da trama, fica evidente a dicotomia que se aproxima de leonard: shaw ou paltrow. realidade como ela é, ou fantasia frágil. e tal como um bridges of madison county, em que meril streep entrega-se à abnegação em momento soberbo de interpretação, o depressivo leonard sucumbe à percepção de que o fio de prata que o conecta á realidade é deveras tênue. a metáfora desse fio é sua ligação com shawn [sandra cohen].

num mundo de escolhas sofridas, em que sempre se perde algo de muito valor, leonard rende-se à opção pela vida, ainda que abafe todo o resto.. inclusive sua insanidade. de quebra, temos o prazer de rever isabella rosselini, quase sessentona e maravilhosa como sempre.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

.curiosidade.


o filme streets of fire – a fable of rock’n’roll [1984], clássico pop-farofa dos anos 80, com uma das trilhas sonoras mais fortes do cinema recente, tem diane lane no papel da atriz principal.. e era miss Lane quem cantava as principais músicas.. e ry cooder, músico e compositor de trilhas sonoras emblemáticas [como paris, Texas], além de ter escrito uma das músicas, também assina essa trilha..

ps1. eu sempre achei Diane Lane bela.. mas não me lembrava de nada disso.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

the Expoited are punk rock!

um amigo me escreve e informa que leu num site a confirmação de uma turnê do the Exploited no Brasil, em novembro de 2009. mas quem?! para menos desavisados, a antológica banda punk de glasgow foi ícone da virada dos anos 70 para os 80, influenciou um sem número de coisas legais - e merdas também, e permanece – pasmem! – na ativa até hoje. a música punk do exploited dita algumas características de seu universo: rapidez, podreira, raiva, ira, sujeira e.. humor [basta entrar no site oficial e se divertir: www.the-exploited.net], que marcaram o “lado B” de alguns reflexos do movimento punk autêntico no Brasil. sacaneando bastante os falsos punks, a rainha [de maneira muito mais estilosa que os sex pistols], a realidade internacional, os nazistas, eles próprios e todo o resto, eles divertiram-se fazendo música legal, cuspindo pra cacete e animando um pouco a “década perdida”. de quebra, animaram também a adolescência de caras como eu.

confesso que não sei em que tipo de arena eles tocarão em Brasília, que tipo de figuras de 50 anos e cabelo rosa eu encontrarei, ou se os caras lembram-se do próprio set list, mas estou curioso: tenho um compromisso inadiável dia 06/11.

sábado, 22 de agosto de 2009

vectra

passando pela bolívar, hoje, havia estacionado um carro velho, um vectra. o carro era muito peão, paramentado de forma muito brega, cheio de acessórios de boy pobre. nele, havia um adesivo escrito: "se você quer saber se existe vida após a morte, mexa neste carro". sensacional.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

quotes

o grobo de domingo passado publicou uma interessante matéria com as “cinco mais” em diversas categorias. o embaixador marcos azambuja [ex-França e Argentina], listou as cinco frases inesquecíveis, das quais duas são impagáveis:
- do príncipe de Talleyrand, ao ser pressionado: “senhores, é urgente esperar”.
- de groucho marx [que segundo Azambuja, será confirmado pelo tempo como influência mais duradoura que Karl..]: “estes são meus princípios. se você não gostar, posso oferecer outros princípios”.

domingo, 9 de agosto de 2009

pequena amostra da boa safra de 1983

tive uma insônia clássica de sábado ontem e acabei assistindo, em sequência, a dois filmes que considero antológicos: flashdance e scarface. o primeiro consegue ser tão brega como empolgante: tem uma trilha sonora pegajosa e eletrizante, ainda que contaminada pela breguice e inocência dos anos 80. virou referência atemporal e presença obrigatória em qualquer festinha despretensiosa. o segundo não teve o mesmo charme de seu original da década de 30, mas retrata de maneira magistral a saga de um imigrante latino aos EUA e sua ascensão como um traficante impiedoso-ainda-que-humano, e confirmou um ator lançado exatos 10 anos antes como um dos imortais do cinema: al pacino.

por acaso, percebi que havia pouco em comum entre eles: aparentemente sem muitas interfaces, ambos os filmes são sensacionais nas respectivas propostas, marcaram profundamente sua época, foram filmados no mesmo ano e têm cenas antológicas. em flashdance, a cena em que jannifer beals tira o soutien na frente de um desconcertado michael nouri é muito boba, mas ao mesmo tempo uma das mais sensuais do cinema. vale mais do que muito erotismo forçado. ela mistura o olhar de uma colegial ciente de seu poder sedutor e a incoência de uma lolita. em scarface, a cena de tony montana enlouquecido, cheirado, atrás de uma pilha de cocaína nunca teve outra à altura.

pequenas e ingênuas viagens de final de semana..

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

RIP

a primeira vez em que ouvi falar de john hughes foi em 1985 quando assisti ao inesquecível sixteen candles [exibido no Brasil com a infame alcunha de gatinhas e gatões – putaquepariu!]. a proposta era humorística, mas havia algo diferente.. não parecia um dos excelentes filmes dos trapalhões; ou os antológicos filmes de jerry lewis, ou mesmo os amalucados filmes de peter sellers. definitivamente, eu estava diante de algo novo, e sentia algo novo: o poder de john hughes. esse carismático diretor e produtor que influenciou [para usar um termo leve] minha geração, mudou a linguagem da comédia cotidiana, propôs reflexões e discussões sérias, por meio de uma linguagem simples, dirigiu os maiores sucessos da chamada brat pack, faleceu de infarte ontem, aos 59 anos. a ele rendo minha homenagem.

hughes contribuiu em larga escala para o começo de meu processo de socialização adolescente. a ele, os devidos créditos por isso. mas ele também teve sua parcela de culpa na construção de minha realidade paralela, deliciosamente adubada e esquizofrenicamente protegida durante os últimos 20 anos. no fundo acho que se já gastei algum dinheiro com psicoterapia, devo algum crédito a hughes. mas se tenho alguma habilidade para aproveitar as coisas boas da vida, relaxar em momentos certos, planejar e executar coisas legais, sem pressão, medos ou preconceitos, também é por causa do cara.

lembro-me de uma aula inocente de inglês, no alto dos meus 14 anos, quando um professor gente boa de origem ucraniana deu a dica de um filme novo, introspectivo, meio parado, mas diferente: era breakfast club, talvez a obra-prima e grande legado cinematográfico de hughes. se sixteen candles me chamou atenção para o cara, breakfast club me carimbou o passaporte para entrar em seu maravilhoso mundo. aquela história meio maluca, sobre moleques em princípio sem nada em comum e que são obrigados a passar um sábado juntos de castigo na escola não faria o menor sentido, nem teria o menor apelo se contextualizada em qualquer outra época, assistida por qualquer outra geração. uma breve pesquisa comprova essa teoria. por isso, considero-me um sortudo. eu vi, vivi e senti física e psicologicamente os efeitos de seus filmes.

o que esse cara tinha, para retratar tão bem, para propor, definir e balançar os alicerces da minha geração? simples: era um gênio criativo do cotidiano e com sensbilidade mais que aguçada. pra quê usar drogas na adolescência se havia filmes de john hughes?! não, drogas serviam para os fracos de espírito: hughes era a verdadeira viagem.

faço uma única ressalva sobre o cara: talvez hughes tivesse sido ainda mais compreendido por aqui, se fôssemos expectadores americanos: ele escrevia magistralmente para os highschoolers. era para decifrar a psiquê do jovem americano que o gênio hughes trabalhava. no caso específico de breakfast club, foi para mim um daqueles ritos absurdos de passagem, divisor de águas na forma de perceber as coisas, as pessoas, a mim mesmo. e a película dá a pista para tentarmos decifrar o universo hughesiano: tudo, todos e todas as relações podem, quando se tem 17 anos, ser facilmente classificadas e tribalizadas.

pode ser reducionista ou mesmo preconceituoso de minha parte fazer tal afirmação, mas em qualquer nicho escolar, havia sempre um cara meio marginal, um esportista conhecido, uma gatinha popular, um nerd tímido e uma ovelha negra diferente, enigmática. óbvio, mas não ululante. foi preciso que um talentoso diretor propusesse essa realidade simples, permeada por conflitos simples, para que toda uma geração acordasse para o seu valor.
RIP, mr. Hughes.
sincerely yours,
ag

terça-feira, 4 de agosto de 2009

dúvida

isso é quase um post-por-encomenda, aproveitando a proposta de uma amiga para que eu escrevesse sobre um tema específico – filhos. talvez quem lê isso, pergunte-se: sou estranho, idiossincrático, “do contra”, não sou pai e escreverei sobre o assunto? sim, isso não interfere no resultado. não há conclusões, só provocações e viagens.

nunca pensei em casamento como a maioria das pessoas - além de meus pais, meus dois irmãos que se casaram, seguindo ritos legais, inclusive, já estão separados. cresci na era do divórcio, então, essa sempre foi a regra para mim. o divórcio parece-me sempre o rumo natural das coisas e.. não sou arauto do pessimismo, mas acho que a separação pode fazer parte da relação - formalizada ou não; e deveria ser encarada como tal. no meu caso, em nenhum momento da vida tive deslumbre, vontade, fascinação, ou mesmo curiosidade pelo casamento. conheço exemplos de amigos, pessoas que adoro e respeito, que se casarem e vivem relação formalizadas felizes. não vou começar – de novo, a tentar justificar porque acho que se duas pessoas se gostam, basta que estejam juntas. não precisariam formalizar a união para legitimá-la. pois bem.

meu pai um dia me disse, categoricamente: - filho, podemos viver com 20 mulheres, mas casar, é só com uma. será? talvez. provavelmente.. mas que aura celestial é essa que se criou em torno do casamento formal? em que momento histórico paramos [se é que o fizemos algum dia] de prestar atenção na essência, para priorizar a forma, o rito? o que os livros escolares fizeram? quem eu devo processar? na verdade, vale a lei do ‘foda-se’ e o que vale é ser feliz, desde que não estejamos impedindo – ou dificultando a felicidade de outrem. mas não entendo, até hoje, o rito formalístico do casamento. se se tratasse de condição certeira para a felicidade, tudo bem. mas nem sempre é o que ocorre. pelo contrário, parece que a formalização da união, na maioria dos casos, decreta sua falência. difícil teorizar..

minha vontade de ter filhos enferrujou junto com minha vontade de ter dreadlocks. não me lembro de quando quis ter um filho, mas já quis. da mesma forma, não me lembro de quando pensei em usar dreadlocks. querer eu até quis, mas sem a menor vontade de passar dois meses sem lavar o cabelo, esfregando a porra das tranças, imundas, até darem “liga”. mesma coisa com os filhos. em algum lugar do passado deu vontade de ter filho. óbvia – e felizmente, essa vontade foi permeada e potencializada pelo fato de que sempre me relacionei com mulheres que valiam a pena. sempre tive excelentes namoradas – confiáveis, companheiras de sextas, planos e domingos apesar dos defeitos muitos e naturais.

outro dia revi – pela enésima vez, o filme ‘juno’. prestei atenção em um trecho do qual não me lembrava: a personagem de jennifer garner, ao conversar com uma helen paige em crise, diz que as mulheres tornam-se mães no momento da concepção [acho que acontece mesmo antes disso], e os homens tornam-se pais quando nasce o filho. generalizações à parte, achei perfeito. não se trata da explicação [até porquê acho que essa é, antes de mais nada, genética] para a diferença de percepção do conceito ‘filho’, para homens e mulheres. se estes são diferentes, por que não o seriam na paternidade e maternidade? mas a questão aqui é aceitar que a diferença abissal entre XY e XX teria, sim, um reflexo na forma como percebem filhos.

há idade certa para ter filhos? claro que não, mas aqui reside um cruel aspecto: posso decidir ser pai aos 80 anos. é possível. Mas uma mulher luta contra um dos mais impiedosos inimigos já identificados: o tal do relógio biológico. o alarme que dispara – em média, aos 35 anos para o fato de que se pensou em filhos, que implemente o plano. se não pensou, é bom fazê-lo para “ontem”. isso é foda: transforma mulheres interessantes em seres fragilizados e confusos, apressados e histéricos. transforma uma fase, uma etapa do relacionamento, que deveria ser curtida a seu tempo, na finalidade mor de toda a existência. tem nexo? por causa dessa fragilização, continuam-se referendando escolhas erradas e aceitando tais escolhas como caminhos sem volta.

porra, conheço algumas mulheres tão interessantes, tão competentes, tão profissionais, que tornam difícil para um leigo como eu entender a onda do pânico da maternidade. talvez esteja na hora de uma segunda revolução sexual, na qual não se queimariam sutiãs, mas as cartilhas em que se definiu pela primeira vez essa função da maternidade com tamanho peso, com tanta cobrança.

terça-feira, 7 de julho de 2009

fractal

sempre fui meio outsider para relacionamentos. comecei tarde, namorei pouco, cisquei bastante [para usar um termo cristão..], e à exceção de um ou dois grandes equívocos, sempre conheci mulheres muito interessantes, muito especiais. a elas agradeço e oportunidade de ter compartilhado parte de uma caminhada cheia de curtição e pitadas parcimoniosas – e facilmente relevadas, de stress. já escrevi que o ciclo crescer / casar-se / fazer um financiamento habitacional sempre me pareceu menos compreensível que os signos cirílicos. mas eis que, com quase quarenta, começo a entender alguns segredos de tostines.

mecanismo ideal para formalizar o arranjo perpetuado de realização romântica, não acredito que o casamento seja uma tendência natural humana [a união, pode ser], mas uma invenção bem engenhosa e antiga para legitimar a união junto a um sem número de atores: sociedade, família, colegas, amigos, companheiros etc. ah, claro, dentre esses, em alguns casos, a você mesmo, o que seria o mais importante.

como nove em cada dez pessoas pensam em se casar quando são novas, quase todo mundo pode ser encaixado como casado, divorciado, solteiro ou frustrado. e tais classificações são ótimas.. perpetuam modelos insustentáveis de felicidade baseada na dependência, engordam contas bancárias de psicólogos, e rendem bons, repetitivos e fantasiosos roteiros para o cinema.

não abandonei a possibilidade de compartilhar inclusive minhas impressões esquizofrênicas sobre relacionamentos, qualquer que seja o status da interlocutora: companheira, namorada, esposa etc. mas minha mudança para o Rio de Janeiro rendeu-me decisivas e marcantes descobertas. uma dessas foi: posso viver – muito bem – sozinho. na maioria do tempo em que estou só, não estou solitário. ok, isso não é novidade. mas viver completamente sozinho – e não solitário, pode estimular um nível interessantíssimo de reflexão sobre quase tudo. é um tipo de LSD do bem, tomado de leve.

em uma dessas viagens, percebi que nunca havia realmente pensado em casamento, até esse glorioso ano de 2009, em que tive de encarar o bicho por sua faceta mais escrota: a enviesada. conheci várias mulheres nesse último ano [ou estou mais maduro para perceber pessoas interessantes na multidão], das quais duas foram campeãs. o cruel: ambas “em situação de matrimônio”.

C. tem em torno de 42 anos, jornalista, figura pública, bonita, musical, bem sucedida, carreira sólida, um filho. O mais cruel, e que me desnorteia: tem um senso de humor muito parecido com o meu: ri junto comigo e sabe ser bem sarcástica. isso é foda. F. deve ter uns 30 anos, servidora pública, linda, tímida, inteligente, esforçada, gentil e educada. o mais cruel, e que me desnorteia: não faz a menor idéia do charme que tem. isso é foda. as duas são muito charmosas, casadíssimas e, aparentemente, felizes. o que fazer? nada. sem grandes crises, em ambos os casos, resignei-me e voltei para casa achando que o timing é mesmo uma das coisas mais importantes nos relacionamentos. pensei, em relação a ambas: - porra, foi por pouco. se eu a tivesse conhecido há um ou dois anos.. well. a percepção: em nenhum dos casos fiquei triste. no entanto, não deixei de pensar que poderia pelo menos conhecer melhor, explorar um pouco mais, tomar um café a mais, com a figura.

se a grande maioria se casa numa idade padrão - cedo demais, acho que agora com quase 37 anos, apesar de a seleção natural ter afunilado minhas chances de encontrar um par, conto com o interessante conjunto de opções da “segunda onda”: mulheres que já se divorciaram, que já tiveram filhos, que já venceram profissionalmente. em geral, mulheres, com mais de 35 anos, que – quando não foram vencidas pelo pânico de ficarem sozinhas, se bancam, realizadas e na medida do possível, seguras. esse é o perfil que geralmente tem me atraído. o que aconteceu? em que momento inverti o movimento natural do tio sukita? eu adorava a firmeza das lolitas. agora, gosto de ir ao teatro com suas mães, para ver bianca byington encenar suassuna.

acabo de descobrir que não me lembro da idéia original do texto. a lógica pode ser como aquelas colagens que eu fazia na escolinha, com 2 anos: tecido, tinta, recortes e milho. Uma grande zona. o importante é ser feliz.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

doc e as baratas

aquele koreano esquisito, dono de um moquifinho no upper westside, só não gesticulava mais do que o bermardinho do vôlei, para tentar me convencer a comprar aquele par de doc marten’s: não precisava. em minha primeira viagem internacional, há exatos dez anos, se havia um bem material que adquiriria com certeza, era minha vintage 460 8-hole doc marten’s boots. era sonho de consumo há tempos, ainda não adquirido, menos pelo preço absurdo [cotada em libras], e mais pela dificuldade de encontrar no Brasil. lembro-me de uma vez ter visto uma loljinha em Belo Horizonte, com um único par: roxo. claro, BH tem tradição em butecos, não em botas. outra vez, na saudosa WOM, em Bsb, um “jovem abastado” [provavelmente, um dos garotos do low dream] encomendou uma, que não lhe serviu e o rapaz deixou à venda na loja; essa era preta, eba! mas dois números acima do meu. Foda: homem deve ter pé de homem. mas voltemos à NY.

eu entrara na lojinha, pois havia passado na porta e a vitrine estampava um belo exemplar, novinho, preto e que partecia meu número – falando não-metaforicamente. entrei, olhei, fiquei interessado e pedi para experimentar. o koreano era muito engraçado, parecia o cara do falling down, aquele em que michael douglas enlouquece e sai matando todo mundo [ah, ele podia ter entrado numa central de telemarketing] .. well. como eu havia mostrado interesse total – e muito conhecimento sobre o produto, eu e o koreano conversamos uns 15 minutos, uma eternidade para a cultura pasteurizada do “next in line, sir”! ele tinha uns 40 anos e havia morado em Londres: o cara foi punk! e não parecia de butique, mas punk mesmo, tipo podreira, que dormia em squads, cospia no sapato de executivos limpinhos, arrotava sem cerimônia em qualquer lugar. claro que 20 anos mais velho, a conversa foi permeada por dicas para assentos [detalhe: assentos] na brixton academy, ou os contatos de um cara que conseguia ingressos dos lakers, na pista, por 200 dólares.

bom, papinho vai, conversa vem e o cara continuava argumentando em favor da marca da “costura amarela”. Falou da biqueira de aço, o famoso “steel-toe”. boa, mas eu queria um modelo um pouco menos útil para chutar a galera num show do misfits: sem biqueira de aço. falou da qualidade do cadarço. boa, mas eu queria um pisante que também pudesse usar no trabalho.

após um tempo de discussão, acho que o cara começou a perder a peciência e disse, em inglês ríspido e quase ininteligível:
“you know man, when the nuclear breakdown take place the only two things that is gonna survive: the cucroaches and the doc marten’s boots”! ah garoto! – pensei - apelou para the day after, que havia assistido quinze anos antes. segundo o chang, apenas as baratas [tese lembrada de forma lúgubre pelo filme citado] e as botas doc martens não sucumbiriam, nem mesmo no caso de uma hecatombe nuclear. beleza, o cara é mesmo louco, mas o argumento foi criativo. comprei meu par, que por acaso tem aspecto de novo, mesmo após uma década, e está guardado em Brasília. felizmente, não cheguei a testá-las no caso de guerra atômica..

quinta-feira, 25 de junho de 2009

michael jackson

justa homenagem a um ídolo inquestionável de toda uma geração: http://www.youtube.com/watch?v=BjywI7nc_PQ

RIP, branco ou preto.

domingo, 14 de junho de 2009

.apenas o fim.

já escrevi sobre isso, mas sempre estranhei pessoas que após anos dividindo edredon, refeições, confidências e prazeres, vêem-se, após o término, num campo de batalha, brigando para ver quem “saiu por cima” da relação; quem tinha razão nisso e naquilo; mensurando e comparando o valor dos presentes trocados, se aquela prima deu realmente mole para ele, ou se aquele colega de trabalho queria mesmo pegar a mulher. raiva, rancor e ódio parecem apagar bons e ótimos momentos vividos no passado. nunca entendi isso. poucas vezes fui compreendido por optar – e conseguir, ser amigo de minhas ex-namoradas, com as quais minha relação varia de fantástica a boa. ontem assisti .apenas o fim., de matheus souza, e me senti bem menos solitário nessa percepção.

há muito o cinema descobriu o apelo de um tema que tem capacidade inesgotável de reinvenção e de propor questionamentos: o relacionamento romântico. o filme é um projeto underground de estudantes de cinema da PUC-Rio [todas as externas são gravadas num gostoso passeio pelo campus] e se vale do recurso da metalinguagem para misturar, com humor atual e leveza rara, before sunset e juno. ainda que algumas referências utilizadas sejam mais facilmente apreendidas pela geração pokemon/orkut, as reflexões do casal durante a última conversa antes do término são atemporais e compreensíveis para qualquer um que já se questionou sobre amor, paixão e solidão.

o diretor matheus souza foi muito feliz na escolha do casal de protagonistas – erika mader e o ótimo gregório duvivier, bem como na condução com planos longos, sem muitos cortes, que dá a sensação de um passeio cotidiano pelo campus da PUC-RJ, na companhia dos atores. durante pouco mais de uma hora e meia, o expectador tem a chance de vivenciar a história de amor do improvável casal bonitinha / nerd, por meio de uma linguagem fácil e coloquial. esse recurso facilita a compreensão e, em especial, a identificação com a história. a sutileza no entanto mascara uma séria e contundente discussão sobre relacionamentos.

para mim, o coração da história está no momento em que a personagem de érika defende que quando se vive uma relação franca e intensa, com entrega, o fim torna-se apenas.. o fim. não deve ser lamentado. acho que relações modernas podem encarar o fim apenas como o encerramento de um processo que, se vivenciado plenamente, terá valido e pena. o filme de matheus souza é um delicioso convite a essa reflexão.

sábado, 6 de junho de 2009

do trem azul a merchant

toda vez que leio algo sobre maria rita, lembro-me de elis regina, maior cantora do Brasil, quiçá, uma das melhores do mundo. aprendi a escutar elis por influência de meu pai, que tentou de tudo para que eu fosse fã de MPB: não funcionou. à exceção de elis, sobrou pouca afinidade com a música brasileira cantada devagar, baixinho. mas também não me empurrem para o atual universo lesbos das cantoras, ou as revelações regionais. não, isso não faz minha cabeça. mas com elis era diferente: não sou fã de MPB, mas aquela maluca que gesticulava sem parar nos palcos, tinha uma voz unicamente aveludada. eu nunca havia escutado nada parecido. e com meu pai fui aprendendo aos poucos seu repertório. de pérolas com tinta regional, como romaria, a clåssicos incontestáveis como trem azul, ela é fascinante.

eis que descobri, há exatos dez anos, uma cantora americana que, apesar de estilo totalmente distinto, me lembra muito elis regina: natalie merchant. remanescente da ótima banda ‘ten thousand maniacs’, merchant atinge o tom mais aproximado do veludo, produzido pelo mundo pop. espécie de elis com ascendência irlandesa [óbvio], natalie encanta pelo tom menos potente, porém, igualmente sensível, de sua voz. quer seja com medalhões regravados, aos quais confere inequívoco tom personalizado, como space odity, ou obras-primas fantasiadas de desesperança, como beloved wife, ou the gulf of araby, ela chama atenção, sem querer chamar atenção.

ativista política e social, democrata de carteirinha e criativa, merchant é o tipo que faz um homem pensar: quero uma mulher assim, sem apêndices, sem correções, sem ajustes. porra, não consigo imginar ana carolina gravando um disco em homenagem a allen ginsberg. natalie gravou. tá, e daí? sei lá, eu gostaria de poder escutá-la ao vivo de tempos em tempos. melhor, queria contratá-la para pocket shows particulares mensais. viagens à parte, perdi a oportunidade de vê-la em seu primeiro registro solo ao vivo – live in concert in new yok city, por 4 meses. pena. ana carolina toca no faustão, natalie merchant, não. pena?

ela tem poucos discos, e o melhor deles, para mim, é ophelia, aquele em homenagem à ginsberg. um disco belo, dotado de lirismo raro, letras introspectivas que retratam o universo fluido e etéreo do poeta da lisergia.

por tudo isso, ergamos o pint para um merecido brinde à sra. merchant.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

'stand by me' ludovicense

já se vão mais de 20 anos do inesquecível verão de 1986, na grande são luís do maranhão. eu era um jovem atrapalhadamente tímido e orgulhosamente deslocado. tal perfil retroalimentava hábitos pouco ortodoxos para um menino residente na beira da praria de uma pacata capital nordestina. um deles, cultivado até o presente, é o de ir ao cinema sozinho. sinto um prazer esquisito, sem explicação [nem tanto], e ainda pouco compreendido, que tem muito menos a ver com solidão do que com individualismo. naquele ano, fui ao cine tropical assistir stand by me, atraído pelo roteiro do spielberg, pela música épica de john lennon e, claro, fascinado pelo trailler, assistido um mês antes.

o caminho ao cine tropical, desde a casa da minha vó, passava por um longo [ok, precepção pré-adolecente] terreno baldio que, se não podia ser considerado perigoso, era bem ermo. atravessávamos uns 2 kilômetros de mato, manguezais e estradinhas, para cruzar a segunda metade da ponta do farol [o bairro] e chegar ao tropical, única diversão de então, para a juventude dourada de são luís. eu ainda tinha 12 anos e até então só havia ido ao cinema com amigos, ou pais; nunca sozinho. confesso que ponderei. tinha medo de cruzar o caminho sozinho, não pelos motivos de hoje em dia, mais associados à violência gratuita e absurda – queimam-se índios e pais como quem fuma um baseado, mas receio de mim mesmo, de não achar o caminho, de não conseguir, de.. sei lá, medo. naquela época, andar sozinho me fascinava: e eu associava liderança, esperteza, traquejo, aos meninos que andavam sozinhos, que iam à escola de ônibus, sem os pais, que iam à praia surfar, sem ninguém.

pensei, reli a sinopse do filme: quem era river phoenix?! ah, mas tinha richard dreyfuss, do jaws e close encounters. “grupo de meninos parte em busca de um cadáver em aventura que mudará o curso de suas vidas”, dizia o cartaz. não sei se era apelação marketeira, mas não dava para resistir. fui. e não aconteceu nada demais durante o trajeto. sozinho, a única diferença foi o tempo demorando mais a passar, nada mais. chegando ao cinema, porém, me senti importante pra cacete! porra, tinha 12 anos e conseguira chegar ao cinema, a pé, sozinho. estava para completar uma grande aventura. senti excitação, felicidade, vontade de ir a pé a todos os.. 3 cinemas da cidade. estava realmente feliz. o filme seria a sagração, o ápice do cumprimento dessa fase, mas apenas um detalhe, se comparado à conquista, àquele sentimento de superação tão relaxante, e que na mocidade é inesquecível.

a saga de gordie lachance e seus amigos, contudo, representou muito mais, marcou muito mais do que o esperado. foi minha entrada efetiva na adolecência. a partir daquela tarde quente de verão, filmes não seriam os mesmos para mim, o caminho até o cinema não seria igual – já havia sido conquistado; eu passaria a não mais entender as coisas, perceber fatos e pessoas da mesma forma. o efeito bombástico que a história tem na vida dos quatro amigos misturou-se à minha própria percepção da realidade. da mesma forma que lachance nunca mais veria castle rock – a cidadezinha em que se passa a ação, da mesma forma, são luís havia encolhido para mim, em uma tarde.. eu gostava de viver lá, mas a cidade começava, definitivamente, a parecer menor.

de são luís, fica a saudade de uma época inesquecível, adolecência tranquila, solta e sem pressões, vivida entre a praia e o mangue. do filme, lembro da personagem de dreyfuss – lachance adulto, dizendo que nunca mais teremos amigos como os que tivemos aos 12 anos. não sei se concordo, mas faz sentido..

terça-feira, 5 de maio de 2009

o curioso caso de mickey rourke e marisa tomei


em minha opinião a safra de filmes concorrentes ao Oscar 2009 foi bem profícua, e revelou boas surpresas e algumas não tão surpresas igualmente boas. para ser sincero, acho que desde o memorável ano de 2005 [before sunset, sideways etc.], não havia tantos concorrentes de qualidade. ao longo de duas semanas quentes de fevereiro, devo ter assistido a uns 8 filmes oscarizáveis. gostei de doubt, gostei muito de milk, adorei the reader. entretanto, o filme que me deixou desconcertado foi.. the wrestler. confesso que havia sido atraído pelo tão propagado retorno de mickey rourke à telona, bem como pela deliciosa marisa tomei, provavelmente, a melhor mulher do cinema hoje.

já havia lido sobre a história, e fiquei curioso. resolvi, então, ignorar o enredo brega, e a trilha sonora farofa com groselha. para minha própria satisfação, consegui. e que bom! ao final de uma hora e 43 minutos de filme, olhei para um lado, olhei para o outro [como de praxe, estava sozinho] e não conseguia engolir. a câmera nervosa, e a fotografia cinza não me deixavam rir. eu também não conseguia ficar triste: estava completamente anestesiado pelo filme e tive vergonha de confessar que o achei sensacional.. o melhor filme concorrente ao oscar 2009.

quando estive em Brasília, na semana passada, escutei do meu irmão guto uma opinião muito parecida: ele havia adorado o filme. bastou uma pessoa concordar para que eu, finalmente, não me sentisse um ET! criei coragem para confessar que ainda não havia conseguido digerir a película e ainda estava, dois meses depois, sob seu efeito. não costumo me pautar apenas por elas, mas uma crítica de O Globo sobre o filme me chamou atenção antes mesmo de eu vê-lo. dizia apenas: “mickey rourke beira o sublime”. muito justo. mas faltou dizer que Marisa tomei beira a perfeição. que bom que algumas mulheres com mais de 40 atingem uma maturidade sexy, charmosa, não-dissimulada, espontânea, que dá esperança aos poucos homens e mulheres que ainda não se deixaram seduzir pelo padrão biônico “pernas de roberto carlos” [o jogador, não o cantor] – parafraseando o grande arthur dapieve. que medo eu sentiria ao acordar ao lado da ana maria braga.. já marisa tomei é gente como a gente, ordinary people. perfeita no papel de prostituta correta, cética e desesperançosa que resiste, mas sucumbe ao charme de um desfigurado rourke, lutador decadente de luta livre, que teve seu auge na década de 80 e hoje convive com o fantasma de uma relação catastófrica com a filha lésbica e procura alguma razão para viver.

desde 1993 considero marisa tomei um crescente de charme, segurança, graça e sensualidade. era o ano em que my cousin vinny lhe conferiu um inesperado – mas merecido oscar de atriz coadjuvante. desde 1986 sou igualmente fã de mickey rourke. naquele ano assisti 9 ½ weeks e um ano depois, angel heart, o que sempre considerei seu melhor filme. ele, ao contrário de tomei, entrou numa espiral decadente, pirou, inventou de lutar boxe, injetou silicone no rosto e foi pulverizado ao ostracismo pela própria pateticidade. até agora. o depressivo the wrestler proporcionou a ambos uma chance estrelar um belo filme e, de quebra, oportunidade de redenção para rourke, na vida real e na fantasia do cinema: recebeu uma indicação a melhor ator. não venceu, mas vê-lo junto à sra. tomei esbanjando talento dramático [quem diria..] foi sensacional. assim como rocky balboa tem sua redenção pela pudica adrian [e, claro, pelo boxe], ela é a chance de redenção para randy 'The Ram' robinson. claro, num universo bizarro, paralelo e muito mais real..

em princípio, pode causar estranheza minha intenção de retomar o blog rendendo uma homenagem a mickey rourke; mas é que, para mim, vê-lo junto a marisa tomei nesse nível de simbiose dramática foi.. mais ou menos como ir a um show do the cure no outs em SP, hoje: inesperado. impensável. ótima surpresa.