quinta-feira, 2 de julho de 2009

doc e as baratas

aquele koreano esquisito, dono de um moquifinho no upper westside, só não gesticulava mais do que o bermardinho do vôlei, para tentar me convencer a comprar aquele par de doc marten’s: não precisava. em minha primeira viagem internacional, há exatos dez anos, se havia um bem material que adquiriria com certeza, era minha vintage 460 8-hole doc marten’s boots. era sonho de consumo há tempos, ainda não adquirido, menos pelo preço absurdo [cotada em libras], e mais pela dificuldade de encontrar no Brasil. lembro-me de uma vez ter visto uma loljinha em Belo Horizonte, com um único par: roxo. claro, BH tem tradição em butecos, não em botas. outra vez, na saudosa WOM, em Bsb, um “jovem abastado” [provavelmente, um dos garotos do low dream] encomendou uma, que não lhe serviu e o rapaz deixou à venda na loja; essa era preta, eba! mas dois números acima do meu. Foda: homem deve ter pé de homem. mas voltemos à NY.

eu entrara na lojinha, pois havia passado na porta e a vitrine estampava um belo exemplar, novinho, preto e que partecia meu número – falando não-metaforicamente. entrei, olhei, fiquei interessado e pedi para experimentar. o koreano era muito engraçado, parecia o cara do falling down, aquele em que michael douglas enlouquece e sai matando todo mundo [ah, ele podia ter entrado numa central de telemarketing] .. well. como eu havia mostrado interesse total – e muito conhecimento sobre o produto, eu e o koreano conversamos uns 15 minutos, uma eternidade para a cultura pasteurizada do “next in line, sir”! ele tinha uns 40 anos e havia morado em Londres: o cara foi punk! e não parecia de butique, mas punk mesmo, tipo podreira, que dormia em squads, cospia no sapato de executivos limpinhos, arrotava sem cerimônia em qualquer lugar. claro que 20 anos mais velho, a conversa foi permeada por dicas para assentos [detalhe: assentos] na brixton academy, ou os contatos de um cara que conseguia ingressos dos lakers, na pista, por 200 dólares.

bom, papinho vai, conversa vem e o cara continuava argumentando em favor da marca da “costura amarela”. Falou da biqueira de aço, o famoso “steel-toe”. boa, mas eu queria um modelo um pouco menos útil para chutar a galera num show do misfits: sem biqueira de aço. falou da qualidade do cadarço. boa, mas eu queria um pisante que também pudesse usar no trabalho.

após um tempo de discussão, acho que o cara começou a perder a peciência e disse, em inglês ríspido e quase ininteligível:
“you know man, when the nuclear breakdown take place the only two things that is gonna survive: the cucroaches and the doc marten’s boots”! ah garoto! – pensei - apelou para the day after, que havia assistido quinze anos antes. segundo o chang, apenas as baratas [tese lembrada de forma lúgubre pelo filme citado] e as botas doc martens não sucumbiriam, nem mesmo no caso de uma hecatombe nuclear. beleza, o cara é mesmo louco, mas o argumento foi criativo. comprei meu par, que por acaso tem aspecto de novo, mesmo após uma década, e está guardado em Brasília. felizmente, não cheguei a testá-las no caso de guerra atômica..

quinta-feira, 25 de junho de 2009

michael jackson

justa homenagem a um ídolo inquestionável de toda uma geração: http://www.youtube.com/watch?v=BjywI7nc_PQ

RIP, branco ou preto.

domingo, 14 de junho de 2009

.apenas o fim.

já escrevi sobre isso, mas sempre estranhei pessoas que após anos dividindo edredon, refeições, confidências e prazeres, vêem-se, após o término, num campo de batalha, brigando para ver quem “saiu por cima” da relação; quem tinha razão nisso e naquilo; mensurando e comparando o valor dos presentes trocados, se aquela prima deu realmente mole para ele, ou se aquele colega de trabalho queria mesmo pegar a mulher. raiva, rancor e ódio parecem apagar bons e ótimos momentos vividos no passado. nunca entendi isso. poucas vezes fui compreendido por optar – e conseguir, ser amigo de minhas ex-namoradas, com as quais minha relação varia de fantástica a boa. ontem assisti .apenas o fim., de matheus souza, e me senti bem menos solitário nessa percepção.

há muito o cinema descobriu o apelo de um tema que tem capacidade inesgotável de reinvenção e de propor questionamentos: o relacionamento romântico. o filme é um projeto underground de estudantes de cinema da PUC-Rio [todas as externas são gravadas num gostoso passeio pelo campus] e se vale do recurso da metalinguagem para misturar, com humor atual e leveza rara, before sunset e juno. ainda que algumas referências utilizadas sejam mais facilmente apreendidas pela geração pokemon/orkut, as reflexões do casal durante a última conversa antes do término são atemporais e compreensíveis para qualquer um que já se questionou sobre amor, paixão e solidão.

o diretor matheus souza foi muito feliz na escolha do casal de protagonistas – erika mader e o ótimo gregório duvivier, bem como na condução com planos longos, sem muitos cortes, que dá a sensação de um passeio cotidiano pelo campus da PUC-RJ, na companhia dos atores. durante pouco mais de uma hora e meia, o expectador tem a chance de vivenciar a história de amor do improvável casal bonitinha / nerd, por meio de uma linguagem fácil e coloquial. esse recurso facilita a compreensão e, em especial, a identificação com a história. a sutileza no entanto mascara uma séria e contundente discussão sobre relacionamentos.

para mim, o coração da história está no momento em que a personagem de érika defende que quando se vive uma relação franca e intensa, com entrega, o fim torna-se apenas.. o fim. não deve ser lamentado. acho que relações modernas podem encarar o fim apenas como o encerramento de um processo que, se vivenciado plenamente, terá valido e pena. o filme de matheus souza é um delicioso convite a essa reflexão.

sábado, 6 de junho de 2009

do trem azul a merchant

toda vez que leio algo sobre maria rita, lembro-me de elis regina, maior cantora do Brasil, quiçá, uma das melhores do mundo. aprendi a escutar elis por influência de meu pai, que tentou de tudo para que eu fosse fã de MPB: não funcionou. à exceção de elis, sobrou pouca afinidade com a música brasileira cantada devagar, baixinho. mas também não me empurrem para o atual universo lesbos das cantoras, ou as revelações regionais. não, isso não faz minha cabeça. mas com elis era diferente: não sou fã de MPB, mas aquela maluca que gesticulava sem parar nos palcos, tinha uma voz unicamente aveludada. eu nunca havia escutado nada parecido. e com meu pai fui aprendendo aos poucos seu repertório. de pérolas com tinta regional, como romaria, a clåssicos incontestáveis como trem azul, ela é fascinante.

eis que descobri, há exatos dez anos, uma cantora americana que, apesar de estilo totalmente distinto, me lembra muito elis regina: natalie merchant. remanescente da ótima banda ‘ten thousand maniacs’, merchant atinge o tom mais aproximado do veludo, produzido pelo mundo pop. espécie de elis com ascendência irlandesa [óbvio], natalie encanta pelo tom menos potente, porém, igualmente sensível, de sua voz. quer seja com medalhões regravados, aos quais confere inequívoco tom personalizado, como space odity, ou obras-primas fantasiadas de desesperança, como beloved wife, ou the gulf of araby, ela chama atenção, sem querer chamar atenção.

ativista política e social, democrata de carteirinha e criativa, merchant é o tipo que faz um homem pensar: quero uma mulher assim, sem apêndices, sem correções, sem ajustes. porra, não consigo imginar ana carolina gravando um disco em homenagem a allen ginsberg. natalie gravou. tá, e daí? sei lá, eu gostaria de poder escutá-la ao vivo de tempos em tempos. melhor, queria contratá-la para pocket shows particulares mensais. viagens à parte, perdi a oportunidade de vê-la em seu primeiro registro solo ao vivo – live in concert in new yok city, por 4 meses. pena. ana carolina toca no faustão, natalie merchant, não. pena?

ela tem poucos discos, e o melhor deles, para mim, é ophelia, aquele em homenagem à ginsberg. um disco belo, dotado de lirismo raro, letras introspectivas que retratam o universo fluido e etéreo do poeta da lisergia.

por tudo isso, ergamos o pint para um merecido brinde à sra. merchant.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

'stand by me' ludovicense

já se vão mais de 20 anos do inesquecível verão de 1986, na grande são luís do maranhão. eu era um jovem atrapalhadamente tímido e orgulhosamente deslocado. tal perfil retroalimentava hábitos pouco ortodoxos para um menino residente na beira da praria de uma pacata capital nordestina. um deles, cultivado até o presente, é o de ir ao cinema sozinho. sinto um prazer esquisito, sem explicação [nem tanto], e ainda pouco compreendido, que tem muito menos a ver com solidão do que com individualismo. naquele ano, fui ao cine tropical assistir stand by me, atraído pelo roteiro do spielberg, pela música épica de john lennon e, claro, fascinado pelo trailler, assistido um mês antes.

o caminho ao cine tropical, desde a casa da minha vó, passava por um longo [ok, precepção pré-adolecente] terreno baldio que, se não podia ser considerado perigoso, era bem ermo. atravessávamos uns 2 kilômetros de mato, manguezais e estradinhas, para cruzar a segunda metade da ponta do farol [o bairro] e chegar ao tropical, única diversão de então, para a juventude dourada de são luís. eu ainda tinha 12 anos e até então só havia ido ao cinema com amigos, ou pais; nunca sozinho. confesso que ponderei. tinha medo de cruzar o caminho sozinho, não pelos motivos de hoje em dia, mais associados à violência gratuita e absurda – queimam-se índios e pais como quem fuma um baseado, mas receio de mim mesmo, de não achar o caminho, de não conseguir, de.. sei lá, medo. naquela época, andar sozinho me fascinava: e eu associava liderança, esperteza, traquejo, aos meninos que andavam sozinhos, que iam à escola de ônibus, sem os pais, que iam à praia surfar, sem ninguém.

pensei, reli a sinopse do filme: quem era river phoenix?! ah, mas tinha richard dreyfuss, do jaws e close encounters. “grupo de meninos parte em busca de um cadáver em aventura que mudará o curso de suas vidas”, dizia o cartaz. não sei se era apelação marketeira, mas não dava para resistir. fui. e não aconteceu nada demais durante o trajeto. sozinho, a única diferença foi o tempo demorando mais a passar, nada mais. chegando ao cinema, porém, me senti importante pra cacete! porra, tinha 12 anos e conseguira chegar ao cinema, a pé, sozinho. estava para completar uma grande aventura. senti excitação, felicidade, vontade de ir a pé a todos os.. 3 cinemas da cidade. estava realmente feliz. o filme seria a sagração, o ápice do cumprimento dessa fase, mas apenas um detalhe, se comparado à conquista, àquele sentimento de superação tão relaxante, e que na mocidade é inesquecível.

a saga de gordie lachance e seus amigos, contudo, representou muito mais, marcou muito mais do que o esperado. foi minha entrada efetiva na adolecência. a partir daquela tarde quente de verão, filmes não seriam os mesmos para mim, o caminho até o cinema não seria igual – já havia sido conquistado; eu passaria a não mais entender as coisas, perceber fatos e pessoas da mesma forma. o efeito bombástico que a história tem na vida dos quatro amigos misturou-se à minha própria percepção da realidade. da mesma forma que lachance nunca mais veria castle rock – a cidadezinha em que se passa a ação, da mesma forma, são luís havia encolhido para mim, em uma tarde.. eu gostava de viver lá, mas a cidade começava, definitivamente, a parecer menor.

de são luís, fica a saudade de uma época inesquecível, adolecência tranquila, solta e sem pressões, vivida entre a praia e o mangue. do filme, lembro da personagem de dreyfuss – lachance adulto, dizendo que nunca mais teremos amigos como os que tivemos aos 12 anos. não sei se concordo, mas faz sentido..

terça-feira, 5 de maio de 2009

o curioso caso de mickey rourke e marisa tomei


em minha opinião a safra de filmes concorrentes ao Oscar 2009 foi bem profícua, e revelou boas surpresas e algumas não tão surpresas igualmente boas. para ser sincero, acho que desde o memorável ano de 2005 [before sunset, sideways etc.], não havia tantos concorrentes de qualidade. ao longo de duas semanas quentes de fevereiro, devo ter assistido a uns 8 filmes oscarizáveis. gostei de doubt, gostei muito de milk, adorei the reader. entretanto, o filme que me deixou desconcertado foi.. the wrestler. confesso que havia sido atraído pelo tão propagado retorno de mickey rourke à telona, bem como pela deliciosa marisa tomei, provavelmente, a melhor mulher do cinema hoje.

já havia lido sobre a história, e fiquei curioso. resolvi, então, ignorar o enredo brega, e a trilha sonora farofa com groselha. para minha própria satisfação, consegui. e que bom! ao final de uma hora e 43 minutos de filme, olhei para um lado, olhei para o outro [como de praxe, estava sozinho] e não conseguia engolir. a câmera nervosa, e a fotografia cinza não me deixavam rir. eu também não conseguia ficar triste: estava completamente anestesiado pelo filme e tive vergonha de confessar que o achei sensacional.. o melhor filme concorrente ao oscar 2009.

quando estive em Brasília, na semana passada, escutei do meu irmão guto uma opinião muito parecida: ele havia adorado o filme. bastou uma pessoa concordar para que eu, finalmente, não me sentisse um ET! criei coragem para confessar que ainda não havia conseguido digerir a película e ainda estava, dois meses depois, sob seu efeito. não costumo me pautar apenas por elas, mas uma crítica de O Globo sobre o filme me chamou atenção antes mesmo de eu vê-lo. dizia apenas: “mickey rourke beira o sublime”. muito justo. mas faltou dizer que Marisa tomei beira a perfeição. que bom que algumas mulheres com mais de 40 atingem uma maturidade sexy, charmosa, não-dissimulada, espontânea, que dá esperança aos poucos homens e mulheres que ainda não se deixaram seduzir pelo padrão biônico “pernas de roberto carlos” [o jogador, não o cantor] – parafraseando o grande arthur dapieve. que medo eu sentiria ao acordar ao lado da ana maria braga.. já marisa tomei é gente como a gente, ordinary people. perfeita no papel de prostituta correta, cética e desesperançosa que resiste, mas sucumbe ao charme de um desfigurado rourke, lutador decadente de luta livre, que teve seu auge na década de 80 e hoje convive com o fantasma de uma relação catastófrica com a filha lésbica e procura alguma razão para viver.

desde 1993 considero marisa tomei um crescente de charme, segurança, graça e sensualidade. era o ano em que my cousin vinny lhe conferiu um inesperado – mas merecido oscar de atriz coadjuvante. desde 1986 sou igualmente fã de mickey rourke. naquele ano assisti 9 ½ weeks e um ano depois, angel heart, o que sempre considerei seu melhor filme. ele, ao contrário de tomei, entrou numa espiral decadente, pirou, inventou de lutar boxe, injetou silicone no rosto e foi pulverizado ao ostracismo pela própria pateticidade. até agora. o depressivo the wrestler proporcionou a ambos uma chance estrelar um belo filme e, de quebra, oportunidade de redenção para rourke, na vida real e na fantasia do cinema: recebeu uma indicação a melhor ator. não venceu, mas vê-lo junto à sra. tomei esbanjando talento dramático [quem diria..] foi sensacional. assim como rocky balboa tem sua redenção pela pudica adrian [e, claro, pelo boxe], ela é a chance de redenção para randy 'The Ram' robinson. claro, num universo bizarro, paralelo e muito mais real..

em princípio, pode causar estranheza minha intenção de retomar o blog rendendo uma homenagem a mickey rourke; mas é que, para mim, vê-lo junto a marisa tomei nesse nível de simbiose dramática foi.. mais ou menos como ir a um show do the cure no outs em SP, hoje: inesperado. impensável. ótima surpresa.

sábado, 22 de novembro de 2008

putaquepariu, o rio é foda!

- todo mundo fuma; 85% das pessoas que fumam acham que a ponta de cigarro tem perninhas e, depois de estupidamente atirada ao chão, vai procurar o lixo mais próximo para descansar em paz;
- a culpa pelo entupimento de todos os bueiros da cidade, provocando alagamentos genaralizados e potencializando o caos já conhecido, é da altitude.. hahaha!
- 60% dos estabelecimentos comerciais simplesmente não conseguem responder - com precisão – à pergunta: “exatamente a que horas vocês abrem”?
- ninguém, literalmente, consegue dirigir 100 metros sem buzinar como se fosse o fim do mundo;
- sete meses depois, ainda não consegui entender a lógica do trânsito..
- “tem, mas acabou” é frase bem corrente no comércio;
- a cada 100 metros, por onde ando, há lixeiras públicas bem conservadas; servem para muito pouca coisa..
- debaixo do meu bloco, que fica em um bom ponto da zona sul, há uns 6 moradores de rua fixos: ninguém sequer nota mais sua presença;
- sim, um taxista é perfeitamente capaz de deixar o carro ficar no prego de combustível; no meio de sua corrida..
- um côco custa R$ 2,50 em qualquer lugar;
- um túnel é fechado a qualquer momento, simplesmente porque há um tiroteio próximo e traficamentes resolveram tocar o terror em um lugar bem propício;
- não se pode programar uma ida ao aeroporto internaconai sem a margem da possibilidade de tiroteio na linha vermelha: isso é a mais instituída rotina;
- por falar nisso, há mais de 20 anos é difícil distinguir o poder instuituído do poder paralelo;
- ainda não tive coragem de ir ao maracanã: o futebolzinho de domingo é programa a ser lembrado pelos nossos pais;
- quando a temperatura baixa dos 27 graus, as pessoas tiram os casacos, cachecóis e luvas do armário;
- quando a temperatura passa dos 34 graus.. nothing happens;
- a orla de copacabana é linda; mas não se pode bater fotos dela sem correr perigo;

sábado, 25 de outubro de 2008

the good and old RNR!

primeiro foi o inesquecível - e quente para caralho - showzinho dos titãs no ginásio paulo serasate, em fortaleza. era dezembro de 1989 e branco mello ainda cheirava até o rabo: não por um acaso, foi o show mais elétrico que presenciei, com o cara quicando no palco como uma mangueira cortada abruptamente. acho que havia uns oito mil cúmplices da ira, revolta e felicidade da banda. sete anos depois, o fantástico show do the cure no pacaembú acertou as contas com uma paixão adolecente: a banda já não povoava os primeiros lugares das paradas, nem contava com a chupação insuportável da MTV, que transforma taquaras em astros da noite para o dia. mas foi escolhida como headline da edição do hollywood rock de 1996 por um abaixo assinado de vinte mil pessoas. pronto, ali, me tranquilizei e não esperava mais sair de casa, pegar trânsito, suar, ser suado, enfrentar longas e sacais filas, para ver outro show de rock. ainda em brasília, em 2005, presenciei uma feliz exceção: um show de alta qualidade do placebo na concha acústica. mas ainda faltava algo.. até ontem à noite.

já escrevi sobre as maravilhas do ano de 2007 em termos de.. bem, tudo. sobrevivi a ele, mas à exceção disso, não sobrou nada. ou quase nada: descobri a banda the national, surpresa roqueira do “baixo” brooklin, NYC. assim que eles foram confirmados como atração do tim festival, vibrei. ponderei. e resolvi ir ao show. seria o meu primeiro, depois da mudança para terras cariocas. marquei com algumas pessoas de diferentes nichos, mas acabei ficando só: uns furaram, uns venderam o ingresso, outros desmarcaram. e aí? bom, aí, porra nenhuma. peguei o metrô até quase a marina da glória, cobri a pé o resto do trecho e lá cheguei. a arena era bem legal, parecia um ginásio projetado para shows, estimulava a empolgação. a iluminação estava ótima e o som, melhor ainda, apesar das falhas que aconteceriam. no local, modetes, globetes, gostosinhas jovenis, mulheres interessantes, jornalistas.. depois de comprar duas fichas de cerveja, me sentei no chão [cena bonitinha quando se tem 20 anos, mas meio patética quando se é um grisalho de quase 36..]. mal comecei a beber a primeira cerveja quando.. para minha estranheza, o show marcado para 22:30h começa.. às 22:30h!! como assim, show de rock começando pontualmente?? ah, show que respeita o público costuma ser assim.. apesar dos pipocos no som, havia respeito. acontece.

o local estava meio quente, mas era perfeito para o show: uma tenda com cerca de 6 mil pessoas, lotada, mas completamente tranquila, favorecia o congraçamento da tribo roqueira: sem empurra, sem bagunça, sem porrada [ai que saudade de brasília!]. os caras começaram na hora marcada a destilar uma cartela de sucessos para fãs que sabiam cantar as músicas. os que estavam no gargarejo [consegui, tranquilamente] ainda eram premiados com bate-papos quase exclusivos com o vocalista, que tinha muita energia, beirava a epilepsia "ian-curtisiana". foi catártico. não me senti velho. não me senti deslocado. não me senti cansado. me senti bem. a combinação de uma apresentação empolgante, quase “branco-melliana”, total empatia com o público [mais um séquito de fãs], traduziu uma noite memorável. e confirmou algo que há muito já sabia: sou mesmo filho do rock.

mantive a média de ir a um show inesquecível por década. e o bom é que daqui a dois anos começa uma outra.. espero que o rock continue dando bons frutos capazes de quebrar minhas resistências idiossincráticas. como escreveu angeli em crônica de 1986: “tudo passa, até a mpb, mas o rock é eterno”.

ponto baixo da noite: estava difícil escolher.. até eu presenciar o supla do meu lado, de terno rosa. fazia poses e esperava os fotógrafos se amontoarem para mais poses e mais clicks. caralho, o cara deveria ajoelhar-se e pedir perdão ao termo ‘punk’!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sueli, uma breve história carioca..

tarde - quente - de quinta-feira, escritório da UNESCO no rj:
[mactubby olha o meio dedo de pó sobre a mesa..]
- quem é responsável por limpar essas salas? - pergunto para a jovem, que entra uniformizada e com espanador na mão, em minha sala;
- ah, não sei não senhor. eu comecei ontem..
- mas vc está limpando a sala..
- não. estou apenas recolhendo o lixo.
- e quem limpa a sala?
- eu só faço o que me pedem e não me pediram para limpar..
- e se eu lhe pedir?
- acho que só amanhã, afinal, já são 16:13h..
- tipo, como assim??
- só trabalho até 17h. e tem muito cesto de lixo para recolher.
- no prédio todo?
- não, nesse andar.. [tipo, há três organizações, vá lá, uns 30 cestos]
- tá bom. amanhã você pode limpar?
- ah, lembrei que eu não venho amanhã..
- como assim, você não trabalha sexta?
- trabalho, mas tirei folga amanhã.
- mas você acabou de começar.. tudo bem, quem limpará as salas amanhã?
- ninguém.
- e segunda, você pode limpar?
- posso, mas o senhor tem de me lembrar, pois é muita sala e eu esqueço..
- como é mesmo seu nome, minha jovem????
- sueli.
- obrigado, sueli.

sábado, 6 de setembro de 2008

o que as mulheres querem?

quase não assisto mais TV. no caso de TV aberta, as exceções são um pedaço eventual de jornal nacional, o final de bom dia brasil, enquanto amarro os sapatos antes de sair para o trabalho e, de vez em quando, um jogo de futebol. mas um dia desses, assisti what women want - o que as mulheres querem. bem bobo, despretensioso e engraçadinho. mas o título tem força, provoca. já o havia assistido há uns dois anos no cinema, mas não contava com a percepção, digamos, mais madura que tenho hoje. comecei a prestar atenção nas entrelinhas. mel gibson está ótimo como quarentão conquistador que, depois de um acidente, desenvolve a habilidade de escutar o pensamento das mulheres. boa escolha, já que o ator equilibra bem sua veía cômica com charme um pouco canastrão. a linda e oscarizada helen hunt é sua concorrente no trabalho e par romântico - sou seu fã desde o belo e injustiçado stealing home, de 1988.

o filme acabou me estimulando a reflexão: e se fosse realmente possível? o que aconteceria? o sujeito que possuísse o dom seria um ‘deus’ com o sexo oposto? não necessariamente. gente idiota com mais dinheiro é apenas gente idiota gastando mais em coisas idiotas, maximizando seu potencial de ser idiota. provavelmente um idiota com esse dom, seria apenas um idiota a mais, escutando coisas idiotas de mulheres idiotas e não percebendo coisas interessantes de mulheres interessantes. sua experiência de vida e referenciais não lhe permitiriam prestar realmente atenção nos anseios e nas angústias do sexo oposto.

no filme, o x da questão é exatamente não haver um x. mel gibson descobre o óbvio ululante: a habilidade de ler o pensamento das mulheres serve bem para mostrar como os dois gêneros têm percepções e expectativas diferentes em relação ao outro, mas os sentimentos os colocam de forma curiosamente insegura frente ao sexo oposto. é exatamente a insegurança o ponto que nos aproxima. porra, se o mundo se convecesse disso! os sentimentos são parecidos, mas não se pode igualá-los. em geral, as mulheres querem um provedor, mas que as respeite, as estimule no trabalho, entenda sua cabeça e as complete sexualmente. já os homens querem uma gigantesca aventura, que dure o tempo em que durar a relação, o casamento, o namoro. mas que entenda sua poligamia crônica.. querem uma mulher safada o bastante pra despertar seu lado animal, macho. mas essa mulher tem de ser caseira e pudica o suficiente para contemplar uma expectativa socialmente construída ao longo dos anos, e que se refere à figura da reprodutora. e pior que esse é um dos casos em que o evoluído “caminho do meio” é muito difícil de ser atingido. por isso encontramos mulheres insatisfeitas em casamentos enferrujados e homens casados para quem ter amantes é algo tão natural como comprar cerveja. afinal, com tanta coisa importante na vida, para quê se preocupar?

o fato é que nos tornamos tão preguiçosos e acostumados à rotina, que muitos homens e mulheres têm dificuldade para perceber a imperfeição absoluta do modelo sócio-cultural de relação, institucionalizado no ocidente. a revolução sexual cumpriu seu papel, teve seu revés, deu tiro no próprio pé feminino mas conseguiu, de fato, alguns avanços muito significaivos. no entanto, acabou isolando mais as pessoas e as contribuições excepcionais de “marias da penha” creditam-se mais ao brilhantismo de agentes isolados como essa senhora, do que ao êxito de políticas públicas ou mesmo de mudanças estruturais nas relações sociais. afinal, a regra para a grande maioria ainda é: nascer, crescer, arrumar emprego, casar-se e conseguir um financiamento habitacional. e pronto, missão cumprida. será?

esse modelo é percebido e apreendido de formas diferentes pelos gêneros, apesar das semelhanças. mas em meio a esses desencontros, entendo como ponto pacífico o fato de que todos esperam encontrar alguém. varia a intensidade com que o mito venenoso da “alma gêmea” é internalizado. mas infelizmente ele ainda é entendido como verdade insofismável. homens e mulheres o perseguem, ainda que de formas distintas, mais ou menos assumidas.
mas se a meta é comum, porque há tantos desencontros e dificuldade para aceitar a maneira como cada um entende e se encaixa nessa busca? há diversas possíveis explicações.

penso que uma delas esteja exatamente na maneira como llidamos com a solidão. associou-se, historicamente, solidão à tristeza, ao insucesso, ao fracasso. mas estar sozinho pode não necessariamente significar ser solitário. o que deveria ser uma simples, tranquila, corriqueira hipótese na vida solidificou-se como um dos piores medos contemporâneos: viver só. mas pais e professores se esquecem de nos contar que a matemática da alma gêmea é um pouco mais cruel do que parece: nem todas as pessoas encontram um par com quem valha a pena dividir um filme, impressões [inclusive sobre a solidão] e, quem sabe, as escovas de dentes. menos pessoas são realmente felizes com esse par, tendo nele[a] um[a] companheiro[a], alguém com quem têm prazer em conviver e não um foco de stress e pequenas disputas. que bom que há yoga e bons psicólogos..

para sermos felizes - homens e mulheres - as relações devem ser “desidilizadas”, de certa forma, até desglamourizadas. devemos vivenciar um romance de forma gostosa, prazerosa, mas real, admitindo, inclusive, a possibilidade de essa paixão cinematográfica nunca acontecer. é louco, mas quando assumimos e aceitamos essa possibilidade, as chances de vivermos uma relação assim são bem maiores. é esse o propósito, é o que eu busco. acho que é o que as mulheres - às vezes inconscientemente - querem.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

beijing-2008



não sou fã ou expectador assíduo de esportes. na verdade, sou meio-bem-pouco-brasileiro por vezes: não gosto de sol, nem de samba, nem de barulho, nem de churrasco, nem de areia de praia, nem de acompanhar futebol. adoro e acompanho o circuito de tênis; adoro e pratico corrida há vários anos. além disso, apenas uma manifestaçãozinha de apreço esportivo aqui, outra acolá. não vou escrever sobre os jogos de Pequim, mas há êxitos louváveis, como maureen maggi e robert scheidt; boas surpresas, como as meninas simpáticas da vela, e mesmo o thiago pereira. há fiascos inesperados como jadel gregório, e rizíveis, como diego hipólito. mas há piadas de mau gosto, como a eliminação do brasil para argentina, no futebol masculino. para quebrar a rotina do blog, foi minha intenção registrar - em tom satírico - esse fiasco. para não ser cruel além da conta, resolvi prestar justa homenagem à seleção argentina - fazendo uma pequena adequação de formato, modalidade e ângulo..talvez no hóquei sobre a grama a gente consiga vencer las leonas.
[assinatura do net combo: 190,00; ter o prazer inenarrável de poder não ouvir a voz do galvão bueno, literalmente, não tem preço]

sábado, 16 de agosto de 2008

the graveyard sisterhood [para ana guerra]


às vezes nos perguntamos “e se..”, ou “e se não..” quando percebemos uma oportunidade não aproveitada. esta pode ser uma proposta de emprego ou um romance não vivido graças, em regra, a uma decisão equivocada. eu odeio essas perguntas! elas revelam que fomos habilidosos o bastante para reconhecer a oportunidade, e inexperientes, incompetentes ou medrosos o suficiente para não experimentá-la – é o que chamo de ‘efeito before sunrise’. e às vezes isso acontece pela simples falta de.. dizer algo.

sou fascinado por guy de maupassant e seu suspense não-óbvio e às vezes aterrador. tenho particular paixão pelo conto the graveyard sisterhood [perdão aos xiitas do título original, mas não falo francês e só tenho uma edição britânica ‘penguin books’ de guy de maupassant- selected short stories]. é a história de um sujeito – joseph de bardon - que conhece uma jovem encantadora e misteriosa no cemitério de montmartre. ao longo de uma curta narrativa, bardon deixa-se envolver pela jovem, sem saber absolutamente nada sobre ela, a não ser que chorava sobre o túmulo de um certo capitão da marinha. a partir de um curto, enebriante e sedutor contato entre eles, não há troca de juras, informações ou mesmo experiências: há apenas sedução velada, elegante, sem despedidas. não há marcos temporais. bardon apenas entrega-se, sem acreditar na possibilidade de não mais voltar a vê-la.

bardon fica encantado com a mulher. elucubra, conjectura, volta ao cemitério outras vezes na esperança de encontrá-la até que.. a vê, acompanhada de um elegante senhor. com um gesto quase imperceptível de cabeça, ela sugere que ele não a cumprimente.. e a parte final do conto corresponde às indagações de quem seria aquela quase-menina, o que estaria fazendo lá, e que tipo de relação ela estabelece com senhores elegantes que frequentam cemitérios. bardon questiona se a jovem faria parte de uma ‘irmandade do túmulo’, que percorre cemitérios para seduzir homens desavisados, valendo-se de aparente fragilidade e tristeza. . claro que a estória acaba inconclusiva. mas o que nos interessa aqui é perceber que não se pode mais deixar a vida passar, sem experimentar, sem pelo menos expressar-nos quando há percepção da oportunidade, quando sentirmos vontade. uma simples manifestação pode ser definitiva, em especial, quando não sabemos se haverá outra chance. no campo romântico isso acontece com freqüência irritante.

por quê nos impomos esse fardo? que graça tem brincar de roleta-russa com o próprio destino? quando se tem 14 anos, tudo bem. lembro de um diálogo de before sunset, no qual as personagens de julie delpy e ethan hawke conversam sobre o porquê de não haverem trocado telefones, nove anos antes, quando se conheceram e se apaixonaram, em viena. hawke [jesse] dá o tom cruel da resposta: “quando se tem 22 anos, achamos que várias pessoas especiais passarão pela nossa vida; aos 32, sabemos que isso não ocorre..”.

mas será que nos acostumamos tanto assim a conferir ao acaso uma importância bem maior do que ele merece? ‘se tiver de rolar, vai rolar..’ revela uma segurança madura, legal, mas que não enche barriga de ninguém fora do universo das novelas e dos filmes de john hughes. será que o monstro do medo de rejeição cresceu tanto assim em tempos de crise global da auto-estima? talvez.

há que se rebelar contra a ditadura do medo e provar, experimentar, tentar. o que de pior pode acontecer é a rejeição; e o problema aqui é exatamente a forma como lidamos com ela. o sentimento não pode fazer parte da nossa vida como um espectro assustador; temos de encará-lo como parte natural da existência. se formos bem-sucedidos na tarefa, as ‘chances de perdermos boas chances’ na vida estarão bastante minimizadas. é mais ou menos como um tenista de primeira linha faz: ele não está isento de cometer erros estúpidos durante uma partida. mas quando isso acontece, assim que o lance termina, o cara já está focado no próximo ponto. sinto que estamos perdendo tempo demais olhando para a ‘bola que passou’, pensando no que poderia ter sido, como o curso da partida poderia ter sido alterado caso um simples lance acontecesse de outra forma.

que autoridade tenho para escrever sobre isso? talvez quase nenhuma. mas ganhei minha edição de ‘..selected short stories’ em 1996, de uma menina muito especial que por inexperiência, incompetência ou medo, nunca me dei chance de conhecer melhor..

domingo, 10 de agosto de 2008

flerte

“i thought flirting was to get someone to notice me. now I realize it's making another person feel appreciated”.

a frase não é de bill murray ou scarlett johanson, no magnífico, intimista e solitário lost in translation [2003], mas sim da consultora em resolução de conflitos Jackie shonnerd, 53, divorciada, mãe de 2 filhos adultos, e revela uma face da mudança de paradigma vivenciada pela sociedade atual, no tocante a relacionamentos. sempre quis entender o mecanismo que desencadeia a primeira etapa de atração entre 2 pessoas. sempre tentei decifrar o que de fato atrai, antes de qualquer coisa, uma pessoa em outra.. a partir de uma curiosa sucessão de fatos recentes, senti o timing. estava seguro para retomar o projeto blog, falando do flerte.

difícil teorizar, explicar ou mesmo entender o flerte. mais difícil é mensurar, quantificar um flerte, para defini-lo como bem sucedido. mas a frase de shonnerd dá a pista: não é uma ação tão egoísta quanto parece à primeira vista, mas há algo mesmo de altruísta nele. ao “fazer outra pessoa sentir-se apreciada”, é possível quebrar o gelo que separa, inicialmente, duas pessoas, exatamente, ao ressaltar o potencial de atratividade da outra. o flerte produz reflexo em duas frentes: de maneira exógena, “massageia-se” o ego alheio, amolecendo resistências e preparando terreno para explorar o infinito particular dessa pessoa, exercendo nosso poder de sedução; de maneira endógena, o processo é semelhante: amolecemos nossas próprias resistências, relaxamos bloqueios e ganhamos confiança para abordar a outra pessoa, fortalecendo-nos para o maior risco de uma abordagem do tipo: a rejeição. o flerte protege o agente, baliza o caminho para ação e prepara a reação do paciente. aí me pergunto: onde, exatamente, começa o flerte? difícil também.. mas acredito que ela esteja situado no epicentro entre acaso, afinidade[s], interesse e atração. não necessariamente segundo essa ordem. o que motiva o flerte? flerta-se para ficar com a pessoa? por que nos sentimos atraídos por ela e, assim, compelidos a nos lançarmos na cruzada indômita da sedução? flerto porque a outra parte está flertando comigo? ou flerto para fazê-la flertar comigo? o flerte é quase simultâneo, mas seu sucesso está vinculado ao êxito dos instantes [às vezes nano segundos..] que antecedem a ação – surpresa ou reciprocidade. se o flerte é o bolo da relação romântica [gostoso, descompromissado, inconseqüente, excitante, sedutor], aqueles momentos que o antecedem são a cereja, o grande arremate. além disso, é seguro e não requer uso de preservativo..

li há pouco no site bbcbrasil uma nota curiosa sobre 57 jovens sauditas presos por flertar com meninas em um shopping center. a matéria revela o quão subestimado é o flerte e seu poder como mecanismo de expressão, de libertação sócio-cultural, de exercício da auto-estima. de regra, apesar de um problema crônico de auto-estima, as mulheres têm historicamente exercido a habilidade de flertar. fazem-no por vezes inconscientemente, mas também podem premeditar, planejar, arquitetar, testar e executar o flerte. em geral, mostram-se mais habilidosas que os homens para flertar e ainda que as subjuguemos atiradas ou vagabundas – mais por preconceito e inabilidade nossa – essa habilidade as confere vantagem comparativa no jogo da sedução.

o flerte é como um vírus em constante mutação: não há profilaxia ou teorização que nos prepare para ele. não é possível escrever um guia do tipo lair ribeiro para o flerte bem sucedido, uma vez que acontece por um canal de comunicação particular - e praticamente exclusivo – entre duas pessoas. assim, é influenciado – e ditado – pelos signos utilizados para essa comunicação. por isso pode ser tão difícil flertar com alguém de outra cultura; por outro lado, como o flerte é produto da sociedade em que é praticado, flertar com estrangeir@s pode ser particularmente excitante.

uma fantástica vantagem: flerta-se em qualquer lugar e em qualquer situação: em festas, enterros, hospitais, universidades, escolas, na fila do brócolis, do INSS, em lojas, aeroportos [ah..], na cobal, igrejas, clubs, bares, botecos etc. e é gratuito.
pela própria natureza efêmera do flerte, ele não gera as complicações de outras formas de interação. a bem da verdade, um flerte pode acabar de duas formas: ou evolui para algo mais íntimo, ou acaba, no vazio. mas TUDO pode acabar em flerte. o importante é que o “jogo” estará ganho para quem flerta. se não acontecer absolutamente nada, terá valido a pena exercitá-lo.. e quão infinitos são os mecanismos de flerte! uma conversa, cumplicidade, um olhar, a ausência de um olhar que, sabemos, está lá ..

preste mais atenção no que acontece à sua volta e quem sabe você não depara com um delicioso flerte?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

peter pan+lolita


em tempos de krisis e decisões capitais, não tenho dado justa atenção ao blog. e é assim que vai continuar, pelo menos por mais um tempo. contudo, é fato: desde natalie portman em 'o profissional'[1995], o cinema não apresentava uma surpresa quase-adolecente tão talentosa quanto a canadense ellen page, protagonista de 'juno' [filme que merece crítica à parte]. articulada e com personalidade, desajeitada e sexy, engraçada e hiper-ativa, ela "toma conta da cena". acho que vale a pena guardar o nome - e o rosto - dessa menina.
tentarei atualizar o blog. mas antes vou ver juno de novo..

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

duas coisas que odeio e uma que adoro.

- odeio que me perguntem: 'algo mais senhor?', como se eu tivesse aterrisado há pouco no planeta ou fosse totalmente desprovido de massa cinzenta para..... escolher dentre coisas que já conheço bem melhor do que a pessoa que me pergunta.
- odeio o excesso imbecilóide do politicamente correto. anão é anão, negão é negão. devemos combater o preconceito, não cultuar a estupidez.
- adoro saber que luciana vendramini está viva!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

escudo antimisseis

e lá fui eu, aliciado por dois amigos muito queridos, para mais uma festinha maluca no conic. é curioso como os habitués daquele lugar [o conic é, literalmente, um lugar] reconhecem três ou quatro ambientes ali. para mim, o conic um ambiente só, com uma série de caminhos, atalhos, esconderijos, cantos escuros e pessoas esquisitas. de dia já é assim. mas de noite..
estava fazendo uns 45 graus [descontando meus superlativismos, uns 33], “à sombra”, naquela festa. eu suava, mas me divertia. o som era eletrônico, o que não é minha especialidade, mas eu gostei e muito. curtia a noite, à medida em que a festa entrava madrugada adentro. [tentarei ser menos prolixo] – lá pelas 5 da matina, a pista ainda lotada, estávamos nos encaminhando ao caixa para deixar a conta paga e evitar as desagradáveis filas de final de festa.
- praft! - eita porra, cuidado! disparei para a baixinha que me interceptou como um scud.
- me desculpe, nem olhei direito [simpatia meio atípica em brasília].. andré?!
- ana?
- eu! e aí?
sim, era ana, uma conhecida, marida de uma outra conhecida. mas ela estava só.
ana era casada, vivia com uma menina que conheci no rio de janeiro, em uma viagem de trabalho. sempre achei ana interessante. uns treze segundos após o “e aí?”, ficamos. e o negócio começou a esquentar. acho que foi um dos esbarrões mais legais que tive. esquentou tanto, que após me despedir de meus amigos, já estávamos em minha casa, pelados, apesar de ter sentido certo desconforto nela: aquilo não era seu modus operandi natural. nada relativo especificamente à minha pessoa, mas pelo fato de ela estar com um.. homem. “trabalhei” com minhas papilas degustativas para relaxá-la um pouco. e ela relaxou. bastante. bytheway, calcinha ensopada de tesão é uma das melhores sensações de que me lembro a qual nem amex platinum paga. continuamos nos chupando, rindo e nos divertindo. parecia a trepada do século até.. começarmos a implementar “o ato”. no primeiro movimento “encaixante”, a moça travou. secou. gelou. e parou. foi impressionante: aquela esponja encharcada transformou-se, em segundos [i mean it], em uma muralha aparentemente intransponível. ainda tentamos um pouco, daqui, dali, por acolá, mas.. nada feito. o bom de conhecer sua parceira: conversamos, rimos, ela me ajudou a finalizar deliciosamente a noite e foi isso. nada mais.

moral da história: nada de mal em ficar com uma mulher que gosta do mesmo que você, pelo contrário. mas talvez o encontro seja ótimo apenas enquanto se esteja fazendo o que duas mulheres pudessem fazer.. quando você parte para o desempenho do tradicional papel heterossexual masculino.. a coisa pode engrossar, digo, secar.

domingo, 30 de dezembro de 2007

good-bye, yellow brick road

sem meias palavras, o ano que acaba não foi bom. não progredi profissionalmente [estou sendo muito sutil], nada no sentimental, sem planos novos ou velhos, sem realizações, sem grandes metas, sobrou apenas o feijão com arroz: saúde, um teto, um trabalho. feliz é um termo um tanto estranho, mas me forço a estar satisfeito por essas coisas. repito: o ano não foi fácil. e não poderia acabar de outra forma: o filho de uma grande amiga partiu, aos onze anos de idade, após dez de luta contra o câncer. trata-se de uma grande amiga e companheira dos exageros da época de universidade e apesar de certa distância imposta pela rotina atual, compartilhávamos muitas crises e impressões.

há dez anos, a amiga de diana e eu éramos muito próximos. dividíamos festas, experiências, às vezes algumas meninas, e, como não poderia deixar de ser naquela época, boas e eventuais trepadas. tínhamos uma rotina deliciosa de farras e botecos até que de repente ela some do mapa. não parece mais em festinhas, em happy-hours, não atende o telefone. all of a suden! perdemos, repentinamente, o contato. uns dois meses depois, uma ligação e a bomba:
- andré, lembra do último ‘choppe y danza’ [festinha de iniciação dos calouros de rel]? então, fudeu.. fiquei grávida.
- vc quer dizer, você fudeu e ficou grávida [devolvi, certo de se tratar de uma das piadinhas clássicas da época].
- é, mas dessa vez é sério: trepei sem camisinha e aconteceu.
foi isso. encurtando a história, a mudança radical em sua vida foi quebrada por uma festinha inesquecível: o primeiro ano de seu filho, na qual nos divertimos horrores, bebemos, fumamos, curtimos. logo depois, o menino foi diagnosticado com um melanoma nas costas. os dez anos que seguiram permearam uma das lutas mais ingratas de que tive conhecimento e, certamente, a mais injusta que acompanhei. entre quimioterapias em são paulo, a desestruturação completa de uma família, perdi maior contato com a amiga de diana. não havia mais clima para arroubos de putaria, festas malucas ou excessos. para ela, a percepção de que havíamos crescido veio da maneira mais cruel possível: a doença grave de um filho. dez anos depois, recebi a ligação de uma amiga comum.. o menino havia falecido, padecendo nas últimas semanas, na uti no hospital brasília.

perdi meus dois avôs, mas nenhuma dessas perdas me afetou e chocou tanto, como a do filho de minha amiga. não pode, não é justo, não é certo. ele tinha apenas onze anos. tento tirar uma lição dessa perda, mas nesse momento o que fica é a sensação de que esse ano demorou a acabar. muito. ao filho de minha amiga, que descanse em paz, em algum lugar, certamente, menos denso que esse mundo. à minha amiga, o que desejar? igualmente, muita paz. que a perda seja um dia superada. à sua mãe, avó do menino, que tanto empenhou-se em seu tratamento, acompanhou toda a luta e o sofrimento, bem como as vitórias, desejo do fundo do coração muita força e a sensação de um dever muito bem cumprido. e o mais importante: a obrigação de encontrar fellicidade nessa vida, que tanto parece injusta. a 2007, desculpem-me, mas um grande foda-se. não me lembro com saudade desse ano. espero que ele não sinta minha falta.

domingo, 9 de dezembro de 2007

a chacara da albertina [ou, o resgate]

- ei, você é a cara daquele ator da novela das seis – a frase veio da sexta ou sétima morena enfileirada naqela parede inesquecível, especialmente para alguém fiel à crusada para ‘salvar a vida de um amigo’, como era meu caso.
- hã? falou comigo? - a essa altura, me divertia horrores e a viagem já valera a pena. mas havia o pânico da simpatia revelar-se, no fundo, estratégia da jovem para melhor oferecer o produto da casa: mulheres. mas eu não poderia continuar gastando r$ 8,90 em cada cerpinha!!! eu simplesmente não tinha mais fundos. mas acho que vale a pena retroceder um pouco no tempo para contxtualizar o[a] leitor[a].

brasília, dia frio do inverno de 1994. cantina do araújo, fa, unb.
zé, mike e eu discutíamos a respeito da situação periclitante de mike: o cara precisava trepar. o tempo em que não sentia o inesquecível aroma de uma vagina contava para mike não em dias, ou meses, mas já em anos. como nenhum de nós era suscetível a moralismos imbecis, o grupo encontrou uma solução pragmática: mike contrataria os serviços de uma profissional do sexo. zé era de ribeirão preto, cidade tão provinciana quanto divertida do nordeste de são paulo. como na época éramos todos estudantes, sem grana ou carro, aproveitamos alguns feriados na terra natal de zé. e aí nos lembramos de que havia sido divulgada, ainda nos anos 80, uma pesquisa sobre os melhores prostíbulos do brasil. e onde estava o melhor? exatamente em ribeirão preto: a ‘chácara da albertina’. concordamos logo que a única razão para não se pegar uma puta era a falta de grana. e na época ela era realmente escassa.. e mike topou. marcamos a viagem para o feriado de 12 de outubro. durante o tempo que passou rápido de julho a outubro, preparamos cirurgicamente a viagem, em especial a parte financeira. mike orçou cada centavo que gastaria, pois nada poderia atrapalhar aquele plano.

estávamos bem acostumados ao roteiro brasilia - ponte alta - catalão - uberlândia - uberaba – ribeirão preto. mas dessa vez, a viagem passou mais rápido e bem mais divertida. chegamos a ribeirão por volta de sete da matina e rumamos direto à casa de zé, onde, como de praxe, fomos muitíssimos bem recebidos. tradução: muita comida para os cinco dias que passsaríamos lá, graças à irmã ‘boleira’ e Zé, e dois freezers cheios de cerveja – sim, na casa dos pais de zé havia dois freezers, o que eu achava impressionante.. graças a seu pai.

após um primeiro dia de reconhecimento de terreno e menos 3/4 de cerveja em um dos freezers, chegava a hora de implementar ‘o plano’. no dia anterior descobrimos que o puteiro ficava no bairro em que moravam os pais de zé: tudo conspirava a favor. nas referências que conseguimos ao planejar a viajem, a chácara da albertina ficava na saída da cidade: década de 1980.. obviamente, mantivemos o real propósito da viagem em segredo. descobrimos também que se entrássemos na chácara antes das 15h [isso mesmo, três da tarde] não pagaríamos entrada, o que na época representaria um colossal gasto extra. pronto. duas e pouco da tarde, rumamos à famosa chácara no estilo ‘o incrível exército de brancaleone’: mal vestidos, bêbados, e rindo à toa. conseguimos entrar antes das três horas - êba.

o local era suntuoso. apesar de meio decadente, tinha algo de copacabana palace em área ribeirão-pretana. era possível sentir que gozara de grande prestígio entre os abastados plantadores de cana-de-açúcar em décadas passadas. na entrada havia um enorme salão, colunas romanas de gosto bem duvidoso e uma igualmente enorme piscina na lateral – puta, que nojo, já emendou zé. como eu era muito trash à época, já pensei loucuras naquela piscina. mas bastou uma rápida olhadela no cardápio para constatar que não podíamos nos animar.. eu e zé tínhamos grana apenas para duas, no máximo três cervejas enquanto a vida de mike era resgatada. e o resgate teria tempo limitado: duas horas. não importa o que acontecesse, mike deveria ser salvo nessas duas horas. a primeira medida indoors era escolher o salvador, digo, a salvadora.

dez meninas enfileiradas de forma organizada, como novilhos para o abate, assistiam novela. a vantagem de se entrar cedo em um puteiro é pegar o elenco no começo de expediente e ter opções, digamos, mais higiênicas. mike, que sofre de timidez aguda, já tremia antes mesmo de escolher. porra, o cara decide trepar com uma puta, vai ao local, mas trava na hora de escolher! foda. zé, que apresentava um nível particular de escrotidão, se divertia com tudo, enquanto eu também tremia, mas por outro motivo: não conseguia esquecer de que uma cerpinha custava r$ 8,90 !!! eu já contava mentalmente toda a grana que tinha para passar as duas horas – não comeria ninguém e ainda sairia de lá fodido, sem grana. mas continuava impressionado com o local. minha concepção ‘inocente’ de puteiro era a imundície dos recintos do setor de diversões sul em brasília. o conic. pois bem, a moça já trouxe, de cara, um balde cheio de cervejas. eu metralhei: - mike, escolhe logo a porra da puta, pois não tenho grana e vou ter de passar duas horas aqui!! o cara agora estava muito tenso. não conseguia sequer falar. zé divertia-se somente olhando aquela fila de putas que, por sua vez, divertiam-se mais do que todos nós juntos. a novela rolando, eu pressionando mike, zé rindo como criança.. de repente, mike, do meu lado, aponta com o queixo.
– qual, mike?
– aquela, ele balucia.
– hã? qual?
– aquela, com o vestido branco.
achei boa escolha, apesar de não haver diferença qualitativa gritante entre as moças. tudo bem, devido ao seu nível extremo de tensão eu queria mais que ele escolhesse logo, subisse à porra do quarto, e finalizasse o trabalho. ele estava num nível extremo de tensão. eu mesmo tive de chamar a escolhida, que ‘pegou’ mike e levou para cima. achei que o cara broxaria, o que seria foda: gastaríamos tubos de grana, enrolaríamos duas horas bebendo duas ou três long necks e.. para fechar a tarde com uma brochada. mike não apenas não desopilaria, como voltaria a brasília mais tenso, mais nervoso e mais pobre.. tudo bem, valeria pela aventura.

enquanto esperávamos por mike, eu e zé começamos algo que parecia inevitável para dois jovens de 20 anos, dada a situação: estabelecemos contato com o restante do ‘elenco’. uma hora depois estávamos em meio ao grupo, como mascotes, rindo pra cacete. uma delas vira e me diz que pareço ‘moço da novela das seis’. referências novelelísticas para mim já soavam hebráico desde aquela época. detesto novelas há muito tempo. mais ainda, detesto o que elas representam – o país condena quem fuma maconha, mas aplaude a diversão diária ‘pós-jornal nacional’.
- quem? – perguntei.
- aquele. claro que ela me deu uma referência que explicava menos ainda. mas esse primeiro contato foi importante: começamos a quebrar o gelo e me diverti bastante. mas o tempo ia passando e nada. meia hora, uma hora, duas horas e nada. exatamente duas horas e treze minutos depois, mike aponta… o sorriso em sua cara só não era maior do que o rombo em sua conta bancária. parecia que tinham injetado botox no rapaz. sua felicidade revelava: job done. mission accomplished.

gastamos praticamente todo o terceiro dia consertando e montando um barco do playmobil, achado nas coisas de criança de zé, enquanto esvaziávamos o segundo freezer de cerveja e conversávamos à beira da piscina sobre banalidades. ainda saímos nas noites restantes, mas a sensação de dever cumprido era tão gostosa que nada nos preocupava mais. com a ajuda de michelle, morena bem curvilínea da chácara da albertina, havíamos realizado um bem sucedido resgate.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

'peciso acabar logo com isso,
preciso lembrar que eu existo..'

roberto e erasmo carlos