domingo, 10 de agosto de 2008

flerte

“i thought flirting was to get someone to notice me. now I realize it's making another person feel appreciated”.

a frase não é de bill murray ou scarlett johanson, no magnífico, intimista e solitário lost in translation [2003], mas sim da consultora em resolução de conflitos Jackie shonnerd, 53, divorciada, mãe de 2 filhos adultos, e revela uma face da mudança de paradigma vivenciada pela sociedade atual, no tocante a relacionamentos. sempre quis entender o mecanismo que desencadeia a primeira etapa de atração entre 2 pessoas. sempre tentei decifrar o que de fato atrai, antes de qualquer coisa, uma pessoa em outra.. a partir de uma curiosa sucessão de fatos recentes, senti o timing. estava seguro para retomar o projeto blog, falando do flerte.

difícil teorizar, explicar ou mesmo entender o flerte. mais difícil é mensurar, quantificar um flerte, para defini-lo como bem sucedido. mas a frase de shonnerd dá a pista: não é uma ação tão egoísta quanto parece à primeira vista, mas há algo mesmo de altruísta nele. ao “fazer outra pessoa sentir-se apreciada”, é possível quebrar o gelo que separa, inicialmente, duas pessoas, exatamente, ao ressaltar o potencial de atratividade da outra. o flerte produz reflexo em duas frentes: de maneira exógena, “massageia-se” o ego alheio, amolecendo resistências e preparando terreno para explorar o infinito particular dessa pessoa, exercendo nosso poder de sedução; de maneira endógena, o processo é semelhante: amolecemos nossas próprias resistências, relaxamos bloqueios e ganhamos confiança para abordar a outra pessoa, fortalecendo-nos para o maior risco de uma abordagem do tipo: a rejeição. o flerte protege o agente, baliza o caminho para ação e prepara a reação do paciente. aí me pergunto: onde, exatamente, começa o flerte? difícil também.. mas acredito que ela esteja situado no epicentro entre acaso, afinidade[s], interesse e atração. não necessariamente segundo essa ordem. o que motiva o flerte? flerta-se para ficar com a pessoa? por que nos sentimos atraídos por ela e, assim, compelidos a nos lançarmos na cruzada indômita da sedução? flerto porque a outra parte está flertando comigo? ou flerto para fazê-la flertar comigo? o flerte é quase simultâneo, mas seu sucesso está vinculado ao êxito dos instantes [às vezes nano segundos..] que antecedem a ação – surpresa ou reciprocidade. se o flerte é o bolo da relação romântica [gostoso, descompromissado, inconseqüente, excitante, sedutor], aqueles momentos que o antecedem são a cereja, o grande arremate. além disso, é seguro e não requer uso de preservativo..

li há pouco no site bbcbrasil uma nota curiosa sobre 57 jovens sauditas presos por flertar com meninas em um shopping center. a matéria revela o quão subestimado é o flerte e seu poder como mecanismo de expressão, de libertação sócio-cultural, de exercício da auto-estima. de regra, apesar de um problema crônico de auto-estima, as mulheres têm historicamente exercido a habilidade de flertar. fazem-no por vezes inconscientemente, mas também podem premeditar, planejar, arquitetar, testar e executar o flerte. em geral, mostram-se mais habilidosas que os homens para flertar e ainda que as subjuguemos atiradas ou vagabundas – mais por preconceito e inabilidade nossa – essa habilidade as confere vantagem comparativa no jogo da sedução.

o flerte é como um vírus em constante mutação: não há profilaxia ou teorização que nos prepare para ele. não é possível escrever um guia do tipo lair ribeiro para o flerte bem sucedido, uma vez que acontece por um canal de comunicação particular - e praticamente exclusivo – entre duas pessoas. assim, é influenciado – e ditado – pelos signos utilizados para essa comunicação. por isso pode ser tão difícil flertar com alguém de outra cultura; por outro lado, como o flerte é produto da sociedade em que é praticado, flertar com estrangeir@s pode ser particularmente excitante.

uma fantástica vantagem: flerta-se em qualquer lugar e em qualquer situação: em festas, enterros, hospitais, universidades, escolas, na fila do brócolis, do INSS, em lojas, aeroportos [ah..], na cobal, igrejas, clubs, bares, botecos etc. e é gratuito.
pela própria natureza efêmera do flerte, ele não gera as complicações de outras formas de interação. a bem da verdade, um flerte pode acabar de duas formas: ou evolui para algo mais íntimo, ou acaba, no vazio. mas TUDO pode acabar em flerte. o importante é que o “jogo” estará ganho para quem flerta. se não acontecer absolutamente nada, terá valido a pena exercitá-lo.. e quão infinitos são os mecanismos de flerte! uma conversa, cumplicidade, um olhar, a ausência de um olhar que, sabemos, está lá ..

preste mais atenção no que acontece à sua volta e quem sabe você não depara com um delicioso flerte?

5 comentários:

popfabi disse...

sim!
o importante é praticar o esporte!
saudades!

Anônimo disse...

“Cara, minha leitura do seu blog é tão bissexta quanto seus acréscimos nele. Mas isso não importa. Afinal, conheço você há algum tempo, e muito do que você escreve aqui você já me disse ou a gente já discutiu. Há surpresas agradáveis (embora eu não me surpreenda mais tanto com você de uns tempos para cá...), como a história do licor de menta. Do cacete! Ou melhor... Bem, o fato é que mais gente neste mundo – de preferência outros homens, eu quero dizer – precisa saber que você existe. Calma! Você não é o máximo. Ao contrário, você é o mínimo. E está aí sua vantagem sobre a maioria dos outros machos. Não precisa contar o número de ‘menos’ que vou usar a seguir para explicar este meu aparentemente estranho ponto de vista.

Você é o menos machista dos homens que eu conheço.

Você é o homem com menos preconceito contra gay que eu conheço.

Você é o cara que menos tem vontade de partir para a porrada quando outro cara olha para sua gata na balada.

Em suma, você é o cara que menos sente necessidade de provar sua masculinidade (nem para si mesmo, nem para ninguém – muito menos para outros machos).

Bem, eu poderia continuar com essa lista meio bajuladora (embora sincera e fiel à realidade). Mas está na hora de dizer por que tenho que dizer tudo isso – e mais: tenho autoridade para dizer isso. Sou gay. Não sou bissexual. Não sou apenas HSH. Sou gay. É bem verdade que não uso collants para sair, não rebolo quando ando, nem dou piti (bem, às vezes, vá lá!). Enfim, não sou um cara que qualquer um pode dizer, só de bater o olho em mim, que sou gay. E NUNCA, nem um segundo na minha vida, em cem anos de amizade, percebi o menor sinal de preconceito de sua parte por causa disso. Menos ainda de discriminação. Você é desprovido disso. E já se submeteu a situações suficientes para eu ter tanta certeza disso. OK. Não sou uma bichona. Isso, em tese, ajudaria um homem puro sangue (como sei que você é) a me aceitar, como, aliás, sou aceito entre outros machões sem maiores traumas. Mas não sou seu único amigo gay. Você tem um punhado deles. Alguns não são tão amigos, mas você sai com eles. Senta-se a uma mesa de bar rodeado deles – alguns bichonas, bem bichonas. Daí eu dizer que você tem menos preconceito (ou mais paciência) do que eu, pois raramente me sento a uma mesa rodeado de bibas – aliás, evito isso a todo custo. Você não. OK. Podem até dizer que você faz como muito macho por aí, que anda com boiola para pegar a mulherada. No way! Você não precisa, nunca precisou e certamente nunca vai precisar disso. Não rola essa desculpa. Não rola mascarazinha para disfarçar o preconceito – ou uma suposta homossexualidade latente. Sem essa merda psicológica barata! Você não tem preconceito contra gay e ponto. Fim de papo. Cara, eu conheço muito homem – como amigo, como “brother” (como você) e, claro, como potenciais amantes. Nenhum deles – entre eles, muitos homossexuais como eu – demonstra tanta naturalidade diante da homossexualidade quanto você. Daí eu levantar sua bola e dizer que você é sexualmente bem-resolvido para caralho. Alguns podem até achar que tenho tesão explícito ou recolhido por você. No way. Não mesmo. E a gente sabe disso. Aí está a graça. A gente sai junto, eu falo de homem, você fala de mulher, eu falo de mulher (afinal, não trabalho com o produto, mas sei botar preço na mercadoria...), e NUNCA rolou o menor tesão de mim para você. Obviamente, gente metida a psicóloga pode inventar qualquer merda sobre nossa amizade. Bulshit! Quem já pensou ou pensa isso vive numa casca de ovo e não saca nada de gente. Quantos a essas questões, o mundo anda devagar. Muito devagar. Daí eu achar que você tem mérito por estar simplesmente com seus dois pés (geralmente calçados de tênis Adidas) plantados no século 21. A maioria dos machos passeia na montanha russa do tempo, quase sempre entre a Idade da Pedra e a Idade Média, inclusive alguns que se dizem ‘liberais’. Hã, hã... DEFINITIVAMENTE, outros machos precisam saber que é possível ser macho sem se preocupar com isso. Puta que pariu! Fui longe. Ponto final.”

Anônimo disse...

To a dark place this line of thought will take us...Cade as tuas historias lendarias para eu desmascarar? Eh isso que tu vai escrever agora!?!1? Esse monte de agua? Toma tenencia rapaz.

Elabora sobre o flerte do aeroporto que dah mais futuro.

"Você é o cara que menos tem vontade de partir para a porrada quando outro cara olha para sua gata na balada." Eh porque nego nao olha para o peh...se olhasse, ele ia ficar puto. No entanto, dizem as mas linguas que a qualidade dos pezinhos conquistados pelo H21 anda decaindo...

Vascao rumo a, rumo a...rumo a permanencia na primeira! Off to the Clone Wars.

Mosh-The-Boss

TESTE disse...

sick boy..

Nazareth disse...

Não resisti...difícil não comentar sobre flertes. Confesso que já fui mais tímida pra isso. Agora olho pra quem me interessa...no fundo do olho, como que numa comunicação muda, tento ler o que não precisa ser dito. Por muito tempo tirei o olho do outro só pra sentir o olhar dele em mim. Agora olho e vejo o outro escondendo o olhar e se mostrando mais que tudo! É divertido!