
reflexões, besteiras e confissões - contribuições em geral para o entendimento do macho contemporâneo.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
.fractais. [ou, uma formatura sem fim]

sábado, 22 de junho de 2013
noite de miam miam [ou, modelo e atriz..]
doeu no coração, mas não dependia mais de mim: tinha de deixar mesmo o glorioso rio de janeiro. o Programa da ONU em que trabalhava anunciara fechamento da operação descentralizada, na mesma época em que conheci a mulher com quem juntaria trapos. ela não queria sair de bsb. eu não queria voltar. perdi. após um casamento inesperadamente feliz com a cidade maravilhosa, era hora de voltar pra brasília. paciência. pensei em stalin na rússia pós-Bolchevique: retroceder um pouco para avançar muito algum tempo depois.
pop que sou, marquei minha super despedida da cidade com os.. dois grandes amigos que tinha lá: o argentino gênio e a bahiana apimentada. tentei, mas por questão de agenda, não foi possível ir no meu local preferido: a champanharia ovelha negra da rua bambina [ovelhanegra]. sobrou o segundo lugar: o charmoso miam-miam [miam-miam], depois da rua da pasagem, subindo para o Rio Sul. o lugar é super transado: clean, moderno, bem decorado, ícone da cozinha contemporânea carioca e ponto de encontro de artistas e modernosos. tem cardápio bem sortido: pode-se comer de tudo e bem lá. vale muito o salmão gratinado com mascarpone!
cheguei cedo para garantir mesa, pois sentar-se no local pode ser tarefa ingrata. como na cidade eu usufruía de um eficiente sistema de transporte publico, não havia a preocupação mediocre com o binômio biritaxdireção. meus amigos já haviam dito que chegariam, juntos, em minutos. decidi ir rápido ao lounge e beber algo enquanto esperava mesa, pois a ideia era jantarmos, todos os três. os dois chegaram e decidiram escolher um drink no balcão. deu preguiça e eu acabaria meu gin no próprio lounge. é, eu ainda tinha saúde / vontade / pique para beber gin. e me divertia assim. pois bem. chega um pequeno grupo com duas mulheres realmente lindas e um ser saltitante e feliz. sentam-se os três à minha frente. pedem os drinks. chegam as bebidas. meus amigos acabavam uma conversa sobre uma baianidade qualquer. ok, posso beber um pouquinho mais. estou no clima. estou bem. acabo o segundo gin e sinto que estou realmente bem..
a ruiva-meio-loira-linda tá na minha frente. seu segundo drink acaba de chegar. pergunto, na lata:
- o que é isso?
- caipirinha de X [não me lembro mesmo!]
- posso provar? – minha cara de pau deve ser patológica.
- claro – linda e simpática, aquilo era tão pouco Brasília..
dois goles e adorei. acho que adorei mesmo foi sua atitude. e começamos, os quatro, a trocar impressões sobre a noite, a vida, a PUC-RJ, o coqueirão e londres.
- o que vc faz? – eu estava realmente curioso com a menina.
- sou atriz. ela tinha olhos esquisitamente verdes/azuis, lindos. eu estava intrigado. mas meu lado escroto é bem mais forte que eu..
- ah, aqui no RJ todas as mulheres dizem que são atrizes. sério, o que vc faz para viver?
- ao perceber minha lerdeza e ingenuidade [eu verdadeiramente não a conhecia], ela riu e sinto que começou a curtir a situação.. os dois amigos distancaram-se um pouco e ficamos praticamente a sós no lounge. perguntei sobre algum trabalho dela, para que eu pudesse me situar.
- estou na novela das oito.
- de que canal?
- globo.
- me desculpe, não assisto um capítulo de novella há uns 15 anos.
- você gosta de cinema? – ah, agora era minha praia, pensei, animado!
- sim, adoro. você faz cinema?
- sim, estou num filme sobre o presidente.
- qual?
- o atual, Lula.
- ok, mas ainda não vi.
- a pré-estreia é só daqui a um mês..
- mas aí fica difícil!
- concordo.. ela riu. [agora tinha certeza de que ela estava curtindo a situação..]
- bom, você não assiste novela, que é o que tenho feito.
- putz, você deve ser famosa [eu já havia sacado isso..]
- não sei. acho que famosa, ainda não. sou conhecida.
- mas eu não te conheço.
- mas você não é um cara muito antenado – o sorriso foi rasgado.
- assistir novelas é ser antenado?
- haha, não. assistir TV é acompanhar os acontecimentos. assistir novela é relaxar deles.. – filosofou a jovem [adorei]. e você o que faz?
- sou oficial de projetos num escritório da ONU aqui no RJ.
- legal! você não é daqui?
- não.
- está gostando do RJ?
- pra caralho!
- peraí - metralha a jovem. vamos tentar outra coisa. vc conhece cultura pop dos anos 80?
- ah, agora vc tá falando a minha língua, babe!! simplesmente, tudo.
- lembra do xou da xuxa?
- putz.. sim, por que?
- eu era paquita.
- ah, vai se foder! [juro que falei com muito carinho]
- é sério..
- ah que merda, cara.. boa sorte aí na carreira de modelo e atriz – falei com absurdo sarcasmo.
ela riu, agradeceu e foi jantar com os amigos. quando vou me juntar aos meus colegas, noto minha amiga baiana morrendo de rir, e me pergunta em baianês fluente:
- oxe, o que você e juliana barone tanto conversavam?!
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para gabi, que me inspirou a escrever esse post.
sábado, 15 de junho de 2013
before midnight
certa vez esbarrarei, confuso e imaturo, num cartaz do finado e saudoso cine márcia, que me chamou atenção. o filme era sobre o encontro casual de dois jovens durante uma mochilada pela europa. entrei e arrisquei. toda a história se passava em uma noite e nesse intervalo, jesse e celine [personagens de ethan hawke e julie delpy] se apaixonavam. roteiro bobo e muito simples, orçamento baixo, poucos atores no cast. a fórmula era imprópria para o sucesso, mas foi certeira para encantar uma geração inteira. verborragia, por vezes, para envolver o expectador na trama do jovem casal. era 1995 e eu tinha os mesmos 22 anos de idade dos protagonistas. talvez isso tenha facilitado identificação imediata com before sunrise. foi a quintessência da fantasia da paixão avassaladora.
a fórmula bombástica foi um estrondoso sucesso de crítica. nove anos depois, richard linklater, diretor da primeira película, traz a continuação – before sunset. o mote era tentar explicar [ou, propor uma explicação] o que teria acontecido com o casal depois de Viena. linklater usa o filme para discutir escolhas sérias e difíceis, que acabam por nortear toda a nossa vida. os diálogos amadureceram com os personagens e a ligação entre os dois é adulta, madura. jesse e celine tinham 31 anos e agora as consequências das escolhas machucam ainda mais.
na película linklater fez uma ode à maturidade do grande amor. o final do filme revela conexão perfeita entre os dois. mas, apesar da sugestão velada, paira uma dúvida sutil no ar: o que teria acontecido com eles? ficaram juntos? jesse embarcou para NY? ficou em paris? o hiato oficial dura nove anos, até..
linklater assume novamente a direção para dar vida à terceira [e última?] parte da história - before midnight. temos, os personagens e eu, 40, 41 anos de idade. jesse e celine vivem juntos e têm um casal de gêmeas. henry, filho da primeira mulher de jesse, vive com a mãe em NY. o fantasma neurótico da primeira mulher do cara – deixada por ele quando se une à celine em paris, é apenas o gatilho para a grande crise do casal. dessa vez, eles pagam - à prestações - um preço alto pela escolha que fizeram e pela aposta em viver o grande amor. construíram uma vida a dois e, em cima disso, linklater dá um Wasari para mostrar que não existe relação ganha, “acabada”. é até meio piegas, mas o fim é apenas o começo. o odioso “felizes para sempre” é um crime sustentado, herança maldita reproduzida e fortalecida por nossas famílias, escola, amigos, literatura e o caralho.
jesse e celine estão de férias na Grécia [locações paradisíacas] e graças a amigos, ficam sem filhos durante uma noite em um hotel de luxo. é durante esse começo de noite que a essência da discussão acontece. jesse e celine têm uma clássica – nem por isso menos dura, realista, cruel e surpreendente discussão. nela, questionam as escolhas que fizeram, desde que se conheceram. repensam a relação, fazem críticas e confissões.
o ritmo do filme lembra a segunda parte. mas os diálogos amadureceram, são reflexo de situações, links e referências mais maduros – e complexos entre os personagens. as dúvidas sobre o que teria acontecido em paris, nove anos antes, dissipam-se. as incertezas sobre o futuro do agora casal multiplicam-se. sim, jesse ficou em paris com celine. fez a opção que todos esperavam e pela qual todos torceram. certa vez li que “crescer é a arte de fazer escolhas”.. eu adicionaria: “..e bancá-las”. o filme machuca sólidas crenças, ao vomitar na cara de todos que sim, existe amor. mas ele não é um fim em si mesmo, e se parece com o conceito de felicidade: é muito mais processo que resultado. deve ser vivenciado, inclusive – e especialmente em nano-momentos da vida cotidiana, durante uma escovada de dentes, ou ao assistir o teatrinho da escola do filho. deve ser conquistado dia após dia na relação e o sentimento deve manter nossa atenção plena [vivas ao budismo], para corrigir rumos enquanto implementamos a relação.
a vida costuma imitar a arte. e de vez em quando, a arte sugere que a porra da vida é foda. vale a pena, é linda, pode ser até bem feliz. desde que entendamos que o segredo é não glamourizar ou idealizar em excesso, e, o principal: não projetar em ninguém. cada um que leve sua própria bagagem de neuras e coisinhas mal resolvidas. talvez não consigamos resolver cada nódulo psicológico de imediato, mas que tenhamos consciência deles!! e se encontrarmos um/a companheiro/a de jornada – por qualquer intervalo de tempo que dure a relação, ótimo! compartilhemos experiências, crises, esperanças, deleites, prazer, sopas e sushis. relevemos eventuais frustrações provocadas pelas clássicas projeções. amor eterno, traição, exclusivismo, diferenças. tudo é verniz. não é nossa construção desses conceitos que “dá liga” a um encontro romântico, mas nossa capacidade e habilidade para viver a relação.
é isso. não se deve tentar perpetuar o encantamento da paixão nem lutar contra a rotina, isso é remar contra a corrente. aprendamos a vivenciar o deleite e a curtição do encontro, nos [às vezes pequenos] espaços que o cotidiano permite. para isso, talvez seja preciso desmistificar de uma vez todas, sim, o amor romântico imediato. assim, temos mais chance de alimentar – e curtir a felicidade plena numa relação de longo prazo.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
muito além do obiwan

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
botas de buenos aires ou, da pequena arte de quebrar a cara.
um dos propósitos dessa vida esquisita é o aprendizado. mais especificamente, sobre conceitos cultivados há muito e que considerávamos inquestionáveis. quebrar a cara vira rotina, tomar no cu, padrão. desde a segunda infância, vivemos uma série de experiências que comprovam o pagamento da própria língua. uma amiga poetisa contemporânea brinca: “a vida começa cedo a nos enrabar sem ky”. pois bem.
preconceitos perdem o “pré”, e a gente perde o ar superior que carrega desde muito, isso quando não ostenta a opinião como máxima insofismável, espécie de gesso virgem naquele pulso torcido. tento resistir, mas sempre tive alguns preconceitos muito fortes. um deles: associo, desde não sei quando, maturidade à idade cronológica, conceitos, como bem defende um grande amigo, que podem não ter nada em comum. a verdade é que às vezes meu saco de verdades fura e elas escorrem até o ralo.. as botas de buenos aires estão aí para comprovar.
experiências fantásticas deixam de ser vividas por medos e receios nada fantásticos. a cereja do bolo está escondida, e temos de cutucar o chantilly para encontrá-la.
dois momentos breves, várias barreiras implodidas. a maior delas, para mim, a diferença de idade, foi dizimada. como? fácil: afinidades. muitas, dentro do possível, claro. referências comuns, vivência e experiência encolhem e perdem importância para empatia, timing e cumplicidade. definir? é pra ansiosos. conceituar? é pra preconceituosos. aproveitar? é para sensíveis. seize the day ou, carpe diem, já dizia o keating. o que esperar? nada, esse é o segredo. no momento, dar vazão ao encontro de curiosidades parece interessante.
a formação em psicologia revelou mais que o túnel velho de botafogo. o olhinho meio puxado, meio relaxado, meio sem foco [mas com direção] harmonizava com a firmeza dos movimentos, e o controle quase total da cena. sem querer, sem planejar e acho, sem premeditar, os dedinhos finos da mão direita passeavam pelo sofá até reencontrar a bochecha esquerda e rosada, amarrando uma cena que mais parecia um dos filmes legais sobre crises existenciais do woody allen nos anos 1980.
a mão.. é sempre um capítulo à parte para qualquer homem sensível com mais de 40 anos. deve haver uns 3 ou 4 vagando por aí.. cinco dedinhos finos e macios massageando o copo.. sim, passamos facilmente do café à heinecken. a espuma dissolveu as desconfianças, e a distância entre um canto e outro da boca foi preenchida por um sorriso mais corajoso. ela já respirava mais relaxada e me olhava nos olhos.
a conversa fluía e migramos para o sofá: a confirmação da afinidade, além de dinamitar barreiras, relaxava e dissipava o desconforto do primeiro e inusitado encontro até.. o toque. esqueci propositadamente minha mão na sua coxa.
- parece muito a menina do crepúsculo, pensei. – mas também é a cara da nicole kidman. humm.. aquele pedaço de noite evoluiu sem surpresas, mas de forma excitante. o desfecho? que desfecho?!
diferente de adso the melk, eu sei o nome da rosa..
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
cantinflas e o políticamente correto
vivo no país do futuro há quase 40 anos e só muito recentemente o Brasil parece ter encontrado o sucesso de seu presente. acostumamo-nos a uma felicidade morna, refletida num sorriso esquisito de canto de boca, misturado com a testa franzida. mas como se mede o valor de um sorriso? desde cedo essas questões têm me provocado reflexão. acredito que a arte de fazer rir é mais séria do que o drama, e me pergunto: será que essa arte tem mudado com o passar dos tempos?
sempre tive mais identificação com as angústias humanas, mas não me lembro desde quando sou metido a engraçadinho. sátira e ironia poderiam ser meus sobrenomes e gosto dessa característica, me alimento dela. essa percepção começou com o gosto pelos elegantes filmes mudos de buster keaton, passou pelos geniais e escrachados three stooges até o mestre jerry Lewis. nessa tábula, deveria sentar-se mais um gênio, pouco celebrado: o mexicano fortino mario alfonso moreno reyes [1911-1993] ou, cantinflas. inspirou toda uma escola de fazer rir, e outros gênios, como o próprio jerry lewis.
casado por 56 anos com a atriz valentina ivanova, cantinflas fazia rir com um simples revirar de olhos, e com um movimento bobo do rosto provocava o que jim carrey não consegue com todo seu repertório de caretas forçadas. o bigodinho ordinário e o olhar perdido, inocente, reforçavam a persona do camponês simplório e pobretão tantas vezes encarnada por cantinflas. ele era meio que o didi daqueles filmes legais dos anos 70 [quando os trapalhões eram 4 e ainda engraçados]: um fracassado, quase sempre à margem da trama principal, e que passava longe da mocinha. apenas contribuía para que o galã ligasse os pontos e amarrasse a história, que “fechava” bonitinha e equilibrada.
mario moreno é pra mim um marco da contracultura hollywoodiana. em LA, fez poucos filmes e nuca foi integrado ao mainstream cinematográfico. ele equilibrava dois mundos aparentemente incompatíveis: vivia sempre o bom moço e ao mesmo tempo, o pária, o lado B. e a simples menção do politicamente correto me cansa.. vivemos num mundo absurdamente contaminado pela culpa – seja ela católica ou não, que tem produzido um exército de deprimidos e tem enriquecido a indústria de medicamentos com prozac, omeprazol, levitra etc. nesse ambiente culpado, sentir graça parece errado. rir parece estranho. e rir de coisa séria é um absurdo passível de pena de morte. minha adolescência foi cinza, mas não sei de que cor seria se eu não tivesse me entupido de angeli, laerte, TV pirata e jerry Lewis. que delícia nos distanciarmos do olho do furacão, olhar para trás e rir de tudo. o que aconteceu com o humor atualmente? num fôlego de criatividade, apareceram CQC e ´pânico na TV´. tudo bem, modernizaram a forma de fazer rir e ambos enfrentam com bravura a ditadura do politicamente correto. são, por isso mesmo, necessários. precisam existir. mas falta algo.. perdeu-se a naturalidade. o dom, antes intrínseco, enferrujou a até o talento parece pasteurizado, fabricado por encomenda.
cantinflas teve uma carreira prodigiosa. fez 55 filmes e em alguns deles, também dirigiu, escreveu e cantou. no papel de passepartute no maravilhoso arround the world in 80 days, seu filme mais famoso, encantou gerações e provocou muito riso num contexto bipolar, esquizofrênico e claro, politicamente correto.
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