sexta-feira, 7 de agosto de 2009

RIP

a primeira vez em que ouvi falar de john hughes foi em 1985 quando assisti ao inesquecível sixteen candles [exibido no Brasil com a infame alcunha de gatinhas e gatões – putaquepariu!]. a proposta era humorística, mas havia algo diferente.. não parecia um dos excelentes filmes dos trapalhões; ou os antológicos filmes de jerry lewis, ou mesmo os amalucados filmes de peter sellers. definitivamente, eu estava diante de algo novo, e sentia algo novo: o poder de john hughes. esse carismático diretor e produtor que influenciou [para usar um termo leve] minha geração, mudou a linguagem da comédia cotidiana, propôs reflexões e discussões sérias, por meio de uma linguagem simples, dirigiu os maiores sucessos da chamada brat pack, faleceu de infarte ontem, aos 59 anos. a ele rendo minha homenagem.

hughes contribuiu em larga escala para o começo de meu processo de socialização adolescente. a ele, os devidos créditos por isso. mas ele também teve sua parcela de culpa na construção de minha realidade paralela, deliciosamente adubada e esquizofrenicamente protegida durante os últimos 20 anos. no fundo acho que se já gastei algum dinheiro com psicoterapia, devo algum crédito a hughes. mas se tenho alguma habilidade para aproveitar as coisas boas da vida, relaxar em momentos certos, planejar e executar coisas legais, sem pressão, medos ou preconceitos, também é por causa do cara.

lembro-me de uma aula inocente de inglês, no alto dos meus 14 anos, quando um professor gente boa de origem ucraniana deu a dica de um filme novo, introspectivo, meio parado, mas diferente: era breakfast club, talvez a obra-prima e grande legado cinematográfico de hughes. se sixteen candles me chamou atenção para o cara, breakfast club me carimbou o passaporte para entrar em seu maravilhoso mundo. aquela história meio maluca, sobre moleques em princípio sem nada em comum e que são obrigados a passar um sábado juntos de castigo na escola não faria o menor sentido, nem teria o menor apelo se contextualizada em qualquer outra época, assistida por qualquer outra geração. uma breve pesquisa comprova essa teoria. por isso, considero-me um sortudo. eu vi, vivi e senti física e psicologicamente os efeitos de seus filmes.

o que esse cara tinha, para retratar tão bem, para propor, definir e balançar os alicerces da minha geração? simples: era um gênio criativo do cotidiano e com sensbilidade mais que aguçada. pra quê usar drogas na adolescência se havia filmes de john hughes?! não, drogas serviam para os fracos de espírito: hughes era a verdadeira viagem.

faço uma única ressalva sobre o cara: talvez hughes tivesse sido ainda mais compreendido por aqui, se fôssemos expectadores americanos: ele escrevia magistralmente para os highschoolers. era para decifrar a psiquê do jovem americano que o gênio hughes trabalhava. no caso específico de breakfast club, foi para mim um daqueles ritos absurdos de passagem, divisor de águas na forma de perceber as coisas, as pessoas, a mim mesmo. e a película dá a pista para tentarmos decifrar o universo hughesiano: tudo, todos e todas as relações podem, quando se tem 17 anos, ser facilmente classificadas e tribalizadas.

pode ser reducionista ou mesmo preconceituoso de minha parte fazer tal afirmação, mas em qualquer nicho escolar, havia sempre um cara meio marginal, um esportista conhecido, uma gatinha popular, um nerd tímido e uma ovelha negra diferente, enigmática. óbvio, mas não ululante. foi preciso que um talentoso diretor propusesse essa realidade simples, permeada por conflitos simples, para que toda uma geração acordasse para o seu valor.
RIP, mr. Hughes.
sincerely yours,
ag

3 comentários:

Tati Reuter disse...

Hello!!! Finalmente voltei ao universo dos blogs. Também preciso escrever sobre esse diretor mega da minha adolescência (também!). Os filmes de Hugues tornaram-se fundamentais ainda nos meus anos escolares, não mais no cinema, lógico. Tive a felicidade de assistir o Clube dos Cinco (seu breakfast amado), Footloose (sensacional, obra prima do mundo) e até os Esqueceram de Mim (claro, outra proposta...). Esses são os que me lembro. Gosto bastante e concordo plenamente com a idéia da inocência dos filmes e da geração. Vim no ônibus para o trabalho hoje lembrando de ler seu texto e de como escreveria um, pensando justamente nesta forma de fazer filmes da adolescência, que Paris Hilton por exemplo, está destruindo com todas as forças. Combinamos em idéias, baby! Gosto bastante do texto e na minha escola também tinham os tipos, em menor ênfase, mas tinham... vejamos: as populares metidinhas que todos querem pegar; as populares gente boa e meio abestalhadas que não pegavam ninguém... hehehehe (meu 'grupo'); a galera muito doida (que depois também se uniu à nós) e... não sei mais... acho que o universo dos esportes também... e o neto do dono da minha terra que ele sozinho já era um tipo. Bju!!!

Anônimo disse...

Uma justa e bem escrita homenagem a um gênio do cinema que agora é Um com a Força. Nada para sacanear aqui, uma pena.

Notei que em vários lugares, mas vários lugares mesmo, Some Kind of Wonderful é raramente mencionado como filme dele (escreveu o roteiro). Uma pena esquerecem de SKOW (ou Alguém Muito Especial em português), grande sacada dele fazer um Pretty in Pink ao contrário.

escrevi sobre isso no teleseries - alias o post inteiro do teleseries e os comentarios ficaram todos muito bons - recomendo:

http://teleseries.uol.com.br/tributo-a-john-hughes-o-rei-da-sessao-da-tarde/#comments


MTFBWY,
WampaOne

ag disse...

putz, seu "anônimo", sensacional esse teleseries! valeu.
all hail to totó and manowar!