primeiro foi o inesquecível - e quente para caralho - showzinho dos titãs no ginásio paulo serasate, em fortaleza. era dezembro de 1989 e branco mello ainda cheirava até o rabo: não por um acaso, foi o show mais elétrico que presenciei, com o cara quicando no palco como uma mangueira cortada abruptamente. acho que havia uns oito mil cúmplices da ira, revolta e felicidade da banda. sete anos depois, o fantástico show do the cure no pacaembú acertou as contas com uma paixão adolecente: a banda já não povoava os primeiros lugares das paradas, nem contava com a chupação insuportável da MTV, que transforma taquaras em astros da noite para o dia. mas foi escolhida como headline da edição do hollywood rock de 1996 por um abaixo assinado de vinte mil pessoas. pronto, ali, me tranquilizei e não esperava mais sair de casa, pegar trânsito, suar, ser suado, enfrentar longas e sacais filas, para ver outro show de rock. ainda em brasília, em 2005, presenciei uma feliz exceção: um show de alta qualidade do placebo na concha acústica. mas ainda faltava algo.. até ontem à noite.
já escrevi sobre as maravilhas do ano de 2007 em termos de.. bem, tudo. sobrevivi a ele, mas à exceção disso, não sobrou nada. ou quase nada: descobri a banda the national, surpresa roqueira do “baixo” brooklin, NYC. assim que eles foram confirmados como atração do tim festival, vibrei. ponderei. e resolvi ir ao show. seria o meu primeiro, depois da mudança para terras cariocas. marquei com algumas pessoas de diferentes nichos, mas acabei ficando só: uns furaram, uns venderam o ingresso, outros desmarcaram. e aí? bom, aí, porra nenhuma. peguei o metrô até quase a marina da glória, cobri a pé o resto do trecho e lá cheguei. a arena era bem legal, parecia um ginásio projetado para shows, estimulava a empolgação. a iluminação estava ótima e o som, melhor ainda, apesar das falhas que aconteceriam. no local, modetes, globetes, gostosinhas jovenis, mulheres interessantes, jornalistas.. depois de comprar duas fichas de cerveja, me sentei no chão [cena bonitinha quando se tem 20 anos, mas meio patética quando se é um grisalho de quase 36..]. mal comecei a beber a primeira cerveja quando.. para minha estranheza, o show marcado para 22:30h começa.. às 22:30h!! como assim, show de rock começando pontualmente?? ah, show que respeita o público costuma ser assim.. apesar dos pipocos no som, havia respeito. acontece.
o local estava meio quente, mas era perfeito para o show: uma tenda com cerca de 6 mil pessoas, lotada, mas completamente tranquila, favorecia o congraçamento da tribo roqueira: sem empurra, sem bagunça, sem porrada [ai que saudade de brasília!]. os caras começaram na hora marcada a destilar uma cartela de sucessos para fãs que sabiam cantar as músicas. os que estavam no gargarejo [consegui, tranquilamente] ainda eram premiados com bate-papos quase exclusivos com o vocalista, que tinha muita energia, beirava a epilepsia "ian-curtisiana". foi catártico. não me senti velho. não me senti deslocado. não me senti cansado. me senti bem. a combinação de uma apresentação empolgante, quase “branco-melliana”, total empatia com o público [mais um séquito de fãs], traduziu uma noite memorável. e confirmou algo que há muito já sabia: sou mesmo filho do rock.
mantive a média de ir a um show inesquecível por década. e o bom é que daqui a dois anos começa uma outra.. espero que o rock continue dando bons frutos capazes de quebrar minhas resistências idiossincráticas. como escreveu angeli em crônica de 1986: “tudo passa, até a mpb, mas o rock é eterno”.
ponto baixo da noite: estava difícil escolher.. até eu presenciar o supla do meu lado, de terno rosa. fazia poses e esperava os fotógrafos se amontoarem para mais poses e mais clicks. caralho, o cara deveria ajoelhar-se e pedir perdão ao termo ‘punk’!
2 comentários:
Desses que vc citou, infelizmente só fui no do Placebo e concordo: foi sensacional!
andré, se você for embora de brasília e eu não te ver, compro um terno rosa-supla e deixo na porta da casa da sua mãe pra você!
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