desde criança sou fascinado pelo mito de excalibur, seja na inesquecível versão futurista da marvel editada nos anos 1980 ou no filme mediano de 1976; o velho embate bem-mal, a metáfora da espada fincada em pedra e que só poderia ser tirada pelo “escolhido” [matrix?]; cavaleiros, mágica, guerras, heroísmo. na estória, minha personagem predileta era morgana le fey. charmosa, misteriosa e sensual, é presença marcante em meio a guerreiros machos. meio indecifrável, dizia pouco e seduzia muito. sempre associada a tramas e maldades, a irmã do rei arthur era uma criatura indecifrável.
na literatura antiga, morgana le fey é a rainha goddess, da ilha mágica de avalon. ao contrário da crença histórica, morgana possuía notável poder de cura, graças a seu conhecimento fitoterapêutico e capacidade de predição. era líder das nove mulheres santas que trataram as feridas de arthur depois da desastrosa batalha de camlann, que provocou a destruição de seu reino. como o cristianismo sempre considerou blasfêmia a cura não explicável [em especial por uma fêma não pertencente a nenhuma ordem cristã], a literatura consagrou a imagem de morgana le fey como bruxa e pagã. inusitadamente, descobri que morgana le fey tem uma versão não menos charmosa, igualmente misteriosa, mas muito real. e não mora longe..
desiludido com o profissional, decidi participar de uma seleção para o posto de assessor social em uma embaixada asiática em brasília. a etapa final foi uma entrevista surreal [i mean it!] com o embaixador. mas o que importa aqui é o registro do encontro com morgana. enquanto esperava ser chamado para a entrevista, notei-a dentre várias candidatas por uma particularidade: usava um indefectível tênis adidas. porra, morgana le fey estava concorrendo a um posto na embaixada e usava tênis adidas! e depois tem gente que não acha o mundo muito doido. bom, notei-a por isso, mas continuei a prestar atenção por muito mais.. era o salão da embaixada, mas bem poderia ser um castelo qualquer em camelot. gostei de seu ar misterioso e do charme desconcertado. sim, é possível ver isso tudo isso em tão pouco tempo. basta prestar realmente atenção. o homem pode olhar para a bunda, para os peitos de uma mulher. mas se prestar realmente atenção nela, pode enxergar muito e ler [n]as entrelinhas.
ao sair da embaixada, após a entevista, senti que não poderia deixar a oportunidade passar. oportunidade de quê? ainda não sabia. mas não podia vacilar. ao longo dos 34, 35 passos que me levaram à saída refleti e deixei rolar. virei para a figura e soltei: “estilo, minha cara, é tudo”. se você se sente atraído por uma mulher, em uma situação absurda, que não dá margem a aproximações, chute o balde. não perca o controle [especialmente se você está concorrendo a uma vaga de emprego], mas mostre sua “mão de pôquer”. talvez sua trinca de setes ganhe a rodada. sun tzu, provavelmente o mais celebrado teórico clássico da guerra, já dizia que nunca se deve encurralar completamente um inimigo, pois ele não terá nada a perder e só lhe restará atacar com toda a força. a situação me encurralou. sabia que não a veria de novo. a incerteza era minha única certeza. o que eu tinha a perder? nada. sabia que tinha de me expressar. apenas isso. não poderia perder a chance.
no dia seguinte, já recuperado da entrevista dadaísta com o sr. embaixador, eu pensava em morgana. aí, minha cara de pau entrou em ação. consegui seu telefone por métodos excusos e sem grandes exitações, liguei. e olha só: morgana era uma simpatia. um tanto desconfiada para o meu gosto, mas muito simpática. marcamos um café. creditei sua desconfiança ao inusitado do approach. tudo bem, eu já havia feito mais do que a maioria dos mortais - em especial os de cromossomos xy – faria. meu dia já estava ganho. mas eu podia mais. queria mais. queria conhecê-la.
morgana vivia num reino próximo e estava apenas de passagem por aqui.
à noite, ela não estava de adidas. fomos a um bom lugar, tivemos boa conversa. ela tinha mãos lindas, e era muito falante, inteligente, criativa e.. [ainda existe]: acreditava poder mudar o mundo. isso me desnorteou um pouco. a menina era cheia de ideais, crenças, valores. uma criatura apaixonante. nosso contato restringiu-se a essa vez. tudo bem. quase sempre é a mulher quem decide isso e temos de aceitar.
não consegui tirar a espada da pedra, mas ter tomado um café com morgana le fey valeu muito mais a pena do que nunca a ter conhecido.
8 comentários:
Olá André,adorei o texto!
Quem sabe na próxima você não consiga tirar a espada?
Um abraço
Dinalva
estilo, meu caro, é tudo!
e você o tem!
olha..eu até acho que se você lançar um livro "Crônicas do André" (claro, seria tudo minúsculo, o maiúsculo, aqui, foi um mero detalhe)eu compro!
agora..quanto à espada na pedra..hum...sei não..talvez se comesse mais feijão..
ótimo texto, mortal de cromossomo xy, como sempre!
thanx dinalva, são mulheres bem resolvidas como você que quero atingir com o blog. continue lendo e critique sempre!
andré
Bacana!
E a título de curiosidade, a Morgana no filme "Excalibur" (ok, não é isso tudo, mas também não é de se jogar fora) foi a Helen Mirren....começou como irmã do rei e virou rainha, eheheheheh!
Métodos excusos?!?! Sei, sei....
Essa aqui eu jah acredito, porque o final foi casseta e planeta.
Tu vai ter coragem de contar aqui aquela historia do cabine da caixa eletronica da CEF? Com detalhes?
Mosh
o 'releitura' não é demais? não seria melhor só 'leitura' do masculino?
caixa eletrônico?! como assim? não me recordo.. esse blog não tem censura, mosh. TUDO vai acabar entrando aqui..
Aprendi muito
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