já escrevi sobre isso, mas sempre estranhei pessoas que após anos dividindo edredon, refeições, confidências e prazeres, vêem-se, após o término, num campo de batalha, brigando para ver quem “saiu por cima” da relação; quem tinha razão nisso e naquilo; mensurando e comparando o valor dos presentes trocados, se aquela prima deu realmente mole para ele, ou se aquele colega de trabalho queria mesmo pegar a mulher. raiva, rancor e ódio parecem apagar bons e ótimos momentos vividos no passado. nunca entendi isso. poucas vezes fui compreendido por optar – e conseguir, ser amigo de minhas ex-namoradas, com as quais minha relação varia de fantástica a boa. ontem assisti .apenas o fim., de matheus souza, e me senti bem menos solitário nessa percepção.
há muito o cinema descobriu o apelo de um tema que tem capacidade inesgotável de reinvenção e de propor questionamentos: o relacionamento romântico. o filme é um projeto underground de estudantes de cinema da PUC-Rio [todas as externas são gravadas num gostoso passeio pelo campus] e se vale do recurso da metalinguagem para misturar, com humor atual e leveza rara, before sunset e juno. ainda que algumas referências utilizadas sejam mais facilmente apreendidas pela geração pokemon/orkut, as reflexões do casal durante a última conversa antes do término são atemporais e compreensíveis para qualquer um que já se questionou sobre amor, paixão e solidão.
o diretor matheus souza foi muito feliz na escolha do casal de protagonistas – erika mader e o ótimo gregório duvivier, bem como na condução com planos longos, sem muitos cortes, que dá a sensação de um passeio cotidiano pelo campus da PUC-RJ, na companhia dos atores. durante pouco mais de uma hora e meia, o expectador tem a chance de vivenciar a história de amor do improvável casal bonitinha / nerd, por meio de uma linguagem fácil e coloquial. esse recurso facilita a compreensão e, em especial, a identificação com a história. a sutileza no entanto mascara uma séria e contundente discussão sobre relacionamentos.
para mim, o coração da história está no momento em que a personagem de érika defende que quando se vive uma relação franca e intensa, com entrega, o fim torna-se apenas.. o fim. não deve ser lamentado. acho que relações modernas podem encarar o fim apenas como o encerramento de um processo que, se vivenciado plenamente, terá valido e pena. o filme de matheus souza é um delicioso convite a essa reflexão.
4 comentários:
quando crescer, quero amar igual a você! beijo
fabis, muito provavelmente você já consegue isso da sua maneira.. para pessoas leves de espírito - como você, o resto é prática.
beijos!
Ta rolando um sentimento por aqui... (Mac, vc tem um critico de cinema reprimido ai dentro!)
eu si, milli, eu sei. e sofro com isso!
Postar um comentário