terça-feira, 4 de agosto de 2009

dúvida

isso é quase um post-por-encomenda, aproveitando a proposta de uma amiga para que eu escrevesse sobre um tema específico – filhos. talvez quem lê isso, pergunte-se: sou estranho, idiossincrático, “do contra”, não sou pai e escreverei sobre o assunto? sim, isso não interfere no resultado. não há conclusões, só provocações e viagens.

nunca pensei em casamento como a maioria das pessoas - além de meus pais, meus dois irmãos que se casaram, seguindo ritos legais, inclusive, já estão separados. cresci na era do divórcio, então, essa sempre foi a regra para mim. o divórcio parece-me sempre o rumo natural das coisas e.. não sou arauto do pessimismo, mas acho que a separação pode fazer parte da relação - formalizada ou não; e deveria ser encarada como tal. no meu caso, em nenhum momento da vida tive deslumbre, vontade, fascinação, ou mesmo curiosidade pelo casamento. conheço exemplos de amigos, pessoas que adoro e respeito, que se casarem e vivem relação formalizadas felizes. não vou começar – de novo, a tentar justificar porque acho que se duas pessoas se gostam, basta que estejam juntas. não precisariam formalizar a união para legitimá-la. pois bem.

meu pai um dia me disse, categoricamente: - filho, podemos viver com 20 mulheres, mas casar, é só com uma. será? talvez. provavelmente.. mas que aura celestial é essa que se criou em torno do casamento formal? em que momento histórico paramos [se é que o fizemos algum dia] de prestar atenção na essência, para priorizar a forma, o rito? o que os livros escolares fizeram? quem eu devo processar? na verdade, vale a lei do ‘foda-se’ e o que vale é ser feliz, desde que não estejamos impedindo – ou dificultando a felicidade de outrem. mas não entendo, até hoje, o rito formalístico do casamento. se se tratasse de condição certeira para a felicidade, tudo bem. mas nem sempre é o que ocorre. pelo contrário, parece que a formalização da união, na maioria dos casos, decreta sua falência. difícil teorizar..

minha vontade de ter filhos enferrujou junto com minha vontade de ter dreadlocks. não me lembro de quando quis ter um filho, mas já quis. da mesma forma, não me lembro de quando pensei em usar dreadlocks. querer eu até quis, mas sem a menor vontade de passar dois meses sem lavar o cabelo, esfregando a porra das tranças, imundas, até darem “liga”. mesma coisa com os filhos. em algum lugar do passado deu vontade de ter filho. óbvia – e felizmente, essa vontade foi permeada e potencializada pelo fato de que sempre me relacionei com mulheres que valiam a pena. sempre tive excelentes namoradas – confiáveis, companheiras de sextas, planos e domingos apesar dos defeitos muitos e naturais.

outro dia revi – pela enésima vez, o filme ‘juno’. prestei atenção em um trecho do qual não me lembrava: a personagem de jennifer garner, ao conversar com uma helen paige em crise, diz que as mulheres tornam-se mães no momento da concepção [acho que acontece mesmo antes disso], e os homens tornam-se pais quando nasce o filho. generalizações à parte, achei perfeito. não se trata da explicação [até porquê acho que essa é, antes de mais nada, genética] para a diferença de percepção do conceito ‘filho’, para homens e mulheres. se estes são diferentes, por que não o seriam na paternidade e maternidade? mas a questão aqui é aceitar que a diferença abissal entre XY e XX teria, sim, um reflexo na forma como percebem filhos.

há idade certa para ter filhos? claro que não, mas aqui reside um cruel aspecto: posso decidir ser pai aos 80 anos. é possível. Mas uma mulher luta contra um dos mais impiedosos inimigos já identificados: o tal do relógio biológico. o alarme que dispara – em média, aos 35 anos para o fato de que se pensou em filhos, que implemente o plano. se não pensou, é bom fazê-lo para “ontem”. isso é foda: transforma mulheres interessantes em seres fragilizados e confusos, apressados e histéricos. transforma uma fase, uma etapa do relacionamento, que deveria ser curtida a seu tempo, na finalidade mor de toda a existência. tem nexo? por causa dessa fragilização, continuam-se referendando escolhas erradas e aceitando tais escolhas como caminhos sem volta.

porra, conheço algumas mulheres tão interessantes, tão competentes, tão profissionais, que tornam difícil para um leigo como eu entender a onda do pânico da maternidade. talvez esteja na hora de uma segunda revolução sexual, na qual não se queimariam sutiãs, mas as cartilhas em que se definiu pela primeira vez essa função da maternidade com tamanho peso, com tanta cobrança.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá André!

Estou retribuindo a visita. Adorei suas releituras!

Quanto ao Sarney...isso é uma máfia. Cabe ao povo se conscientizar e botar o "pau na rua" para cobrar melhorias.

Sucesso!

ag disse...

gracias, júlia gil. é devido a perfis como o seu que esse blog existe. entre quando quiser.
ag

popfabi disse...

adorei. beijo e obrigada. fiz um link para o meu blog, tá?

Anônimo disse...

Por favor, pode divulgar!!

Beijos

Julia

Ana Chalub disse...

há mulheres fazendo, sim, uma segunda revolução sexual. mas ela ainda é tímida. são poucas as mulheres que pensam assim e menor ainda é o número das que assumem.

esse assunto é mal recebido entre amigos - e, principamente, entre amigas, sejam elas mães ou não. eu não tenho vontade de ter filhos, embora goste muitíssimo de crianças. como ainda não cheguei aos 35, ainda corro o risco de me tornar uma interessante desesperada e histérica. mas aposto muitas fichas como isso não vai acontecer comigo.

viva quem quer ter filhos. e viva quem não quer!!!

ag disse...

boa contribuição, ana chalub. a regra deveria ser não ficarmos escravos de regras ou padrões, em especial, sem refletir, sem questionar..