quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sueli, uma breve história carioca..

tarde - quente - de quinta-feira, escritório da UNESCO no rj:
[mactubby olha o meio dedo de pó sobre a mesa..]
- quem é responsável por limpar essas salas? - pergunto para a jovem, que entra uniformizada e com espanador na mão, em minha sala;
- ah, não sei não senhor. eu comecei ontem..
- mas vc está limpando a sala..
- não. estou apenas recolhendo o lixo.
- e quem limpa a sala?
- eu só faço o que me pedem e não me pediram para limpar..
- e se eu lhe pedir?
- acho que só amanhã, afinal, já são 16:13h..
- tipo, como assim??
- só trabalho até 17h. e tem muito cesto de lixo para recolher.
- no prédio todo?
- não, nesse andar.. [tipo, há três organizações, vá lá, uns 30 cestos]
- tá bom. amanhã você pode limpar?
- ah, lembrei que eu não venho amanhã..
- como assim, você não trabalha sexta?
- trabalho, mas tirei folga amanhã.
- mas você acabou de começar.. tudo bem, quem limpará as salas amanhã?
- ninguém.
- e segunda, você pode limpar?
- posso, mas o senhor tem de me lembrar, pois é muita sala e eu esqueço..
- como é mesmo seu nome, minha jovem????
- sueli.
- obrigado, sueli.

sábado, 6 de setembro de 2008

o que as mulheres querem?

quase não assisto mais TV. no caso de TV aberta, as exceções são um pedaço eventual de jornal nacional, o final de bom dia brasil, enquanto amarro os sapatos antes de sair para o trabalho e, de vez em quando, um jogo de futebol. mas um dia desses, assisti what women want - o que as mulheres querem. bem bobo, despretensioso e engraçadinho. mas o título tem força, provoca. já o havia assistido há uns dois anos no cinema, mas não contava com a percepção, digamos, mais madura que tenho hoje. comecei a prestar atenção nas entrelinhas. mel gibson está ótimo como quarentão conquistador que, depois de um acidente, desenvolve a habilidade de escutar o pensamento das mulheres. boa escolha, já que o ator equilibra bem sua veía cômica com charme um pouco canastrão. a linda e oscarizada helen hunt é sua concorrente no trabalho e par romântico - sou seu fã desde o belo e injustiçado stealing home, de 1988.

o filme acabou me estimulando a reflexão: e se fosse realmente possível? o que aconteceria? o sujeito que possuísse o dom seria um ‘deus’ com o sexo oposto? não necessariamente. gente idiota com mais dinheiro é apenas gente idiota gastando mais em coisas idiotas, maximizando seu potencial de ser idiota. provavelmente um idiota com esse dom, seria apenas um idiota a mais, escutando coisas idiotas de mulheres idiotas e não percebendo coisas interessantes de mulheres interessantes. sua experiência de vida e referenciais não lhe permitiriam prestar realmente atenção nos anseios e nas angústias do sexo oposto.

no filme, o x da questão é exatamente não haver um x. mel gibson descobre o óbvio ululante: a habilidade de ler o pensamento das mulheres serve bem para mostrar como os dois gêneros têm percepções e expectativas diferentes em relação ao outro, mas os sentimentos os colocam de forma curiosamente insegura frente ao sexo oposto. é exatamente a insegurança o ponto que nos aproxima. porra, se o mundo se convecesse disso! os sentimentos são parecidos, mas não se pode igualá-los. em geral, as mulheres querem um provedor, mas que as respeite, as estimule no trabalho, entenda sua cabeça e as complete sexualmente. já os homens querem uma gigantesca aventura, que dure o tempo em que durar a relação, o casamento, o namoro. mas que entenda sua poligamia crônica.. querem uma mulher safada o bastante pra despertar seu lado animal, macho. mas essa mulher tem de ser caseira e pudica o suficiente para contemplar uma expectativa socialmente construída ao longo dos anos, e que se refere à figura da reprodutora. e pior que esse é um dos casos em que o evoluído “caminho do meio” é muito difícil de ser atingido. por isso encontramos mulheres insatisfeitas em casamentos enferrujados e homens casados para quem ter amantes é algo tão natural como comprar cerveja. afinal, com tanta coisa importante na vida, para quê se preocupar?

o fato é que nos tornamos tão preguiçosos e acostumados à rotina, que muitos homens e mulheres têm dificuldade para perceber a imperfeição absoluta do modelo sócio-cultural de relação, institucionalizado no ocidente. a revolução sexual cumpriu seu papel, teve seu revés, deu tiro no próprio pé feminino mas conseguiu, de fato, alguns avanços muito significaivos. no entanto, acabou isolando mais as pessoas e as contribuições excepcionais de “marias da penha” creditam-se mais ao brilhantismo de agentes isolados como essa senhora, do que ao êxito de políticas públicas ou mesmo de mudanças estruturais nas relações sociais. afinal, a regra para a grande maioria ainda é: nascer, crescer, arrumar emprego, casar-se e conseguir um financiamento habitacional. e pronto, missão cumprida. será?

esse modelo é percebido e apreendido de formas diferentes pelos gêneros, apesar das semelhanças. mas em meio a esses desencontros, entendo como ponto pacífico o fato de que todos esperam encontrar alguém. varia a intensidade com que o mito venenoso da “alma gêmea” é internalizado. mas infelizmente ele ainda é entendido como verdade insofismável. homens e mulheres o perseguem, ainda que de formas distintas, mais ou menos assumidas.
mas se a meta é comum, porque há tantos desencontros e dificuldade para aceitar a maneira como cada um entende e se encaixa nessa busca? há diversas possíveis explicações.

penso que uma delas esteja exatamente na maneira como llidamos com a solidão. associou-se, historicamente, solidão à tristeza, ao insucesso, ao fracasso. mas estar sozinho pode não necessariamente significar ser solitário. o que deveria ser uma simples, tranquila, corriqueira hipótese na vida solidificou-se como um dos piores medos contemporâneos: viver só. mas pais e professores se esquecem de nos contar que a matemática da alma gêmea é um pouco mais cruel do que parece: nem todas as pessoas encontram um par com quem valha a pena dividir um filme, impressões [inclusive sobre a solidão] e, quem sabe, as escovas de dentes. menos pessoas são realmente felizes com esse par, tendo nele[a] um[a] companheiro[a], alguém com quem têm prazer em conviver e não um foco de stress e pequenas disputas. que bom que há yoga e bons psicólogos..

para sermos felizes - homens e mulheres - as relações devem ser “desidilizadas”, de certa forma, até desglamourizadas. devemos vivenciar um romance de forma gostosa, prazerosa, mas real, admitindo, inclusive, a possibilidade de essa paixão cinematográfica nunca acontecer. é louco, mas quando assumimos e aceitamos essa possibilidade, as chances de vivermos uma relação assim são bem maiores. é esse o propósito, é o que eu busco. acho que é o que as mulheres - às vezes inconscientemente - querem.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

beijing-2008



não sou fã ou expectador assíduo de esportes. na verdade, sou meio-bem-pouco-brasileiro por vezes: não gosto de sol, nem de samba, nem de barulho, nem de churrasco, nem de areia de praia, nem de acompanhar futebol. adoro e acompanho o circuito de tênis; adoro e pratico corrida há vários anos. além disso, apenas uma manifestaçãozinha de apreço esportivo aqui, outra acolá. não vou escrever sobre os jogos de Pequim, mas há êxitos louváveis, como maureen maggi e robert scheidt; boas surpresas, como as meninas simpáticas da vela, e mesmo o thiago pereira. há fiascos inesperados como jadel gregório, e rizíveis, como diego hipólito. mas há piadas de mau gosto, como a eliminação do brasil para argentina, no futebol masculino. para quebrar a rotina do blog, foi minha intenção registrar - em tom satírico - esse fiasco. para não ser cruel além da conta, resolvi prestar justa homenagem à seleção argentina - fazendo uma pequena adequação de formato, modalidade e ângulo..talvez no hóquei sobre a grama a gente consiga vencer las leonas.
[assinatura do net combo: 190,00; ter o prazer inenarrável de poder não ouvir a voz do galvão bueno, literalmente, não tem preço]

sábado, 16 de agosto de 2008

the graveyard sisterhood [para ana guerra]


às vezes nos perguntamos “e se..”, ou “e se não..” quando percebemos uma oportunidade não aproveitada. esta pode ser uma proposta de emprego ou um romance não vivido graças, em regra, a uma decisão equivocada. eu odeio essas perguntas! elas revelam que fomos habilidosos o bastante para reconhecer a oportunidade, e inexperientes, incompetentes ou medrosos o suficiente para não experimentá-la – é o que chamo de ‘efeito before sunrise’. e às vezes isso acontece pela simples falta de.. dizer algo.

sou fascinado por guy de maupassant e seu suspense não-óbvio e às vezes aterrador. tenho particular paixão pelo conto the graveyard sisterhood [perdão aos xiitas do título original, mas não falo francês e só tenho uma edição britânica ‘penguin books’ de guy de maupassant- selected short stories]. é a história de um sujeito – joseph de bardon - que conhece uma jovem encantadora e misteriosa no cemitério de montmartre. ao longo de uma curta narrativa, bardon deixa-se envolver pela jovem, sem saber absolutamente nada sobre ela, a não ser que chorava sobre o túmulo de um certo capitão da marinha. a partir de um curto, enebriante e sedutor contato entre eles, não há troca de juras, informações ou mesmo experiências: há apenas sedução velada, elegante, sem despedidas. não há marcos temporais. bardon apenas entrega-se, sem acreditar na possibilidade de não mais voltar a vê-la.

bardon fica encantado com a mulher. elucubra, conjectura, volta ao cemitério outras vezes na esperança de encontrá-la até que.. a vê, acompanhada de um elegante senhor. com um gesto quase imperceptível de cabeça, ela sugere que ele não a cumprimente.. e a parte final do conto corresponde às indagações de quem seria aquela quase-menina, o que estaria fazendo lá, e que tipo de relação ela estabelece com senhores elegantes que frequentam cemitérios. bardon questiona se a jovem faria parte de uma ‘irmandade do túmulo’, que percorre cemitérios para seduzir homens desavisados, valendo-se de aparente fragilidade e tristeza. . claro que a estória acaba inconclusiva. mas o que nos interessa aqui é perceber que não se pode mais deixar a vida passar, sem experimentar, sem pelo menos expressar-nos quando há percepção da oportunidade, quando sentirmos vontade. uma simples manifestação pode ser definitiva, em especial, quando não sabemos se haverá outra chance. no campo romântico isso acontece com freqüência irritante.

por quê nos impomos esse fardo? que graça tem brincar de roleta-russa com o próprio destino? quando se tem 14 anos, tudo bem. lembro de um diálogo de before sunset, no qual as personagens de julie delpy e ethan hawke conversam sobre o porquê de não haverem trocado telefones, nove anos antes, quando se conheceram e se apaixonaram, em viena. hawke [jesse] dá o tom cruel da resposta: “quando se tem 22 anos, achamos que várias pessoas especiais passarão pela nossa vida; aos 32, sabemos que isso não ocorre..”.

mas será que nos acostumamos tanto assim a conferir ao acaso uma importância bem maior do que ele merece? ‘se tiver de rolar, vai rolar..’ revela uma segurança madura, legal, mas que não enche barriga de ninguém fora do universo das novelas e dos filmes de john hughes. será que o monstro do medo de rejeição cresceu tanto assim em tempos de crise global da auto-estima? talvez.

há que se rebelar contra a ditadura do medo e provar, experimentar, tentar. o que de pior pode acontecer é a rejeição; e o problema aqui é exatamente a forma como lidamos com ela. o sentimento não pode fazer parte da nossa vida como um espectro assustador; temos de encará-lo como parte natural da existência. se formos bem-sucedidos na tarefa, as ‘chances de perdermos boas chances’ na vida estarão bastante minimizadas. é mais ou menos como um tenista de primeira linha faz: ele não está isento de cometer erros estúpidos durante uma partida. mas quando isso acontece, assim que o lance termina, o cara já está focado no próximo ponto. sinto que estamos perdendo tempo demais olhando para a ‘bola que passou’, pensando no que poderia ter sido, como o curso da partida poderia ter sido alterado caso um simples lance acontecesse de outra forma.

que autoridade tenho para escrever sobre isso? talvez quase nenhuma. mas ganhei minha edição de ‘..selected short stories’ em 1996, de uma menina muito especial que por inexperiência, incompetência ou medo, nunca me dei chance de conhecer melhor..

domingo, 10 de agosto de 2008

flerte

“i thought flirting was to get someone to notice me. now I realize it's making another person feel appreciated”.

a frase não é de bill murray ou scarlett johanson, no magnífico, intimista e solitário lost in translation [2003], mas sim da consultora em resolução de conflitos Jackie shonnerd, 53, divorciada, mãe de 2 filhos adultos, e revela uma face da mudança de paradigma vivenciada pela sociedade atual, no tocante a relacionamentos. sempre quis entender o mecanismo que desencadeia a primeira etapa de atração entre 2 pessoas. sempre tentei decifrar o que de fato atrai, antes de qualquer coisa, uma pessoa em outra.. a partir de uma curiosa sucessão de fatos recentes, senti o timing. estava seguro para retomar o projeto blog, falando do flerte.

difícil teorizar, explicar ou mesmo entender o flerte. mais difícil é mensurar, quantificar um flerte, para defini-lo como bem sucedido. mas a frase de shonnerd dá a pista: não é uma ação tão egoísta quanto parece à primeira vista, mas há algo mesmo de altruísta nele. ao “fazer outra pessoa sentir-se apreciada”, é possível quebrar o gelo que separa, inicialmente, duas pessoas, exatamente, ao ressaltar o potencial de atratividade da outra. o flerte produz reflexo em duas frentes: de maneira exógena, “massageia-se” o ego alheio, amolecendo resistências e preparando terreno para explorar o infinito particular dessa pessoa, exercendo nosso poder de sedução; de maneira endógena, o processo é semelhante: amolecemos nossas próprias resistências, relaxamos bloqueios e ganhamos confiança para abordar a outra pessoa, fortalecendo-nos para o maior risco de uma abordagem do tipo: a rejeição. o flerte protege o agente, baliza o caminho para ação e prepara a reação do paciente. aí me pergunto: onde, exatamente, começa o flerte? difícil também.. mas acredito que ela esteja situado no epicentro entre acaso, afinidade[s], interesse e atração. não necessariamente segundo essa ordem. o que motiva o flerte? flerta-se para ficar com a pessoa? por que nos sentimos atraídos por ela e, assim, compelidos a nos lançarmos na cruzada indômita da sedução? flerto porque a outra parte está flertando comigo? ou flerto para fazê-la flertar comigo? o flerte é quase simultâneo, mas seu sucesso está vinculado ao êxito dos instantes [às vezes nano segundos..] que antecedem a ação – surpresa ou reciprocidade. se o flerte é o bolo da relação romântica [gostoso, descompromissado, inconseqüente, excitante, sedutor], aqueles momentos que o antecedem são a cereja, o grande arremate. além disso, é seguro e não requer uso de preservativo..

li há pouco no site bbcbrasil uma nota curiosa sobre 57 jovens sauditas presos por flertar com meninas em um shopping center. a matéria revela o quão subestimado é o flerte e seu poder como mecanismo de expressão, de libertação sócio-cultural, de exercício da auto-estima. de regra, apesar de um problema crônico de auto-estima, as mulheres têm historicamente exercido a habilidade de flertar. fazem-no por vezes inconscientemente, mas também podem premeditar, planejar, arquitetar, testar e executar o flerte. em geral, mostram-se mais habilidosas que os homens para flertar e ainda que as subjuguemos atiradas ou vagabundas – mais por preconceito e inabilidade nossa – essa habilidade as confere vantagem comparativa no jogo da sedução.

o flerte é como um vírus em constante mutação: não há profilaxia ou teorização que nos prepare para ele. não é possível escrever um guia do tipo lair ribeiro para o flerte bem sucedido, uma vez que acontece por um canal de comunicação particular - e praticamente exclusivo – entre duas pessoas. assim, é influenciado – e ditado – pelos signos utilizados para essa comunicação. por isso pode ser tão difícil flertar com alguém de outra cultura; por outro lado, como o flerte é produto da sociedade em que é praticado, flertar com estrangeir@s pode ser particularmente excitante.

uma fantástica vantagem: flerta-se em qualquer lugar e em qualquer situação: em festas, enterros, hospitais, universidades, escolas, na fila do brócolis, do INSS, em lojas, aeroportos [ah..], na cobal, igrejas, clubs, bares, botecos etc. e é gratuito.
pela própria natureza efêmera do flerte, ele não gera as complicações de outras formas de interação. a bem da verdade, um flerte pode acabar de duas formas: ou evolui para algo mais íntimo, ou acaba, no vazio. mas TUDO pode acabar em flerte. o importante é que o “jogo” estará ganho para quem flerta. se não acontecer absolutamente nada, terá valido a pena exercitá-lo.. e quão infinitos são os mecanismos de flerte! uma conversa, cumplicidade, um olhar, a ausência de um olhar que, sabemos, está lá ..

preste mais atenção no que acontece à sua volta e quem sabe você não depara com um delicioso flerte?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

peter pan+lolita


em tempos de krisis e decisões capitais, não tenho dado justa atenção ao blog. e é assim que vai continuar, pelo menos por mais um tempo. contudo, é fato: desde natalie portman em 'o profissional'[1995], o cinema não apresentava uma surpresa quase-adolecente tão talentosa quanto a canadense ellen page, protagonista de 'juno' [filme que merece crítica à parte]. articulada e com personalidade, desajeitada e sexy, engraçada e hiper-ativa, ela "toma conta da cena". acho que vale a pena guardar o nome - e o rosto - dessa menina.
tentarei atualizar o blog. mas antes vou ver juno de novo..

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

duas coisas que odeio e uma que adoro.

- odeio que me perguntem: 'algo mais senhor?', como se eu tivesse aterrisado há pouco no planeta ou fosse totalmente desprovido de massa cinzenta para..... escolher dentre coisas que já conheço bem melhor do que a pessoa que me pergunta.
- odeio o excesso imbecilóide do politicamente correto. anão é anão, negão é negão. devemos combater o preconceito, não cultuar a estupidez.
- adoro saber que luciana vendramini está viva!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

escudo antimisseis

e lá fui eu, aliciado por dois amigos muito queridos, para mais uma festinha maluca no conic. é curioso como os habitués daquele lugar [o conic é, literalmente, um lugar] reconhecem três ou quatro ambientes ali. para mim, o conic um ambiente só, com uma série de caminhos, atalhos, esconderijos, cantos escuros e pessoas esquisitas. de dia já é assim. mas de noite..
estava fazendo uns 45 graus [descontando meus superlativismos, uns 33], “à sombra”, naquela festa. eu suava, mas me divertia. o som era eletrônico, o que não é minha especialidade, mas eu gostei e muito. curtia a noite, à medida em que a festa entrava madrugada adentro. [tentarei ser menos prolixo] – lá pelas 5 da matina, a pista ainda lotada, estávamos nos encaminhando ao caixa para deixar a conta paga e evitar as desagradáveis filas de final de festa.
- praft! - eita porra, cuidado! disparei para a baixinha que me interceptou como um scud.
- me desculpe, nem olhei direito [simpatia meio atípica em brasília].. andré?!
- ana?
- eu! e aí?
sim, era ana, uma conhecida, marida de uma outra conhecida. mas ela estava só.
ana era casada, vivia com uma menina que conheci no rio de janeiro, em uma viagem de trabalho. sempre achei ana interessante. uns treze segundos após o “e aí?”, ficamos. e o negócio começou a esquentar. acho que foi um dos esbarrões mais legais que tive. esquentou tanto, que após me despedir de meus amigos, já estávamos em minha casa, pelados, apesar de ter sentido certo desconforto nela: aquilo não era seu modus operandi natural. nada relativo especificamente à minha pessoa, mas pelo fato de ela estar com um.. homem. “trabalhei” com minhas papilas degustativas para relaxá-la um pouco. e ela relaxou. bastante. bytheway, calcinha ensopada de tesão é uma das melhores sensações de que me lembro a qual nem amex platinum paga. continuamos nos chupando, rindo e nos divertindo. parecia a trepada do século até.. começarmos a implementar “o ato”. no primeiro movimento “encaixante”, a moça travou. secou. gelou. e parou. foi impressionante: aquela esponja encharcada transformou-se, em segundos [i mean it], em uma muralha aparentemente intransponível. ainda tentamos um pouco, daqui, dali, por acolá, mas.. nada feito. o bom de conhecer sua parceira: conversamos, rimos, ela me ajudou a finalizar deliciosamente a noite e foi isso. nada mais.

moral da história: nada de mal em ficar com uma mulher que gosta do mesmo que você, pelo contrário. mas talvez o encontro seja ótimo apenas enquanto se esteja fazendo o que duas mulheres pudessem fazer.. quando você parte para o desempenho do tradicional papel heterossexual masculino.. a coisa pode engrossar, digo, secar.

domingo, 30 de dezembro de 2007

good-bye, yellow brick road

sem meias palavras, o ano que acaba não foi bom. não progredi profissionalmente [estou sendo muito sutil], nada no sentimental, sem planos novos ou velhos, sem realizações, sem grandes metas, sobrou apenas o feijão com arroz: saúde, um teto, um trabalho. feliz é um termo um tanto estranho, mas me forço a estar satisfeito por essas coisas. repito: o ano não foi fácil. e não poderia acabar de outra forma: o filho de uma grande amiga partiu, aos onze anos de idade, após dez de luta contra o câncer. trata-se de uma grande amiga e companheira dos exageros da época de universidade e apesar de certa distância imposta pela rotina atual, compartilhávamos muitas crises e impressões.

há dez anos, a amiga de diana e eu éramos muito próximos. dividíamos festas, experiências, às vezes algumas meninas, e, como não poderia deixar de ser naquela época, boas e eventuais trepadas. tínhamos uma rotina deliciosa de farras e botecos até que de repente ela some do mapa. não parece mais em festinhas, em happy-hours, não atende o telefone. all of a suden! perdemos, repentinamente, o contato. uns dois meses depois, uma ligação e a bomba:
- andré, lembra do último ‘choppe y danza’ [festinha de iniciação dos calouros de rel]? então, fudeu.. fiquei grávida.
- vc quer dizer, você fudeu e ficou grávida [devolvi, certo de se tratar de uma das piadinhas clássicas da época].
- é, mas dessa vez é sério: trepei sem camisinha e aconteceu.
foi isso. encurtando a história, a mudança radical em sua vida foi quebrada por uma festinha inesquecível: o primeiro ano de seu filho, na qual nos divertimos horrores, bebemos, fumamos, curtimos. logo depois, o menino foi diagnosticado com um melanoma nas costas. os dez anos que seguiram permearam uma das lutas mais ingratas de que tive conhecimento e, certamente, a mais injusta que acompanhei. entre quimioterapias em são paulo, a desestruturação completa de uma família, perdi maior contato com a amiga de diana. não havia mais clima para arroubos de putaria, festas malucas ou excessos. para ela, a percepção de que havíamos crescido veio da maneira mais cruel possível: a doença grave de um filho. dez anos depois, recebi a ligação de uma amiga comum.. o menino havia falecido, padecendo nas últimas semanas, na uti no hospital brasília.

perdi meus dois avôs, mas nenhuma dessas perdas me afetou e chocou tanto, como a do filho de minha amiga. não pode, não é justo, não é certo. ele tinha apenas onze anos. tento tirar uma lição dessa perda, mas nesse momento o que fica é a sensação de que esse ano demorou a acabar. muito. ao filho de minha amiga, que descanse em paz, em algum lugar, certamente, menos denso que esse mundo. à minha amiga, o que desejar? igualmente, muita paz. que a perda seja um dia superada. à sua mãe, avó do menino, que tanto empenhou-se em seu tratamento, acompanhou toda a luta e o sofrimento, bem como as vitórias, desejo do fundo do coração muita força e a sensação de um dever muito bem cumprido. e o mais importante: a obrigação de encontrar fellicidade nessa vida, que tanto parece injusta. a 2007, desculpem-me, mas um grande foda-se. não me lembro com saudade desse ano. espero que ele não sinta minha falta.

domingo, 9 de dezembro de 2007

a chacara da albertina [ou, o resgate]

- ei, você é a cara daquele ator da novela das seis – a frase veio da sexta ou sétima morena enfileirada naqela parede inesquecível, especialmente para alguém fiel à crusada para ‘salvar a vida de um amigo’, como era meu caso.
- hã? falou comigo? - a essa altura, me divertia horrores e a viagem já valera a pena. mas havia o pânico da simpatia revelar-se, no fundo, estratégia da jovem para melhor oferecer o produto da casa: mulheres. mas eu não poderia continuar gastando r$ 8,90 em cada cerpinha!!! eu simplesmente não tinha mais fundos. mas acho que vale a pena retroceder um pouco no tempo para contxtualizar o[a] leitor[a].

brasília, dia frio do inverno de 1994. cantina do araújo, fa, unb.
zé, mike e eu discutíamos a respeito da situação periclitante de mike: o cara precisava trepar. o tempo em que não sentia o inesquecível aroma de uma vagina contava para mike não em dias, ou meses, mas já em anos. como nenhum de nós era suscetível a moralismos imbecis, o grupo encontrou uma solução pragmática: mike contrataria os serviços de uma profissional do sexo. zé era de ribeirão preto, cidade tão provinciana quanto divertida do nordeste de são paulo. como na época éramos todos estudantes, sem grana ou carro, aproveitamos alguns feriados na terra natal de zé. e aí nos lembramos de que havia sido divulgada, ainda nos anos 80, uma pesquisa sobre os melhores prostíbulos do brasil. e onde estava o melhor? exatamente em ribeirão preto: a ‘chácara da albertina’. concordamos logo que a única razão para não se pegar uma puta era a falta de grana. e na época ela era realmente escassa.. e mike topou. marcamos a viagem para o feriado de 12 de outubro. durante o tempo que passou rápido de julho a outubro, preparamos cirurgicamente a viagem, em especial a parte financeira. mike orçou cada centavo que gastaria, pois nada poderia atrapalhar aquele plano.

estávamos bem acostumados ao roteiro brasilia - ponte alta - catalão - uberlândia - uberaba – ribeirão preto. mas dessa vez, a viagem passou mais rápido e bem mais divertida. chegamos a ribeirão por volta de sete da matina e rumamos direto à casa de zé, onde, como de praxe, fomos muitíssimos bem recebidos. tradução: muita comida para os cinco dias que passsaríamos lá, graças à irmã ‘boleira’ e Zé, e dois freezers cheios de cerveja – sim, na casa dos pais de zé havia dois freezers, o que eu achava impressionante.. graças a seu pai.

após um primeiro dia de reconhecimento de terreno e menos 3/4 de cerveja em um dos freezers, chegava a hora de implementar ‘o plano’. no dia anterior descobrimos que o puteiro ficava no bairro em que moravam os pais de zé: tudo conspirava a favor. nas referências que conseguimos ao planejar a viajem, a chácara da albertina ficava na saída da cidade: década de 1980.. obviamente, mantivemos o real propósito da viagem em segredo. descobrimos também que se entrássemos na chácara antes das 15h [isso mesmo, três da tarde] não pagaríamos entrada, o que na época representaria um colossal gasto extra. pronto. duas e pouco da tarde, rumamos à famosa chácara no estilo ‘o incrível exército de brancaleone’: mal vestidos, bêbados, e rindo à toa. conseguimos entrar antes das três horas - êba.

o local era suntuoso. apesar de meio decadente, tinha algo de copacabana palace em área ribeirão-pretana. era possível sentir que gozara de grande prestígio entre os abastados plantadores de cana-de-açúcar em décadas passadas. na entrada havia um enorme salão, colunas romanas de gosto bem duvidoso e uma igualmente enorme piscina na lateral – puta, que nojo, já emendou zé. como eu era muito trash à época, já pensei loucuras naquela piscina. mas bastou uma rápida olhadela no cardápio para constatar que não podíamos nos animar.. eu e zé tínhamos grana apenas para duas, no máximo três cervejas enquanto a vida de mike era resgatada. e o resgate teria tempo limitado: duas horas. não importa o que acontecesse, mike deveria ser salvo nessas duas horas. a primeira medida indoors era escolher o salvador, digo, a salvadora.

dez meninas enfileiradas de forma organizada, como novilhos para o abate, assistiam novela. a vantagem de se entrar cedo em um puteiro é pegar o elenco no começo de expediente e ter opções, digamos, mais higiênicas. mike, que sofre de timidez aguda, já tremia antes mesmo de escolher. porra, o cara decide trepar com uma puta, vai ao local, mas trava na hora de escolher! foda. zé, que apresentava um nível particular de escrotidão, se divertia com tudo, enquanto eu também tremia, mas por outro motivo: não conseguia esquecer de que uma cerpinha custava r$ 8,90 !!! eu já contava mentalmente toda a grana que tinha para passar as duas horas – não comeria ninguém e ainda sairia de lá fodido, sem grana. mas continuava impressionado com o local. minha concepção ‘inocente’ de puteiro era a imundície dos recintos do setor de diversões sul em brasília. o conic. pois bem, a moça já trouxe, de cara, um balde cheio de cervejas. eu metralhei: - mike, escolhe logo a porra da puta, pois não tenho grana e vou ter de passar duas horas aqui!! o cara agora estava muito tenso. não conseguia sequer falar. zé divertia-se somente olhando aquela fila de putas que, por sua vez, divertiam-se mais do que todos nós juntos. a novela rolando, eu pressionando mike, zé rindo como criança.. de repente, mike, do meu lado, aponta com o queixo.
– qual, mike?
– aquela, ele balucia.
– hã? qual?
– aquela, com o vestido branco.
achei boa escolha, apesar de não haver diferença qualitativa gritante entre as moças. tudo bem, devido ao seu nível extremo de tensão eu queria mais que ele escolhesse logo, subisse à porra do quarto, e finalizasse o trabalho. ele estava num nível extremo de tensão. eu mesmo tive de chamar a escolhida, que ‘pegou’ mike e levou para cima. achei que o cara broxaria, o que seria foda: gastaríamos tubos de grana, enrolaríamos duas horas bebendo duas ou três long necks e.. para fechar a tarde com uma brochada. mike não apenas não desopilaria, como voltaria a brasília mais tenso, mais nervoso e mais pobre.. tudo bem, valeria pela aventura.

enquanto esperávamos por mike, eu e zé começamos algo que parecia inevitável para dois jovens de 20 anos, dada a situação: estabelecemos contato com o restante do ‘elenco’. uma hora depois estávamos em meio ao grupo, como mascotes, rindo pra cacete. uma delas vira e me diz que pareço ‘moço da novela das seis’. referências novelelísticas para mim já soavam hebráico desde aquela época. detesto novelas há muito tempo. mais ainda, detesto o que elas representam – o país condena quem fuma maconha, mas aplaude a diversão diária ‘pós-jornal nacional’.
- quem? – perguntei.
- aquele. claro que ela me deu uma referência que explicava menos ainda. mas esse primeiro contato foi importante: começamos a quebrar o gelo e me diverti bastante. mas o tempo ia passando e nada. meia hora, uma hora, duas horas e nada. exatamente duas horas e treze minutos depois, mike aponta… o sorriso em sua cara só não era maior do que o rombo em sua conta bancária. parecia que tinham injetado botox no rapaz. sua felicidade revelava: job done. mission accomplished.

gastamos praticamente todo o terceiro dia consertando e montando um barco do playmobil, achado nas coisas de criança de zé, enquanto esvaziávamos o segundo freezer de cerveja e conversávamos à beira da piscina sobre banalidades. ainda saímos nas noites restantes, mas a sensação de dever cumprido era tão gostosa que nada nos preocupava mais. com a ajuda de michelle, morena bem curvilínea da chácara da albertina, havíamos realizado um bem sucedido resgate.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

'peciso acabar logo com isso,
preciso lembrar que eu existo..'

roberto e erasmo carlos

domingo, 2 de dezembro de 2007

nao resisti..

'i was looking for a job
and then i found a job
but heaven knows i'm miserable now..'

morrissey/marr

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

contribuição do 'assexuado' mais talentoso que existe.

please, please, please let me get what i want
johnny marr/morrissey

good times for a change
see, the luck i've had
can make a good man
turn bad
so please please please
let me, let me, let me
let me get what i want
this time

haven't had a dream in a long time
see, the life i've had
can make a good man bad
so for once in my life
let me get what i want
lord knows, it would be the first time
lord knows, it would be the first time

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

when harry met sally [parte 1]

trabalhei alguns anos na agência brasileira de cooperação, que funcionava na estrutura do ministério das relações exteriores [abc/mre]. era uma estrutura anômala, espécie de principado de consultores, incrustado num mar de diplomatas. contudo, era chefiada por um embaixador-artista gente boa. lá tive minha grande escola profissional: aprendi a me portar numa reunião, negociar e escrever formalmente. conheci a cooperação técnica e o ciclo de um projeto. conheci macetes e meandros profissionais. devo muito, muito mesmo àquele lugar.
e às vezes aconteciam coisas curiosas na abc..

lá tive um grande chefe, de quem sou padrinho de casamento [ou ‘testemunha’, como diz sua esposa de origem russa]. tive duas chefes imediatas, tão loucas e instáveis quanto competentes e entendedoras de cooperação técnica: sara e martinha. clima perfeito de trabalho, com muita pressão, aprendizado, mas doses alopáticas de diversão.

certa vez, sara comentou que uma amiga sua, chefe da delegação de um país centro-americano na onu, estaria em brasília por dois ou três dias. ela organizaria uma “hora-feliz” com a figura e queria que eu me juntasse a elas. claro que não dei a menor importância: o que eu faria lá? devia tratar-se de uma embaixadora com 200 anos de idade, cabelo com laquê armado e risos estridentes ao lembrar de quando serviu em genebra. além de consumidora voraz de dry martini. no way!

algumas semanas depois, chega o dia da saída. a embaixadora já estava em brasília e partiria no dia seguinte pela manhã. queria ver sara, sair com suas amigas e ir a um lugar legal. conceito relativo esse.. well. decidiram-se pelo universal dinner, que abrira há pouco tempo e antes dos arroubos ególatras da proprietária, era realmente muito legal. transado, com decoração peculiar, excelente comida, boa música, o lugar tinha um balcão ótimo. balcão! taí algo que falta em brasilia. aliás, além do bar ‘balcão’ em são paulo, acho que falta cultura de balcão no brasil. pois bem. dani, colega da abc e ex-companheira de unb insiste para que eu vá. pergunto a ela [me conhecia há bons anos] que porra eu faria num encontro desses. típico girlie get together. ela sorriu, bem maliciosa, e respondeu:
- andré, acho que você deve ir. ela me conhecia há muito tempo. conhecia meu estilo heterodoxo, minhas idiossincrasias, meu gosto pelo underground e parte de minhas preferências. mas o sorriso dela teve uma cumplicidade esquisita.. apesar de não termos tanta intimidade, topei. na época, eu era inconseqüente e não tinha grandes preocupações. então, lá vou eu ao universal dinner com minhas chefes, conhecer a tal embaixadora.

o que não me haviam dito é que não seria um encontro ‘quase’ só feminino, mas completamente! as colegas de trabalho já estavam lá, mas nada da embaixadora, ainda a caminho com sara. fazer o quê? há muito tempo deixei de me intimidar em meio a mulheres. roubada ou não, só me restava encher o rabo de champanhe [parafraseando de forma light uma amiga muito querida] e na melhor das hipóteses, rir um pouco. meia hora depois, minha chefe aparece acompanhada por uma menina bem interessante. opa! menina?! pergunto pela embaixadora.
- essa é marita, andré.
peraí!! que porra de representação diplomática era aquela?! era só uma menina! devia ter minha idade. e tinha. eu, 27 anos. marita, 28. era deliciosa. charmosa. gostosa. inteligentissima. senso de humor feito de ácido sulfídrico, como o meu. três garrafas de chandon mais tarde, conversávamos sobre mil coisas e descobríamos afinidades. ela começava a se soltar. ao abrirmos a quarta garrafa.. marita me confidencia que é lésbica, morava com uma brasileira em new york e estava no brasil justamente para conhecer a família da mulher. caralho, será que essas coisas só acontecem comigo?! quis matar minha colega e minha chefe.

na época, eu já havia descoberto que o campo sexual é bem mais etéreo e fluido do que as aulinhas de ciências na 4ª série nos ensinam. NADA é exato. a começar pela tal escala kinsey [os vários sexos].. você até planeja as coisas, mas na hora de implementar, se dá conta de que esqueceu de incluir no cálculo 430 variáveis não quantificáveis. aí a vida diz: foda-se! vai acontecer do jeito que ela quiser! bom, não gozei, mas relaxei.

as coisas foram rolando, champanhe, bom clima, boa companhia, muita empatia, mais champanhe. e a linguagem corporal da mulher mudou. a minha também deve ter mudado. ela ficou mais aberta, mais expansiva. eu fiquei interessado. afinal, tínhamos algo forte em comum: gostávamos muito de mulher. entramos de vez numa freqüência comum e sem maiores hesitações, apenas curti o tempo em que passamos juntos. sempre achei legal conhecer gente interessante, com recado a dar, conteúdo. no caso de uma mulher profissionalmente muito bem sucedida e sexualmente bem resolvida, viajada e que ainda apreciava o mesmo que eu - as mulheres - melhor.

entramos em uma madrugada deliciosa. e de repente marita me abala: começa um ‘trabalho manual’ muitíssimo bem executado em mim, ali mesmo, embaixo da mesa: "mão naquilo”, numa mesa do universal dinner em noite cheia. há! sua habilidade quase cirúrgica não a deixou ir até o fim. mas duas garrafas de chandon mais tarde, era hora de fechar o recinto. foda! hora de ir embora. rolam as despedidas e fui acompanhar sara e sua convidada ao carro, afinal, marita embarcaria no dia seguinte. ok, foi uma boa noite. aliás, foi uma ótima noite.

de repente, a embaixadora surpreende novamente e, enquanto eu esperava um “nice to meet you” talvez algo do tipo: “maybe we can meet again some other time”, ela me susurra algo inesquecível [acho que agora sei o que bill murray disse a scarlet johansson ao final de lost in translation..], me pega de jeito e começamos uma ‘semi-sequência’ de pornozinho light no estacionamento de um bloco residencial. resumo da ópera: gastei quase 100 paus naquela noite, mas ver minha então chefe sorrindo, também confusa com as bolhas e disfarçando, olhando para cima, enquanto eu e marita nos entendíamos ao final da noite, nem mastercard pagava. e foi isso. despeço-me de sara e caminho bêbado de volta ao bar, achando que há coisas que só acontecem comigo. quando entro no universal, o garçom me esperava com um bilhete: - a moça pediu para entregar para o senhor..
- hã?
“nice talk, delightful atmosphere, loved to meet you.. life is full of surprises”
- puta-que-pariu-mas-é-só-isso?! como assim, a vida é cheia de surpresas?! caralho.

fui atrás do manobrista com guarda-chuvas, pois começava a chover.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

dentes brancos e hálito puro.



dia desses, voltei de um curto almoço e fui logo escovar os dentes, pois tinha muito para atualizar no trabalho e já etava estressado. no banheiro de um certo ministério, nenhuma alma à vista. melhor assim. após 5 minutos de fio dental, comecei a escovação recomendada por minha inspirada dentista – que acha que as pessoas não têm mais nada para fazer na vida além de cuidar dos dentes.

cerca de 5 minutos depois, entram dois senhores de cerca de 45, 50 anos , estilo ‘velha guarda’: trajes, cabelos e linguajar “ministerianos”. um deles, o fulano, logo vira para o outro e dispara: “beltrano, você não vai acreditar. sabe aquela safada que eu tô pegando? então, saímos ontem e fomos logo ao motel. chegando lá, na hora h, a porra da mulher não estava mestruada”?!
- “tchlept!” – cuspo um pouco, e continuo a escovação.
- “não acredito, que nojo!! – reprova com vontade o beltrano. “é verdade. que mulher foda, a gente acerta a saída, e como já está ‘se pegando’ há um tempo, já ia direto para o motel. ela não falou nada e na hora de tirar a calcinha, apenas sorriu meio sem graça e continuou..” – disse fulano, com aspecto mais puto ainda.
- “tchlept!” – cuspo mais um pouco de pasta, e continuo a escovação.
- “cê tá de sacanagem! que escrota, nem falou nada! mas e aí, tu comeu ela”?
- “porra, claro que não. que nojo.. aquele cheiro”!
- “tchlept!” – encerro minha escovação. enquanto me enxugo, a conversa primorosa continua em detalhes.

não resisti a tanto refinamento. quis aproveitar que agora os rapazes escovavam os dentes e antes de sair do banheiro tinha de deixar uma contribuição aos colegas.
- com licença, não pude deixar de escutar a conversa dos srs. e queria perguntar algo. o sr. é casado?
- sou.
- me desculpando, ainda pela pergunta, a mulher em questão é sua esposa? – eu queria ter um pouco de emoção e banquei o risco..
- é, com a esposa menstruada a gente até trepa, mas é foda...”
- me desculpe por essa última intromissão, mas.. vejo que o sr. é mais velho do que eu e, certamente, mais experiente. mas eu sugeriria que o sr. trepasse com sua esposa – ou quem quer que seja – menstruada mesmo. e mais: tente sentir algum prazer nisso, pois se ela não se satisfizer com você, certamente, será satisfeita por outro, com muito menos pudor e nojo.

é foda. tem homem que come sarapatéu, sushi, feijoada e fígado de boi. mas não consegue dar uma pequena variada de molho branco para bolonhesa..

terça-feira, 20 de novembro de 2007

morgana le fey usava adidas.

desde criança sou fascinado pelo mito de excalibur, seja na inesquecível versão futurista da marvel editada nos anos 1980 ou no filme mediano de 1976; o velho embate bem-mal, a metáfora da espada fincada em pedra e que só poderia ser tirada pelo “escolhido” [matrix?]; cavaleiros, mágica, guerras, heroísmo. na estória, minha personagem predileta era morgana le fey. charmosa, misteriosa e sensual, é presença marcante em meio a guerreiros machos. meio indecifrável, dizia pouco e seduzia muito. sempre associada a tramas e maldades, a irmã do rei arthur era uma criatura indecifrável.

na literatura antiga, morgana le fey é a rainha goddess, da ilha mágica de avalon. ao contrário da crença histórica, morgana possuía notável poder de cura, graças a seu conhecimento fitoterapêutico e capacidade de predição. era líder das nove mulheres santas que trataram as feridas de arthur depois da desastrosa batalha de camlann, que provocou a destruição de seu reino. como o cristianismo sempre considerou blasfêmia a cura não explicável [em especial por uma fêma não pertencente a nenhuma ordem cristã], a literatura consagrou a imagem de morgana le fey como bruxa e pagã. inusitadamente, descobri que morgana le fey tem uma versão não menos charmosa, igualmente misteriosa, mas muito real. e não mora longe..

desiludido com o profissional, decidi participar de uma seleção para o posto de assessor social em uma embaixada asiática em brasília. a etapa final foi uma entrevista surreal [i mean it!] com o embaixador. mas o que importa aqui é o registro do encontro com morgana. enquanto esperava ser chamado para a entrevista, notei-a dentre várias candidatas por uma particularidade: usava um indefectível tênis adidas. porra, morgana le fey estava concorrendo a um posto na embaixada e usava tênis adidas! e depois tem gente que não acha o mundo muito doido. bom, notei-a por isso, mas continuei a prestar atenção por muito mais.. era o salão da embaixada, mas bem poderia ser um castelo qualquer em camelot. gostei de seu ar misterioso e do charme desconcertado. sim, é possível ver isso tudo isso em tão pouco tempo. basta prestar realmente atenção. o homem pode olhar para a bunda, para os peitos de uma mulher. mas se prestar realmente atenção nela, pode enxergar muito e ler [n]as entrelinhas.

ao sair da embaixada, após a entevista, senti que não poderia deixar a oportunidade passar. oportunidade de quê? ainda não sabia. mas não podia vacilar. ao longo dos 34, 35 passos que me levaram à saída refleti e deixei rolar. virei para a figura e soltei: “estilo, minha cara, é tudo”. se você se sente atraído por uma mulher, em uma situação absurda, que não dá margem a aproximações, chute o balde. não perca o controle [especialmente se você está concorrendo a uma vaga de emprego], mas mostre sua “mão de pôquer”. talvez sua trinca de setes ganhe a rodada. sun tzu, provavelmente o mais celebrado teórico clássico da guerra, já dizia que nunca se deve encurralar completamente um inimigo, pois ele não terá nada a perder e só lhe restará atacar com toda a força. a situação me encurralou. sabia que não a veria de novo. a incerteza era minha única certeza. o que eu tinha a perder? nada. sabia que tinha de me expressar. apenas isso. não poderia perder a chance.

no dia seguinte, já recuperado da entrevista dadaísta com o sr. embaixador, eu pensava em morgana. aí, minha cara de pau entrou em ação. consegui seu telefone por métodos excusos e sem grandes exitações, liguei. e olha só: morgana era uma simpatia. um tanto desconfiada para o meu gosto, mas muito simpática. marcamos um café. creditei sua desconfiança ao inusitado do approach. tudo bem, eu já havia feito mais do que a maioria dos mortais - em especial os de cromossomos xy – faria. meu dia já estava ganho. mas eu podia mais. queria mais. queria conhecê-la.
morgana vivia num reino próximo e estava apenas de passagem por aqui.

à noite, ela não estava de adidas. fomos a um bom lugar, tivemos boa conversa. ela tinha mãos lindas, e era muito falante, inteligente, criativa e.. [ainda existe]: acreditava poder mudar o mundo. isso me desnorteou um pouco. a menina era cheia de ideais, crenças, valores. uma criatura apaixonante. nosso contato restringiu-se a essa vez. tudo bem. quase sempre é a mulher quem decide isso e temos de aceitar.

não consegui tirar a espada da pedra, mas ter tomado um café com morgana le fey valeu muito mais a pena do que nunca a ter conhecido.

sábado, 10 de novembro de 2007

licor de menta [para o grande betao]


estava há uns três meses em brasília, estudando para o vestibular, sem obviamente a menor idéia do curso que iria fazer. apesar de natural daqui, havia passado os últimos sete anos fora da cidade e estranhava tudo: arquitetura, concreto, pessoas. como esgotei meu saco para estudar ainda no segundo grau, matriculei-me num cursinho, unicamente para me acostumar à tal metodologia cespe de avaliação [a famosa “uma errada anula uma certa”, algo até então inédito para mim]. e lá acabei fazendo amigos: é mais fácil quando se tem dezessete anos. e eu era apenas um jovem semi-inocente e quase bem-intencionado.

no cursinho, nada de novo no front: putarias, brincadeiras, algumas boas aulas, inconsequências e apelidos, muitos apelidos. alguns até bem criativos. deixei de ser andré para me tornar, por um tempo, “araponga”, alcunha de uma personagem novelística de tarcisio meira, memorável. culpa de um topete cultivado intencionalmente à la morrissey [quando eu ainda era dotado de cabelo].

as coisas corriam bem normóides quando conheci betão, figura bem mais velha e esquisitíssima da “turma de baixo”. eram três turmas de pré-vestibular: térreo [os normais], onde eu estudava, primeiro andar [os cdfs.] e subsolo [os degenerados]. em princípio, a figura de betão inspirava pânico: cabelo do capitão caverna e indefectível jaqueta do exército como uniforme diário, o cara reinava no objetivo como um pária. tinha aspecto meio sujo, meio barra-pesada. e meio gente boa, apesar do receio de me aproximar dele. fomos apresentados por um amigo em comum e a identificação veio fácil: pelo heavy-metal. o betão era aficcionado por iron maiden. pronto. a desconfiança e o receio viraram horas de conversa. a cada dia, trocávamos mais figurinhas e um mês depois, betão já era minha referência em brasília.

o cara tinha uns 25 anos [quando temos 17, achamos que ainda falta uma eternidade para os 25..] e a cada dia vinha com histórias e histórias “barra-pesada”, sobre mulheres, mais mulheres, sobre drogas, sobre rock’n’roll. eu não era conhecedor das mulheres, muito menos das drogas. então, viajava. escutava, de cara, curioso, maravilhado e completamente tomado pela vontade de experimentar um pouco daquele mundo, se é que ele realmente existia. eram histórias escabrosas.. numa época pré-orkut e pré-msn, aquele cara era um autêntico punk. cagava para o estabilishment.

numa sexta-feira de julho [ainda fazia frio aqui], betão veio com a proposta: “quer ir a uma festa muito doida”? o que seria uma “festa muito doida” para um cara absolutamente excêntrico, vivido e quase grotesco? eu ainda não conhecia ninguém em brasília além de meus primos. praticamente não saía. um pouco desconfiado, topei. marcamos cedo [ele sugeriu 21h, o que não entendi] e ficou de me dar uma carona. foi quando me disse: “a festinha vai rolar na unb, mais precisamente no ida [instituto de artes]. putz, vai ser meu primeiro contato com a unb e logo com artistas.. demais!!”, pensei. ele completou “ah, vai ser uma ‘festa do licor de menta”. “hã?! não gosto de licor. acho bebida de tia velha”. ele riu maliciosamente e desconsiderou o comentário.

estava bem frio e à medida em que nos aproximávamos do ida, passei a entender ainda menos o que estava por acontecer. o cara havia me falado sobre uma “festa muito doida”, o que me deixou bem curioso. mas não havia sinal de festa, muito menos doida, nem de licor de menta. a unb daquela época era bem mais escura que hoje, muito mal iluminada. meio assustadora até. e ele me pedira para usar roupas pretas. ótimo. para mim, isso nunca foi problema.

chegamos ao ida. pouca gente do lado de fora. pouca mesmo. mas betão encontra logo uns conhecidos, compra uma cerva, e eu compro outra. tomamos mais cinco, cada um, intercaladas por doses de “chora rita”, cachaça de baixíssima qualidade, deliciosa naqueles tempos. nas próximas horas, o povo começa a chegar. eu, completamente leigo, continuava sem entender nada. mas conheci uns caras, tomei todas e ia curtindo a noite. o som estava legal, muito rock. ali, havia pena de morte velada para quem falasse mal de rock. que saudade.. mas foi quando percebi algo: só havia homens!! socorro. cadê o “gataral” [para usar o termo de um amigo]? betão podia ser muitas coisas, mas não era nerd nem geek. mas eu estava na onda, estava bem.

por volta de meia-noite, toca um sino [agora eu entendia menos ainda] e todos entram para uma sala meio escura. um dos caras começa a ler um pergaminho e recitar versos, como num culto. me convenci de que a festa era realmente doida. de repente, surge na sala uma morena de vinte e poucos anos, muito sensual, gostosa, vestida com um robe de seda branco, do tipo peça de brechó erótico, barata, mas estilosa. por baixo, parecia estar nua.. mas claro que não deveria estar!! rapidamente, juntam-se mesas e está formada uma cama. a essa altura eu não entendia mais porra nenhuma! eis que amulher tira o robe quase transparente e estava mesmo nua em pêlo. em seguida, deita-se tranquila e com cara de safada. alguém aperece nessa hora com uma garrafa de conteúdo verde. não deu para ver o que era, até porquê a essa altura eu estava louco demais para enxergar o conteúdo de uma garrafa. betão solta: “é o licor de menta”. e aí me dei conta de que aquela sequência absurda de coisas era realmente uma festa doida.. um cara usando roupas pretas aparece e começa a recitar algo - dessa vez numa língua indecifrável - como se fosse um sacerdote druida preparando um sacrifício humano. parecia o clímax da noite. "deve ser uma típica manifestação artística" - pensei. "talvez uma instalação", do tipo que se mostra incomprensível a quem não é transgressor genuíno. me senti o máximo! e o cara conclui em alto e bom português: “a cerimônia está oficialmente iniciada”. e derrama todo o conteúdo da garrafa ao longo do corpo delicioso da morena, agora vestida, literalmente, de licor e salto alto. “puta-que-pariu-que-porra-é-essa?!” – deixei escapar em “quase-sussurro”. betão, meio bêbado, vira para mim e diz: “esse foi o brinde formal; agora, vamos celebrar a noite, tomando o licor"... noite memorável. definitivamente, o melhor licor de menta que "bebi" em toda minha vida. e nem me lembro da marca...

encontrei betão numa reunião de trabalho em são paulo, uns dez anos depois, de cabelos curtos [putz, ele parecia tão limpo!!], bastante desenvolto na explanação de um programa de inclusão social para portadores da síndrome de down. após a reunião, fomos tomar um café e conversamos bastante sobre a época do cursinho. chegamos a lembrar de algumas histórias, mas os tempos eram outros: nem falamos de bebidas alcóolicas..

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

começar pelo começo [ode às lideranças alternativas..]


brasília, quarta-feira mais quente do que o recomendado, padaria grão-mestre.

estava de férias na casa de um tio no rio de janeiro [mais precisamente, em icaraí, niterói] há exatos 17 anos, quando numa noite de insônia [em mim, ela é mais antiga do que o carbono 14] descobri uma estante interessantíssima. meio sem querer, vi um livro de shere hite, que me chamou a atenção. descobri que ela já era uma renomada sexóloga americana, autora de um sem número de livros sobre o tema. assisti, há uns 3 anos, ao filme “kinsey – vamos falar sobre sexo”, a respeito da vida do biólogo americano que marcou a década de 40 com teorias inovadoras sobre sexo, comprovadas a partir de muitas pesquisas. na minha opinião, shere hite e alfred kinsey são desses revolucionários que o mundo até descobre, mas não reconhece como tal. deveriam figurar entre os avatares da ciência moderna. desbravaram um dos campos mais espinhosos do conhecimento e, certamente, um dos mais marcados por tabus: a sexologia e suas implicações. hite começou a revolucionar a sexualidade feminina nos anos 60. kinsey desmistificou a forma como o homem americano lidava com o sexo já nos anos 40. esses dois estudiosos são, sem dúvida, minhas grandes inspirações “técnicas” para escrever este blog. digo técnicas, pois tenho como grande influência prática minha própria história, o estímulo de um grande amigo e uma de minhas grandes cúmplices e parceiras em alguns registros da época de graduação, a quem chamarei de 'a amiga da diana'. certamente esses dois eixos mesclam-se e se complementam para dar forma ao texto.

começo essas despretensiosas linhas inspirado por “sweet jane”, hino de uma de minhas bandas preferidas: velvet underground. nada mais propício: tem 'underground' no nome e seu vocalista, lou reed, foi casado com um travesti.. além de haver sempre se mostrado uma figura talentosa, criativa, introspectiva, inquieta, e amigo do andy warhol. não poderia ser de outra forma. nas próximas páginas, devo falar sobre minha fixação pelo rock, em especial, suas variações produzidas nos anos 80.

ainda procuro vencer o amadorismo e a confusão mental para colocar no papel 34 anos de viagens, bloqueios, aventuras, loucuras e lisergias que, de uma forma ou de outra, refletiram-se na total e absoluta quebra de preconceitos no campo sexual.
já havia concordado com a idéia. faltava decifrar a fórmula do ‘como’ fazer. depois de três heineckens, um sonho de creme comprado ontem e uma eisenbahn strong golden ale [vale a pena guardar esse nome], confirmei a idéia: será mesmo um blog. ora, nada mais indicado. usaria o recurso como "piloto" para alcançar algum público, com a comodidade de estar protegido pelo distanciamento da tela do computador; entraria de vez no século XXI, tão resistente que sou à tecnologia, e testaria uma idéia que ainda me causava certa relutância.

decidi começar da seguinte forma: breve resumo de minha adolescência em são luís do maranhão, e um mergulho na época do meu curso de graduação, já em brasília, where the real fun begins. ou não. lembro da frase cabalística de um professor de filosofia do direito, há quase 15 anos: "o homem é um ser biográfico, não biológico". sensacional. foda-se quem você diz que é. o que vale na vida é o que você faz!! cheers.

por hoje está bom.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

com licença. escritor bissexto entrando..





influenciado por uma fase esquisita, mezzo deprê-mezzo cética, estimulado por um de meus entusiastas intelectuais, e por alguns seres interessantes com passagem recente pela minha vida, resolvi criar um blog. meio desconfiado dessas modernoses, tentando vencer a preguiça e a falta absoluta de tempo, topei o desafio. e acho que pode dar certo. obviamente, quem decidirá é você.
há tempos aprendi com meu pai um termo que passei a adorar: 'escritor bissexto'. e aí, bem de vez em quando, meu pedantismo me provoca a escrever algo e me convence que valerá a pena..
bom, ter talento artístico, em minha opinião, não é algo tão questionável. a arte tem valor - inclusive estético - e pode ser discutida. mas não deixa de ser a manifestação livre da criatividade. aí eu me permito 'chupar' a premissa do satanismo: "tudo o que fizeres, será a lei". porra, se um dos maiores artistas da modernidade explodiu para o sucesso pintando latas de sopa, tudo, literalmente, pode. além disso, até paulo coelho foi aceito na ABL..

e sobre o que será esse blog e que porra é H21?! isso será explicado oportunamente, mas em suma, me cansei da associação 'sexo frágil' = mulher. cansei de ver homens atrapalhados atrapalhando-se nas relações romântico-sexuais. de ver esses homens gabando-se de feitos e de falácias criadas para manter o mito da virilidade. da superioridade. da frieza masculina. da obediência cega à padrões inventadados mem me lembro por quem.. fucking bullshit! mas me cansei também da 'reação feminista' que desde a revolução sexual tem encastelado a mulher em neuras das quais ela ainda não sabe como sair, o que gerou mais incompreensão em relação ao homem. pois bem. distanciamo-nos e não conseguimos compreender mais uns aos outros. e tome análise, terapia..
a verdade é que cansei de ver homens e mulheres relutando em aceitar algumas verdades simples - mas absolutas - inerentes a cada sexo e que de repente nos acostumamos a negar e mascarar a todo custo: homens são mais inseguros. mulheres são mais instáveis. trata-se de premissas dificilmente refutáveis..
cansei de nos ver, inclusive, com dificuldades para entender o romantismo, para assumir o lado feminino.. eita, que blasfêmia!!! macho não tem lado feminino! pois é. de acordo com alfred kinsey, maior teórico sexual do século XX [que por acaso era biólogo], tem sim. vou digerir de kinsey a shere hite [em minha opinião, maior sexóloga da história], de fernanda young a fernando gabeira, vou 'passear' por arquétipos e histórias, para tentar entender a construção da identidade masculina, e as besteiras que nós fazemos. dentre outros. vou também aproveitar minha humilde experiência, para tentar 'ler', interpretar, processar e situar o homem na era pós-revolução feminista. mais precisamente, nessa entrada no século 21. daí..

pensei um pouco sobre como construir esse blog. tenho algumas 'viagens' autobiográficas escritas e resolvi aproveitá-las. mas não queria simplesmente registrar meu passado, qualquer que fosse a impressão causada por ele. quero contextualizar o[a] leitor[a], por meio de alguns fatos e perspectivas que acredito curiosas. acho que essa fórmula poderá facilitar o entendimento do que escrevo sobre o presente, e proponho para o futuro. espero que nós, homens, nos entendamos melhor, para assim compreendermos melhor o[s] sexo[s] oposto[s], o mundo e nosso lugar nele. talvez um mínimo de êxito nessa empreitada facilite também a compreensão das mulheres a nosso respeito. considerando minha provável falta de talento literário, tudo será feito num clima bem relax. para quem escreve e quem lê.
e que assim a convivência entre tod@s seja mais tranquila, pelo menos nesse mundo.

mas, como diria o velho guerreiro: "eu vim para confundir"..

então, posso entrar?