terça-feira, 8 de janeiro de 2013

cantinflas e o políticamente correto

vivo no país do futuro há quase 40 anos e só muito recentemente o Brasil parece ter encontrado o sucesso de seu presente. acostumamo-nos a uma felicidade morna, refletida num sorriso esquisito de canto de boca, misturado com a testa franzida. mas como se mede o valor de um sorriso? desde cedo essas questões têm me provocado reflexão. acredito que a arte de fazer rir é mais séria do que o drama, e me pergunto: será que essa arte tem mudado com o passar dos tempos? sempre tive mais identificação com as angústias humanas, mas não me lembro desde quando sou metido a engraçadinho. sátira e ironia poderiam ser meus sobrenomes e gosto dessa característica, me alimento dela. essa percepção começou com o gosto pelos elegantes filmes mudos de buster keaton, passou pelos geniais e escrachados three stooges até o mestre jerry Lewis. nessa tábula, deveria sentar-se mais um gênio, pouco celebrado: o mexicano fortino mario alfonso moreno reyes [1911-1993] ou, cantinflas. inspirou toda uma escola de fazer rir, e outros gênios, como o próprio jerry lewis. casado por 56 anos com a atriz valentina ivanova, cantinflas fazia rir com um simples revirar de olhos, e com um movimento bobo do rosto provocava o que jim carrey não consegue com todo seu repertório de caretas forçadas. o bigodinho ordinário e o olhar perdido, inocente, reforçavam a persona do camponês simplório e pobretão tantas vezes encarnada por cantinflas. ele era meio que o didi daqueles filmes legais dos anos 70 [quando os trapalhões eram 4 e ainda engraçados]: um fracassado, quase sempre à margem da trama principal, e que passava longe da mocinha. apenas contribuía para que o galã ligasse os pontos e amarrasse a história, que “fechava” bonitinha e equilibrada. mario moreno é pra mim um marco da contracultura hollywoodiana. em LA, fez poucos filmes e nuca foi integrado ao mainstream cinematográfico. ele equilibrava dois mundos aparentemente incompatíveis: vivia sempre o bom moço e ao mesmo tempo, o pária, o lado B. e a simples menção do politicamente correto me cansa.. vivemos num mundo absurdamente contaminado pela culpa – seja ela católica ou não, que tem produzido um exército de deprimidos e tem enriquecido a indústria de medicamentos com prozac, omeprazol, levitra etc. nesse ambiente culpado, sentir graça parece errado. rir parece estranho. e rir de coisa séria é um absurdo passível de pena de morte. minha adolescência foi cinza, mas não sei de que cor seria se eu não tivesse me entupido de angeli, laerte, TV pirata e jerry Lewis. que delícia nos distanciarmos do olho do furacão, olhar para trás e rir de tudo. o que aconteceu com o humor atualmente? num fôlego de criatividade, apareceram CQC e ´pânico na TV´. tudo bem, modernizaram a forma de fazer rir e ambos enfrentam com bravura a ditadura do politicamente correto. são, por isso mesmo, necessários. precisam existir. mas falta algo.. perdeu-se a naturalidade. o dom, antes intrínseco, enferrujou a até o talento parece pasteurizado, fabricado por encomenda. cantinflas teve uma carreira prodigiosa. fez 55 filmes e em alguns deles, também dirigiu, escreveu e cantou. no papel de passepartute no maravilhoso arround the world in 80 days, seu filme mais famoso, encantou gerações e provocou muito riso num contexto bipolar, esquizofrênico e claro, politicamente correto.

5 comentários:

Tati Reuter disse...

Hello dear! Não conheço esse moço. Eu gosto de um monte de comédias e comediantes, esse aí me parece ser o Mazzaropi do México, mas posso estar errada. Também não sei quem veio primeiro, mas os dois me parecem ótimos. Eu não gosto da comédia imbecil dos stand ups que exageram no 'politicamente incorreto', acho que alguns passam da dose (Rafinha Bastos) enquanto outros são simplesmente sensacionais (Woody, Seinfeld).
Mas, também gosto da parte ingênua, sou eterna fã de Chaves.
E amo eternamente Mussum e Zacarias! Bom te ver de volta ao nosso mundo. :)

Nazareth Pinheiro disse...

Sou dramática demais pra rir da comédia. O que geralmente me dá acesso de riso é a tragédia. Quanto msis trágico e mais absurda a situação...mais cômico para mim. Bjs.

Anônimo disse...

Cantinflas é massa!

Caraca Dedeh, tu tá meio por fora? Tu nao acha natural como Family Guy, ou até mesmo, Community enfrentam o PC? Sem bem que, como no outro post vc revelou que tava curtindo Velvet Underground, talvez vc fique ofendido com algumas piadas hahahaha

MTFBY
Mosh!

Gabi Goulart Mora disse...

Vc viu que Jerry Lewis está de volta em uma nova produção aos 83 anos?!! Ele interpreta um pianista de jazz. As filmagens já começaram. Veja a matéria: http://pipocamoderna.com.br/jerry-lewis-comeca-a-gravar-seu-novo-filme/226230

ag disse...

sensacional! jerry lewis já havia "renascido" numa participação superespecial em wiseguy [homem da máfia], 1988. mas pensei que tivesse morrido, pois sofre de uma distrofia muscular gravíssima..