quarta-feira, 2 de setembro de 2009

.curiosidade.


o filme streets of fire – a fable of rock’n’roll [1984], clássico pop-farofa dos anos 80, com uma das trilhas sonoras mais fortes do cinema recente, tem diane lane no papel da atriz principal.. e era miss Lane quem cantava as principais músicas.. e ry cooder, músico e compositor de trilhas sonoras emblemáticas [como paris, Texas], além de ter escrito uma das músicas, também assina essa trilha..

ps1. eu sempre achei Diane Lane bela.. mas não me lembrava de nada disso.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

the Expoited are punk rock!

um amigo me escreve e informa que leu num site a confirmação de uma turnê do the Exploited no Brasil, em novembro de 2009. mas quem?! para menos desavisados, a antológica banda punk de glasgow foi ícone da virada dos anos 70 para os 80, influenciou um sem número de coisas legais - e merdas também, e permanece – pasmem! – na ativa até hoje. a música punk do exploited dita algumas características de seu universo: rapidez, podreira, raiva, ira, sujeira e.. humor [basta entrar no site oficial e se divertir: www.the-exploited.net], que marcaram o “lado B” de alguns reflexos do movimento punk autêntico no Brasil. sacaneando bastante os falsos punks, a rainha [de maneira muito mais estilosa que os sex pistols], a realidade internacional, os nazistas, eles próprios e todo o resto, eles divertiram-se fazendo música legal, cuspindo pra cacete e animando um pouco a “década perdida”. de quebra, animaram também a adolescência de caras como eu.

confesso que não sei em que tipo de arena eles tocarão em Brasília, que tipo de figuras de 50 anos e cabelo rosa eu encontrarei, ou se os caras lembram-se do próprio set list, mas estou curioso: tenho um compromisso inadiável dia 06/11.

sábado, 22 de agosto de 2009

vectra

passando pela bolívar, hoje, havia estacionado um carro velho, um vectra. o carro era muito peão, paramentado de forma muito brega, cheio de acessórios de boy pobre. nele, havia um adesivo escrito: "se você quer saber se existe vida após a morte, mexa neste carro". sensacional.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

quotes

o grobo de domingo passado publicou uma interessante matéria com as “cinco mais” em diversas categorias. o embaixador marcos azambuja [ex-França e Argentina], listou as cinco frases inesquecíveis, das quais duas são impagáveis:
- do príncipe de Talleyrand, ao ser pressionado: “senhores, é urgente esperar”.
- de groucho marx [que segundo Azambuja, será confirmado pelo tempo como influência mais duradoura que Karl..]: “estes são meus princípios. se você não gostar, posso oferecer outros princípios”.

domingo, 9 de agosto de 2009

pequena amostra da boa safra de 1983

tive uma insônia clássica de sábado ontem e acabei assistindo, em sequência, a dois filmes que considero antológicos: flashdance e scarface. o primeiro consegue ser tão brega como empolgante: tem uma trilha sonora pegajosa e eletrizante, ainda que contaminada pela breguice e inocência dos anos 80. virou referência atemporal e presença obrigatória em qualquer festinha despretensiosa. o segundo não teve o mesmo charme de seu original da década de 30, mas retrata de maneira magistral a saga de um imigrante latino aos EUA e sua ascensão como um traficante impiedoso-ainda-que-humano, e confirmou um ator lançado exatos 10 anos antes como um dos imortais do cinema: al pacino.

por acaso, percebi que havia pouco em comum entre eles: aparentemente sem muitas interfaces, ambos os filmes são sensacionais nas respectivas propostas, marcaram profundamente sua época, foram filmados no mesmo ano e têm cenas antológicas. em flashdance, a cena em que jannifer beals tira o soutien na frente de um desconcertado michael nouri é muito boba, mas ao mesmo tempo uma das mais sensuais do cinema. vale mais do que muito erotismo forçado. ela mistura o olhar de uma colegial ciente de seu poder sedutor e a incoência de uma lolita. em scarface, a cena de tony montana enlouquecido, cheirado, atrás de uma pilha de cocaína nunca teve outra à altura.

pequenas e ingênuas viagens de final de semana..

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

RIP

a primeira vez em que ouvi falar de john hughes foi em 1985 quando assisti ao inesquecível sixteen candles [exibido no Brasil com a infame alcunha de gatinhas e gatões – putaquepariu!]. a proposta era humorística, mas havia algo diferente.. não parecia um dos excelentes filmes dos trapalhões; ou os antológicos filmes de jerry lewis, ou mesmo os amalucados filmes de peter sellers. definitivamente, eu estava diante de algo novo, e sentia algo novo: o poder de john hughes. esse carismático diretor e produtor que influenciou [para usar um termo leve] minha geração, mudou a linguagem da comédia cotidiana, propôs reflexões e discussões sérias, por meio de uma linguagem simples, dirigiu os maiores sucessos da chamada brat pack, faleceu de infarte ontem, aos 59 anos. a ele rendo minha homenagem.

hughes contribuiu em larga escala para o começo de meu processo de socialização adolescente. a ele, os devidos créditos por isso. mas ele também teve sua parcela de culpa na construção de minha realidade paralela, deliciosamente adubada e esquizofrenicamente protegida durante os últimos 20 anos. no fundo acho que se já gastei algum dinheiro com psicoterapia, devo algum crédito a hughes. mas se tenho alguma habilidade para aproveitar as coisas boas da vida, relaxar em momentos certos, planejar e executar coisas legais, sem pressão, medos ou preconceitos, também é por causa do cara.

lembro-me de uma aula inocente de inglês, no alto dos meus 14 anos, quando um professor gente boa de origem ucraniana deu a dica de um filme novo, introspectivo, meio parado, mas diferente: era breakfast club, talvez a obra-prima e grande legado cinematográfico de hughes. se sixteen candles me chamou atenção para o cara, breakfast club me carimbou o passaporte para entrar em seu maravilhoso mundo. aquela história meio maluca, sobre moleques em princípio sem nada em comum e que são obrigados a passar um sábado juntos de castigo na escola não faria o menor sentido, nem teria o menor apelo se contextualizada em qualquer outra época, assistida por qualquer outra geração. uma breve pesquisa comprova essa teoria. por isso, considero-me um sortudo. eu vi, vivi e senti física e psicologicamente os efeitos de seus filmes.

o que esse cara tinha, para retratar tão bem, para propor, definir e balançar os alicerces da minha geração? simples: era um gênio criativo do cotidiano e com sensbilidade mais que aguçada. pra quê usar drogas na adolescência se havia filmes de john hughes?! não, drogas serviam para os fracos de espírito: hughes era a verdadeira viagem.

faço uma única ressalva sobre o cara: talvez hughes tivesse sido ainda mais compreendido por aqui, se fôssemos expectadores americanos: ele escrevia magistralmente para os highschoolers. era para decifrar a psiquê do jovem americano que o gênio hughes trabalhava. no caso específico de breakfast club, foi para mim um daqueles ritos absurdos de passagem, divisor de águas na forma de perceber as coisas, as pessoas, a mim mesmo. e a película dá a pista para tentarmos decifrar o universo hughesiano: tudo, todos e todas as relações podem, quando se tem 17 anos, ser facilmente classificadas e tribalizadas.

pode ser reducionista ou mesmo preconceituoso de minha parte fazer tal afirmação, mas em qualquer nicho escolar, havia sempre um cara meio marginal, um esportista conhecido, uma gatinha popular, um nerd tímido e uma ovelha negra diferente, enigmática. óbvio, mas não ululante. foi preciso que um talentoso diretor propusesse essa realidade simples, permeada por conflitos simples, para que toda uma geração acordasse para o seu valor.
RIP, mr. Hughes.
sincerely yours,
ag

terça-feira, 4 de agosto de 2009

dúvida

isso é quase um post-por-encomenda, aproveitando a proposta de uma amiga para que eu escrevesse sobre um tema específico – filhos. talvez quem lê isso, pergunte-se: sou estranho, idiossincrático, “do contra”, não sou pai e escreverei sobre o assunto? sim, isso não interfere no resultado. não há conclusões, só provocações e viagens.

nunca pensei em casamento como a maioria das pessoas - além de meus pais, meus dois irmãos que se casaram, seguindo ritos legais, inclusive, já estão separados. cresci na era do divórcio, então, essa sempre foi a regra para mim. o divórcio parece-me sempre o rumo natural das coisas e.. não sou arauto do pessimismo, mas acho que a separação pode fazer parte da relação - formalizada ou não; e deveria ser encarada como tal. no meu caso, em nenhum momento da vida tive deslumbre, vontade, fascinação, ou mesmo curiosidade pelo casamento. conheço exemplos de amigos, pessoas que adoro e respeito, que se casarem e vivem relação formalizadas felizes. não vou começar – de novo, a tentar justificar porque acho que se duas pessoas se gostam, basta que estejam juntas. não precisariam formalizar a união para legitimá-la. pois bem.

meu pai um dia me disse, categoricamente: - filho, podemos viver com 20 mulheres, mas casar, é só com uma. será? talvez. provavelmente.. mas que aura celestial é essa que se criou em torno do casamento formal? em que momento histórico paramos [se é que o fizemos algum dia] de prestar atenção na essência, para priorizar a forma, o rito? o que os livros escolares fizeram? quem eu devo processar? na verdade, vale a lei do ‘foda-se’ e o que vale é ser feliz, desde que não estejamos impedindo – ou dificultando a felicidade de outrem. mas não entendo, até hoje, o rito formalístico do casamento. se se tratasse de condição certeira para a felicidade, tudo bem. mas nem sempre é o que ocorre. pelo contrário, parece que a formalização da união, na maioria dos casos, decreta sua falência. difícil teorizar..

minha vontade de ter filhos enferrujou junto com minha vontade de ter dreadlocks. não me lembro de quando quis ter um filho, mas já quis. da mesma forma, não me lembro de quando pensei em usar dreadlocks. querer eu até quis, mas sem a menor vontade de passar dois meses sem lavar o cabelo, esfregando a porra das tranças, imundas, até darem “liga”. mesma coisa com os filhos. em algum lugar do passado deu vontade de ter filho. óbvia – e felizmente, essa vontade foi permeada e potencializada pelo fato de que sempre me relacionei com mulheres que valiam a pena. sempre tive excelentes namoradas – confiáveis, companheiras de sextas, planos e domingos apesar dos defeitos muitos e naturais.

outro dia revi – pela enésima vez, o filme ‘juno’. prestei atenção em um trecho do qual não me lembrava: a personagem de jennifer garner, ao conversar com uma helen paige em crise, diz que as mulheres tornam-se mães no momento da concepção [acho que acontece mesmo antes disso], e os homens tornam-se pais quando nasce o filho. generalizações à parte, achei perfeito. não se trata da explicação [até porquê acho que essa é, antes de mais nada, genética] para a diferença de percepção do conceito ‘filho’, para homens e mulheres. se estes são diferentes, por que não o seriam na paternidade e maternidade? mas a questão aqui é aceitar que a diferença abissal entre XY e XX teria, sim, um reflexo na forma como percebem filhos.

há idade certa para ter filhos? claro que não, mas aqui reside um cruel aspecto: posso decidir ser pai aos 80 anos. é possível. Mas uma mulher luta contra um dos mais impiedosos inimigos já identificados: o tal do relógio biológico. o alarme que dispara – em média, aos 35 anos para o fato de que se pensou em filhos, que implemente o plano. se não pensou, é bom fazê-lo para “ontem”. isso é foda: transforma mulheres interessantes em seres fragilizados e confusos, apressados e histéricos. transforma uma fase, uma etapa do relacionamento, que deveria ser curtida a seu tempo, na finalidade mor de toda a existência. tem nexo? por causa dessa fragilização, continuam-se referendando escolhas erradas e aceitando tais escolhas como caminhos sem volta.

porra, conheço algumas mulheres tão interessantes, tão competentes, tão profissionais, que tornam difícil para um leigo como eu entender a onda do pânico da maternidade. talvez esteja na hora de uma segunda revolução sexual, na qual não se queimariam sutiãs, mas as cartilhas em que se definiu pela primeira vez essa função da maternidade com tamanho peso, com tanta cobrança.

terça-feira, 7 de julho de 2009

fractal

sempre fui meio outsider para relacionamentos. comecei tarde, namorei pouco, cisquei bastante [para usar um termo cristão..], e à exceção de um ou dois grandes equívocos, sempre conheci mulheres muito interessantes, muito especiais. a elas agradeço e oportunidade de ter compartilhado parte de uma caminhada cheia de curtição e pitadas parcimoniosas – e facilmente relevadas, de stress. já escrevi que o ciclo crescer / casar-se / fazer um financiamento habitacional sempre me pareceu menos compreensível que os signos cirílicos. mas eis que, com quase quarenta, começo a entender alguns segredos de tostines.

mecanismo ideal para formalizar o arranjo perpetuado de realização romântica, não acredito que o casamento seja uma tendência natural humana [a união, pode ser], mas uma invenção bem engenhosa e antiga para legitimar a união junto a um sem número de atores: sociedade, família, colegas, amigos, companheiros etc. ah, claro, dentre esses, em alguns casos, a você mesmo, o que seria o mais importante.

como nove em cada dez pessoas pensam em se casar quando são novas, quase todo mundo pode ser encaixado como casado, divorciado, solteiro ou frustrado. e tais classificações são ótimas.. perpetuam modelos insustentáveis de felicidade baseada na dependência, engordam contas bancárias de psicólogos, e rendem bons, repetitivos e fantasiosos roteiros para o cinema.

não abandonei a possibilidade de compartilhar inclusive minhas impressões esquizofrênicas sobre relacionamentos, qualquer que seja o status da interlocutora: companheira, namorada, esposa etc. mas minha mudança para o Rio de Janeiro rendeu-me decisivas e marcantes descobertas. uma dessas foi: posso viver – muito bem – sozinho. na maioria do tempo em que estou só, não estou solitário. ok, isso não é novidade. mas viver completamente sozinho – e não solitário, pode estimular um nível interessantíssimo de reflexão sobre quase tudo. é um tipo de LSD do bem, tomado de leve.

em uma dessas viagens, percebi que nunca havia realmente pensado em casamento, até esse glorioso ano de 2009, em que tive de encarar o bicho por sua faceta mais escrota: a enviesada. conheci várias mulheres nesse último ano [ou estou mais maduro para perceber pessoas interessantes na multidão], das quais duas foram campeãs. o cruel: ambas “em situação de matrimônio”.

C. tem em torno de 42 anos, jornalista, figura pública, bonita, musical, bem sucedida, carreira sólida, um filho. O mais cruel, e que me desnorteia: tem um senso de humor muito parecido com o meu: ri junto comigo e sabe ser bem sarcástica. isso é foda. F. deve ter uns 30 anos, servidora pública, linda, tímida, inteligente, esforçada, gentil e educada. o mais cruel, e que me desnorteia: não faz a menor idéia do charme que tem. isso é foda. as duas são muito charmosas, casadíssimas e, aparentemente, felizes. o que fazer? nada. sem grandes crises, em ambos os casos, resignei-me e voltei para casa achando que o timing é mesmo uma das coisas mais importantes nos relacionamentos. pensei, em relação a ambas: - porra, foi por pouco. se eu a tivesse conhecido há um ou dois anos.. well. a percepção: em nenhum dos casos fiquei triste. no entanto, não deixei de pensar que poderia pelo menos conhecer melhor, explorar um pouco mais, tomar um café a mais, com a figura.

se a grande maioria se casa numa idade padrão - cedo demais, acho que agora com quase 37 anos, apesar de a seleção natural ter afunilado minhas chances de encontrar um par, conto com o interessante conjunto de opções da “segunda onda”: mulheres que já se divorciaram, que já tiveram filhos, que já venceram profissionalmente. em geral, mulheres, com mais de 35 anos, que – quando não foram vencidas pelo pânico de ficarem sozinhas, se bancam, realizadas e na medida do possível, seguras. esse é o perfil que geralmente tem me atraído. o que aconteceu? em que momento inverti o movimento natural do tio sukita? eu adorava a firmeza das lolitas. agora, gosto de ir ao teatro com suas mães, para ver bianca byington encenar suassuna.

acabo de descobrir que não me lembro da idéia original do texto. a lógica pode ser como aquelas colagens que eu fazia na escolinha, com 2 anos: tecido, tinta, recortes e milho. Uma grande zona. o importante é ser feliz.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

doc e as baratas

aquele koreano esquisito, dono de um moquifinho no upper westside, só não gesticulava mais do que o bermardinho do vôlei, para tentar me convencer a comprar aquele par de doc marten’s: não precisava. em minha primeira viagem internacional, há exatos dez anos, se havia um bem material que adquiriria com certeza, era minha vintage 460 8-hole doc marten’s boots. era sonho de consumo há tempos, ainda não adquirido, menos pelo preço absurdo [cotada em libras], e mais pela dificuldade de encontrar no Brasil. lembro-me de uma vez ter visto uma loljinha em Belo Horizonte, com um único par: roxo. claro, BH tem tradição em butecos, não em botas. outra vez, na saudosa WOM, em Bsb, um “jovem abastado” [provavelmente, um dos garotos do low dream] encomendou uma, que não lhe serviu e o rapaz deixou à venda na loja; essa era preta, eba! mas dois números acima do meu. Foda: homem deve ter pé de homem. mas voltemos à NY.

eu entrara na lojinha, pois havia passado na porta e a vitrine estampava um belo exemplar, novinho, preto e que partecia meu número – falando não-metaforicamente. entrei, olhei, fiquei interessado e pedi para experimentar. o koreano era muito engraçado, parecia o cara do falling down, aquele em que michael douglas enlouquece e sai matando todo mundo [ah, ele podia ter entrado numa central de telemarketing] .. well. como eu havia mostrado interesse total – e muito conhecimento sobre o produto, eu e o koreano conversamos uns 15 minutos, uma eternidade para a cultura pasteurizada do “next in line, sir”! ele tinha uns 40 anos e havia morado em Londres: o cara foi punk! e não parecia de butique, mas punk mesmo, tipo podreira, que dormia em squads, cospia no sapato de executivos limpinhos, arrotava sem cerimônia em qualquer lugar. claro que 20 anos mais velho, a conversa foi permeada por dicas para assentos [detalhe: assentos] na brixton academy, ou os contatos de um cara que conseguia ingressos dos lakers, na pista, por 200 dólares.

bom, papinho vai, conversa vem e o cara continuava argumentando em favor da marca da “costura amarela”. Falou da biqueira de aço, o famoso “steel-toe”. boa, mas eu queria um modelo um pouco menos útil para chutar a galera num show do misfits: sem biqueira de aço. falou da qualidade do cadarço. boa, mas eu queria um pisante que também pudesse usar no trabalho.

após um tempo de discussão, acho que o cara começou a perder a peciência e disse, em inglês ríspido e quase ininteligível:
“you know man, when the nuclear breakdown take place the only two things that is gonna survive: the cucroaches and the doc marten’s boots”! ah garoto! – pensei - apelou para the day after, que havia assistido quinze anos antes. segundo o chang, apenas as baratas [tese lembrada de forma lúgubre pelo filme citado] e as botas doc martens não sucumbiriam, nem mesmo no caso de uma hecatombe nuclear. beleza, o cara é mesmo louco, mas o argumento foi criativo. comprei meu par, que por acaso tem aspecto de novo, mesmo após uma década, e está guardado em Brasília. felizmente, não cheguei a testá-las no caso de guerra atômica..

quinta-feira, 25 de junho de 2009

michael jackson

justa homenagem a um ídolo inquestionável de toda uma geração: http://www.youtube.com/watch?v=BjywI7nc_PQ

RIP, branco ou preto.

domingo, 14 de junho de 2009

.apenas o fim.

já escrevi sobre isso, mas sempre estranhei pessoas que após anos dividindo edredon, refeições, confidências e prazeres, vêem-se, após o término, num campo de batalha, brigando para ver quem “saiu por cima” da relação; quem tinha razão nisso e naquilo; mensurando e comparando o valor dos presentes trocados, se aquela prima deu realmente mole para ele, ou se aquele colega de trabalho queria mesmo pegar a mulher. raiva, rancor e ódio parecem apagar bons e ótimos momentos vividos no passado. nunca entendi isso. poucas vezes fui compreendido por optar – e conseguir, ser amigo de minhas ex-namoradas, com as quais minha relação varia de fantástica a boa. ontem assisti .apenas o fim., de matheus souza, e me senti bem menos solitário nessa percepção.

há muito o cinema descobriu o apelo de um tema que tem capacidade inesgotável de reinvenção e de propor questionamentos: o relacionamento romântico. o filme é um projeto underground de estudantes de cinema da PUC-Rio [todas as externas são gravadas num gostoso passeio pelo campus] e se vale do recurso da metalinguagem para misturar, com humor atual e leveza rara, before sunset e juno. ainda que algumas referências utilizadas sejam mais facilmente apreendidas pela geração pokemon/orkut, as reflexões do casal durante a última conversa antes do término são atemporais e compreensíveis para qualquer um que já se questionou sobre amor, paixão e solidão.

o diretor matheus souza foi muito feliz na escolha do casal de protagonistas – erika mader e o ótimo gregório duvivier, bem como na condução com planos longos, sem muitos cortes, que dá a sensação de um passeio cotidiano pelo campus da PUC-RJ, na companhia dos atores. durante pouco mais de uma hora e meia, o expectador tem a chance de vivenciar a história de amor do improvável casal bonitinha / nerd, por meio de uma linguagem fácil e coloquial. esse recurso facilita a compreensão e, em especial, a identificação com a história. a sutileza no entanto mascara uma séria e contundente discussão sobre relacionamentos.

para mim, o coração da história está no momento em que a personagem de érika defende que quando se vive uma relação franca e intensa, com entrega, o fim torna-se apenas.. o fim. não deve ser lamentado. acho que relações modernas podem encarar o fim apenas como o encerramento de um processo que, se vivenciado plenamente, terá valido e pena. o filme de matheus souza é um delicioso convite a essa reflexão.

sábado, 6 de junho de 2009

do trem azul a merchant

toda vez que leio algo sobre maria rita, lembro-me de elis regina, maior cantora do Brasil, quiçá, uma das melhores do mundo. aprendi a escutar elis por influência de meu pai, que tentou de tudo para que eu fosse fã de MPB: não funcionou. à exceção de elis, sobrou pouca afinidade com a música brasileira cantada devagar, baixinho. mas também não me empurrem para o atual universo lesbos das cantoras, ou as revelações regionais. não, isso não faz minha cabeça. mas com elis era diferente: não sou fã de MPB, mas aquela maluca que gesticulava sem parar nos palcos, tinha uma voz unicamente aveludada. eu nunca havia escutado nada parecido. e com meu pai fui aprendendo aos poucos seu repertório. de pérolas com tinta regional, como romaria, a clåssicos incontestáveis como trem azul, ela é fascinante.

eis que descobri, há exatos dez anos, uma cantora americana que, apesar de estilo totalmente distinto, me lembra muito elis regina: natalie merchant. remanescente da ótima banda ‘ten thousand maniacs’, merchant atinge o tom mais aproximado do veludo, produzido pelo mundo pop. espécie de elis com ascendência irlandesa [óbvio], natalie encanta pelo tom menos potente, porém, igualmente sensível, de sua voz. quer seja com medalhões regravados, aos quais confere inequívoco tom personalizado, como space odity, ou obras-primas fantasiadas de desesperança, como beloved wife, ou the gulf of araby, ela chama atenção, sem querer chamar atenção.

ativista política e social, democrata de carteirinha e criativa, merchant é o tipo que faz um homem pensar: quero uma mulher assim, sem apêndices, sem correções, sem ajustes. porra, não consigo imginar ana carolina gravando um disco em homenagem a allen ginsberg. natalie gravou. tá, e daí? sei lá, eu gostaria de poder escutá-la ao vivo de tempos em tempos. melhor, queria contratá-la para pocket shows particulares mensais. viagens à parte, perdi a oportunidade de vê-la em seu primeiro registro solo ao vivo – live in concert in new yok city, por 4 meses. pena. ana carolina toca no faustão, natalie merchant, não. pena?

ela tem poucos discos, e o melhor deles, para mim, é ophelia, aquele em homenagem à ginsberg. um disco belo, dotado de lirismo raro, letras introspectivas que retratam o universo fluido e etéreo do poeta da lisergia.

por tudo isso, ergamos o pint para um merecido brinde à sra. merchant.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

'stand by me' ludovicense

já se vão mais de 20 anos do inesquecível verão de 1986, na grande são luís do maranhão. eu era um jovem atrapalhadamente tímido e orgulhosamente deslocado. tal perfil retroalimentava hábitos pouco ortodoxos para um menino residente na beira da praria de uma pacata capital nordestina. um deles, cultivado até o presente, é o de ir ao cinema sozinho. sinto um prazer esquisito, sem explicação [nem tanto], e ainda pouco compreendido, que tem muito menos a ver com solidão do que com individualismo. naquele ano, fui ao cine tropical assistir stand by me, atraído pelo roteiro do spielberg, pela música épica de john lennon e, claro, fascinado pelo trailler, assistido um mês antes.

o caminho ao cine tropical, desde a casa da minha vó, passava por um longo [ok, precepção pré-adolecente] terreno baldio que, se não podia ser considerado perigoso, era bem ermo. atravessávamos uns 2 kilômetros de mato, manguezais e estradinhas, para cruzar a segunda metade da ponta do farol [o bairro] e chegar ao tropical, única diversão de então, para a juventude dourada de são luís. eu ainda tinha 12 anos e até então só havia ido ao cinema com amigos, ou pais; nunca sozinho. confesso que ponderei. tinha medo de cruzar o caminho sozinho, não pelos motivos de hoje em dia, mais associados à violência gratuita e absurda – queimam-se índios e pais como quem fuma um baseado, mas receio de mim mesmo, de não achar o caminho, de não conseguir, de.. sei lá, medo. naquela época, andar sozinho me fascinava: e eu associava liderança, esperteza, traquejo, aos meninos que andavam sozinhos, que iam à escola de ônibus, sem os pais, que iam à praia surfar, sem ninguém.

pensei, reli a sinopse do filme: quem era river phoenix?! ah, mas tinha richard dreyfuss, do jaws e close encounters. “grupo de meninos parte em busca de um cadáver em aventura que mudará o curso de suas vidas”, dizia o cartaz. não sei se era apelação marketeira, mas não dava para resistir. fui. e não aconteceu nada demais durante o trajeto. sozinho, a única diferença foi o tempo demorando mais a passar, nada mais. chegando ao cinema, porém, me senti importante pra cacete! porra, tinha 12 anos e conseguira chegar ao cinema, a pé, sozinho. estava para completar uma grande aventura. senti excitação, felicidade, vontade de ir a pé a todos os.. 3 cinemas da cidade. estava realmente feliz. o filme seria a sagração, o ápice do cumprimento dessa fase, mas apenas um detalhe, se comparado à conquista, àquele sentimento de superação tão relaxante, e que na mocidade é inesquecível.

a saga de gordie lachance e seus amigos, contudo, representou muito mais, marcou muito mais do que o esperado. foi minha entrada efetiva na adolecência. a partir daquela tarde quente de verão, filmes não seriam os mesmos para mim, o caminho até o cinema não seria igual – já havia sido conquistado; eu passaria a não mais entender as coisas, perceber fatos e pessoas da mesma forma. o efeito bombástico que a história tem na vida dos quatro amigos misturou-se à minha própria percepção da realidade. da mesma forma que lachance nunca mais veria castle rock – a cidadezinha em que se passa a ação, da mesma forma, são luís havia encolhido para mim, em uma tarde.. eu gostava de viver lá, mas a cidade começava, definitivamente, a parecer menor.

de são luís, fica a saudade de uma época inesquecível, adolecência tranquila, solta e sem pressões, vivida entre a praia e o mangue. do filme, lembro da personagem de dreyfuss – lachance adulto, dizendo que nunca mais teremos amigos como os que tivemos aos 12 anos. não sei se concordo, mas faz sentido..

terça-feira, 5 de maio de 2009

o curioso caso de mickey rourke e marisa tomei


em minha opinião a safra de filmes concorrentes ao Oscar 2009 foi bem profícua, e revelou boas surpresas e algumas não tão surpresas igualmente boas. para ser sincero, acho que desde o memorável ano de 2005 [before sunset, sideways etc.], não havia tantos concorrentes de qualidade. ao longo de duas semanas quentes de fevereiro, devo ter assistido a uns 8 filmes oscarizáveis. gostei de doubt, gostei muito de milk, adorei the reader. entretanto, o filme que me deixou desconcertado foi.. the wrestler. confesso que havia sido atraído pelo tão propagado retorno de mickey rourke à telona, bem como pela deliciosa marisa tomei, provavelmente, a melhor mulher do cinema hoje.

já havia lido sobre a história, e fiquei curioso. resolvi, então, ignorar o enredo brega, e a trilha sonora farofa com groselha. para minha própria satisfação, consegui. e que bom! ao final de uma hora e 43 minutos de filme, olhei para um lado, olhei para o outro [como de praxe, estava sozinho] e não conseguia engolir. a câmera nervosa, e a fotografia cinza não me deixavam rir. eu também não conseguia ficar triste: estava completamente anestesiado pelo filme e tive vergonha de confessar que o achei sensacional.. o melhor filme concorrente ao oscar 2009.

quando estive em Brasília, na semana passada, escutei do meu irmão guto uma opinião muito parecida: ele havia adorado o filme. bastou uma pessoa concordar para que eu, finalmente, não me sentisse um ET! criei coragem para confessar que ainda não havia conseguido digerir a película e ainda estava, dois meses depois, sob seu efeito. não costumo me pautar apenas por elas, mas uma crítica de O Globo sobre o filme me chamou atenção antes mesmo de eu vê-lo. dizia apenas: “mickey rourke beira o sublime”. muito justo. mas faltou dizer que Marisa tomei beira a perfeição. que bom que algumas mulheres com mais de 40 atingem uma maturidade sexy, charmosa, não-dissimulada, espontânea, que dá esperança aos poucos homens e mulheres que ainda não se deixaram seduzir pelo padrão biônico “pernas de roberto carlos” [o jogador, não o cantor] – parafraseando o grande arthur dapieve. que medo eu sentiria ao acordar ao lado da ana maria braga.. já marisa tomei é gente como a gente, ordinary people. perfeita no papel de prostituta correta, cética e desesperançosa que resiste, mas sucumbe ao charme de um desfigurado rourke, lutador decadente de luta livre, que teve seu auge na década de 80 e hoje convive com o fantasma de uma relação catastófrica com a filha lésbica e procura alguma razão para viver.

desde 1993 considero marisa tomei um crescente de charme, segurança, graça e sensualidade. era o ano em que my cousin vinny lhe conferiu um inesperado – mas merecido oscar de atriz coadjuvante. desde 1986 sou igualmente fã de mickey rourke. naquele ano assisti 9 ½ weeks e um ano depois, angel heart, o que sempre considerei seu melhor filme. ele, ao contrário de tomei, entrou numa espiral decadente, pirou, inventou de lutar boxe, injetou silicone no rosto e foi pulverizado ao ostracismo pela própria pateticidade. até agora. o depressivo the wrestler proporcionou a ambos uma chance estrelar um belo filme e, de quebra, oportunidade de redenção para rourke, na vida real e na fantasia do cinema: recebeu uma indicação a melhor ator. não venceu, mas vê-lo junto à sra. tomei esbanjando talento dramático [quem diria..] foi sensacional. assim como rocky balboa tem sua redenção pela pudica adrian [e, claro, pelo boxe], ela é a chance de redenção para randy 'The Ram' robinson. claro, num universo bizarro, paralelo e muito mais real..

em princípio, pode causar estranheza minha intenção de retomar o blog rendendo uma homenagem a mickey rourke; mas é que, para mim, vê-lo junto a marisa tomei nesse nível de simbiose dramática foi.. mais ou menos como ir a um show do the cure no outs em SP, hoje: inesperado. impensável. ótima surpresa.

sábado, 22 de novembro de 2008

putaquepariu, o rio é foda!

- todo mundo fuma; 85% das pessoas que fumam acham que a ponta de cigarro tem perninhas e, depois de estupidamente atirada ao chão, vai procurar o lixo mais próximo para descansar em paz;
- a culpa pelo entupimento de todos os bueiros da cidade, provocando alagamentos genaralizados e potencializando o caos já conhecido, é da altitude.. hahaha!
- 60% dos estabelecimentos comerciais simplesmente não conseguem responder - com precisão – à pergunta: “exatamente a que horas vocês abrem”?
- ninguém, literalmente, consegue dirigir 100 metros sem buzinar como se fosse o fim do mundo;
- sete meses depois, ainda não consegui entender a lógica do trânsito..
- “tem, mas acabou” é frase bem corrente no comércio;
- a cada 100 metros, por onde ando, há lixeiras públicas bem conservadas; servem para muito pouca coisa..
- debaixo do meu bloco, que fica em um bom ponto da zona sul, há uns 6 moradores de rua fixos: ninguém sequer nota mais sua presença;
- sim, um taxista é perfeitamente capaz de deixar o carro ficar no prego de combustível; no meio de sua corrida..
- um côco custa R$ 2,50 em qualquer lugar;
- um túnel é fechado a qualquer momento, simplesmente porque há um tiroteio próximo e traficamentes resolveram tocar o terror em um lugar bem propício;
- não se pode programar uma ida ao aeroporto internaconai sem a margem da possibilidade de tiroteio na linha vermelha: isso é a mais instituída rotina;
- por falar nisso, há mais de 20 anos é difícil distinguir o poder instuituído do poder paralelo;
- ainda não tive coragem de ir ao maracanã: o futebolzinho de domingo é programa a ser lembrado pelos nossos pais;
- quando a temperatura baixa dos 27 graus, as pessoas tiram os casacos, cachecóis e luvas do armário;
- quando a temperatura passa dos 34 graus.. nothing happens;
- a orla de copacabana é linda; mas não se pode bater fotos dela sem correr perigo;

sábado, 25 de outubro de 2008

the good and old RNR!

primeiro foi o inesquecível - e quente para caralho - showzinho dos titãs no ginásio paulo serasate, em fortaleza. era dezembro de 1989 e branco mello ainda cheirava até o rabo: não por um acaso, foi o show mais elétrico que presenciei, com o cara quicando no palco como uma mangueira cortada abruptamente. acho que havia uns oito mil cúmplices da ira, revolta e felicidade da banda. sete anos depois, o fantástico show do the cure no pacaembú acertou as contas com uma paixão adolecente: a banda já não povoava os primeiros lugares das paradas, nem contava com a chupação insuportável da MTV, que transforma taquaras em astros da noite para o dia. mas foi escolhida como headline da edição do hollywood rock de 1996 por um abaixo assinado de vinte mil pessoas. pronto, ali, me tranquilizei e não esperava mais sair de casa, pegar trânsito, suar, ser suado, enfrentar longas e sacais filas, para ver outro show de rock. ainda em brasília, em 2005, presenciei uma feliz exceção: um show de alta qualidade do placebo na concha acústica. mas ainda faltava algo.. até ontem à noite.

já escrevi sobre as maravilhas do ano de 2007 em termos de.. bem, tudo. sobrevivi a ele, mas à exceção disso, não sobrou nada. ou quase nada: descobri a banda the national, surpresa roqueira do “baixo” brooklin, NYC. assim que eles foram confirmados como atração do tim festival, vibrei. ponderei. e resolvi ir ao show. seria o meu primeiro, depois da mudança para terras cariocas. marquei com algumas pessoas de diferentes nichos, mas acabei ficando só: uns furaram, uns venderam o ingresso, outros desmarcaram. e aí? bom, aí, porra nenhuma. peguei o metrô até quase a marina da glória, cobri a pé o resto do trecho e lá cheguei. a arena era bem legal, parecia um ginásio projetado para shows, estimulava a empolgação. a iluminação estava ótima e o som, melhor ainda, apesar das falhas que aconteceriam. no local, modetes, globetes, gostosinhas jovenis, mulheres interessantes, jornalistas.. depois de comprar duas fichas de cerveja, me sentei no chão [cena bonitinha quando se tem 20 anos, mas meio patética quando se é um grisalho de quase 36..]. mal comecei a beber a primeira cerveja quando.. para minha estranheza, o show marcado para 22:30h começa.. às 22:30h!! como assim, show de rock começando pontualmente?? ah, show que respeita o público costuma ser assim.. apesar dos pipocos no som, havia respeito. acontece.

o local estava meio quente, mas era perfeito para o show: uma tenda com cerca de 6 mil pessoas, lotada, mas completamente tranquila, favorecia o congraçamento da tribo roqueira: sem empurra, sem bagunça, sem porrada [ai que saudade de brasília!]. os caras começaram na hora marcada a destilar uma cartela de sucessos para fãs que sabiam cantar as músicas. os que estavam no gargarejo [consegui, tranquilamente] ainda eram premiados com bate-papos quase exclusivos com o vocalista, que tinha muita energia, beirava a epilepsia "ian-curtisiana". foi catártico. não me senti velho. não me senti deslocado. não me senti cansado. me senti bem. a combinação de uma apresentação empolgante, quase “branco-melliana”, total empatia com o público [mais um séquito de fãs], traduziu uma noite memorável. e confirmou algo que há muito já sabia: sou mesmo filho do rock.

mantive a média de ir a um show inesquecível por década. e o bom é que daqui a dois anos começa uma outra.. espero que o rock continue dando bons frutos capazes de quebrar minhas resistências idiossincráticas. como escreveu angeli em crônica de 1986: “tudo passa, até a mpb, mas o rock é eterno”.

ponto baixo da noite: estava difícil escolher.. até eu presenciar o supla do meu lado, de terno rosa. fazia poses e esperava os fotógrafos se amontoarem para mais poses e mais clicks. caralho, o cara deveria ajoelhar-se e pedir perdão ao termo ‘punk’!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sueli, uma breve história carioca..

tarde - quente - de quinta-feira, escritório da UNESCO no rj:
[mactubby olha o meio dedo de pó sobre a mesa..]
- quem é responsável por limpar essas salas? - pergunto para a jovem, que entra uniformizada e com espanador na mão, em minha sala;
- ah, não sei não senhor. eu comecei ontem..
- mas vc está limpando a sala..
- não. estou apenas recolhendo o lixo.
- e quem limpa a sala?
- eu só faço o que me pedem e não me pediram para limpar..
- e se eu lhe pedir?
- acho que só amanhã, afinal, já são 16:13h..
- tipo, como assim??
- só trabalho até 17h. e tem muito cesto de lixo para recolher.
- no prédio todo?
- não, nesse andar.. [tipo, há três organizações, vá lá, uns 30 cestos]
- tá bom. amanhã você pode limpar?
- ah, lembrei que eu não venho amanhã..
- como assim, você não trabalha sexta?
- trabalho, mas tirei folga amanhã.
- mas você acabou de começar.. tudo bem, quem limpará as salas amanhã?
- ninguém.
- e segunda, você pode limpar?
- posso, mas o senhor tem de me lembrar, pois é muita sala e eu esqueço..
- como é mesmo seu nome, minha jovem????
- sueli.
- obrigado, sueli.

sábado, 6 de setembro de 2008

o que as mulheres querem?

quase não assisto mais TV. no caso de TV aberta, as exceções são um pedaço eventual de jornal nacional, o final de bom dia brasil, enquanto amarro os sapatos antes de sair para o trabalho e, de vez em quando, um jogo de futebol. mas um dia desses, assisti what women want - o que as mulheres querem. bem bobo, despretensioso e engraçadinho. mas o título tem força, provoca. já o havia assistido há uns dois anos no cinema, mas não contava com a percepção, digamos, mais madura que tenho hoje. comecei a prestar atenção nas entrelinhas. mel gibson está ótimo como quarentão conquistador que, depois de um acidente, desenvolve a habilidade de escutar o pensamento das mulheres. boa escolha, já que o ator equilibra bem sua veía cômica com charme um pouco canastrão. a linda e oscarizada helen hunt é sua concorrente no trabalho e par romântico - sou seu fã desde o belo e injustiçado stealing home, de 1988.

o filme acabou me estimulando a reflexão: e se fosse realmente possível? o que aconteceria? o sujeito que possuísse o dom seria um ‘deus’ com o sexo oposto? não necessariamente. gente idiota com mais dinheiro é apenas gente idiota gastando mais em coisas idiotas, maximizando seu potencial de ser idiota. provavelmente um idiota com esse dom, seria apenas um idiota a mais, escutando coisas idiotas de mulheres idiotas e não percebendo coisas interessantes de mulheres interessantes. sua experiência de vida e referenciais não lhe permitiriam prestar realmente atenção nos anseios e nas angústias do sexo oposto.

no filme, o x da questão é exatamente não haver um x. mel gibson descobre o óbvio ululante: a habilidade de ler o pensamento das mulheres serve bem para mostrar como os dois gêneros têm percepções e expectativas diferentes em relação ao outro, mas os sentimentos os colocam de forma curiosamente insegura frente ao sexo oposto. é exatamente a insegurança o ponto que nos aproxima. porra, se o mundo se convecesse disso! os sentimentos são parecidos, mas não se pode igualá-los. em geral, as mulheres querem um provedor, mas que as respeite, as estimule no trabalho, entenda sua cabeça e as complete sexualmente. já os homens querem uma gigantesca aventura, que dure o tempo em que durar a relação, o casamento, o namoro. mas que entenda sua poligamia crônica.. querem uma mulher safada o bastante pra despertar seu lado animal, macho. mas essa mulher tem de ser caseira e pudica o suficiente para contemplar uma expectativa socialmente construída ao longo dos anos, e que se refere à figura da reprodutora. e pior que esse é um dos casos em que o evoluído “caminho do meio” é muito difícil de ser atingido. por isso encontramos mulheres insatisfeitas em casamentos enferrujados e homens casados para quem ter amantes é algo tão natural como comprar cerveja. afinal, com tanta coisa importante na vida, para quê se preocupar?

o fato é que nos tornamos tão preguiçosos e acostumados à rotina, que muitos homens e mulheres têm dificuldade para perceber a imperfeição absoluta do modelo sócio-cultural de relação, institucionalizado no ocidente. a revolução sexual cumpriu seu papel, teve seu revés, deu tiro no próprio pé feminino mas conseguiu, de fato, alguns avanços muito significaivos. no entanto, acabou isolando mais as pessoas e as contribuições excepcionais de “marias da penha” creditam-se mais ao brilhantismo de agentes isolados como essa senhora, do que ao êxito de políticas públicas ou mesmo de mudanças estruturais nas relações sociais. afinal, a regra para a grande maioria ainda é: nascer, crescer, arrumar emprego, casar-se e conseguir um financiamento habitacional. e pronto, missão cumprida. será?

esse modelo é percebido e apreendido de formas diferentes pelos gêneros, apesar das semelhanças. mas em meio a esses desencontros, entendo como ponto pacífico o fato de que todos esperam encontrar alguém. varia a intensidade com que o mito venenoso da “alma gêmea” é internalizado. mas infelizmente ele ainda é entendido como verdade insofismável. homens e mulheres o perseguem, ainda que de formas distintas, mais ou menos assumidas.
mas se a meta é comum, porque há tantos desencontros e dificuldade para aceitar a maneira como cada um entende e se encaixa nessa busca? há diversas possíveis explicações.

penso que uma delas esteja exatamente na maneira como llidamos com a solidão. associou-se, historicamente, solidão à tristeza, ao insucesso, ao fracasso. mas estar sozinho pode não necessariamente significar ser solitário. o que deveria ser uma simples, tranquila, corriqueira hipótese na vida solidificou-se como um dos piores medos contemporâneos: viver só. mas pais e professores se esquecem de nos contar que a matemática da alma gêmea é um pouco mais cruel do que parece: nem todas as pessoas encontram um par com quem valha a pena dividir um filme, impressões [inclusive sobre a solidão] e, quem sabe, as escovas de dentes. menos pessoas são realmente felizes com esse par, tendo nele[a] um[a] companheiro[a], alguém com quem têm prazer em conviver e não um foco de stress e pequenas disputas. que bom que há yoga e bons psicólogos..

para sermos felizes - homens e mulheres - as relações devem ser “desidilizadas”, de certa forma, até desglamourizadas. devemos vivenciar um romance de forma gostosa, prazerosa, mas real, admitindo, inclusive, a possibilidade de essa paixão cinematográfica nunca acontecer. é louco, mas quando assumimos e aceitamos essa possibilidade, as chances de vivermos uma relação assim são bem maiores. é esse o propósito, é o que eu busco. acho que é o que as mulheres - às vezes inconscientemente - querem.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

beijing-2008



não sou fã ou expectador assíduo de esportes. na verdade, sou meio-bem-pouco-brasileiro por vezes: não gosto de sol, nem de samba, nem de barulho, nem de churrasco, nem de areia de praia, nem de acompanhar futebol. adoro e acompanho o circuito de tênis; adoro e pratico corrida há vários anos. além disso, apenas uma manifestaçãozinha de apreço esportivo aqui, outra acolá. não vou escrever sobre os jogos de Pequim, mas há êxitos louváveis, como maureen maggi e robert scheidt; boas surpresas, como as meninas simpáticas da vela, e mesmo o thiago pereira. há fiascos inesperados como jadel gregório, e rizíveis, como diego hipólito. mas há piadas de mau gosto, como a eliminação do brasil para argentina, no futebol masculino. para quebrar a rotina do blog, foi minha intenção registrar - em tom satírico - esse fiasco. para não ser cruel além da conta, resolvi prestar justa homenagem à seleção argentina - fazendo uma pequena adequação de formato, modalidade e ângulo..talvez no hóquei sobre a grama a gente consiga vencer las leonas.
[assinatura do net combo: 190,00; ter o prazer inenarrável de poder não ouvir a voz do galvão bueno, literalmente, não tem preço]