terça-feira, 20 de novembro de 2007

morgana le fey usava adidas.

desde criança sou fascinado pelo mito de excalibur, seja na inesquecível versão futurista da marvel editada nos anos 1980 ou no filme mediano de 1976; o velho embate bem-mal, a metáfora da espada fincada em pedra e que só poderia ser tirada pelo “escolhido” [matrix?]; cavaleiros, mágica, guerras, heroísmo. na estória, minha personagem predileta era morgana le fey. charmosa, misteriosa e sensual, é presença marcante em meio a guerreiros machos. meio indecifrável, dizia pouco e seduzia muito. sempre associada a tramas e maldades, a irmã do rei arthur era uma criatura indecifrável.

na literatura antiga, morgana le fey é a rainha goddess, da ilha mágica de avalon. ao contrário da crença histórica, morgana possuía notável poder de cura, graças a seu conhecimento fitoterapêutico e capacidade de predição. era líder das nove mulheres santas que trataram as feridas de arthur depois da desastrosa batalha de camlann, que provocou a destruição de seu reino. como o cristianismo sempre considerou blasfêmia a cura não explicável [em especial por uma fêma não pertencente a nenhuma ordem cristã], a literatura consagrou a imagem de morgana le fey como bruxa e pagã. inusitadamente, descobri que morgana le fey tem uma versão não menos charmosa, igualmente misteriosa, mas muito real. e não mora longe..

desiludido com o profissional, decidi participar de uma seleção para o posto de assessor social em uma embaixada asiática em brasília. a etapa final foi uma entrevista surreal [i mean it!] com o embaixador. mas o que importa aqui é o registro do encontro com morgana. enquanto esperava ser chamado para a entrevista, notei-a dentre várias candidatas por uma particularidade: usava um indefectível tênis adidas. porra, morgana le fey estava concorrendo a um posto na embaixada e usava tênis adidas! e depois tem gente que não acha o mundo muito doido. bom, notei-a por isso, mas continuei a prestar atenção por muito mais.. era o salão da embaixada, mas bem poderia ser um castelo qualquer em camelot. gostei de seu ar misterioso e do charme desconcertado. sim, é possível ver isso tudo isso em tão pouco tempo. basta prestar realmente atenção. o homem pode olhar para a bunda, para os peitos de uma mulher. mas se prestar realmente atenção nela, pode enxergar muito e ler [n]as entrelinhas.

ao sair da embaixada, após a entevista, senti que não poderia deixar a oportunidade passar. oportunidade de quê? ainda não sabia. mas não podia vacilar. ao longo dos 34, 35 passos que me levaram à saída refleti e deixei rolar. virei para a figura e soltei: “estilo, minha cara, é tudo”. se você se sente atraído por uma mulher, em uma situação absurda, que não dá margem a aproximações, chute o balde. não perca o controle [especialmente se você está concorrendo a uma vaga de emprego], mas mostre sua “mão de pôquer”. talvez sua trinca de setes ganhe a rodada. sun tzu, provavelmente o mais celebrado teórico clássico da guerra, já dizia que nunca se deve encurralar completamente um inimigo, pois ele não terá nada a perder e só lhe restará atacar com toda a força. a situação me encurralou. sabia que não a veria de novo. a incerteza era minha única certeza. o que eu tinha a perder? nada. sabia que tinha de me expressar. apenas isso. não poderia perder a chance.

no dia seguinte, já recuperado da entrevista dadaísta com o sr. embaixador, eu pensava em morgana. aí, minha cara de pau entrou em ação. consegui seu telefone por métodos excusos e sem grandes exitações, liguei. e olha só: morgana era uma simpatia. um tanto desconfiada para o meu gosto, mas muito simpática. marcamos um café. creditei sua desconfiança ao inusitado do approach. tudo bem, eu já havia feito mais do que a maioria dos mortais - em especial os de cromossomos xy – faria. meu dia já estava ganho. mas eu podia mais. queria mais. queria conhecê-la.
morgana vivia num reino próximo e estava apenas de passagem por aqui.

à noite, ela não estava de adidas. fomos a um bom lugar, tivemos boa conversa. ela tinha mãos lindas, e era muito falante, inteligente, criativa e.. [ainda existe]: acreditava poder mudar o mundo. isso me desnorteou um pouco. a menina era cheia de ideais, crenças, valores. uma criatura apaixonante. nosso contato restringiu-se a essa vez. tudo bem. quase sempre é a mulher quem decide isso e temos de aceitar.

não consegui tirar a espada da pedra, mas ter tomado um café com morgana le fey valeu muito mais a pena do que nunca a ter conhecido.

8 comentários:

Brasília disse...

Olá André,adorei o texto!
Quem sabe na próxima você não consiga tirar a espada?
Um abraço

Dinalva

Anônimo disse...

estilo, meu caro, é tudo!
e você o tem!
olha..eu até acho que se você lançar um livro "Crônicas do André" (claro, seria tudo minúsculo, o maiúsculo, aqui, foi um mero detalhe)eu compro!
agora..quanto à espada na pedra..hum...sei não..talvez se comesse mais feijão..
ótimo texto, mortal de cromossomo xy, como sempre!

ag disse...

thanx dinalva, são mulheres bem resolvidas como você que quero atingir com o blog. continue lendo e critique sempre!
andré

Anônimo disse...

Bacana!

E a título de curiosidade, a Morgana no filme "Excalibur" (ok, não é isso tudo, mas também não é de se jogar fora) foi a Helen Mirren....começou como irmã do rei e virou rainha, eheheheheh!

Métodos excusos?!?! Sei, sei....

Anônimo disse...

Essa aqui eu jah acredito, porque o final foi casseta e planeta.

Tu vai ter coragem de contar aqui aquela historia do cabine da caixa eletronica da CEF? Com detalhes?
Mosh

Anônimo disse...

o 'releitura' não é demais? não seria melhor só 'leitura' do masculino?

ag disse...

caixa eletrônico?! como assim? não me recordo.. esse blog não tem censura, mosh. TUDO vai acabar entrando aqui..

Anônimo disse...

Aprendi muito